No alto, a capa original, vetada pela
própria gravadora, seguida, abaixo,
pela capa alternativa, sugerindo um
convite para uma festa
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"As canções podem se metamorfosear
e "Sympathy for the Devil" é uma daquelas canções que
surgiu como uma coisa, começamos a mudança do ritmo
e depois tornou-se completamente diferente.
Começou como uma canção pop e,
em seguida, tornou-se um samba.
Uma boa canção pode se tornar qualquer coisa.
Ele tem um monte de referências históricas e muita poesia. "
Mick Jagger
A mesa está posta e um grande banquete sonoro será servido (bom, considerando a quem o jantar está sendo oferecido, pode ser servido no chão, mesmo).
"Beggars Banquet" dos Rolling Stones, de 1968, é verdadeiramente uma refeição dos deuses, mas ao contrário do que propõe o título, tal é a qualidade da comida que não é justo que seja oferecida a indigentes maltrapilhos, e sim à mais alta nobreza. Mas, pensando bem, por que um pedinte de rua não mereceriam algo desse tipo? Ainda mais estiver esmolando por boa música. Ah, aí sim! Em "Beggars Banquet" a doação é generosa.
Mas, sentem-se, arranjem um lugarzinho em torno da mesa improvisada no chão. Aperte um pouquinho que tem lugar pra todo mundo. A mesa pode ser modesta mas o cardápio é variado e farto.
Tem blues, tem country, tem folk, tem balada, tem soul, rock'n roll, é claro e... samba (?). Bom, não exatamente um samba, se tanto uma rumba ou algo do tipo, mas consta que a clássica e fantástica "Sympathy for the Devil" teria sido inspirada pelos ritmos brasileiros numa das passagens turísticas que Mick Jagger teve por essas bandas no final dos anos 60. Fato é que a combinação de ritmos latinos, sugerindo algo tipo magia-negra, associada à letra repleta de referências demoníacas, só contribuiu para aumentar a má imagem em torno do rock'n roll e especialmente em cima dos Stones, que seria selada definitivamente com o assassinato de um fã pelos seguranças da banda no show de Altamont, um ano depois.
Mas desculpem não termos servido um aperitivo antes de trazer o prato principal, pois, sim, "Sympathy for the Devil" é o ponto alto do banquete. Mas de entrada podemos servir-lhes uma baladinha folk leve, ao violão, "No Expectations", pra começar. Aceitam?
E seguem-se os pratos, cada um mais saboroso auditivamente que o outro: a deliciosa "Jigsaw Puzzle", com sua slide guitar e belíssimo trabalho de piano; o excepcional blues de harmônica envolvente, "Parachute Woman"; e o rockaço politizado "Street Fighting Man" com sua batida oca e pesada, baixo marcante e magistral levada de violão de Keith Richards.
Temos os country-rocks "Dear Doctor", "Prodigal Son" e "Factory Girl", se preferirem pratos mais interioranos; a soul-music "Salt on Earth" caso optem por uma especialidade mais popular, oriunda dos guetos negros de New Orleans; ou ainda a elétrica e pegada "Stray Cat Blues", um prato que pode cair pesado, pois é quase um protótipo de punk tal a energia sonora e fúria dos vocais de Mick Jagger.
Ah, saciado. Satisfeito.
Com "Beggars Banquet" os Rolling Stones voltavam às raízes e acertavam em cheio com um discaço daqueles como poucas vezes se tem a felicidade de fazer. Um ábum de encher os ouvidos e empanturrar a alma. Um verdadeiro jantar de nababos.
Está na mesa
Estejam servidos.
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FAIXAS:
1. Sympathy For The Devil - 6:14
2. No Expectations - 3:52
3. Dear Doctor - 3:19
4. Parachute Woman - 2:17
5. Jigsaw Puzzle - 6:07
6. Street Fighting Man - 3:10
7. Prodigal Son - 2:47
8. Stray Cat Blues - 4:32
9. Factory Girl - 2:06
10. Salt Of The Earth - 4:43
Ouça;
The Rolling Stones Beggars Banquet
por Cly Reis
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