No início os pai do moço num querío sabê de junção com aquela rapariga porcaus’ que ela num era de família respeitada, de família enriquecida, num tinha um torrão de terra, e de mais a mais o Coroné Durvalgino fazia gosto que o filho se casasse com a Maricotinha, filha do Coroné Tertuliano da Silveira, da cidadezinha vizinha, dali do lado, chamada Cidade Vizinha.
Mas o guri, o Duílio, teimoso que era, cabeça-dura, insistiu que queria pra marida a prenda da roça, a tar de Kátia e começou a passeá com ela pela praça, levá na egreja, levá pra montá de acavalo, até que o pessoar da cidade foi se costumando, começo a gostá da moça e logo, logo todo mundo, até os pai dele, já tavo gostando da guria e tinho aprovado o matrimoniamento.
Antonce que começaro os preparativo: Seu Durvalgino queria que fosse um casório de marcá época, de fazê inveja a quarqué casamento das Corôa Britânia; até porque ele por mais que vivesse com a Dona Das Dor há 38 ano, na verdade nunca tinha se casado assim, de verdade mesmo, de paper passado, véu-e-grinarda. É que porque quando os dois era mais novo e resorvero fazê a vida junto, à revelia do pai da moça, Seu Durvalgino tiro ela de casa, lá em Riozinho Estreito, onde a Das Dor morava. Aí que fugiro pra Dois Morro e ali ele se estabeleceu-se, criô profiteróle, planto presunto e encheu as burra de dinhêro; mas sempre ficô com esse desgosto na vida de nunca tê casado, entonce queria que o filho tivesse a melhor festa de casório daquelas plagas e de quarqué redondeza que se tivesse notícia.
Aí, como todos sabío que o Seu Durvalgino e Dona Das Dor, só erro ajuntado, o casamento do menino Duílio e da moça Kátia ficô conhecido como o casamento rear, porque esse sim era de verdade, já que o do pai dele não tinha sido bem um casamento legalizado, jurisdicado e catolificado. Esse sim era um Casamento Rear!
Mas a cerimônica foi mui linda! Aconteceu na catedrar de Dois Morro, que é mais ou menos do tamanho da Brasílica de São Pedro, aquela dos Vaticano. O guri Duílio entrô de bombacha e lenço colorado no pescoço, a chinoca, pra seu lado, com um vestido de chita branco com umas renda bonitaça que dava gosto de vê. A cousa foi ligêra porque o Seu Durvalgino mandô o Padre apressá aquela ladainha pramodequê os peão já tavo preparando o churrasco e os convidado já tavo azur de fome; então foi que Sua Reverendíssima foi direto pros sim, pros não e pros aceito e foi-se todo o povo da cidade pra churrascada na fazenda do Coroné.
Sei que o Coroné mandou matá 508 boi pro churrasco. Mais 3200 galinha, 220 porco e um milhão e duzentos profiteróle, que, não sei se cês sabe, tem uma carne mui da saborosa.
As gente se empanturraro tanto, tanto que dispôs o esgoto de Dois Morro mal dava conta de tanta bosta, mas isso não tem desimportância, o que vale é que a festança foi daquelas de guardar nas memória: muito chopeidança, muito risada, muita briga de facão e muito emocionamento. Lindo foi vê o Duílio e a Kátia dançando uma ranchera de casamento ao som da cordeona do Vicente Bagual. (Me vem água nozóio só de alembrá).
O casório foi às maravilha, a festança mui linda, mas as coisa não ficaro lá muito bem dispois não. Pois bem que o pai do Duílio tinha implicância com a guria, que não demorô pra botá as asinha de fora e se mostrá uma baita duma sirigaita, sempre de assanhamento pros peão e pros gaudério da região. Não tardô pra cidade inteira ficá sabendo que o Coroné tinha então mais uma cabeça de gado pra criação dele: a do próprio filho.
O Duílio não agüento o humilhamento e uma noite bebeu, bebeu e se afogo na sanga. Como o casamento era de divisão de bem, a china ficou com todas as propriedade que tavo no nome do rapaz e ainda deu um gorpe e tirou o que era do véio Durvalgino que saiu da cidade e hoje vive ali pertinho em Gloriópolis, sempre bêbedo, atirado pelos canto que nem um mindingo. Quando ele conta ninguém acredita que ele já foi muito rico e dono de terra. Nem dão confiança quando ele conta do casamento que deu pro filho e que não foi casório de mentirinha que nem que o dele. Foi um Casamento Rear! Rear!
postado por Chico Lorotta
Nenhum comentário:
Postar um comentário