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quarta-feira, 21 de julho de 2021

Musica da Cabeça - Programa #224

 

Semana de começo de Olimpíadas, e você se dá conta de que não pode estar lá. Aliás, nem quem é japonês pode estar nos jogos! Para preencher essa lacuna e aproximar você de Tóquio, o MDC vem com muita música legal, inclusive do Japão. E também tem a Karnak, a Living Colour, a Maria Bethânia, a Sonic Youth, a Rita Lee e mais. No "Cabeça dos Outros", também um pouco de Esporte e um músico japonês, o Cornelius, no quadro "Cabeção". Faz assim: escuta o programa hoje, que você não vai nem precisar acordar de madrugada pra isso, pois é às 21h, na olímpica Rádio Elétrica. Produção, apresentação e tocha acesa: Daniel Rodrigues.


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

sexta-feira, 8 de março de 2013

cotidianas #208 - Especial Dia Internacional da Mulher - "Todas as Mulheres do Mundo"



Elas querem é poder!

Mães assassinas, filhas de Maria
Polícias femininas, nazijudias
Gatas gatunas, kengas no cio
Esposas drogadas, tadinhas, mal pagas


"Salomé de Wilde", REIS, Cly
óleo sobre tela (120x60cm)
Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz

Garotas de Ipanema, minas de Minas
Loiras, morenas, messalinas
Santas sinistras, ministras malvadas
Imeldas, Evitas, Beneditas estupradas

Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz

Paquitas de paquete, Xuxas em crise
Macacas de auditório,velhas atrizes
Patroas babacas, empregadas mandonas
Madonnas na cama, Dianas corneadas

Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz

Socialites plebéias, rainhas decadentes
Manecas alcéias, enfermeiras doentes
Madrastas malditas, superhomem sapatas
Irmãs La Dulce beaidetificadas

Toda mulher quer ser amada
Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada
Toda mulher é meio Leila Diniz


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"Todas as Mulheres do Mundo"
(Rita Lee)


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Música da Cabeça - Programa #254

 

Estamos salvos da III Guerra Mundial?! Enquanto o lunático acredita nas próprias mentiras, a gente vem com mais um MDC, o de nº 254, que isso sim podemos afirmar com certeza. Certíssimos também estão Rita Lee, The Police, Engenheiros do Havaí, The Cranes e Secos & Molhados, que comparecem certo. Afirmativo ainda a Semana de Arte de 22, que completou 100 anos e que estará em mais de um momento. Não tem erro: o programa de hoje vai ao ar na assertiva Rádio Elétrica, pontualmente às 21h. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues. Pode confiar.


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

quarta-feira, 4 de março de 2020

Música da Cabeça - Programa #152


Sabe o que realmente cura epidemia? Não é o óleo consagrado dos charlatões, mas ouvir o Música da Cabeça! Hoje, nossos fiéis ouvintes serão abençoados com o som de Fernanda Abreu, Vitor Ramil, Miles Davis, Talking Heads, Rita Lee, Nico e outros. Tem também "Sete-List" sobre compositores e as suas escolhidas. A profecia começa às 21h, na ungida Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues. Porque a doença vai cair quando chegar em você! 


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Música da Cabeça - Programa #301

 

Falta mais alguma coisa pra entender que é "sem anistia"? Então, a gente completa com as nossas próprias letras, e na cor de sangue! No programa de hoje, restaurando a ordem pública, interveem Kraftwerk, Chic, Legião Urbana, Sam Cooke, Rita Lee e mais. Também um Sete-List, pra enumerarmos coisa boa e não vandalismos. Então, o negócio é o seguinte: prisão pra essa gente e MDC no ar! Será às 21h, na republicana Rádio Elétrica. Produção, apresentação e "manda aí o Bozo de volta, Biden!": Daniel Rodrigues.

www.radioeletrica.com


quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Música da Cabeça - Programa #294

 

Gigante gentil, amigo de fé, Tremendão, Billie Dinamite, irmão camarada. Todos os adjetivos para a gente celebrar no MDC Erasmo Carlos, que o Brasil perdeu esta semana. Mas o programa também terá David Bowie, Sugarcubes, Rita Lee, Mundo Livre S/A e mais, além de um Cabeça dos Outros invocando a Pink Floyd. È hoje aqui na papo-firme Rádio Elétrica. Produção, apresentação e iê-iè-iê: Daniel Rodrigues


radioeletrica.com

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Música da Cabeça - Programa #196

 

Sem vacina pra Covid ainda, a gente inocula no MDC aquilo que temos em estoque: boa música. Muitas doses musicais com Sandra Sá, Iggy Pop, Rita Lee, Pixies, Noca da Portela, Funkadelic, Noriel Vilela e mais. Te prepara, que a nossa vacinação em massa começa hoje, às 21h, na imunizada Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues (#Vemvacina e se tu não tem o que fazer aí, então #ForaBolsonaro)


Rádio Elétrica:
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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Tono - "Aquário" (2013)



“Nessa madrugada, Alice Caymmi me deu um toque em seu Facebook: o novo disco do Tono, intitulado ‘Aquário’, finalmente entrou no ar para audição no Soundcloud. Pronto. Era tudo que eu precisava para... não dormir. Que coisa linda, que disco maravilhoso.”
DJ Zé Pedro




As coisas até que não andam tão mal em termos de música brasileira ultimamente. Se noutros segmentos o Brasil insiste no atraso, na música uma galera nova, cheia de referências e de cabeça aberta, vem surpreendendo positivamente esse que vos fala. Primeiro, a descoberta de Lucas Arruda, que já relatei recentemente num urgente ÁLBUM FUNDAMENTAL, jovem da soul-samba dono de uma criatividade e técnica diferenciadas. Agora, recomendado por minha antenada amiga Luciana Danielli, de Niterói (RJ), conheci a Tono. E que bela surpresa!
                         
A banda é do filho de Gilberto Gil, Bem Gil, violonista/guitarrista de mão cheia – e, ao que se nota, ótimo compositor também a exemplo do pai –, conta ainda com a doce voz de Ana Claudia Lomelino, o baixista Bruno Di Lullo – que já tocou com Gal Costa –, e Rafael Rocha na bateria e programação eletrônica. Com forte inspiração na turma Maravilha 8 (Moreno Veloso, Berna Ceppas, Kassim, Domenico, Daniel Carvalho, Pedro Sá e agregados), que vem ditando a MPB desde o final dos anos 90, a Tono, no entanto, não apenas repete uma fórmula. Aliás, até repete, mas a faz com personalidade e uma elegância ímpares. Se for comparar a sonoridade da Tono a um look de vestuário de moda, caberia muito bem dizer que eles são um “chic despojado”.

No seu terceiro disco da carreira (lançaram “Auge”, em 2009, e “Tono”, em 2010), “Aquário”, de 2013, a rapaziada apresenta uma sonoridade que mistura Tropicalismo, Clube da Esquna, jazz e eletrônica a uma serena psicodelia rock, quase hippie. Alternativo, indie, experimental, pós-rock: várias acepções podem ser dadas a eles que já foram classificados de “charme desarrumado” e até de “Indefinível”.

Belíssima, “Murmúrios” abre o disco numa bossa-dub com ares jazzísticos (um tanto Incognito e Stereolab), numa revisita à atmosfera melancólica de “Gestos”, de Amado Maita (do “gesto” ao “murmúrio”). A voz de Ana Cláudia é despretensiosa, leve, porém não desnutrida como a de uma Mallu Magalhães. Sem rebuscamentos, embora afinada e precisa. Os sons eletrônicos, bem retrô, se mantém o tempo todo junto aos instrumentos acústicos, interagindo-se, mesclando-se.  As letras, igualmente, bastante bonitas: “Como Vês” (“Como vês o amor vai desbotar/ As cores nas fotos que ele tocar...”), “Tu Cá, Tu Lá” (“Nem sempre é possível/ Perceber o infinito/ Como algo em que se/ Possa tocar/ Mas talvez acessível/ Seja a busca do profundo/ Precipício imprevisível que há...”) e “A Cada Segundo” (A Cada Segundo no mundo/  Dorme-se um sono profundo...) são exemplos.

Destaque para a versão de “Chora Coração”, de Tom e Vinicius, num arranjo cadenciado, quebrado e dissonante; a citada “Como vês”, música de Domenico e Di Lullo já muito bem gravada por Alice Caymmi e que aqui ganha um arranjo espacial e delicado, lembrando coisas de Rita Lee nos Mutantes ou o experimentalismo da obscura banda norte-americana The United States of America; “Do Futuro”, em que Ana Cláudia encarna uma moderna Nara Leão para entoar um samba-marcha hi-tech; e “Da Bahia”, em que o violão encantado do mestre Gil presenteia o grupo com seu toque, além do backing vocal e da própria melodia, de sua autoria, que carrega a assinatura do velho tropicalista.

É muito gostosa a sensação de ouvir a Tono. Parece que se está dentro d’água, no ritmo das ondas aquáticas e sonoras. Tudo muito audível, bem tocado, bem equalizado.  A produção do craque Arto Lindsay, há mais de três décadas conectado com a modernidade estética da MPB, amarra tudo num som pequeno e inteiro. Em termos musicais, lembra, de fato, a sina aberta pelo Tropicalismo desde Mautner, mas ainda mais fortemente a sonoridade do revolucionário "Recanto", de Gal (2012), o qual, por sinal, já se nutria de elementos explorados por Moreno/Kassim/Domenico desde “Máquina de Escrever Música”, de 2000 (vide a faixa “Assim”, que as semelhanças ficam bem evidentes). Um aquário de peixes bem alimentados e em evidente fase de crescimento.
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FAIXAS:
01. Murmúrios
02. Sonho com Som
03. Como Vês
04. Tu Cá Tu Lá
05. Chora Coração
06. Leve
07. Do Futuro (Dom)
08. UFO
09. Pistas de Luz
10. Da Bahia
11. A Cada Segundo

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OUÇA O DISCO



terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Jorge Ben - "Solta o Pavão" (1975)



"Pavão Real, Pavão Dourado
Procedente da África e da Índia [...]
Sua cauda, de uma plumagem azul. verde e ouro
Formando um lindo e majestoso leque
Na Idade Média
O pavão, pela sua figura bonita e livre
Era visto como uma ave real e da sorte." 
Jorge "Sanctus" Ben,
do texto da contracapa original do disco 


Na metade dos anos 70, Jorge Ben, que ainda não tinha se tornado o Benjor que assumiria a guitarra elétrica no lugar do violão, já havia alcançado tudo que um artista popular podia. Estouro no disco de estreia, altas e baixas vendagens, idolatria e ostracismo, adesão a movimentos (sambalanço, soul, tropicalismo), participação e vitória em festivais, hits nas paradas, gravações internacionais e até briga judicial por plágio (vencida por ele sobre um Rod Stewart metido a esperto). Mas principalmente, desde que começara a carreira, o “Babulina” foi responsável pela talvez mais extensa e irreparável sequência de discos de um artista na indústria fonográfica no Brasil. Somente nos primeiros cinco anos daquela década, enfileirou os álbuns “Força Bruta”, “Negro é Lindo”, “Ben” e “10 Anos Depois”, isso sem falar dos registros ao vivo com o Trio Mocotó e dos clássicos absolutos “Gil & Jorge/Xangô Ogum” e “A Tábua de Esmeralda”. Com estes dois, principalmente o segundo, o autor de “Chove Chuva” atingia o ápice da criatividade e forjava uma linguagem totalmente peculiar, com melodias de alta inventividade, harmonias despojadas, estilo de cantar próprio e ritmo, muito ritmo. Seu samba-rock, carregado de referências ao esoterismo, à religião, à filosofia e a uma visão humanista do mundo, é igualmente sustentado na cultura popular da ginga, do país tropical, do amor, das moças bonitas e da cordialidade.

O que faltava, então, a um artista consagrado por crítica e público? Explodir. Isso que é “Solta o Pavão”: uma explosão de sonoridade, de balanço, de misticismo, de religiosidade, das paixões. Aquilo que Ben trouxera em “A Tábua...” se intensifica neste seu último disco antes da adoção de vez da guitarra, ocorrido um ano depois noutro disco emblemático, “África Brasil”. Está nele toda a bruta brasilidade de Ben, encharcada de matizes africanas e influenciada por elementos da cultura pop, do funk norte-americano ao gospel, da soul ao blues, do rock ao jazz. “Solta...”, assim, com seus riffs inspiradíssimos, sua percussão carregada e arranjos modernos, tem o despojamento e o peso de um disco de rock – sem dever nada em densidade a outros de roqueiros daquele ano, como “Fruto Proibido”, de Rita Lee, ou “Novo Aeon”, de Raul Seixas –, mas ainda com um pé no Jorge Ben do “Samba Esquema Novo”: o da batida percussiva no violão de nylon, malemolente, suingado, malandro, enraizado no morro.

A abertura dignifica todas essas qualidades: um riff de violão como um Neil Young acústico e a batida potente da percussão ao fundo. Prenúncio do arrasador samba que irá começar: “Zagueiro”, uma ode ao “anjo da guarda da defesa” no futebol. Quem sustenta a coesa cozinha, além da Admiral Jorge V Group (João “Van da Luz”, piano; Dadi “Aroul Flavi”, baixo; João “Zim” da Percussão, ritmo; e Gusta “Von” Schroeter, bateria) são os Cream Crackers, grupo formado por ninguém menos que o percussionista e arranjador Zé Roberto, o não à toa intitulado Mestre Marçal e um jovem pernambucano já muito afim com o samba chamado Bezerra da Silva. Todos comandados pela batuta de Jorge “Sanctus” Ben.

O pensamento sobre o ser humano ganhava suma importância na obra de Ben àquela época. Se o filosofia alquimista do Egito de 1.300 a.C. fora responsável pela letra de “Hermes Trismegisto Escreveu” em “A Tábua...”, agora Ben volta sua abundante musicalidade para dar cores aos densos escritos do filósofo oficial da Igreja da Idade Média: São Tomás de Aquino. Capaz de musicar até bula de remédio (e torná-la suingada!), Ben adapta trechos do complexo livro “Suma Teológica”, escrito no século XIII, e o transforma num samba cheio de molejo. Em “Assim Falou Santo Tomás de Aquino” ele consegue imprimir no hermético texto escolástico frases sonoramente cantaroláveis, como: “Senhor, que tens tido feito o nosso refúgio” ou “Estão enganados, puramente enganados/ Estão errados, puramente errados”.

O clima de devoção sambada continua na sequência numa das melhores do disco – e, por que não, da carreira de Ben. “Deus todo poderoso eterno pai da luz, da luz/ De onde provem todos bens e todos dons perfeitos/ Imploro vossa misericórdia infinita, infinita/ Deixai-me conhecer um pouco de vossa sabedoria eterna”. Esses versos dão a ideia da contrição contida na lindíssima "Velhos, Flores, Criancinhas e Cachorros", misto de prece franciscana e canto humanista. De ritmo vibrante e contagiante, passa longe de ser piegas. Pelo contrário, a música tem uma aura especial, tanto por causa da melodia quanto pelo coro alto e intenso, que traz o mesmo “Ôôô” de “Os Alquimistas Estão Chegando”, de “A Tábua...”, porém, usados em outro tom para dar uma atmosfera de canto litúrgico. Ben, como em todo o disco, está solto, tocando o violão com total desembaraço, brincando com vocalizes e melismas e inventando cantos na hora da execução.

Por falar em brincadeira, a divertida "Cuidado com o Bulldog" é, além disso, um show de musicalidade. Começa em um ritmo de rock com o band leader esmerilhando o violão e Dadi mandando ver numa base de baixo no melhor estilo Novos Baianos, ambos acompanhados por uma bateria que abusa dos rolos. Até que, de repente, um breque, e a música dá uma virada para se transformar num samba gingado daqueles de não deixar ninguém parado. A impressão é de farra, mas os músicos estão fazendo um samba-jazz do mais alto nível. Ben aproveita para se divertir com o tema, lançando grunhidos como se estivesse sendo mordido pelo cão (um desses, sampleado pela Nação Zumbi no início de “Cidadão do Mundo”, do disco “Afrociberdelia”, de 1996) e bolando frases engraçadas como: “Bulldog, mandíbulas de ouro” ou “Bulldog não perdoa, Bulldog morde”. Registro ao vivo no estúdio – assim como tudo dos álbuns dele à época –, lembra a naturalidade e a descontração das jam sessions com Gilberto Gil do então recente “Gil & Jorge”. Impagável.

"O rei chegou, viva o rei", com sua linha de metais tropicalista, segue o conceito letrístico de prosa medieva (“Então vierem os cavaleiros com seus uniformes brilhantes/ Garbosos e triunfantes/ Um abre-alas lindo de se ver/ E logo atrás/ Separado por lanceiros/ Vinha a guarda de honra, orgulhosa, polida, agressiva/ Porém bonita/ Anunciando e protegendo o rei”), estilo que serviria, entre outras semelhantes de Ben, de inspiração a Caetano Veloso para escrever “Alexandre”, do disco “Livro”, de 1997. Também prosada e tomada de suingue, "Luz Polarizada" (“Coloque o teu grisol sob a luz polarizada/ Ó meu filho/ Lava as escórias com a água tri-destilada/ Pois aquele que forja a falsa prata/ E o falso ouro/ Não merece a simpatia de ninguém”) lembra a psicodelia de “O Homem da Gravata Florida”, do disco anterior. Ben, totalmente à vontade com os companheiros no estúdio, chama-os para o “La, la, la, la, la, la” do refrão dizendo: “Quero ver o coral agora!”

Mas se tem algo que está no mesmo pé que a religiosidade e o esoterismo em “Solta...” são elas: as musas. Como um menestrel medieval apaixonado, Ben canta para várias delas: "Dumingaz", um samba “maravilha” e “sensual”, como classifica o próprio enquanto canta; “Luciana”, a “canção singela” feita pra lembrar-se do seu trovador quando se ouvir no rádio (clara homenagem a Gil por "Essa é pra Tocar no Rádio", que gravaram juntos em "Gil & Jorge" um ano antes); "Jesualda", samba-rock de riff puxado no assovio que conta a história da mulata saída da favela que ganhou a vida no exterior; e "Dorothy", outra irretocável, com destaque para o arranjo de flautas de Ugo Marotta.

“Solta...” ainda tem a gostosa "Se Segura Malandro", tema do filme homônimo de Hugo Carvana (na linha de “O Namorado da Viúva”, de “A Tábua...”) e um dos mais inspirados temas da história da música brasileira: “Jorge da Capadócia”. Um hino da MPB, regravado por Caetano, Fernanda Abreu e Racionais MC’s, que virou um símbolo do próprio autor, xará do Santo Guerreiro e filho de Ogum, o correspondente ao santo católico no Candomblé pelo sincretismo. Musicando a oração de São Jorge, Ben atinge um clímax como apenas em especiais momentos de sua carreira conseguira – talvez, parecidas, só “5 Minutos” e “Zumbi”, faixas que cumprem o fechamento dos discos “A Tábua...” e “África Brasil”. Isso porque, ao evocar as preces ao Jorge dos Céus, o Jorge da Terra o faça com tamanha potência que a música acaba ganhando uma dimensão mais profunda, etérea e espiritual. O Coral do Kojac entoa o título da canção repetidas vezes num samba marcado e intenso sob um riff de guitarra (sim, de guitarra!). Porém, a exaltação se arrefeça para, aí sim, serem declamados os emocionados versos: “Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge/ Para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem/ Para que meus inimigos tenham mãos e não me toquem/ Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam/ E nem mesmo um pensamento eles possam ter para me fazerem mal”. Ben, com sua voz oscilante, funde canto de escravos à dicção do morro. Um teclado entra para fazer a base, enquanto o violão sola e a percussão, estilo jazz-fusion, desenha um compasso arrastado e assimétrico. Para terminar, retorna a melodia da abertura, porém ainda mais enérgica, mais volumosa, mais expressiva. Um desbunde.

Guardadas as devidas proporções, “Solta...” é o “Magical Mystery Tour” de Jorge Ben: ao mesmo tempo em que é a continuidade natural de uma obra-prima revolucionária (“Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band”, no caso dos Beatles, “A Tábua...”, para o músico brasileiro), também a consolida, redimensionando-lhe as ideias e conceitos originais. Assim, tanto este quanto o da banda inglesa passam longe de serem meros “volumes 2” das obras-irmãs, haja vista que são tão únicos quanto estas e até mais ousados. “Solta...” é, sim, um feliz acontecimento da música brasileira de um momento em que Ben, figura única no panteão da MPB, está com toda vitalidade e alegria. Um artista pleno, que concebeu, na linha evolutiva de sua própria obra, o mais livre e completo trabalho. Majestoso e colorido como a cauda de um pavão.

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FAIXAS:
1. "Zagueiro" - 3:05
2. "Assim Falou Santo Tomaz de Aquino" - 3:04
3. "Velhos, Flores, Criancinhas e Cachorros" - 3:16
4. "Dorothy" - 3:58
5. "Cuidado com o Bulldog"  - 2:53
6. "Para Ouvir no Rádio (Luciana)" - 4:20
7. "O rei chegou, viva o rei" - 3:03
8. Jorge de Capadócia"  - 3:53
9. "Se Segura Malandro" - 2:53
10. "Dumingaz" - 3:30
11. "Luz Polarizada"  - 2:20
12. "Jesualda" - 4:06
todas as composições de autoria de Jorge Ben

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OUÇA O DISCO:
Jorge Ben - "Solta o Pavão"


Daniel Rodrigues

domingo, 3 de dezembro de 2023

Festival Zumbi dos Palmares - Parque Marinha do Brasil - Porto Alegre/RS (26/11/2023)

 

Uma despretensiosa saída de casa para um solzinho no fim de tarde levou Leocádia e a mim a uma agradável programação, que ocorria no Parque Marinha do Brasil, praticamente ao final de nossa rua. O dia bonito garantiu que muita gente aproveitasse o parque e a Orla, sempre lotada de pessoas fazendo esporte, caminhando, correndo, passeando e... assistindo apresentações! Foi o nosso caso, que, após uma visita à pista de skate, que sempre gostamos de ver a galera fazendo manobras e aproveitando o espaço público, deparamo-nos com um pequeno festival, o Zumbi dos Palmares, que ocorria do outro lado da av. Edivaldo Pereira Paiva, a antiga Av. Beira-Rio, ao lado da Orla. Celebrando a cultura afro, o festival ornou o ambiente com flores e ganhou de presente um lindo pôr-do-sol do Guaíba no final de tarde.

Ali pudemos parar para dar uma descansada da caminhada e assistir a agradável Tereza, A Banda, uma turma cheia de suingue e brasilidade inspirada, claro, em Jorge Ben e seu clássico samba-rock “Cadê, Tereza”. Com um repertório que ia de Djavan a Rita Lee, passando, obviamente, pelo Babulina, tivemos uma agradável surpresa, principalmente pela qualidade vocal de sua cantora, Vitória Viegas, de voz potente e muito musical. Toda a banda, aliás, de bons músicos, talvez ainda um pouco crus em relação a suas próprias musicalidades, que creio que devem seguir percebendo que têm cada um como crescer ainda mais na liberdade de tocar. Mas isso passa longe de ser uma crítica, afinal, o que vimos, gostamos. Tomara nos deparemos de novo com a Tereza, A Banda por aí.

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O agradável ambiente de fim de tarde no Marina


Um pouquinho de Tereza, a Banda no palco


Este casal que vos fala curtindo o festival



texto;
Daniel Rodrigues
fotos e vídeo: Daniel Rodrigues e Leocádia Costa

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Música da Cabeça - Programa #164


Numa semana em que Tornado faz 90 anos e Dylan chega a quase 80, a gente só pode entender que é música que nos mantém vivos. Eles e outros artistas nos ajudam a manter o sangue correndo nas veias e, mais que isso, a compor o MDC de hoje. The Cult, Vitor Ramil, Red Hot Chili Peppers, Rita Lee, R.E.M. e Françoise Hardy são alguns dos que pegam junto conosco. E os quadros "Cabeça dos Outros", "Palavra, Lê" e "Música de Fato" completam nosso programa, que vai ao ar às 21h, na longeva Rádio Elétrica. Produção, apresentação e coração batendo: Daniel Rodrigues. #ficaemcasa e #nãoteaglomeramaluco


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO, ClyBlog 8 anos - Robson Jorge & Lincoln Olivetti - "Robson Jorge & Lincoln Olivetti" (1982)

Minha Bíblia Musical
por Lucas Arruda


“O disco solo do Lincoln Olivetti e do Robson Jorge é uma referência de que é possível fazer um disco bem gravado MESMO, em qualquer condição, basta dedicação e talento”.
Ed Motta



Alegria imensa em poder falar um pouco deste álbum! Pessoalmente, é o disco que mais influenciou em termos de arranjo, sonoridade, composição. Minha bíblia! Um registro magistral da parceria do Robson e Lincoln, dupla de músicos e produtores que dominou a produção musical no Brasil durante a década de 80.

Este disco representa toda a perfeição técnica que os dois sempre buscaram em suas produções e traz um time incrível de músicos, os melhores daquela geração! Paulo Cezar Barros, Jamil Joanes, Picolé, Paulo Braga, Mamão, Oberdan Magalhães, Leo GandelmanMárcio Montarroyos, Bidinho, Serginho do Trombone, Zé Carlos Bigorna e outros brilhantes músicos. Um supertime!

São 12 faixas que trazem a mais perfeita simbiose entre a black music norte-americana e a música brasileira. Os arranjos de sintetizadores explicam porque Lincoln é chamado de mago, e o Robson é sem dúvida um dos maiores músicos que este país viu, embora incrivelmente pouco citado!

A primeira música que ouvi deste álbum foi a balada "Eva". Destaque para o trabalho rítmico das guitarras do Robson nesse disco, assim como a melodia tocada em uníssono com a voz. Aliás, essa é uma característica forte do álbum. Canções instrumentais, com os vocalises do Robson às vezes cantando pequenos trechos de letra, outras vezes a melodia. Tomo a liberdade de dizer que isso me influencia muito.

Tem algo de muito incrível nesse disco! A capacidade de criar hits sem letras, ou com apenas uma palavra, como o clássico “Aleluia!”. Esta é a faixa mais conhecida deste disco, e traz ecos do Earth, Wind and Fire. Ninguém no Brasil conseguiu traduzir essa sonoridade como os dois fizeram. Nota-se também a influência da música latina (“Raton” e o medley “Baila Comigo/Festa Brava”).

Outra canção que evidencia a habilidade do Robson como guitarrista é o funk "Pret a Porter". Aliás, ouso dizer que este disco pode ser muito mais classificado como um disco de música norte-americana influenciado por música brasileira do que o contrário. É um disco que realmente pode ser equiparado às produções norte-americanas da época em termos de sonoridade e qualidade técnica.

O disco abre com “Jorgea Corisco”, segue para a balada “No Bom Sentido” e logo após “Aleluia!”. Depois a latina “Raton” e a genial “Pret a Porter”. “Squash”, com lindas dobras de synth e guitarras e a canção “Eva”, com um clima quase blaxploitation. “Fá Sustenido” apresenta quase um acento reggae nas guitarras e lindo arranjo de vocoder. Passamos pelo samba do morro no interlúdio “Zé Piolho” e seguimos pro medley “Baila Comigo/Festa Brava”. Finalizando: o samba funk “Ginga” com um poderoso naipe de metais e a última faixa do disco: “Alegrias!”.

Mas na verdade não consigo ser muito teórico ao falar deste trabalho. Eu amo este disco! É um álbum que abriu muitos caminhos musicais na minha cabeça, e sou eternamente grato por esse trabalho existir. Recentemente, durante as gravações do meu terceiro disco, tive o prazer de trabalhar com o grande Edu Costa, engenheiro de som e braço direito do Lincoln em suas produções. Pude ouvir muitas histórias incríveis e absorver um pouco do universo dos dois.
Recomendo muito! E pra quem ainda não ouviu com atenção, ouça! É uma obra-prima! Felizmente este disco vem sendo cada vez mais cultuado. E assim como outros clássicos é um trabalho sempre presente na minha vida. Referência forte, sempre!

Robson Jorge & Lincoln Olivetti - "Pret-à-Porter"

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FAIXAS:
1-Jorgea Corisco
2-No bom sentido
3-Aleluia
4-Raton (Contesini)
5-Pret-à-porter
6-Squash
7-Eva (Ronaldo, Olivetti, Jorge)
8-Fã sustenido
9-Zé Piolho
10-Baila comigo (Roberto de Carvalho, Rita Lee)/Festa braba (Olivetti, Jorge)
11-Ginga
12-Alegrias
todas as composições de autoria de Lincoln Olivetti e Robson Jorge, exceto indicadas
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OUÇA O DISCO:




Natural do Espírito Santo, Lucas Arruda é um jovem compositor, cantor, arranjador, produtor e multi-instrumentista. Um dos maiores talentos da música brasileira dos últimos anos, leva suas influências de soul, funk, MPB, jazz, rock e blues ao mundo, principalmente a Europa e ao Japão, onde é reverenciado. Em fase de conclusão de seu mais novo trabalho, tem dois discos: "Sambadi", de 2013, integrante da lista dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS do ClyBlog, e o igualmente elogiado “Solar”, de 2015. Um digno representante da linhagem dos músicos do jazz-soul brasileiro, que passa por AzymuthBlack Rio, Marcos Valle, Robson, Lincoln e Ed Motta. Lucas foi especialmente convidado pelo Clyblog para falar sobre um disco de sua predileção em razão das comemorações pelos 8 anos do blog.
www.facebook.com/lucasarrudaofficial/?fref=ts

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Música da Cabeça - Programa #142


Trazemos a boa-nova! Não, não é o nascimento do JC: é o MDC! O Música da Cabeça de Natal vai estar bem brasileiro e com o saco cheio dos presentes sonoros: TNT, Ed Motta, Rita Lee, Alceu Valença, Renato Russo e Caetano Veloso, além dos estrangeiros Cocteau Twins, Michael Jackson e JohnCale. Tem também “Música de Fato” falando das mulheres, “Palavra, Lê” com letra natalina e um “Cabeção” reverenciando o múltiplo Brian Eno. Põe tudo na conta do Papai Noel, que ele garante um programa no nível que a data merece. É às 21h, no presépio cultural da Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues (Ho Ho Ho/ Let’s Go!).


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Quando o rock encontrou a bossa nova


A semana é de rock, cujo alucinante e revolucionário ritmo é comemorado dia 13, mas o que marcou mesmo esses últimos dias foi a perda da maior referência da bossa nova, João Gilberto, no último dia 6. De modo a contemplar os dois, então, o rock'n'roll e a bossa nova, trago aqui um cruzamento de algo que de muito me instiga: o samba no rock. Como bem classificou Rita Lee: "bossa 'n' roll".

Não é de hoje que os estrangeiros, seja dos Estados Unidos, Europa ou Ásia, morrem de amores por nossa música, especialmente pelo samba – e não tem estilo mais representativo deste ritmo e da música brasileira que a bossa nova, nosso maior produto-exportação depois do futebol. Mas uma coisa é certa: gringo não sabe fazer samba. Não adianta. Eles se esforçam, admiram, veneram, imitam mas não sai igual. Falta ginga, falta sol tropical na moleira, falta melanina, falta pobreza. Sei lá o que, mas falta. E um dos maiores segredos é, justamente, a batida do violão de João. Se muito brasileiro não entende, imagina eles.

O que não quer dizer, entretanto, que não saia legal o que eles fazem. Essas assimilações culturais e troca de percepções me agradam, ainda mais considerando um mundo cada vez mais conectado e de acesso fácil a conteúdos antes apenas nichados.

Mas mesmo assim – e aí que está a graça – um samba feito por alguém de fora tem uma cara diferente. Não raro, sai um troço quadrado, sem molho ou, pior, confundido com rumba ou salsa caribenhas. Tem, contudo, resultados muito legais, inovadores, globalizados. Visto pelo ângulo deles, os de fora, são contribuições do olhar do estrangeiro, a forma como eles entendem nossa cultura.

Por isso, separei aqui 13 (afinal, trata-se também de rock ‘n’ roll) sambas criados e cantados por quem não nasceu no Brasil e nem se criou aqui. Não sai nada igual ao que João fez, eles mesmos sabem. Mas tentaram e não se saíram mal.



Beastie Boys - “I Don’t Know”

Os Beastie Boys são aqueles caras que evoluíram pra caramba disco após disco, e em “Hello, Nasty”, de 1998, permitiram-se arriscar com esta bossa-nova, que ficou bem bonita. O violão, entretanto, não deixa mentir: tocado com palheta e não dedilhado tal como os mestres do instrumento no Brasil. Yuka Honda, figura claramente importante neste cenário (como boa japa admiradora de MPB que é), participa cantando. A rapaziada se saiu bem.
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Beck – “Tropicalia”

Se tem alguém que chegou bem perto de fazer igual aos brasileiros, esse cara se chama Beck. Admirador da MPB, “rato” de loja de disco e, mais do que isso, músico de bom ouvido, em 1998 mandou ver nessa homenagem ao Tropicalismo que tem, até pelas inclusões de funk e elementos modernos, a maior cara do que Caetano, Gil e Cia. Propuseram. A batida do violão, calcanhar de Aquiles pra quem não é daqui, em “Tropicalia” soa perfeito. Podia ser até um Baden ou Macalé tocando.
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Towa Tei - "Let me Know"

Tá bem que Towa Tei é parceiro costumeiro de Bebel Gilberto, que certamente lhe deu umas aulinhas de ziriguidum. Mas o resultado da leitura do samba deste músico japonês é recorrentemente admirável e pessoal. Sob a ótica de um DJ calcado nos beats dançantes, o ex-Deee-Lite tem joias como esta do disco "Last Century Modern", de 1999,, em que nem a batida eletrônica é capaz de excluir o repique típico do samba. Linda canção que muito brasileiro jamais seria capaz de compor.



The Rolling Stones - "Sympathy for the Devil"

Pode não parecer samba, mas os próprios Stones disseram que a compuseram inspirados no que presenciaram numa vinda ao Brasil. Tá na cara que eles confundiram samba com candomblé, música de ponto, mas não importa se foi numa sessão de batuque ou numa quadra de escola de samba - e sabe-se lá em que estado se encontravam. O importante é que saiu essa pérola, um hino do rock que abre o clássico "Beggars Banquet", de 1969.





Sean Lennon - "Into the Sun"

O filho de Lennon e Yoko certa vez perguntou ao Sérgio Dias de onde os Mutantes tiravam aquela musicalidade e o brasileiro sarcasticamente respondeu: "do seu pai, sua besta!" Afora o mau humor desentendido da resposta, dá pra entender a dúvida do talentoso e interessado Sean naquilo que é uma esfinge a um estrangeiro: "como se faz samba?" Do seu jeito, Sean (ao lado de Yuka Honda, de novo nessas funções) compôs essa lindeza de bossa nova, que dá título ao seu primeiro disco, de 1998. O violão é meio duro, rola um pastiche dos arranjos de Tom Jobim, mas é visível que a linda música veio do coração.



The Deviants - "Nothing Man - Bun"

Sabe-se lá o que esses malucos da cena proto-punk de Londres ouviram de samba, mas o que saiu foi algo instigante e transgressor como um bom rock deve ser. A música encerra o baita disco "Ptooff!", primeiro deles, de 1967. Nunca o samba soou tão psicodélico e garage band.






Jamiroquai - "Use the Force"

Jay Kay e sua turma são talhados em tudo que se refere ao jazz soul dos anos 70, inclusive a brasileira Azimuth. São eles a maior inspiração da Jamiroquai para esta música do celebrado "Travelling Without Moving", de 1996. Sopros e vocal perfeitos, além da percussão bem latina. Mas, convenhamos, também não é samba.  






Cornelius - "Brazil"

A célebre "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso, foi o primeiro grande cartão de visitas da música brasileira pré-bossa nova, e por isso vários músicos daqui e de fora dela se apropriaram. Um deles, Keigo Oyamada, o Cornelius (mais um japonês!), compôs, em 2002, no disco "Point", essa reverência chamada, claro, de "Brazil". Indie eletronic de alta qualidade com a sua cara e, detalhe: domínio do violão como poucos, muito próximo à batida da bossa nova.




Ryuichi Sakamoto - "Free Trading"

Mais um japa, mas não qualquer um, pois estamos falando do genial Ryuichi Sakamoto. O universal músico, conhecedor de perto da MPB e sabedor do que estava fazendo, compôs "Free Trading" em seu discaço "Neo Geo", de 1888. Bossa com toques orientais. Afinal, quem e que disse que samba não pode ter também esse sotaque?





The Kinks - "No Return"

Imagina Paul McCartney ou Brian Wilson caindo no samba? Ia dar em coisa boa certamente. Pois quem fez isso foi Ray Davies, da Kinks – o que significa praticamente a mesma coisa em termos de grandeza. Esta joia chamada “No Return”, do espetacular "Something Else" (1967) - grata lembrança do meu amigo Lucio Brancato -, é bossa nova no melhor estilo, e sem deixar a dever em nada o toque do violão. Os versos são em inglês, mas o som é brasileiríssimo.



Ambitious Lovers - "King"

Ok, ok, eu sei que é meio “migué” por a Ambitious Lovers nessa lista sendo o Arto Lindsay tão brasileiro quanto norte-americano. Mas considerando que Peter Scherer é inteiramente de lá e que a banda formou-se em Nova York, vale esse “jeitinho brasileiro”. “King”, essa joia do primeiro disco da dupla, “Greed”, de 1988, tempera na medida certa o rock underground e o ritmo das escolas de samba. Coisa de brasileiro - mas americano também.




Brian Eno - "Kurt's Rejoinder"

A visão world music de Brian Eno não o deixaria fazer um samba convencional tal e qual o que ele ouviu aqui pelo Brasil. Ele até saberia, mas iria de fato resultar em algo reprocessado e personificado. Melhor exemplo é “Kurt's Rejoinder”, essa “samba de plástico” do brilhante álbum “Before and After Science”, de 1977.
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Gabriel Yared - "Chili con Carne"

Para fechar, outros que há muito se rendem à música brasileira são os franceses. Na trilha sonora clássica do cult movie dos anos 80 "Betty Blue" o compositor Gabriel Yared versou a canção-tema, entre outros ritmos, também para a bossa nova. C'était magnifique!
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por Daniel Rodrigues