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sábado, 23 de novembro de 2024

Tony Tornado & Banda Funkessência - Encontro Black - Museu da Cultura Hip Hop RS - Porto Alegre/RS (20/11/2024)

Se Jesus Fosse Um Homem de Cor

Um gigante. Tony Tornado é um gigante. Mas não só por sua estatura de 2 metros, que se avoluma ainda mais no palco. Tony é gigante por sua importância para a cultura black, por sua figura emblemática para o povo preto, por sua música, por sua idade quase centenária, prova da força arrebatadora de um homem negro filho de escravo. Por sua existência.

Nada mais adequado que, então, celebrar o primeiro feriado do Dia da Consciência Negra em Porto Alegre, a cidade que viu nascer a ideia do 20 de novembro há mais de 50 anos com Oliveira Silveira e a ANdC em homenagem ao herói da resistência Zumbi dos Palmares, em pleno Museu do Hip-Hop, o primeiro do Brasil sobre este tema tão ligado à cultura negra moderna, recebendo este homem gigante, enorme física e simbolicamente chamado Antônio Viana Gomes. Ex-engraxate, ex-crooner, ex-cafetão, ex-traficante, ex-paraquedista do Exército, ex-combatente da Guerra de Suez, filho de foragido da Guiana sobrevivente da seita Jim Jones, ex-exilado político, o ator de papéis memoráveis. Uma lenda. Ou seja: quando Tony Tornado pisa num palco, não é só um show que se vislumbra: é uma festa de santo, uma celebração, um toque, um ritual, um culto onde a divindade está ali, diante de nossos olhos. 

Foi nesse clima de epifania que Tony Tornado subiu ao palco montado no pátio do Museu para, como se diz atualmente, entregar uma apresentação não menos que memorável. Como um totem que expõe uma mensagem de resistência negra, vestia uma camiseta preta com uma escancarada estampa de Malcom X tão grande e auto-iluminada que se podia ver a quadras de distância. Acompanhado da excelente banda Funkessência e tendo ao lado o talentoso filho Lincoln Tornado, o mítico interprete de BR3, música com a qual venceu o Festival Internacional da Canção em 1971 impactando todo o Brasil com aquela performance histórica, já não dança mais como antigamente. Perfeitamente compreensível, afinal, os 93 anos que carrega naquele corpanzil lhe desculpam totalmente. Equilibrando performance sua com a do restante da banda, o show é uma aula de repertório e narrativa, com aqueles funkões cheios de groove intercalados por baladas para diminuir o ritmo, e formado por sucessos de Tony, homenagens e algumas surpresas.

O gigante negro toma
o palco
A abertura não podia ser com outra: “Tornado”, o excepcional funk autorreferente a la James Brown que encerra o clássico primeiro disco de Toni (ainda escrito com “i”), de 1971. Na sequência, o velho emenda outra pérola: “Me Libertei”, com seu refrão cativante: “Todo meu canto/ Sai do meu coração”. Aí, uma preciosidade escondida: “Manifesto para Angola”, escrita quando do exílio político de Tony no país africano, mas justamente quando este finalmente se libertava do colonialismo de Portugal. Por isso, esse ska africanado espetacular diz assim: “Temos que fazer algo agora/ Sem desesperar como outrora/ Retomar o tempo perdido/ Sentido, ferido/ Todo nosso tempo perdido/ E covardemente agredido/ Nós estamos voltando agora/ Angola é hora”.

O filho Lincoln, que faz as vezes daqueles clássicos mestres de cerimônia dos shows de soul, é um verdadeiro crooner que "soluciona" a menor mobilidade do astro principal cantando, dançando e divertindo com a plateia. E como dança! Ele é quem assume os microfones, com autoridade e irreverente, deixando o pai no backing-vocal, quando este dá as devidas paradas para descanso. Entoa, logo em sua primeira incursão, um clássico da black music brasileira: “Mandamentos Black”, do seu “tio” Gerson King Combo. Mais tarde, noutra pausa de Tony, aumenta ainda mais o nível evocando o pai de todos do funk: James Brown. É “Get Up (I Feel Like Being a) Sex Machine”, para delírio geral. Lincoln canta, dança, chama o público, interage com a banda e com a plateia. Um showman, que segue muito bem, com o mesmo sangue negro, o legado de seu pai.

Mas não se enganem que Tony faz um show “meia-boca” e delega para os mais jovens da banda a condução. Não! Mesmo com as pausas estratégicas para sentar e tomar um fôlego, Tony canta, e canta muito bem, ainda mais para a sua idade (diante de cantores com 60 anos menos que ele, inclusive). O cara manda ver nos gritos tipo James Brown, entoa frases em inglês com o sotaque de um negrão do Harlem ("clap your hands!", "everybody!") e, principalmente, é afinado. Sim! Tony cantou os versos melancólicos da primeira parte da clássica "BR-3", a penúltima do show, com afinação e direito a vibratos! Muito cantor jovem desses que se vê nos festivais por aí não tem esse cuidado - e nem essa qualidade. Isso quando não manda um rap em inglês que não deixa a dever a nenhum Notorius Big ou Snoop Dogg.

Tony Tornado mandando ver no rap

Visivelmente emocionado com o carinho e a vibração do público, Tony volta para dar mais presentes. E este presente se chama Tim Maia. Homenageando o amigo a quem conheceu nas ruas do Harlem, quando ambos viveram de contrabando em Nova York, e que viu nos últimos momentos antes de morrer, Tony faz um medley com “Primavera” e “Azul da Cor do Mar”, apoiado pela estupenda voz da cantora Francine Moh. Ela, aliás, com capacidade para isso, chamou outro hino de Mr. Dynamite, “I Got You (I Feel Good)” e, a pedido de Tony, “Respect”, de Aretha Franklin, em que Francine atingiu boas oitavas como pouco se vê. Muito respeito aos dois.

Tony retorna ao microfone principal trazendo outras maravilhas de seu repertório: “Podes Crer, Amizade”, com a qual é impossível ficar parado, e “Sou Negro”, com seu refrão tomado de resistência e negritude: “Sou negro, sim/ Mas ninguém vai rir de mim”. Para encerrar, “BR-3”. Quando inicia a segunda parte da música, naquela explosão funk da virada, é fechar os olhos e ver a imagem daquele negrão gigantesco com um sol desenhando no peito e dançando frenética e sensualmente para todo o Brasil no Festival da Canção. Já saindo do palco, forte o suficiente para sustentar o seu peso e importância, a Funkessência toca “Descobridor dos Sete Mares”, outra do Síndico. Lincoln se esbalda dançando. Francine explora as oitavas. A banda carrega no groove. Tony se despede com o punho cerrado dos Black Panthers.

Esta tarde histórica para a cidade e para a vida do público presente começou com muita alegria e emoção. Música preta - funk, soul, rap, charme, reggae, samba - emanava e se conectava aos fios dos cabelos black que desfilavam pelo lugar, mas também às mentes e corações. Um senso de pertencimento era sentido por todos: pretos, brancos, jovens, idosos, crianças, adolescentes. E Tony, neste sagrado dia de consciência secular, foi o ápice. Todos dançaram, se divertiram, conversaram, cantaram. Sacralizaram em torno de um Deus negro. E se Jesus fosse um homem de cor?...

Palmares se (re)instaurou. Porto Alegre aquilombou-se. Zumbi estava lá.

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Tony com a ótima banda Funkessência, Lincoln Tornado e Francine Moh


Começando o show com clássicos do seu  repertório


Trecho de "Me Libertei"



Crooner, Lincoln agita a galera


Duas gerações talentosas no palco


Francine e Lincoln mandam ver 
com James Brown



Sou negro, sim! Como um Black Panther


Dos momentos altos do show: "Sou Negro"


O Deus negro se despede



texto: Daniel Rodrigues
fotos e vídeos: Daniel Rodrigues e Museu da Cultura Hip-Hop RS


quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Música da Cabeça - Programa #387

 

"Abrindo todas as pennas/ Das suas azas serenas/ Sobre o negro soffredor,/A Liberdade esperada/ Foi assim como uma fada/ Que allivio lhe deu á dôr" É com a poesia negra de Lino Guedes, de 1936, que, resistindo a açoites e chibatadas, o MDC de hoje celebra o Dia da Consciência Negra. Poetas tanto quanto, Arthur Verocai, Jim Morrison, Azymuth, The Ambitious Lovers, Chico Science, Ronaldo Bôscoli também clamam por Palmares. O grito na mata se ouvirá às 21h, na quilomba Rádio Elétrica. Produção, apresentação e senhor das demandas: Daniel Rodrigues


 (www,radioeletrica.com)

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

João Gilberto - “Live at The 19th Montreux Jazz Festival” ou "Live In Montreux" (1985)

 

No topo, capa do LP original
lançado no Brasil e, abaixo,
a da edição americana

“É a grande soma da obra de João Gilberto. É o disco que dá a visão mais ampla da ideia que ele tem de repertório, de estilo”.
Caetano Veloso

Os baianos, mais do que qualquer outra gente, são donos de uma genialidade que às vezes beira a ingenuidade. Caetano Veloso conta que, certa vez, ao visitar Dorival Caymmi em sua casa numa quente tarde de Salvador, o anfitrião mal o deixou entrar pelo portão e já se pôs a mostrar-lhe uma novidade que havia descoberto para aliviar aquele intenso calor. Levou, então, Caetano até a sala e solenemente lhe apresentou sua mais nova obra de engenharia doméstica: havia disposto a cadeira na qual estava sentado só de bermuda e chinelos feito um Buda nagô de frente para um... ventilador! 

Por mais óbvio que pareça o raciocínio de Caymmi, ele guarda, no fundo, uma percepção que, muitas vezes, foge aos mortais preocupados em complexar a vida: a simplicidade. Foi valendo-se do mesmo senso natural que outro baiano favorecido pelos Céus, João Gilberto, chegou a uma conclusão semelhante. Além daquilo que produzia nos invariavelmente indispensáveis discos de estúdio desde o final dos anos 50, João costumava reinventar seu repertório a cada nova apresentação ao vivo. Geralmente, só ele é o inseparável violão. Uma magia inimitável a qualquer outro momento da história da música moderna. Então, do fundo de sua cabeça privilegiada mas distraída, pensou: "porque não gravo um disco ao vivo que transmita essa atmosfera?" 

Sim, passados mais de 30 anos de carreira, João nunca havia feito um álbum neste formato. Tinha até então dois ao vivo, todos com parcerias e/ou bandas/orquestra acompanhando: "Getz/Gilberto #2", em companhia do saxofonista de jazz norte-americano Stan Getz, de 1965, e o especial da TV Globo "João Gilberto Prado Pereira de Oliveira", de 1980, no qual recebe vários convidados. Assim, só ele no palco, nunca.

O que parecia óbvio, por se tratar da essência do som do homem que inventou a moderna música brasileira com a concepção da bossa nova, ganhava, enfim, um registro fiel. Já havia se tornado comum a artistas brasileiros a partir dos anos 70 gravarem seus shows no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, desde que a curadoria do evento se abrira para a sonoridade da MPB como sendo cabível no gênero do "jazz moderno". De A Cor do Som a Elis Regina, passando por Gilberto Gil, Pepeu Gomes e Hermeto Pascoal. Faltava João.

E o Bruxo de Juazeiro não deixa por menos. Com seu repertório impecável selecionado cirurgicamente, une velhos sambas, como os de Ary Barroso, Haroldo Barbosa, Geraldo Pereira e Wilson Batista, a então novos clássicos. Melhor exemplo é "Menino do Rio", de Caetano, lançada em 1979 pelo autor e já versada pelo próprio João um anos depois. Mas ocorreu que a música fizera novamente muito sucesso em 1982 na voz de Baby Consuelo para a trilha do filme homônimo, e João, ao resgatá-la, transformava-a imediatamente de um hit para um clássico. 

João destila musicalidade. É tocante ouvir o trato de cada detalhe, de cada pronúncia, de cada acorde ou silêncio. A permanente confluência harmonia-melodia, as variações de ritmo, o casamento de cordas vocais e cordas de nylon num constante entendimento, entrelaçando-se, dançando. "Tim Tim Por Tim Tim", conhecida do repertório de João, abre com um verdadeiro show de gingado. Quem escuta ele tocando e cantando com tamanha naturalidade pode até pensar que se trata de um improvido. Mas o mais impressionante de João é que tudo aquilo faz parte de um exercício de controle absurdo, e ao vivo isso fica mais evidente. As soluções harmônicas, as escolhas de tempos, a voz afinadíssima mas sem vibrato, o controle da cadência, o que arpejar e o que silenciar: tudo se resolve ali, na hora, no palco, diante do microfone e da plateia. 

O público, neste show, aliás, merece uma atenção à parte. Até mais: merece também aplausos. Visivelmente formada por muitos brasileiros, mas certamente também por suíços e outros estrangeiros, na maioria da Europa, a plateia se emociona e transmite essa emoção para o artista, que retribui, numa corrente de energia poucas vezes vista ou perceptível em discos ao vivo. João brincando de "quém quém" ao cantar "O Pato" ou sambando com a voz em "Sem Compromisso" não deixam mentir. Mas, principalmente, "Adeus América". O samba de Haroldo Barbosa, escrito para outro símbolo mundial do Brasil (o maior deles), Carmem Miranda, como uma declaração de amor ao Brasil após ela ser tachada pelos compatriotas invejosos de "voltar americanizada" dos Estados Unidos, aqui soa (e ainda mais aos brasileiros da plateia) como um canto de exílio, um canto de saudade da terra mater. “Não posso mais, que saudade do Brasil/ Ai que vontade que eu tenho de voltar/ Adeus América, essa terra é muito boa/ Mas não posso ficar porque/ O samba mandou me chamar”. É certamente o momento mais emocionante do show, como talvez nenhuma outra gravação ao vivo de João neste ou noutros discos.

Há também a apropriação "mpbística" do jazz standart italiano "Estate", presente no memorável LP "Amoroso", de 1977, e, claro, a reverência à bossa nova. Mais precisamente, a Tom Jobim. Do maestro, João toca quatro das 15 do set-list: "Retrato em Branco e Preto", dois ícones da primeira fase bossanovista, "Garota de Ipanema" e "Desafinado"; e uma imbatível "A Felicidade", menos recorrente no repertório de João e até por isso ainda mais impactante.

Outro maestro, no entanto, é exaltado por João na histórica apresentação no 19º Festival de Montreux. Cabe ao legado de Ary Barroso fechar o show com três faixas: "Morena Boca de Ouro" e outras dois símbolos de brasilidade em música: as ufanistas "Isto Aqui o que É?" e aquele que é considerado o segundo hino da nação, "Aquarela do Brasil", numa execução de quase 10 minutos. João, que a havia protagonizado no disco "Brasil", de quatro anos antes e quando teve a companhia de Caetano e Gil para interpretá-la, encara aqui a empreitada sozinho. Coisa só de quem tem a mesma envergadura da própria música que entoa.

Prestes a completar 40 anos de seu lançamento, “Live at The 19th Montreux Jazz Festival” guarda a primazia de ser a primeira gravação fiel de um show de João Gilberto, abrindo caminho para vários outros que viriam nos anos seguinte e dos quais destacam-se pelo menos dois: “João Gilberto In Tokyo”, de 2004, e “Live At Umbria Jazz”, de 2002. No entanto, este registro evidentemente possui uma aura e uma importância especial. Mesmo que na maioria dos discos, inclusive os de estúdio, João fosse captado “just in time” pelas mesas de som, no palco não há o que editar ou refazer. É aquele pulsar orgânico e indelével. E no caso de João, isso vale mais do que o silêncio, como diz Caetano. 

E dizer que João levou mais de duas décadas para deixar essa óbvia joia da cultura brasileira para a posteridade... Às vezes, a obviedade é mesmo genial.

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Originalmente lançado no Brasil e no Japão em 1985 como LP duplo de 15 faixas, "Live At The 19th Montreux Jazz Festival", na versão norte-americana, de um ano após, chamou-se apenas de "Live In Montreux" e contendo 13 músicas: sem "Tim Tim Por Tim Tim", "Desafinado" e "O Pato" e tendo acrescida "Rosa Morena" (Dorival Caymmi).

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FAIXAS:
1. “Tim Tim Por Tim Tim” (Geraldo Jacques, Haroldo Barbosa) - 3:38
2. “Preconceito” (Marino Pinto, Wilson Batista) - 2:25
3. “Sem Compromisso” (Geraldo Pereira, Nelson Trigueira) - 4:05
4. “Menino Do Rio” (Caetano Veloso) - 3:45
5. “Retrato Em Branco e Preto (Antonio Carlos Jobim, Chico Buarque) - 6:36
6. “Pra Que Discutir Com Madame?” (Haroldo Barbosa, Janet de Almeida) - 6:25
7. “Garota De Ipanema” (Antonio Carlos Jobim, Vinicius De Moraes) - 3:42
8. “Desafinado” (Antonio Carlos Jobim, Newton Mendonça) - 4:53
9. “O Pato” (Jaime SIlva, Neuza Teixeira) - 6:08
10. “Adeus América” (Geraldo Jacques, Haroldo Barbosa) - 6:50
11. “Estate” (Bruno Brighetti, Bruno Martino) - 5:18
12. “Morena Boca de Ouro” ((Ary Barroso) - 5:37
13. “A Felicidade” (Antonio Carlos Jobim, Vinicius De Moraes) - 5:10
14. “Isto Aqui, O Que É? (Sandália de Prata”) (Ary Barroso) - 6:43
15. “Aquarela Do Brasil” (Ary Barroso) – 9:05



Daniel Rodrigues


quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Música da Cabeça - Programa #386

 

É desumano. E ponto. Colocando o assunto em discussão, o MDC vem em escala digna de trabalho onde batem o ponto Fellini, Danilo Caymmi, Stevie Wonder, Ultramen, Beck e mais, como Torquato Neto, que completaria 80 anos de firma. Com tempo de folga, o programa pega no batente às 21h na trabalhadora Rádio Elétrica. Produção e apresentação em escala 4x3: Daniel Rodrigues (arte-base de @maripveiga)


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quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Música da Cabeça - Programa #385

 

Tá tensa essa apuração das eleições nos Estados Unidos, hein? Pra aliviar um pouco, nada melhor que um MDC cheinho de ideias democratas. Elegemos hoje The Smashing Pumpkins, João Donato, Jorge Mautner, Peter Murphy, Cazuza e mais. E o ilustre cidadão norte-americano Quincy Jones, a quem perdemos nesta mesma fatídica semana, também será lembrado. Comparecendo às urnas, o programa vai ao ar às 21h na presidenciável Rádio Elétrica. Produção, apresentação e "simbora, Kamala!": Daniel Rodrigues


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segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Wayne Shorter - "Etcetera" (1980)

 


Acima, a capa criada em 1965 com 
arte de Patrick Roques e foto de Francis
 Wolff, e, abaixo, a arte para o
lançamento póstumo, em 1980 
“Minha ambição desde o início como engenheiro de gravação era capturar e reproduzir a música melhor do que outros na época. Fui levado a fazer a música soar mais próxima da maneira como soava no estúdio. Essa era uma luta constante - fazer com que os eletrônicos capturassem com precisão o espírito humano.”
Rudy Van Gelder

Destacar como exemplo um trabalho de Rudy Van Gelder, que completou um século de nascimento no último dia 2, é impossível. Ele é a mente e as mãos que moldaram a sonoridade da música mais avançada do mundo, o jazz, ao longo de quatro décadas. O talento de gênios como John Coltrane, Thelonious Monk, Tom Jobim, Don Cherry, Sonny Rollins e Miles Davis certamente não seriam transmitidos com a mesma fidelidade entre aquilo que foi pensado e o que foi gravado não fosse este judeu ex-optometrista nascido em Nova Jersey (EUA) e apaixonado por jazz desde a adolescência, nos anos 30 de Era do Jazz. Dono de uma técnica refinada e própria de engenharia e a masterização de som, Van Gelder, entre outras inovações, foi o pioneiro no uso de técnicas de captação próxima, limitação de pico e saturação de fita para imbuir a música com uma sensação adicional de imediatismo. Sua estética de gravação é dotada de uma inconfundível acústica. Límpida, elegante e orgânica.

Após montar um pequeno estúdio na casa dos pais, na metade dos anos 40, foi na década seguinte que ele passa a realizar as gravações para o selo Vox Records. Um de seus amigos do meio do jazz, o saxofonista Gil Mellé, apresentou-o, em 1953, a Alfred Lion, cabeça da Blue Note Records. Em 1959, muda, então, o Van Gelder Studio para o lendário endereço na Englewood Cliffs, onde assina, por diversas gravadoras como Prestige, Verve, A&M, CTI e, claro, a própria Blue Note, centenas de trabalhos, grande parte deles clássicos absolutos da história da música moderna, como “Maiden Voyage”, de Herbie Hancock, “A Love Supreme”, de Coltrane, ”Walkin'”, de Miles, e “Song for my Father”, de Horace Silver.

São tantas realizações de Van Gelder, que seria impossível resumir em apenas uma. No entanto, “Etcetera”, do saxofonista e compositor Wayne Shorter, é certamente uma dessas extraordinárias joias modeladas por Van Gelder. Gravado na fase áurea de Shorter pela Blue Note, em meados dos anos 60, embora tenha permanecido inédito até 1980, traz na banda Hancock, ao piano; Joe Chambers, bateria, e Cecil McBee, baixo. Há muito considerado um dos melhores álbuns de estúdio do artista, “Etcetera” tem cinco composições de autoria de Shorter, com exceção de “Barracudas” de Gil Evans, um extenso tema modal com atuação especialmente destacável para um possuído Hancock em estado de graça.

A faixa-título, no entanto, encarrega-se de abrir o álbum dando as cartas: jazz modal pós-bop capaz de hipnotizar o ouvinte. Misto de tensão e enigma, “Etcetera” tem incursões esparsas do piano e do sax, que mantém um diálogo o tempo todo. Sustentado pelo chipô e variações tam-tam/caixa de Chambers (que, aliás, encerra a faixa com um excelente solo, cuja espontaneidade Van Gelder soube ressaltar), é mais uma prova do quanto Shorter entende de como abrir bem um disco, assim como os imediatamente anterior “JuJu”, na faixa homônima e também de 1965, e posterior, “Speak no Evil”, de 1966, com a fenomenal “Witch Hunt”.

Balada como só os mestres do jazz sabem compor e executar, “Penelope” é mais do que cativante:  é estonteante. Quanta sensualidade no sax de Shorter! E que leveza do piano até bem pouco de notas carregadas por Hancock na faixa anterior. Aqui, ele equilibra o tempo cadenciado do compasso, enquanto McBee se encarrega de apenas conduzir a saudável lentidão, como um sono prazeroso. Chambers quase se cala, não fosse os leves chispados das escovinhas na caixa da bateria.

“Indian Song”, na sequência, ocupa o lugar especial no cancioneiro de Shorter como uma de suas composições mais intensamente hipnotizantes. Dividida em duas partes, carrega a atmosfera oriental que o músico expressava com frequência desde que se identificou com essa cultura, no início daquela década. "Mahjong", de “JuJu”, e "Charcoal Blues", de “Night Dreamer”, não deixam mentir. “Indian...” também evoca as tradicionais faixas de encerramento de discos de Shorter, invariavelmente a mais rebuscada dos álbuns, tal “Playground” (de “Schizophrenia”), "Armageddon" (de “Night...”) e “Mephistopheles” (“The All Seeing Eye”),

O encontro de Van Gelder com os músicos do jazz é, certamente, um dos maiores acontecimentos da história da música moderna. A técnica, como em raros outros momentos, unia-se de forma amalgamada a uma grande profusão de expressões do mais alto nível musical proporcionadas pelo jazz a partir dos anos 40 nos Estados Unidos. Shorter, foi um desses beneficiados: sua arte maior pode, por obra deste talentoso engenheiro de som com sensibilidade de artista chamado Rudy Van Gelder, ser transmitida com precisão diante daquilo que criou. 

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FAIXAS:
1. “Etcetera” - 5:17
2. “Penelope” - 6:44
3. “Toy Tune” -7:31
4. “Barracudas (General Assembly)” (Gil Evans) - 11:06
5. “Indian Song” - 11:37
Todas as composições de autoria de Wayne Shorter, exceto indicada

**********
OUÇA O DISCO:

Daniel Rodrigues


quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Música da Cabeça - Programa #384

 

É, Vini Jr., a gente também não acredita no que está ouvindo. Não dar a Bola de Ouro pra ti é a maior bola fora! Mas o MDC, esse sim, dá pra acreditar no que se vai escutar. Ovacionados pela torcida, entram em campo Esquivel, New Order, Tribalistas, Adriana Calcanhotto e outros. E uma dupla premiação para Antônio Cícero nos quadros Sete-List e Palavra, Lê. Jogando um bolão, o programa leva todas as taças hoje, às 21h, na premiada Rádio Elétrica. Produção e apresentação na luta contra o racismo: Daniel Rodrigues


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quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Música da Cabeça - Programa #383

 

Sem essa de roubar o boi dos outros, pois aqui é garantido que o Boi Garantido não é fake! E garantia também é de um novo MDC com a mais pura verdade. Sandra Sá, Arthur Rimbaud, Iggy Pop, Enya e Cornelius que não nos deixam mentir. Igualmente, um Cabeção pra não restar dúvida sobre a importância de Charles Ives. Garantindo a qualidade e a veracidade, o programa vai ao ar às 21h na confirmada Rádio Elétrica. Produção, apresentação e "que vacilo, Lud!": Daniel Rodrigues.


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quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Música da Cabeça - Programa #382

 

Não dá pra enxergar nada nesse apagão.. Mas o MDC a gente reconhece até no escuro! É só botar pra rolar Funkadelic, Tom Zé, The Smiths, Zizi Possi e Gil Scott-Heron, por exemplo, que a gente não precisa nem ver pra curtir. Igual a Marlui Miranda, a quem jogamos luz no quadro Cabeção. Sem privatizar e com energia própria, o programa se acende às 21h na luminosa Rádio Elétrica. Produção, apresentação e lanterna: Daniel Rodrigues.


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quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Sean Lennon - “Friendly Fire” (2006)

 

"Quando eu era jovem, me preocupava com a estética do inacabado, do feito em casa. Mas com ‘Friendly Fire’ resolvi ver se conseguia fazer algo refinado. Optei por uma estética mais elegante e elaborada".
Sean Lennon

Lá fora no oceano que veleja afora/
Eu quase não posso esperar/
Para te ver mais velho/
Mas eu acho que vamos apenas ter que ser pacientes/
Porque o caminho é longo
”. 
Trecho de "Beautiful Boy", escrita para Sean 
por John Lennon em 1980, ano de sua morte

A vida de Sean Lennon é, mesmo que ele não queira, sui generis. Dono do sobrenome mais pesado entre os mortais, Ono Lennon, ele carrega a herança genética e cultural de dois ícones mundiais. Ímpar, aliás, também é seu destino. Além da rara coincidência de nascer exatamente na mesma data de seu pai, hoje, 9 de outubro, a quem, por óbvio, guarda muita semelhança, teve a infância marcada pelo trauma do assassinato do mesmo, quando tinha apenas 5 anos. Hoje, faz 49, enquanto seu pai, morto há pouco menos de 34, completaria 84 se vivo. Em contrapartida, à base de muita dor, Sean contou também com a proteção da mãe. 

Nesta redoma, não demorou muito para que o rapaz com cara de John Lennon de olhos puxados percebesse que a hereditariedade lhe favorecia. Afeito às artes visuais mas, principalmente, à música, aos 7 já participava cantando na faixa-título do disco da mãe “It's Alright (I See Rainbows)”, de 1982, com quem, aliás, contribuiria ainda diversas vezes noutros trabalhos. Mas não só com Yoko Ono: hábil em vários instrumentos e na mesa de som, tocaria com e produziria diversos outros artistas, como Cibo Matto, Lenny Kravitz, Miley Cyrus, Carly Simon, Soufly e Tom Zé, até lançar, aos 21 anos, seu primeiro disco solo, o excelente “Into the Sun”. Cristalizava-se ali um talento nato.

Mas a vida de Sean é mesmo fadada ao incomum. Herdeiro e administrador da mais valiosa obra musical do século XX, o milionário Sean não tem a menor necessidade de viver de música, o que por si só o diferencia de qualquer outro cidadão do planeta. A forma de conciliar a comodidade financeira à pulsão natural em produzir foi a escolha de fazer só aquilo que gosta e quando quer. Tanto é que, hoje, com mais de 40 anos de vida artística, Sean soma, afora trilhas sonoras e contribuições a outros artistas, apenas três álbuns solo. Para que ele entre num estúdio e grave algo seu tem que valesse a pena de verdade. Caso de “Friendly Fire”, de 2006.

Para falar desse disco e o que o motivou, contudo, precisa-se voltar um ano antes de sua gravação. A vida de Sean, como dito, anda por linhas tortas. E o que é mais passível de desgovernar o caminho de alguém? Se não a morte, o amor. No caso, o que se abateu sobre Sean foram as duas coisas. O melhor amigo, Max LeRoy, e a então namorada de Sean, Bijou Phillips, estavam envolvidos em um triângulo amoroso. Quis o destino que, tragicamente, LeRoy morresse em 2005, num acidente de trânsito, antes que os amigos pudessem se reconciliar. Claro, que o namoro também acabou. Autobiográfico, “Friendly Fire”, assim, carrega-se do profundo efeito que a morte de LeRoy teve sobre Sean, que com esse combustível compõe um dos discos mais doloridos e bonitos da música pop recente. 

Ao estilo de “discos de separação” como “Blood on the Tracks”, de Bob Dylan, neste trabalho é outra referência a um corte físico e emocional que Sean suscita, visto que ainda mais profundo. O “fogo amigo” tanto pode ser entendido como uma traição quanto como a ação fatal de alguém, LeRoy, que se autopenalizou por um erro da pior maneira possível. “Dead Meat”, título de uma das melhores faixas do álbum e responsável por abri-lo de forma melancólica e carregada, fala dessa ferida exposta, como um coração dilacerado, como uma “carne morta”. Os acordes iniciais são o toque valseado de piano tão circense quanto choroso, como se um clown desgraçado e ridículo entrasse no picadeiro para gargalharem de sua figura miserável. Tamanha é a força da música que, ao soar a orquestra ao final, intensa e emocionada, tem-se a clara impressão de que o álbum está terminando.

Sean mostrava que, em 8 anos desde seu primeiro disco, muita coisa havia mudado. Mudara, literalmente, do quente para o frio. Ao invés de se aquecer “através do sol” (“Into the Sun”), esse mesmo calor havia se convertido num “fogo amigo” que conduz à gélida morte, como um tiro que se leva de um companheiro sem intenção de ferir. Mas que fere. Até as capas são vinho e água: numa, o desenho de Sean sorridente sob o tom quente da cor laranja; no outro, um autorretrato de poucos traços de um rapaz sério em um fundo massivamente branco, sem vida. Isso tudo, claro, se reflete nos sons. Ao contrário da luminosidade experimental do trabalho de estreia, a escolha para representar esse novo momento é o refinamento pop, como que tomado pela impassibilidade e pelo assombro. Este é o caso também de "Wait for Me", cujo título dispensa explicações. “Algum lugar por entre a lua e o mar/ Eu estarei esperando por você, meu amor/ Então, espere por mim”, diz a letra deste pop-folk classudo forjado no violão, lembrando coisas nesse estilo de John com os Beatles (“I’m Only Sleeping” e “Cry Baby Cry”) ou solo (“Look at Me”).

"Parachute", outra preciosidade de “Friendly...”, é, quiça, a mais deprê de todo o disco, o que não significa que, nem por isso, Sean recaia ao enfadonho. Balada bela e lamentosa, não à toa foi o hit do disco, tendo o ajudado a alcançar o posto 152 na parada Billboard 200. Refrão marcante e delicado, daqueles que Sean, atento ao aspecto emocional das canções, sabe fazer como ninguém. Mesmo caso da faixa-título: melodia dolorida, mas que pega. Num arranjo perfect pop, as sentidas palavras de Sean dizem: “Você lançou o ataque com a primeira bola de canhão/ Meus soldados estavam dormindo/ Eu sei que você pensou que nunca iria cair/ No último minuto/ É fogo amigo”. Mesmo que inconscientemente, o amigo, ao morrer, se culpabiliza mas se vingou ao mesmo tempo. É perceptível o abatimento na voz de Sean, como se não quisesse ter que cantar aquilo. Mas há-lhe um impulso interno mais forte, que se impõe.

E quando Sean olha para o amanhã? O mesmo vazio. O blues “Tomorrow” desenvolve-se suave sobre essa desesperança. Outra balada cortante, "On Again Off Again", é mais uma prova da habilidade musical de Sean em criar canções tocantes e saborosas ao mesmo tempo. Na sequência, certamente a mais “alto astral” do repertório: "Headlights". Batida de violão, palmas marcando o ritmo, escala em lá maior. Mas alegre até por aí, visto que, nas palavras, Sean está dizendo que “a vida é apenas morrer lentamente”.

Versão de Marc Bolan, "Would I Be the One", pode-se dizer daqueles covers tão legais quanto a música original, do início dos anos 70. Afinal, parece uma música composta pelo próprio Sean, o que acaba por dar ainda mais coesão a um repertório tão pessoal. Igualmente down e comovente, como todo o restante, inclusive do tema de encerramento: a balada "Falling Out of Love". Outra título autoexplicativo. “Por favor, eu te esquecerei/ Não vou deixar você entrar no meu coração/ Eu te deixei esperando/ Esperando na escuridão/ Está tudo desmoronando”. É de cortar o coração. Sean está processando o luto de dois amores: o da namorada e o do amigo. 

Uma matéria da época do lançamento de “Friendly...” disse com assertividade: “a apresentação imponente dessas 10 músicas desmente seu tema recorrente: ser filho de uma lenda do rock'n'roll e de uma matriarca de vanguarda não torna sua vida romântica mais fácil”. De fato, ninguém escapa dos desafios do coração. Mas ainda mais certo é que, Sean, sensível e talentoso músico como cedo já demonstrava, consegue entregar um material tão sofisticado e bem elaborado desse momento de sua vida, que, ao final, soa como algo positivo, engrandecedor. Da tragédia, a beleza. Qualidade de quem aprendeu, já criança, a ressignificar a dualidade vida e morte para trilhar seu caminho único e intransferível.

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FAIXAS:
1. "Dead Meat" - 3:37
2. "Wait for Me" - 2:39
3. "Parachute" - 3:19
4. "Friendly Fire" - 5:03
5. "Spectacle" (Lennon, Jordan Galland) - 5:24
6. "Tomorrow" - 2:03
7. "On Again Off Again" - 3:18
8. "Headlights" - 3:16
9. "Would I Be the One" (Marc Bolan) - 4:58
10. "Falling Out of Love" (Lennon, Galland) - 4:07
Todas as faixas compostas por Sean Ono Lennon, exceto indicadas

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OUÇA O DISCO:
Sean Lennon - “Friendly Fire”


Daniel Rodrigues

Música da Cabeça - Programa #381

 

Então, vamos para o segundo turno? Aqui no MDC, o pleito já começou. E começou com a música de Cátia de França, Morrissey, The Cure, Majur, Madonna e mais. Ainda, um Sete-List já aludindo ao Dia da Crianças, comemorado dia 12, só com artistas mirins que deram certo. Exerce tua cidadania e confirma teu voto no programa hoje, às 21h, na democrática Rádio Elétrica. Produção, apresentação e zona eleitoral: Daniel Rodrigues.



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terça-feira, 1 de outubro de 2024

cotidianas #843 - Eu corro pela vida


Faz anos desde que falaram para ela sobre isso
A escuridão que o corpo dela possuiu
E as cicatrizes ainda estão lá no espelho
Cada dia que ela se veste
Mas a dor está a milhas e milhas atrás dela
E o medo é agora uma fera dócil
Se você perguntar para ela por que ela ainda está indo
Ela vai lhe dizer que isso faz ela completa

Eu corro pela esperança, eu corro para sentir
Eu corro pela verdade, por tudo que é real
Eu corro pela sua mãe, sua irmã, sua esposa
Eu corro por você e eu, meu amigo, eu corro pela vida

É uma mancha desde que me falaram sobre isso
Como a escuridão pegou seu pedágio
E eles cortaram a minha pele e eles cortaram o meu corpo
Mas eles nunca vão ter um pedaço da minha alma
E agora eu ainda estou aprendendo a lição
Para acordar quando eu ouvir o chamado
E se você me perguntar por que eu ainda estou correndo
Eu vou te dizer que eu corro por todos nós
Eu corro pela esperança, eu corro para sentir
Eu corro pela verdade, por tudo que é real
Eu corro pela sua mãe, sua irmã, sua esposa
Eu corro por você e eu, meu amigo, eu corro pela vida

E algum dia se eles falarem sobre isso
Se a escuridão bater à sua porta
Lembre-se dela, lembre-se de mim
Nós vamos estar correndo como estivemos antes
Correndo por respostas
Correndo por mais

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tradução de "I Run for Life"
de Melissa Etheridge

Ouça:

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Música da Cabeça - Programa #378

 

Calma aí, Datena! Não precisa partir pra ignorância. Afinal, ouve o MDC quem quer, e eu duvido que alguém de sã cosciência não queira se ligar na edição desta semana. Também, com Marisa Monte, João Nogueira, Deep Purple e Fausto Fawcett, até esse boçal deve se interessar. E ainda mais com as homenagens a Arnold Schoenberg e Lupicínio Rodrigues! Faz assim: usa a cadeira pra sentar e escutar numa relax o programa, às 21h, na pacífica Rádio Elétrica. Produção e apresentação no país do meme pronto: Daniel Rodrigues


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quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Música da Cabeça - Programa #377

 

Olhar para o céu tem trazido surpresas ultimamente. Mas não estou falando do sol vermelho de poluição, que esse é motivo de se preocupar. Falo, sim, do MDC, que raiou no céu para iluminar mentes e corações. Tem PJ Harvey, Milton Nascimento, Kula Shaker, Tim Maia e Pat Metheny pra cumprir esse papel. Ainda, um Sete-List, enumerando momentos da carreira de Sérgio Mendes. Radiante, o programa vai ao ar (puro, neste caso) às 21h, na solar Rádio Elétrica. Produção, apresentação e olhos ardendo: Daniel Rodrigues.


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terça-feira, 10 de setembro de 2024

Kula Shaker - "K" (1996)

 




"Govinda Jaya Jaya
 Gopala Jaya Jaya"
saudações à deusa Krishna
na canção "Govinda"



Cara, Kula Shaker é muito Beatles!

Mas calma, não precisam se exaltar os beatlemaníacos mais apressados. Não estou dizendo que é igual, não estou dizendo que é melhor. Não são os novos Beatles. Mas a vibe de "K", o disco de estreia desses ingleses é muito a cara do quarteto de Liverpool. A psicodelia, a "pureza", aquela energia com ares de rock sessentista, os vocais em dueto, os coros de fundo nos refrões, o experimentalismo, a produção com aquela sujeira quase artesanal das guitarras... Tudo está lá.

"Into the Deep", "Magic Theatre", "Hollow Man", dividida em duas partes igualmente viajandonas, e até "Grateful When You're Dead", que faz referência direta a outra banda (Grateful Dead), são provas incontestes dessa influência.

Isso sem falar no toque oriental, indiano, característico daquelas coisas que George Harrison, especialmente, gostava de fazer, e que dão a tônica praticamente de todo o álbum. A própria capa não deixa dúvidas, não. "Sleeping Jiva", instrumental executada toda com instrumentos típicos hindus; a lisérgica "Tattva" um transe rock'n roll; a celebração reverencial de "Temple of Everlasting Light"; e, especialmente, "Govinda", uma peça apoteótica, e a que melhor conjuga o psicodelismo rock'n roll com a sonoridade exótica e suas representatividades espirituais, são os melhores exemplos dessa revisita aquela rica fusão que Harrison já levara seus companheiros de banda a experimentar lá nos idos dos 60's.

Destaque também para o rock estridente da vibrante "303", para a balada folk "Start All Over, com cara de "Rubber Soul", e para o funk-rap-krishna psicodélico "Hey Dude", cuja semelhança, "por mínima que seja", com algum título de música dos Beatles que você conheça, provavelmente, não terá sido mera coincidência.

Imitação? Não. Eu diria inspiração. E os rapazes do Kula Shaker tiraram bom proveito da fonte nesse seu magnífico "K".


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FAIXAS:

  1. Hey Dude
  2. Knight on the Town
  3. Temple of Everlasting Light
  4. Govinda
  5. Smart Dogs
  6. Magic Theatre
  7. Into the Deep
  8. Sleeping Jiva
  9. Tattva
  10. Grateful when You're Dead / Jerry Was There
  11. 303
  12. Start All over
  13. Hollow Man

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Ouça:
Kula Shaker - K


Cly Reis 

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Código Penal - Abertura Show Ratos de Porão - Bar Opinião - Porto Alegre/RS (31/08/2024)


31 de agosto de 2024 seria um dia qualquer na vida de seis indivíduos. A não ser que, como num passado não tão distante, tenham recebido um convite que faria essa data ter outro significado.

 Não sei dizer se se trata de sonhos, objetivos ou simplesmente resultados, porque, afinal, existe uma trabalho realizado que, durante todos esses anos, possa estar sendo notado agora.

 Falo do convite feito lá em março pela Ablaze Produtora, que chamou nós da Código Penal para fazer a abertura do show dos Ratos de Porão!!

 RATOS DE PORÃO, cara!!!

 Naquele momento, tive um breve momento de tipo: “porra, está acontecendo...”, e de lá até o fatídico dia 31 foram meses de preparo, ensaios, planos. Por que, afinal, era a Ratos de Porão mano, e a Código Penal, carai!!

Lucio e o mitológico Jão, da formação
original da Ratos de Porão
com João Gordo
Nunca deixamos de acreditar no trabalho da banda, mas também nunca tivemos a pretensão de querer ser mais que ninguém. Só que chegou o dia! Frio na barriga, ansiedade, passagem de som, equipamento, equipe técnica, logística, tudo funcionando em sincronia para a noite…. 

Porém, durante a semana tivemos um probleminha: nosso baixista foi operado. E agora? Na sexta-feira que antecedia o show, dois dias antes, ele se negou a não fazer o show e, no dia, foi mesmo morrendo de dor. Numa adrenalina insana, subiu ao palco do Bar Opinião e deu o seu melhor.

 Começamos com “Terra de Ninguém’, que fez com que o público que estava chegando fosse encostando na grade, pois, afinal, quem é Código Penal?! A sequência foi de mais petardos e, junto disso, a interação com a galera e aquela sensação de ansiedade do início foi também se dissipando, transformando-se no maior espetáculo realizado por nós naqueles 40 minutos em que, acredito, 80% do público que assistiria a Ratos de Porão logo depois sem dúvida prestou atenção no que nós tínhamos pra mostrar e dizer.

 Enfim, Código Penal vive firme e forte! E que venham novos desafios, pois estamos prontos!!

Confira um pouco de como foi o show!

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Show da Código Penal no Bar Opinião na íntegra



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texto: Lucio Agace
fotos e vídeo: Jéssica Khune e arquivo pessoal