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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Ratos de Porão – 30 Anos de “Crucificados pelo Sistema” – Segunda Maluca – Bar Opinião – Porto Alegre/RS (19/10/2015)




A banda tocando "Crucificados pelo Sistema" na íntegra.
foto: Leocádia Costa
O show do Ratos de Porão na Segunda Maluca, no bar Opinião, já é um programa anual confirmado em Porto Alegre. A galera alternativa, que curte de verdade a pioneira banda do punk nacional, não deixa de comparecer, tanto que se veem os mesmos malucos por lá ano após ano – eu, inclusive, que os vi numa mesma ocasião, em 2013.
 Porém, agora teve um porque ainda mais especial: os 30 anos do seminal “Crucificados pelo Sistema”, histórico álbum lançado por eles em 1984 e que, passando por cima de toda a precariedade típica dos punks da época, abriu portas para toda uma geração do punk nacional (e gringo!) ao mesclar a “fudência” do hardcore com outras vertentes do rock pesado, como heavy metal, grind-core, trashcore e afins, o crossover. A comemoração pelo primeiro álbum individual de uma banda de hardcore da América Latina incluiu um documentário (lançado ano passado) e shows como este com sua execução na íntegra, além do reencontro da formação antiga da banda: o irreverente João Gordo no vocal, Jabá, no baixo, e Mingau na guitarra, uma vez que o guitarrista oficial desde 1985, Jão, que tocou bateria nas gravações de “Crucificados...”, reassumiu as baquetas para essa ocasião excepcional.
João Gordo,
sempre empático com a galera.
foto: Leocádia Costa
 Para completar, o show de abertura foi em alto nível com Os Replicantes, minha banda favorita de punk-hardocre brasileiro. Mesmo sem seu principal cabeça, Carlos Gerbase, nem o performático Wander Wildner – ambos participantes esporádicos hoje –, o grupo mandou muito bem com a rascante Julia Barth à frente. Set-list de primeira, intercalando clássicos replicantes (“África do Sul”, “Chernobil”, “Nicotina”) com outras do repertório novo – na mesma linha baixo-rock-bateria pegado e riffs inteligentes com letras idem. Mas, principalmente, a boa surpresa foi ver a própria Julia comandando o palco, numa performance de tirar o chapéu. Até me desfez a má impressão que fiquei dela do show de 30 anos d'Os Replicantes, há dois anos, quando, provavelmente intimidada com os integrantes mais velhos (Gerbase, Wander, Luciana Tomasi), mostrou-se numa postura defensiva e um tanto pedante. 
Eu vidrado no show da RDP.
foto: Leocádia Costa
Mas e o Ratos de Porão? A qualidade de sempre. Desta vez, porém, somente para tocar os “tiros curtos” de “Crucificados...”, disco que tem pouco mais de 18 minutos no original. No caso, com bis e outras coisas, foi pouco mais de meia-hora. Conforme anunciou Gordo, orgulhoso e brincalhão: “’Cês tão ligado que hoje não tem essa coisa metal, não, né?. Com essa formação é só a coisa pura, a coisa ingênua, do coração”, referindo-se à sonoridade ainda crua e bastante inspirada no punk e hardcore do final dos anos 70 e início dos 80, como Dead Kennedy's, D.R.I. e Exploited. “Morrer”, com sua memorável abertura – a bateria cavalgando rápida, guitarra e baixo na combinação 2/2 e Gordo abrindo com aquele berrado: “Um dois, três, quaaaaa...” –, incendeia de cara a plateia, que cai no pogo e não para até o fim da apresentação. “Caos”, a mais curta de todas (ridículos 15 segundos) e “Guerra Desumana” antecedem outra boa de poguear: “Agressão/Repressão”, cantada em coro no refrão. Igualmente, “Que vergonha!”, que emenda com outra clássica, “Poluição Atômica”, presente também na coletânea "Sub", primeiro registro da RDP e de vários outros grupos do punk brasileiro. 
O melhor performer
do rock nacional em ação.
foto: Leocádia Costa
Também das mais queridas da galera é “FMI”, cujo refrão simplesmente genial todos entoaram: “O FM-ê não está nem aê!”. “Só penso em matar”, com seu riff poderoso, é outra das grandes do disco e do show. “Não me Importo”, mais um hino do punk nacional (“Não me importo com o mal/ Que assola a humanidade/ E a poluição que sufoca minha cidade/ Não me importo com o papa/ Fazendo caridade/ E a corrupção me tira a liberdade”), é daqueles de sair dando botinada pra tudo que é lado. A melhor – e talvez mais conhecida do disco fora do meio alternativo –, a faixa-título, é daqueles riffs geniais, prenúncio do avanço composicional que a banda teria mais tarde, a partir de 1987, com “Cada dia Mais Sujo e Agressivo”, principalmente. Os próprios integrantes, totalmente à vontade e curtindo o momento, gostaram tanto de tocá-la (e o público de ouvir e dançar) que a repetiram logo em seguida – o que não somou 3 minutos, visto que a música tem menos de 1 e meio. Fechando com “Corrupção”, o bis trouxe “Periferia”, faixa do próprio disco que tinham se esquecido de tocar, e outras três clássicas: “Velhus Decréptus” (do “Descanse em Paz”, de 1986), “Vida Ruim” (“Não dá mais pra aguentar/ Essa vida ruim/ Essa vida de pião/ Você anda sem nenhum tostão...”), e “Realidades da Guerra” (essas duas últimas do “Sub”).
 Festa punk completa, com direito a entrada, prato principal e cereja do bolo. Leocádia Costa, que registrou em fotos e vídeo o show, e nunca tinha visto os Ratos ao vivo, saiu positivamente impressionada. Afinal, uma coisa é certa – e pouco falada –: o RDP é das grandes bandas do rock mundial e João Gordo é o melhor performer do rock brasileiro. Ponto. Que venham os Ratos de Porão novamente em 2016, que estarei lá na certa. Quem sabe, comemorando o aniversário do “Descanse em Paz”?

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vídeo Ratos de Porão - “Só pensa em matar”



fotos e vídeo: Leocádia Costa




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