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quarta-feira, 26 de abril de 2023

Música da Cabeça - Programa #316

 

Diferentemente do outro, a gente está autorizado a sujar um pouquinho o prêmio do Chico. Afinal, é por um bom motivo, como veem. Laureado de sons e letras, o MDC de hoje se escreve com L7, Cocteau Twins, Sepultura, Dr. Feelgood, Gil Scott-Heron, Led Zeppelin e mais. No Cabeção, uma homenagem a Ivan Conti Mamão, as baquetas mágicas da Azymuth e da MPB. Em desagravo à estupidez e ao obscurantismo, o programa às 21h, na camoniana Rádio Elétrica. Produção, apresentação e rara fineza: Daniel Rodrigues


www.radioeletrica.com

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Titãs - "Cabeça Dinossauro" (1986)

O MELHOR DISCO NACIONAL DE TODOS OS TEMPOS
"Oncinha pintada,
zebrinha listrada,
coelhinho peludo,
Vão se foder!"
letra de "Bichos Escrotos"


"Cabeça Dinossauro". Assim mesmo, sem a preposição. O nome já dava mostra do que estava contido ali dentro daquela capa genial e incomum que ao mesmo que impactava pelo grotesco, completava o conceito geral da obra: a cabeça dinossauro era uma transfiguração, uma metamorfose em monstro, um retorno ao primitivo, era uma digressão à língua, um não aos padrões. A própria canção homônima que abria o disco com sua batida tribal e letra 'primitiva' era retrato fiel e confirmação da proposta.
Letras simples, versos curtos, mínimos e minimalistas, aliterações, repetições e discursos diretos. Assim os Titãs deram uma reviravolta na própria carreira, até então sem uma personalidade musical definida, e construíram um dos discos mais notáveis e criativos do rock nacional. Aquilo era butal, era violento na essência, era agressivo como nunca a música popular ousara ser a tal ponto, disparando contra religião, autoridades, estado, família e capitalismo com doses variadas de desprezo, ira e ironia. Quer mais que afirmar que não gostavam de Cristo; mandar dar porrada em quem não desse nenhuma contribuição ao mundo; ou mandar os bichinhos fofinhos se foderem? Aliás, "Bichos Escrotos", que trazia este xingamento, ainda que não fosse a mais brilhante do disco, não pode deixar de ser mencionada sobremaneira por uma quebra definitiva de paradigmas na mídia por conta do "FODER" de sua letra que era cantado incessantemente pela garotada, independente da proibição de execução pública expressa na contracapa. Num país com a democracia recém instaurada e uma liberdade de expressão ainda combalida, o resultado foi que sua popularidade foi tanta, a música era tão conhecida e entoada por todos que mesmo sem ser revogada, sua proibição caiu por terra naturalmente e a faixa passou a tocar sem corte em muitos segmentos dos meios de comunicação. E, ao contrário do que soava aos pais e moralistas de plantão naquele momento, "Bichos Escrotos" não se limitava a um palavrão gratuito: aquele grito era um não à beleza artificial, ao padrão estético, uma convocação à atitude, sendo um dos mais significativos símbolos da virada que os Titãs davaam com aquela obra.
Outro momento marcante da obra é a descontrolada "A Face do Destruidor", um hardcore extremamente agressivo e veloz na execução e na duração (apenas 34 segundos) que de certa forma justificava que nada se cria e tudo se transforma mas que às vezes é importante botar tudo abaixo para construir novamente. E era o que eles estavam fazendo.
"Cabeça..." ainda traz um dos maiores clássicos do rock brasileiro de todos os tempos que ganhou inúmeras regravações, homenagens, referências, performances de todo o tipo e qualidade de artistas, de Sepultura a Marisa Monte: "Polícia"; um punk rock implacável que incrivelmente venceu no mundo pop sem fazer concessões de letra nem estilo, gravando na memória do Brasil dos refrões mais conhecidos e populares da música nacional.
Fruto da multiplicidade de estilos de um time de oito cabeças com origens, inspirações e gostos musicais distintos e da mão certeira do produtor e parceiro Liminha, "Cabeça Dinossauro" era punk na maior parte das vezes mas era tão fora dos padrões que podia trazer um raggae como "Família", um ska como "Homem Primata" ou "O Quê?", um funk estraçalhador com uma linha de baixo toda quebrada, cheio de teclados e uma interessantíssima mescla de bateria acústica com eletrônica, delineando um inquietante jogo de palavras que não cansava de perguntar e ao mesmo tempo responder "o que é que não pode ser?". E o que é que não poderia ser depois daquilo? Podia-se tudo e aquela obra ajudava a afirmar isso.
Até mesmo como resultado de experiências como a de "O Quê?", os Titãs chegariam a resultados, talvez, melhores tecnicamente com seus dois álbuns de estúdio seguintes, "Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguleas" e "Õ Blésq Blom", mas "Cabeça Dinossauro" já tinha metido o pé na porta e por este rompimento, por sua profusão de ideias e estilos, pela sua reconceituação num dos momentos mais importantes da retomada do rock brasileiro, seu impacto e reflexos, este é, minha opinião, simplesmente o maior disco do rock brasileiro de todosos tempos.

FAIXAS:
1. "Cabeça Dinossauro" (Arnaldo Antunes, Branco Mello, Paulo Miklos) – 2:20
2. "AA UU" (Marcelo Fromer, Sérgio Britto) – 3:01
3. "Igreja" (Nando Reis) – 2:48
4. "Polícia" (Tony Bellotto) – 2:06
5. "Estado Violência" (Charles Gavin) – 3:10
6. "A Face do Destruidor" (Arnaldo Antunes, Paulo Miklos) – 0:34
7. "Porrada" (Arnaldo Antunes, Sérgio Britto) – 2:51
8. "Tô Cansado" (Arnaldo Antunes, Branco Mello) – 2:18
9. "Bichos Escrotos" (Arnaldo Antunes, Sérgio Britto, Nando Reis) – 3:13
10. "Família" (Arnaldo Antunes, Tony Bellotto) – 3:32
11. "Homem Primata" (Ciro Pessoa, Marcelo Fromer, Nando Reis, Sérgio Britto) – 3:27
12. "Dívidas" (Arnaldo Antunes, Branco Mello) – 3:08
13. "O Quê" (Arnaldo Antunes) – 5:40

FORMAÇÃO (em 1986)
Arnaldo Antunes: vocal
Branco Mello: vocal
Charles Gavin: bateria e percussão
Marcelo Fromer: guitarra
Nando Reis: baixo e vocal
Paulo Miklos: baixo (em "Igreja") e vocal
Sérgio Britto: teclado e vocal
Tony Bellotto: guitarra

PRODUZIDO POR LIMINHA

Download

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quarta-feira, 10 de abril de 2019

Música da Cabeça - Programa #105


O Música da Cabeça de hoje age em legítima defesa da dignidade da população negra, em legítima defesa do homem pobre, em legítima defesa de quem se indigna com o errado. E as canções, nosso melhor  instrumento, não precisa dar nenhum disparo para chegar aos corações. P.I.L., Public Enemy, Banda Black Rio, Sean Lennon e R.E.M. são algumas das munições pacíficas que trazemos. Tem também “Música de Fato”, falando, obviamente, do crime cometido pelo Exército no Rio, o tradicional “Palavra, Lê” e um “Cabeça dos Outros” no quadro móvel, trazendo a dobradinha O Rappa e Sepultura. Ponha as mãos para o alto, mas não para se render, e, sim, para reverenciar a boa música conosco no programa, na Rádio Elétrica, às 21h. Produção, apresentação e legitíssima defesa: Daniel Rodrigues.


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

sábado, 6 de junho de 2020

Leviaethan - Clube Geraldo Santana - Porto Alegre (1992)




O Leviaethan em ação no palco já em 2014.
(fonte: Facebook oficial da banda- créditos : Aline Jechow))
O primeiro show que eu fui foi de uma banda de trash metal gaúcha chamada Leviaethan. Era um grupo até bem conceituado fora das fronteiras da província  de São Pedro do Rio Grande do Sul, já  tendo feito abertura para bandas como Angra e Sepultura e gozava de um certo renome na cena alternativa especialmente por ter "emplacado um grande "hit",  uma versão metal da cantiga de jogo infantil "Pimponetta". Cara, aquilo era o inferno em tom de brincadeira!
Meu primo Lucio Agacê, colaborador aqui do blog, que já era interado nessas coisas de som pesado e frequentador do mundo underground de Porto Alegre e arredores, covenceu aquele frangote inocente, eu, a ir num show de metal. Eu era meio desconfiado , meio medroso, mas não era muito longe de casa, não era muito caro e, de mais a mais, que mal poderia fazer? Fui então! O show seria no Clube Geraldo Santana, um ginásio de boas dimensões e capacidade na rua Luís de Camões, uma ladeira de inclinação considerável, num bairro próximo ao meu.
Que mal aquilo poderia fazer? Podia mudar irreversivelmente uma criança.
Pelo que lembro, a Leviaethan até que não era tão má, até me surpreendeu positivamente, mas mais importante que a qualidade da atração daquela noite no Geraldo Santana, foi que aquilo tudo teve uma vibração tal que me fez ficar louco por aquele tipo de ambiente e por aquela energia.
Naquela noite fui iniciado no logo, no mosh e fiquei até  com torcicolo no dia seguinte depois de tanto bater cabeça na minha estreia  headbanger.
Não lembro de quase nenhuma do show e do Leviaethan mas recordo do vocalista, um gordão barbudo, anunciando com voz sinistra e silabicamente pausada a música mais esperada da noite: "Pim-po-ne-ttaaaaaaa!!!!", anunciou ele com a boca colada no microfone.
A parte dali... fudeu!
Aquele guri nunca mais seria o mesmo.


Leviaethan - "Pimponetta"




Cly Reis 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Helmet - "Meantime" (1992)

A CALIBRADA MÁQUINA DE PRODUZIR BARULHO


“Riffs de fusão zeppelinesca com uma precisão pós-hardcore veemente, intensificados por acordes densos e linhas fora de compasso baseadas na formação de jazz formal de (Page) Hamilton.”
Definição do estilo da banda no site oficial do Helmet



Uma das coisas que sempre apreciei no jazz é não somente aqueles solos magníficos, mas, tanto mais, a criatividade na invenção das bases e a execução do chorus, momento em que todos os instrumentistas tocam juntos o “riff” com uma perfeição tamanha que parece sair de uma máquina sonora. Acham que me enganei de estar falando de jazz ao invés do rock pesado do Helmet? Não, não estou equivocado. Talhados no jazz, os músicos do Helmet são o melhor exemplo do quanto o estilo mais americano de todos influenciou até o rock alternativo. Um dos melhores resultados desta alquimia está em “Meantime”, segundo disco de carreira do grupo e auge da maturidade musical do líder, cantor, guitarrista e compositor Page Hamilton.
“Meantime” é um dos grandes discos de rock pesado dos anos 90 – ali, ali com “Chaos AD” do Sepultura e o “disco preto” do Metallica – e do qual guardo a lembrança de ter sido um dos primeiros CD’s comprados por mim e meu irmão logo que este tipo de mídia começou a ser comercializada no Brasil. Além disso, foi o disco que me fez conhecer a banda, depois de vê-los na MTV e surpreender-me com aquele som furioso e, ao mesmo tempo, original e precioso como uma calibrada máquina de produzir barulho. Tal um chorus de jazz. Trata-se de um trabalho que sintetizou os estilos de rock pesado, dando uma roupagem híbrida e toda pessoal às características de massa sonora em volume alto.
Assim, heavy metal, hardcore, punk rock, surf music, grind core, pós-punk; tudo é filtrado pelo som do Helmet. Neles, ouve-se de Led Zeppelin a Exploited, de Trashman a Ratos de Porão, de Ministry a Television. Antes, já tinha escutado o Prong, banda nesta linha, mas na qual faltava alguma coisa que eu não identificava ao certo. Essa “coisa” era exatamente aquilo que o Helmet fez em “Meantime”. Variações rítmicas, transições pouco óbvias entre as várias partes, dissonâncias, afinações e sonoridades bem definidas. Tudo num som seco e direto, que não dá descanso aos ouvidos do início a fim. O feito obteve êxito: “Meantime” foi indicado ao Grammy, levou disco de ouro e botou pilha para que muita banda alternativa se formasse.
“In the Meantime” abre os trabalhos dizendo a que veio. Na introdução, todos os instrumentos entram juntos estourando a caixa, num extenso rolo e em escala ascendente, até dar lugar à bateria funkeada do ótimo John Stanier e a base roncada e “torta”, que quebra a linha de tempo 2 e 2 com um tempo a mais. Além disso, a voz de Hamilton, outro fator peculiar no Helmet, não é, mesmo quando esbravejada, um arroto de trash metal, em que não se entende nada do que se está cantando, nem doce e entoada como um pop suave. Assim como o som da banda, o estilo vocal dele acha um meio termo sutilmente interessante.
“Give It” contrasta o vocal melodioso com o tema bem heavy. O compasso arrastado sofre um pequeno “atraso” da bateria, que sincopa a música entre os urros de guitarra. Também “quebrada”, num esquisito tempo 6x6, “Turned Out” é composta de várias partes que se encaixam em perfeita harmonia. “Ironhead”, outra incrível, tem uma levada acelerada, principalmente durante o solo, onde vira um hardcore pogueado.
Em “Better”, das minhas preferidas, o vocal mais raivoso de Hamilton no álbum dá a falsa impressão de estar fora de sincronia com o instrumental, este, um simples e engenhoso jogo de quatro acordes que se repetem no segundo tempo, mas inversamente. Porém, o ponto alto é justamente o maior sucesso comercial do Helmet: a matadora “Unsung”. Lembrando “California Über Alles” do Dead Kennedy's na introdução, é composta num maluco 1-2-3/ 1-2-3/ 1-2-3 / 1-2-3-4-5-6-7-8-9. Consegue ser pegada e melodiosa ao mesmo tempo. Na base, os ataques de baixo-guitarra entre um breve silêncio e outro, finalizados por um soco da bateria, parecem choques elétricos estridentes que se ligam e desligam de um barulhento aparelho com defeito. “Role Motel”, com uma levada funk da bateria, simétrica como um relógio, fecha o disco sob um mar de distorções, no mesmo espírito que começou.
Como disse noutro post deste blog, quando estive no show da banda , o som do Helmet é simplesmente um rock bem feito: enfurecido, de guitarras distorcidas, bateria pulsante e baixo rosnando, porém sempre inteligente e bem composto, até complexo às vezes, mas sem cair no virtuosismo apelativo. Dá a impressão de que veio por ordem na casa do hard rock, tão combalido entre poucas coisas boas e um monte de porcaria. Parecido, em termos, com coisas de jazz moderno: um Mahavishnu Orchestra, John McLaughlin, VSOP ou uma Carla Bley. Entretanto, acima de tudo, “Meantime”, prestes a completar 20 anos de lançamento, é e continua sendo exemplo de rock ‘n’ roll bem feito. Puto. Potente. Empolgante.

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FAIXAS:
1. "In the Meantime" – 3:08
2. "Ironhead" – 3:22
3. "Give It" – 4:17
4. "Unsung" – 3:57
5. "Turned Out" – 4:14
6. "He Feels Bad" – 4:03
7. "Better" – 3:10
8. "You Borrowed" – 3:45
9. "FBLA II" – 3:22
10. "Role Model" – 3:35
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vídeo "Unsung", Helmet:

Helmet - Unsung por jesus_lizard

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Ouça:
Helmet Meantime



domingo, 13 de março de 2011

Iron Maiden - "The Number of the Beast" (1982)



"Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é um número do homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis"
Apocalipse (12:12) e (13:18).



Particularmente, devo admitir, que não sou um grande fã do Iron Maiden. Prefiro antes os que foram fundamentais para que eles existissem, como Led, Purple e Sabbath, e os que não existiriam se não fossem eles, como Metallica, Sepultura, Anthrax, etc., mas não há como não reconhecer que trata-se de uma das bandas mais importantes da história do rock e decisiva na consolidação de um gênero do qual eles são praticamente sinônimo: o heavy-metal.
Às vésperas de um retorno ao Brasil para uma nova série de apresentações, agora em março, aproveito para incluir aqui nos A.F. um disco frequentemente apontado pelos fãs, senão efetivamente como o melhor, mas como um dos mais importantes e significativos na carreira da banda e na formação do metal: "The Number of the Beast" de 1982, além do grande sucesso comercial optido na época e de crítica desde lá, é o primeiro com Bruce Dickinson nos vocais e por isso, já, um marco. Cantor que enfrentou uma certa resistência logo de início ao substituir o carismático porém barra-pesada Paul Di'Anno, Dickinson não apenas consquistou o respeito dos fãs como acabou por tornar-se um ídolo e um símbolo da banda, imprimindo com personalidade sua característica vocal que se tornaria marcante e singular.
Mas voltando ao disco, destaques para a faixa-título, particularmente minha favorita e centro de polêmica em torno de um suposto satanismo, a ótima "The Number of the Beast"; e para a clássica "Run to the Hills" com sua levada galopante acelerada e incansável.
Clássico do metal! Clássico do rock!
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Se Dickinson se tornou um dos símbolos da banda e seu tipo de interpretação uma marca, outro dos elementos que se tornaria ao longo do tempo uma assinatura seria o mascote Eddie. É impossível falar de Iron Maiden sem mencionar Eddie The Head. O caveirão que aparece desde o início nas capas dos álbuns constitui uma espécie de identidade visual do grupo, basta ver aquela caveirinha e sabemos que ali tem Iron Maiden. No início era penas uma cabeça, ao longo do tempo ganhou corpo, assumiu várias formas e nos últimos tempos 'participa' inclusive dos shows na forma de bonecos gigantes.

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FAIXAS:
  1. "Invaders" (Harris) 3:22
  2. "Children of the Damned" (Harris) 4:33
  3. "The Prisoner" (Harris/Smith) 6:00
  4. "22 Acacia Avenue" (Harris/Smith) 6:34
  5. "The Number of the Beast" (Harris) 4:49
  6. "Run to the Hills" (Harris) 3:50
  7. "Gangland" (Smith/Burr) 3:47
  8. "Total Eclipse" (Harris/Murray/Burr) 4:28*
  9. "Hallowed Be Thy Name" (Harris) 7:10
* o disco saiu originalmente com 8 faixas e "Total Eclipse" só foi incluída em edições posteriores.

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 Integrantes em 1982
Bruce Dickinson - vocal
Steve Harris - baixo
Dave Murray - guitarra
Adrian Smith - guitarra
Clive Burr - bateria
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Ouça:
Iron Maiden The Number of The Beast



Cly Reis

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Cotidianas #10 - A Letra do Morto


A LETRA DO MORTO

"Gosto dos cemitérios por serem eles cidades monstruosas prodigiosamente habitadas."
Guy de Maupassant, "As Tumulares" 

empre fui dado a catar souvenirs.
Por onde passo, de festas, viagens, encontros, levo alguma recordação. Não sei porquê. Talvez por medo de perder o momento.
Mas não se engane meu eventual leitor, não os roubo. Na maior parte das vezes, peço licença a um anfitrião ou conviva para levar a lembrança. A não ser quando está ali, ao dispor para que todos peguem. Como no aniversário da filha do Corrêa, onde a esposa, D. Amália, fez uns arranjos graciosos com flores e guirlanda. Vi que as mulheres, principalmente, quando prestes a irem embora levantavam e levavam os das suas mesas com a anuência de D. Amália. Percebendo que não havia mal algum, já me despedi dos anfitriões com o arranjo nas mãos.
Outro dia, devo revelar que em um desses encontros furtivos com uma amiga, antes de nos deixarmos, pedi que me desse algo para recordar nosso primeiro encontro.
Enrubesceu logo mal pensando, com certeza, ao que lha aliviei pedindo apenas o grampo que prendia a grinalda do chapéu.
Sou assim, guardo todos esses mimos. Chego a ter um quarto nos fundos, onde fora antigamente a senzala, no qual acumulo todas essas bugingangas. São broches de moças bonitas, lenços já com quase sem perfume, rosas ressequidas pelo tempo, taças de velhas comemorações, papéis de carta, brinquedos, cachimbos, pince-nezes, tudo.
Conto isto porque penso que um destes bibelots casuais tenha acabado por mudar meu destino em determinado momento. Deixe que lhes explique o porquê:
Por ocasião da morte do Seixas, colega de repartição, vítima de tuberculose, fui ao enterro no São João Batista, ali em Botafogo. Não que fosse muito chegado, muito próximo, não. Mas um pouco por respeito, um pouco porque os outros colegas podiam julgar mal minha ausência, resolvi por prestar minha última homenagem.
Também não sou daqueles nojentos e supersticiosos que não suportam cemitérios. Não. De minha parte até que se configurava um passeio assaz curioso. Perambular por entre covas, jazigos, sepulturas; cada uma com adornos mais interessantes que a outra: anjos, santos, cruzes latinas, cruzes gregas, até caveiras. Lápides das mais simples, só com mármore branco pobre, aos mausoléus mais espetaculares, com Nossa Senhora ajoelhada à beira do catre derradeiro do Filho retirado da cruz, tão perfeitos em pedra branca que se diriam ser os próprios.
Leontina das Neves, Antônio Amaro Rocha Brandão, Joaquim Maria de Alencar (saudades eternas), Quincas Lisboa de Assis (dos filhos e esposa que nunca te esquecerão). Foi assim passando os olhos pelos nomes, alguns curiosos e exóticos, outros comuns, que começou a se configurar meu infortúnio.
Ainda antes do enterro do Seixas, caminhando em direção à ala onde realizar-se-ia a cerimônia funeral, caminhando nas vielas, fiquei a pensar no que poderia eu levar dali, sem que ofendesse os mortos e que me satisfizesse a mania de colecionador. Pensei em flores mas já estavam secas e até malcheirosas, e as que estavam frescas, ora, eram ainda oferenda válida a um falecido. Uma tira de fita das corôas de flores, avaliei que seria igual despropósito. Um pedaço de mármore já meio rachado seria interessante, pensei eu, começando então a vasculhar a ver se algum estava em mau estado, quebradiço, esturricado; mas por minha má sorte, exatamente naquele trecho que percorria, todas as lápides estavam em perfeita conservação.
Temporariamente desestimulado do intento, apaguei da mente a idéia e segui em direção à saída. Tirei a mão do bolso e, como que criança, estendi um dos braços de modo a alcançar as sepulturas e roçar-lhes com as pontas dos dedos, tocando-as apenas pelo prazer de distrair as mãos com algo diferente durante aquele percurso. Nesse dedilhar de mármores e letras em relevo, uma delas, que por certo já estava meio solta, desprendeu-se então de todo da pedra com um levíssimo contato meu, desfalcando o nome que identificava o morto ali residente: JOSÉ TRANQÜILINO DE AZEVEDO _AVIER, 1854-1903.
O inusitado do incidente deixou-me com o “X” de Xavier na mão e não considerando ter cometido ilícito ou vandalismo, preferi atribuir meu benefício ao acaso, embolsando assim o souvenir sem culpa.
Mas só Deus sabe o quanto me custou alimentar meu hábito de acumulador de quinquilharias.
Como que de uma hora para outra minha sorte mudara. Logo que cruzei o portão do cemitério isto ficou claro e límpido para mim. Avaliando que não tinha eu mais o que fazer por ali e pensando que, àquelas horas, em tempo ainda poderia aproveitar minha ida a Botafogo para passar na casa do Vilela; ali no Largo dos Leões; para cobrar-lhe uns cinco mil-réis que me devia; resolvi correr para alcançar um tílburi que se afastava vazio e nesta, fui ao chão de maneira vexatória proporcionando um constrangedor espetáculo para todos que assistiam na rua. Por conta do ocorrido, humilhado pela situação, até desisti da cobrança do Vilela, subi no mesmo tílburi, que consegui fazer parar, e fui direto para minha casa. Como se não bastasse a vergonha pública, ao chegar em casa, notei que meu relógio, herança de meu avô, acabara com o vidro trincado por conta da queda. QUE AZAR!
Mas, amigos, este seria só o primeiro de muitos. Minha vida transformar-se-ia em um verdadeiro inferno. Desde então, só para enumerar, a jovem a quem eu cortejava passou a ignorar-me, assim sem mais; perdi 2 contos de réis, que não possuía, na mesa de Vinte e Um, na qual era habitual vencedor a ponto de se perguntarem meus parceiros de jogo, de onde tirava tamanha sorte; fui difamado por ocasião de um furto na repartição que, como não se esclareceu muito bem, manteve a injusta mácula do crime sobre mim, tornando-me mal-visto e disfarçadamente indesejado nas rodas sociais; enxarcaram-se meus livros em uma chuvarada que fez vazar o telhado justo sobre a biblioteca; e ainda me pegou fogo, sem motivo racional, na antiga senzala onde guardava os souvenirs.
Não sou supersticioso, como já disse mas, procurando entender porque me acometiam constantes insucessos, não pude deixar de associar o início da fase aziaga à retirada da letra da tumba. Retirada não! Nunca que a arrancara. Aquela caiu, soltara-se. Ora, mas a quem quero enganar? Não a extraí, não a broquei, é verdade, mas, sim, me aproveitei da brincadeira do destino de fazê-la soltar-se logo para mim, à minha frente, para então levá-la e poder dividir a culpa com o acaso. A quem pensava enganar? Profanara uma sepultura, brincara com os mortos, ofendera um defunto. Os céus, o mundo do além, a alma do sr. Tranqülino, deviam estar me cobrando agora tal injúria. Um Xavier sem X; ora, mas como pude? Gostaria eu, morto, que me aparecesse um João qualquer e retirasse o D, que fosse, do “descanse em paz” da minha lápide? Não, por certo.
Ponderei que o correto, para o bem de minha consciência e de modo a acalmar a fúria vingativa do falecido ultrajado, seria devolver-lhe o X. Decidido a não perder mais tempo e desfazer a maldição, corri ao São João Batista, não sem levar uma vasilha com um pouco de grude para o caso do carácter não querer fixar-se por bem.
Adentrei os mórbidos portões, que me pareceram agora mais assustadores do que nunca e dirigi-me para onde me recordava, vagamente, de ter recolhido o objeto. Andei entre as vielas, voltei, perdi-me, andei em círculos, até que, lá pelas tantas, vi-me frente a frente com a lápide aleijada do sr. Tranqüilino. Tratei logo, como que para abreviar meu sortilégio, de repor a letra no lugar. Ao contrário do que imaginava, nem precisei do grude e a peça encaixou perfeitamente como se nunca tivesse estado frouxa o suficiente para ter caído com um alisar de mãos. Pronto: estava refeito o Xavier do nome. Minha agonia acabaria. Teria o perdão silente do além. Mas não. Engano meu. Parece ter tido efeito contrário. As coisas pioraram.
Perdi muitas de minhas posses para pagar a dívida do Vinte e Um, que com o tempo só fez crescer, tive que vender a casa onde vivia na Glória e por causa do incidente do furto na repartição, nunca mais recuperei o bom olhar dos amigos que passaram, mesmo sem comprovação, a ver-me como larápio, não podendo eu contar com eles para ajudar a sanar minhas dívidas. Agora, doente,com um inexplicável mal, que nem a medicina nem curandeiros souberam explicar nem curar, me encontro entrevado nesta cama, nesta modesta pensão na Rua do Ouvidor; e a cada noite, juro-lhes amigos, todas as noites sem exceção, rogo pelo perdão do falecido, ou da casa dos mortos, ou de Deus, de quem quer que seja, pelo mero ato de ter recolhido do chão aquela letra, aquele X, que não sei até que ponto tem poder sobre tudo isso. Mas hoje, de toda feita, tudo o que me resta, e, a estas alturas, não custa tentar, é pedir perdão.

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quarta-feira, 1 de abril de 2020

Música da Cabeça - Programa #156


É 1º de abril, mas duvido que alguém diga que é mentira que o Música da Cabeça tem o poder de alegrar esses dias de quarentena. Pelo menos, as quartas-feiras, como a de hoje, em que teremos coisas como Itamar Assumpção, The Manhattans, Sepultura, Tracy Chapman e Detrito Federal. Ainda, "Música de Fato" sobre os mentirosos que andam por aí, "Palavra, Lê" em homenagem a Riachão e "Cabeção" lembrando Krzysztof Penderecki, morto esta semana. Pode conferir às 21h o MDC, na idônea Rádio Elétrica, que não é lorota. Produção, apresentação e a mais pura verdade: Daniel Rodrigues. #ficaemcasa



Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Motörhead -"Ace of Spades" (1980)

"Motörhead é heavy metal no únco sentido significativo do termo. Todo o resto é apenas faz-de-conta"
Gary Bushell,
jornalista da revista Sounds



Conheci o Motörhead através do Sepultura, com a clássica regravação de "Orgasmatron", depois fui ouvindo uma coisa aqui outra ali e sempre gostando do que ouvia mas nunca tomando vergonha na cara para ter alguma coisa dos caras. Ouvia a boa "Hellraiser" da trilha da terceira sequência da franquia, a versão deles pra "Enter Sandman" do Metallica , e há pouco tempo um colega do trabalho me trouxe uns arquivos pra gravar no MP3 e me apresentou uma versão ao vivo de "Ace of Spades". Nossa! Aquilo me enlouqueceu. Era o que eu precisava pra tomar uma atitude. Tinha lido a respeito no "1001 Discos para Ouvir Antes de Morrer" , havia ficado curioso, mas agora conhecendo-a eu tinha que ter aquilo em casa. Dia desses numa loja dessas de CD's usados me deparo com o dito álbum, "Ace of Spades", novinho, na embalagem, por 20 pratas. Putz! "Só se for agora!".
Ouvi no dia seguinte no carro indo para o trabalho...
Cara... Quase derreti os alto-falantes.
O carro chegou em casa fumaçando.
O Motörhead que tem a fama de ser a banda mais barulhenta e mais rápida do mundo, justifica areputação com um incesante e imponente troar de guitarras, ritmos incontrolavelmente acelerados e levadas verdadeiramente alucinantes, tudo isso conduzido pela voz rouca e cavernosa do deus Lemmy Kilmister.
"Shoot You In the Back" com sua levada galopante é um tiro à queima-roupa; a rápida "Bite the Bullet" chega e põe tudo abaixo; "Love me Like a Reptile" é simlesmente arrasadora; "The Hammer", uma das melhores, é uma marretada hardcore; e a faixa-título, "Ace of Spades" tem possivelmente o riff mais destruidor, matador, detonante já produzido por um ser humano. Humano? Mas quem disse que Lemmy é humano?
Disco foda!
Referência do metal e indubitavelmente, álbum fundamental.
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FAIXAS:
1.. "Ace of Spades" – 2:49
2.. "Love Me Like a Reptile" – 3:23
3.. "Shoot You in the Back" – 2:39
4.. "Live to Win" – 3:37
5.. "Fast and Loose" – 3:23
6.. "(We Are) The Road Crew" – 3:12
7.. "Fire Fire" – 2:44
8.. "Jailbait" – 3:33
9.. "Dance" – 2:38
10.. "Bite the Bullet" – 1:38
11.. "The Chase Is Better Than the Catch" – 4:18
12.. "The Hammer" – 2:48

todas as faixas: Clarke, Kilmister, Taylor

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Ouça:
Motörhead - Ace of Spades



Cly Reis

sábado, 28 de abril de 2018

"Contos do Rock", organização de Daniel Ferro - ed. Dublinense (2017)




"Pessoalmente pra mim é uma viagem no tempo.
Vai ser sempre uma maneira rápida, simples e prazerosa
de lembrar de uma das partes mais legais de estar na estrada,
contando e ouvindo histórias dos amigos do rock."
Daniel Ferro



Originado pelo programa de TV, no canal Multishow, o livro "Contos do Rock", organizado pelo apresentador Daniel Ferro, traz historietas, casos, curiosidades narradas por artistas da música, na estrada, no palco, nos bastidores, nos estúdios, enfim, no meio musical. O resultado, enquanto publicação é bastante decepcionante, uma vez que apenas reproduz os acontecimentos já relatados no programa e, provavelmente por terem sido veiculados originalmente na TV, parecem ter muito cuidado com o teor e o conteúdo do que é contado.
Quem é acostumado com biografias e publicações relacionadas a música com certeza já leu ou ouviu casos muito mais instigantes, impressionantes, picantes, perturbadores, assustadores, cabeludas do que os que são colocados ali por grande nomes do pop-rock nacional. Historinhas muito papai-e-mamãe que no máximo conseguem arrancar do leitor um sorrisinho amarelo ou um "legal!"pouco entusiasmado. Além disso, a opção pela transposição do material das entrevistas do programa para o formato livro de forma praticamente literal, contribui para a falta de qualidade da publicação ocasionando uma excessiva coloquialidade em muitos momentos, soando mais a desleixo e falta de cuidado com o produto final do que a uma má escolha editorial. Sabe aquele jeito do Dinho Ouro-Preto falar, por exemplo? O relato dele está escrito praticamente daquela maneira que ele fala, "... cara, tipo, e aí a gente, tipo, cara...". Não só o dele como o de outros artistas, às vezes, acreditem, menos articulados ainda.
Pra não dizer que em mais de cinquenta crônicas não teve nada que prestasse, me chamaram atenção em especial os perrengues do Sepultura pela Ásia tocando em um palco de bambu, provando comidas exóticas e tomando sangue de cobra; a perseguição de motoqueiros à Falange Moulin Rouge das loiras de Fausto Fawcett, quando a delegada Marinara teve que mostrar quem era a lei; o "roubo" de Nasi, do disco de ouro do próprio Ira! da sede da gravadora; e mais alguma que outra que nem me marcou muito. No mais,... vale pela curiosidade. Talvez nem isso.


Cly Reis

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Public Enemy - "It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back" (1988)



"Vocês esqueceram que fomos trazidos para cá,
fomos roubados do nosso nome,
roubados de nossa língua.
Perdemos nossa religião,
nossa cultura, nosso Deus
...e muitos de nós, pelo modo de agir,
temos também perdido nossas mentes."
Khalid Abdul Muhamed
(introdução de "Night of Living Baseheads")




O Public Enemy poderia ser considerado apenas mais um grupo de rap/hip-hop não fossem alguns pequenos diferenciais: o primeiro deles é um vocal poderoso, quase troante do imponente Chuck D, um rapper com recursos vocais, inteligência e consciência política e social como poucas vezes se viu até então no meio; o segundo, um MC carismático, Flavor Flav, altamente original, dono de interpretações singulares e um bordão  extremamente marcante, aquele seu "yeeeaaaaahhh, boy!!!", cheio de veneno e malicia; o terceiro, um time de produção, o Bomb Squad, extremamente criativo a antenado, sempre em busca dos samples e colagens mais criativos e improváveis, complementados é claro, por outra das grandes razões, a quarta delas, que é a mão de um DJ altamente técnico e criativo, diferenciado no seu âmbito, o lendário Terminator X. Tem ainda o impacto, as letras, a politização, a contundência, as sonoridades, e aliado a isso ainda, um certo gosto pelo peso e pelo barulho, que particularmente muito me agrada. Junte tudo isso e temos o Public Enemy. Provavelmente o melhor grupo do gênero que já visitou este planeta.
Todas essas características, marcas e virtudes podem ser encontrados no seu excelente segundo álbum "It Takes a Nation of Million to Hold Us Back", de 1988, que fez definitivamente o mundo da música cair de joelhos por eles ali pelo finalzinho dos anos 80. Artistas dos mais diversas, dos mais variados gêneros como Sepultura, Slayer, declaravam sua admiração pela banda, sua música era tema de abertura de filme ("Fight the Power" em "Faça a Coisa Certa"), até o garoto do "Exterminador do Futuro 2" exibia durante todo o filme uma a camiseta com o logo da banda. O mundo enfim se derretia pelos "Inimigos" e a influência deles foi igualmente arrebatadora, quase imediata, estabelecendo uma linha para grupos como Beastie Boys, House of Pain e Cypress Hill e revolucionando a maneira de se fazer hip-hop.
A sirene de "Countdwon to Armaggedon", vinheta ao vivo que abre o disco, anuncia que algo de realmente sério está para acontecer e efetivamente isso se confirma já a partir da primeira música, a porrada "Bring the Noise" que se não é barulhenta em si, é tão potencialmente pesada que veio a inspirar uma nova versão posterior com a participação da banda Anthrax, aí sim, mais suja e guitarrada. Mas a versão do disco não fica devendo nada, sendo também extremamente pesada à sua maneira, com batida marcante, vocal agressivo e letra contundente como de costume.
A embalada "Don't Believe the Hype", apesar do tom descontraído, vem na sequência destilando veneno contra aqueles que, segundoa banda, se esforçam em criar uma imagem negativa dos negros; "Mind Terrorist", de base repetida sem ser chata, soando como uma guitarra swingada, é um show à parte do excepcional Flavor; e a arrebatadora "Louder than a Bomb" é, verdadeiramente, tão poderosa quanto uma bomba, tanto sonoramente quanto em conteúdo.
"Show'Em Watcha Got" vem com um sample de sax, muito jazz-funk, da Lafayette Afro Rock Band, num outra performance vocal espetacular dos dois com a ajudinha sagrada do mestre Terminator X nas picapes; a alucinante "She Watch Channel Zero?!" que a segue é uma pancada sonora, evidenciando bem o tal gosto pelo peso que eu referi anteriormente, com uma guitarra enfurecida, sampleada da banda Slayer, sobre uma programação de bateria perfeita e que garante o peso, e um vocal destruidor de Chuck D. Abrindo com uma gravação de um discurso do ativista negro, americano covertido ao islamismo, Abdul Muhammad, e apoiada basicamente num recorte  repetido de um sample de sax, "Night of the Living Baseheads", traz um vocal agressivo e uma posição firme sobre os usuários de drogas, especialmente o crack. "Black Steel in the Hour of Chaos" tem uma notável base construída sobre um recorte de piano; "Security of the First World" foi um achado da banda, numa mixagem feita a partir de uma música de James Brown ("Funky Drummer"), que de tal forma foi feliz e perfeita a ponto de inspirar os mais variados artistas, como Lenny Kravitz em "Justify my Love" (gravada por Madonna), My Bloody Valentine em sua "Instrumental nº 2", e tantos outros, a reproduzi-la.
"Rebel Without a Pause", traz a justa e merecida reverência e invocação do nome do DJ no refrão, quando ele responde à altura com scratches matadores; a impetuosa "Prophets of the Rage" traz outra daquelas espetaculaes dobradinhas entre Flavor e Chuck, numa integração vocal impressionante; e "Party for Your Right to Fight", outro clássico do grupo, uma variação do título "(You Gotta) Fight for Your Right (to Party!)" dos Beastie Boys, fecha o disco com embalo, ritmo, atitude e grande estilo.
Não fosse por alguns 'pequenos detalhezinhos' podia ser mais um álbum de rap, podia ser só mais um grupo de hip-hop qualquer, só mais um trecho de outra música emprestado, mais uma mixagem, mais um DJ, mais um vocalista... Podia ser. A não ser pelo fato de que todos esses detalhes fazem toda a diferença.
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FAIXAS:
1. "Countdown to Armageddon" 1:42
2. "Bring the Noise" 3:45
3. "Don't Believe the Hype" 5:19
4. "Cold Lampin' with Flavor" 4:17
5. "Terminator X to the Edge of Panic" 4:31
6. "Mind Terrorist" 1:21
7. "Louder Than a Bomb" 3:38
8. "Caught, Can We Get a Witness?" 4:53
9. "Show 'Em Whatcha Got" 1:56
10. "She Watch Channel Zero?!"  3:49
11. "Night of the Living Baseheads" 3:14
12. "Black Steel in the Hour of Chaos" 6:23
13. "Security of the First World" 1:20
14. "Rebel Without a Pause" 5:02
15. "Prophets of Rage" 3:18
16. "Party for Your Right to Fight"
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Ouvir:
Public Enemy - "It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back"


Cly Reis

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL 10 ANOS DO CLYBLOG - Ratos de Porão - "Século Sinistro" (2014)




“É o cotidiano desprezível, sabe? (...)
[O álbum] tem uma indignação da minha parte,
com a política, com a impunidade.
Retrata o cotidiano da gente
com a maior raiva e desprezo”
João Gordo, 
em entrevista à Rolling Stone



Quase 35 anos depois de "Crucificados pelo Sistema" (1984), um clássico álbum punk de uma das mais importantes, influentes e fundamentais bandas de som pesado no Brasil, os Ratos de Porão permanecem até hoje entre as maiores referências, uma vez que atravessaram três décadas de existência e resistência seguindo firmes e fortes como a mais bem sucedida da cena da qual fizeram parte nos anos 80.
Com uma discografia que ultrapassa 12 discos de estúdio, sempre expelindo toda sua fúria contra o sistema e rompendo as barreiras do punk/hardcore, broches desde quando arriscaram ligações com o metal no início dos anos 90, a banda se encontra em sua melhor fase.
Atualmente formada por Jão (guitarra), João Gordo (vocal), Boka (bateria) e Juninho (baixo), os Ratos passaram por um hiato de oito anos e, em 2014, lançaram esse incrível "Século Sinistro", gravado e mixado em formato analógico com produção assinada por Jean Dellabella (ex-Sepultura) e pela própria banda.
Eleito o 7° melhor disco nacional da década pela Rolling Stone, "Século Sinistro" reflete veementemente seu título em 13 faixas (12 autorais e 1 cover) recheadas de fúria, energia, guitarras rápidas e ótimos riffs. Sob letras sempre muito reflexivas, a temática nos problemas atuais está sempre em foco, como em “Conflito Violento” – faixa que abre o disco relatando a violência policial contra manifestantes nos atos contra o governo em 2013, quando o povo achava ter “acordado” -; “Puta, Viagra e Corrupção”; “Pra Fazer Pobre Chorar”; “Viciado Digital” e críticas às desgraças que acontecem por aqui como em “Jornada Para O Inferno”; “Prenúncio Das Trevas” – em uma alusão a situação precária dos presídios brasileiros – e “Stress Pós-Traumático”.
O cover de “Progeria Of Power” da banda punk sueca Anti-Cimex e as participações: Moyses Kolesne (Krisiun) no solo de “Neocanibalismo”, trazem à tona as influências do metal que moldaram a sonoridade desde Anarkophobia (1991). Já em “Sangue & Bunda” o destaque especial são os grunhidos guturais de Atum, o porquinho de estimação de 
João Gordo.


por Helson Luiz Trindade

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FAIXAS:
1. "Conflito Violento" 3:20
2. "Neocanibalismo" 2:42
3. "Grande Bosta" 3:15
4. "Sangue & Bunda" 2:13
5. "Século Sinistro" 1:47
6. "Jornada Para o Inferno" 3:20
7. "Prenúncio de Treta" 2:46
8. "Stress Pós-Traumático" 3:01
9. "Viciado Digital" 2:15
10. "Boiada Pra Bandido" 3:24
11. "Progeria Power" 1:10
12. "Puta, Viagra e Corrupção" 2:20
13. "Pra Fazer Pobre Chorar" 2:26


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Ouça:


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Helson Luiz Trindade, carioca, residente no Rio de Janeiro, é, como ele mesmo se define, um 'apaixonado por música'; e por isso mesmo seu envolvimento com esta paixão é enorme e constante. Além de estar sempre às voltas com seus álbuns preferidos ou com o fone de ouvidos, Helson administra o blog Acervo Básico (acervobasico.wordpress.com) e colabora com seu repertório, conhecimento e atualização no blog Zine Musical (zinemusical.wordpress.com).

quinta-feira, 16 de julho de 2009

OS 100 MELHORES DISCOS DE TODOS OS TEMPOS

Coloquei no blog o primeiro da minha lista do melhores álbuns de todos os tempos e então agora resolvi listar o resto.
Sei que é das tarefas mais difíceis e sempre um tanto polêmica, mas resolvi arriscar.
Até o 10, não digo que seja fácil, mas a concepção já está mais ou menos pronta na cabeça. Depois disso é que a gente fica meio assim de colocar este à frente daquele, tem aquele não pode ficar de fora, o que eu gosto mais mas o outro é mais importante e tudo mais.
Mas na minha cabeça, já ta tudo mais ou menos montado.
Com vocês a minha lista dos 100 melhores discos de toda a história:



1.The Jesus and Mary Chain “Psychocandy”
2.Rolling Stones “Let it Bleed”
3.Prince "Sign’O the Times”
4.The Velvet Underground and Nico
5.The Glove “Blue Sunshine”
6.Pink Floyd “The Darkside of the Moon”
7.PIL “Metalbox”
8.Talking Heads “Fear of Music”
9.Nirvana “Nevermind”
10.Sex Pistols “Nevermind the Bollocks"

11.Rolling Stones “Exile on Main Street”
12.The Who “Live at Leeds”
13.Primal Scream “Screamadelica”
14.Led Zeppellin “Led Zeppellin IV
15.Television “Marquee Moon”
16.Deep Purple “Machine Head”
17.Black Sabbath “Paranoid”
18.Bob Dylan “Bringing it All Back Home”
19.Bob Dylan “Highway 61 Revisited”
20.The Beatles “Revolver”
21.Kraftwerk “Radioactivity”
22.Dead Kennedy’s “Freshfruit for Rotting Vegettables”
23.The Smiths “The Smiths”
24.The Stooges “The Stooges”
25.Joy Division “Unknown Pleasures”
26.Led Zeppellin “Physical Graffitti
27.Jimmy Hendrix “Are You Experienced”
28.Lou Reed “Berlin”
29.Gang of Four “Entertainment!”
30.U2 “The Joshua Tree”
31.David Bowie “The Rise and the Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”
32.David Bowie “Low”
33.My Bloody Valentine “Loveless”
34.The Stone Roses “The Stone Roses”
35.Iggy Pop “The Idiot”
36.The Young Gods “L’Eau Rouge”
37.The 13th. Floor Elevators “The Psychedelic Sounds of The 13th. Floor Elevators”
38.The Sonics “Psychosonic”
39.Ramones “Rocket to Russia”
40.The Beatles “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”
41.PIL “Album”
42.REM “Reckoning”
43.Love “Forever Changes”
44.Madonna “Erotica”
45.Grace Jones “Nightclubbing”
46.Pixies “Surfer Rosa”
47.Pixies “Doolitle”
48.Rolling Stones “Some Girls”
49.Michael Jackson “Off the Wall”
50.Michael Jackson “Thriller”
51.Beck “Odelay”
52.Nine Inch Nails “Broken”
53.The Fall “Bend Sinister”
54.REM “Green”
55.Neil Young and the Crazy Horse “Everybody Knows This is Nowhere”
56.Kraftwerk “Trans-Europe Expreess”
57.The Smiths “The Queen is Dead”
58.New Order “Brotherhood”
59.Echo and The Bunnymen” Crocodiles”
60.Prince “1999”
61.Morrissey “Viva Hate”
62Iggy Pop “Lust for Life”
63.Pixies “Bossanova”
64.Chemical Brothers “Dig Your Own Hole”
65.Prodigy “Music For Jilted Generation”
66.Van Morrisson “Astral Weeks”
67.Pink Floyd “Wish You Were Here”
68.Muddy Waters “Electric Mud”
69.Sonic Youth “Dirty”
70.Sonic Youth “Daydream Nation”
71.Nirvana “In Utero”
72.Björk “Debut”
73.Nirvana “Unplugged in New York”
74.Björk “Post”
75.Jorge Ben “A Tábua de Esmeraldas”
76.Metallica ‘Metallica”
77.The Cure "Disintegration"
78.The Police ‘Reggatta de Blanc”
79.Siouxsie and the Banshees “Nocturne”
80.Depeche Mode “Music for the Masses”
81.New Order “Technique”
82.Ministry “Psalm 69”
83.The Cream “Disraeli Gears”
84.Depeche Mode Violator”
85.Talking Heads “More Songs About Building and Food”
86.The Stranglers “Black and White”
87.U2 “Zooropa”
88.Body Count “Body Count”
89.Massive Attack “Blue Lines”
90.Lou Reed “Transformer”
91.Sepultura “Roots”
92.John Lee Hooker “Hooker’n Heat”
93.The Cult “Love”
94.Dr. Feelgood “Malpractice”
95.Red Hot Chilli Peperrs “BloodSugarSexMagik”
96.Guns’n Roses “Appettite for Destruction”
97.The Zombies “Odessey Oracle”
98.Johnny Cash “At Folson Prison”
99.Joy Division “Closer”
100.Cocteau Twins “Treasure”

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2019



O pessoal de Liverpool tá imbatível.
E não estou falando do time de Salah, Firmino e Mané.
Sei que já devia ter feito, o ano já começou e, por sinal está quase no final do primeiro mês, mas vida de blogueiro não se limita ao blog e até então não tinha dado tempo de fazer os levantamentos, retrospectos, somatórios e estatísticas para o Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS que sempre temos todo o início de ano aqui no ClyBlog. O ano que passou trouxe, além dos discos destacados por nós integrantes do blog, como de costume participações de convidados, com destaque para a resenha de Waldemar Falcão, para o lendário segundo disco de Zé Ramalho, "A Peleja do Diabo com o Dono do Céu", de 1979, do qual nosso convidado até mesmo participou, fazendo de seu texto um depoimento inestimável em relação a tudo que envolveu a obra e o artista naquele momento.
Na nossa tradicional atualização dos discos que pintaram por aqui no último ano, lá na frente, entre os artistas que têm mais obras citadas na nossa seção, entre os internacionais, Os Rapazes de Liverpool finalmente assumiram a liderança, uma vez que, nem Bowie nem Stones, que dividiam a dianteira com eles, tiveram novos discos incluídos nos A.F., mas é bom abrir o olho porque os alemães do Kraftwerk, considerado por muitos o outro nome mais influente na música de todos os tempos, botaram mais um disco na roda esse ano e subiram para o segundo degrau do pódio. Já pelo lado nacional, não houve mudança lá na frente e o destaque ficou com as estreias de Airto MoreiraTribalistas e o já citado Zé Ramalho.
Entre os países, os Estados Unidos se mantém à frente com boa folga, e, na disputa pela prata, os ingleses, com um bom número de artistas emplacando álbuns fundamentais, aproxima-se perigosamente dos brasileiros. Quanto às décadas, os anos 70 continuam mandando no pedaço, mas falando em anos, especificamente, ainda é o de 1986, que põe mais discos na nossa lista.
No ano atual, já temos um Álbum Fundamental mas que não entra para a contabilidade do ano passado. A expectativa para 2019 é se os Beatles confirmarão sua liderança e se, no Brasil, alguém vai desbancar Jorge Ben, que reina absoluto há um bom tempo na lista nacional.

Vamos conferir então como ficaram as coisas por aqui depois deste último ano:


PLACAR POR ARTISTA INTERNACIONAL (GERAL)

  • The Beatles: 6 álbuns
  • David Bowie, Kraftwerk e Rolling Sones: 5 álbuns cada
  • Miles Davis, Talking Heads, The Who, Smiths, Led Zeppelin e Pink Floyd: 4 álbuns cada
  • Stevie Wonder, Cure, John Coltrane, Van Morrison, Sonic Youth, Kinks, Iron Maiden, Wayne Shorter, John Cale* e Bob Dylan: 3 álbuns cada
  • Björk, The Beach Boys, Cocteau Twins, Cream, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Elton John, Queen, Creedence Clarwater Revival, Herbie Hancock, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Lee Morgan, Lou Reed, Madonna, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, R.E.M., Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, U2, Pixies, Dead Kennedy's, Velvet Underground e Brian Eno* : todos com 2 álbuns
*contando com o álbum de Brian Eno com JohnCale ¨Wrong Way Out"


PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)

  • Jorge Ben: 5 álbuns*
  • Gilberto Gil*, Tim Maia e Caetano Veloso: 4 álbuns*
  • Chico Buarque, Legião Urbana, Titãs e Engenheiros do Hawaii: 3 álbuns cada
  • Baden Powell**, Gal Costa, João Bosco, João Gilberto***, Lobão, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Paulinho da Viola, Ratos de Porão e Sepultura: todos com 2 álbuns 
*contando o álbum Gilberto Gil e Jorge Ben, "Gil e Jorge"
** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas" 
*** Contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto"


PLACAR POR DÉCADA

  • anos 20: 2
  • anos 30: 2
  • anos 40: -
  • anos 50: 15
  • anos 60: 84
  • anos 70: 125
  • anos 80: 104
  • anos 90: 77
  • anos 2000: 12
  • anos 2010: 13

*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1


PLACAR POR ANO

  • 1986: 21 álbuns
  • 1985: 17 álbuns
  • 1976 e 1969: 16 álbuns cada
  • 1967, 1968 e 1977: 15 álbuns cada
  • 1971 e 1973: 14 álbuns
  • 1972, 1975, 1979 e 1991: 13 álbuns
  • 1965 e 1992: 12 álbuns cada
  • 1970, 1987,1989 e 1994: 11 álbuns cada
  • 1966, 1978 e 1980: 10 álbuns cada


PLACAR POR NACIONALIDADE*

  • Estados Unidos: 155 obras de artistas*
  • Brasil: 121 obras
  • Inglaterra: 110 obras
  • Alemanha: 9 obras
  • Irlanda: 6 obras
  • Canadá: 4 obras
  • Escócia: 4 obras
  • México, Austrália, Jamaica, Islândia, País de Gales: 2 cada
  • País de Gales, Itália, Hungria, Suíça, França e São Cristóvão e Névis: 1 cada

*artista oriundo daquele país



C.R.