Curta no Facebook

Mostrando postagens com marcador Filmes. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Filmes. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Globo de Ouro 2025 - Os Vencedores


 

E deu Fernanda Torres no Globo de Ouro! Fernanda levou o prêmio de Melhor Atriz em Filme de Drama por sua atuação no lindo "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles Jr., esse fenômeno de bilheteria no Brasil que vem emocionando plateias ao redor do mundo. Confirmando as expectativas de alguns (e contrariando as dos pessimistas), a atriz brasileira, que interpreta Elaine Paiva no filme, atinge esse feito histórico e cheio de significado para o Brasil com totais méritos mas não sem dificuldades. Afinal, ela concorria com, pelo menos, quatro grandes e premiadas atrizes muito mais "internacionais" que uma sul-americana como ela: as britânicas Tilda Swinton e Kate Winslet, a norte-americana Angelina Jolie e a australiana Nicole Kidman - além da "porn celebrity" Pamela Anderson, que passa longe de ser "grande atriz".

Repetindo o feito histórico de sua mãe, a grandiosa Fernanda Montenegro, indicada ao mesmo prêmio em 1999 e que levou com Waltinho o de Melhor Filme em Língua Não-Inglesa por "Central do Brasil" naquele ano, a vitória de Fernanda, para além do eficiente marketing que Sony Pictures vem investindo em "Ainda Estou Aqui" no mercado norte-americano, reforça aquilo que, a partir de agora, tornou-se o próximo objetivo a ser alcançado: o Oscar. 

Neste caso, o buraco é mais embaixo, mas não impossível. Enquanto os indicados ao Oscar não saem, o que deve ocorrer em 17 deste mês, há duas hipóteses visíveis. Uma delas, é Fernanda, sendo realmente indicada, disputar diretamente com Demi Moore, forte concorrente pelo ótimo "A Substância". No Globo de Ouro, esse embate não ocorreu, pois ambas estavam em categorias diferentes, sendo que Demi, na de Melhor Atriz em Filme de Comédia ou Musical, também foi premiada. Ou seja: em relação a Nicole, Tilda, Angelina e Kate, outras possíveis indicadas, Fernanda já largou uma cabeça à frente. Falta ver agora se terá fôlego pra ultrapassar Demi no páreo.

Há um fator que, curiosamente, pode contribuir positiva ou negativamente: a conquista de sua mãe anos atrás. Naquele feita, a Academia do Oscar valeu-se da indicação de Fernandona por seu papel de Dora em "Central..." e a premiação do mesmo (também de Walter Salles, informações essencial) como salvo-conduto para não premiar uma "não-americana". Embora merecesse - a própria Gwyneth Paltrow, vencedora daquele Oscar, concordava com isso -, a brasileira teve de se contentar com o Globo de Ouro., jamais previsto a uma senhora de um país exótico diante das figuras estelares de Hollywood àquela época. No caso de Fernanda Torres, essa correlação com a mãe é também favorável, pois os norte-americanos gostam de valorizar a ancestralidade - como produto, claro.

Por outro lado, por mais que se precise fazer algum esforço para acreditar que o pessoal do Oscar evoluiu de lá para cá - haja vista os reconhecimentos a atrizes estrangeiras como a nipônica Michelle Yeoh, em 2023, para se centrar nessa categoria -, é possível que uma visão mais moderna (e equânime) dos tempos atuais favoreça Fernanda. Afinal, a conquista do Globo de Ouro sempre foi um indicativo a qualquer vencedor de que este é um forte candidato ao Oscar. Isso, mais o lobby da Sony, o prestígio e a carreira internacionais de Waltinho, o espelhamento com o que já acontecera com "Central...", a pré-indicação de "Ainda..." ao Oscar de Melhor Filme Internacional e, principalmente, a força da atuação de uma atriz já reconhecida internacionalmente (vale lembrar que Fernanda Torres é Palma de Ouro em Cannes por "Eu Sei que Vou te Amar", de 1986) dão a ela totais condições de superar Demi. Talvez o filme em si seja o favorito para que o Brasil vença o Oscar, mas, na prática, é bastante cabível pensar que Fernanda também posso levar.

Resta agora saber se a Academia permitirá que se faça justiça nessa corrida "cabeça a cabeça" entre Fernanda e Demi.

Confira a lista completa dos vencedores do Globo de Ouro 2025:

📹📹📹📹📹📹📹📹

Melhor Filme (Drama)

O Brutalista


Melhor Filme (Musical ou Comédia)

Emilia Pérez


Melhor Diretor

Brady Corbet, O Brutalista 


Melhor Ator (Drama)

Adrien Brody, O Brutalista


Melhor Atriz (Drama)

Fernanda Torres, Ainda Estou Aqui 


Melhor Ator (Musical ou Comédia)

Sebastian Stan, Um Homem Diferente 


Melhor Atriz (Musical ou Comédia)

Demi Moore, A Substância 


Melhor Ator Coadjuvante (Musical, Comédia ou Drama)

Kieran Culkin, A Verdadeira Dor 


Melhor Atriz Coadjuvante (Musical, Comédia ou Drama)

Zoe Saldaña, Emilia Pérez 


Melhor Roteiro

Conclave 


Melhor Filme em Língua Não Inglesa

Emilia Pérez


Melhor Filme de Animação

Flow 


Melhor Canção Original

El Mal, Emilia Pérez, música e letras de Clément Ducol, Camille e Jacques Audiard 


Melhor Trilha Sonora Original

Rivais 


Maior realização cinematográfica e em bilheteria

Wicked 


Melhor Série Dramática

Xógum: A Gloriosa Saga do Japão 


Melhor Série de Comédia ou Musical

Hacks 


Melhor Série Limitada, Antologia ou Filme para TV

Bebê Rena 


Melhor Ator Em Série Dramática

Hiroyuki Sanada, Xógum: A Gloriosa Saga do Japão 


Melhor Atriz Em Série Dramática

Anna Sawai, Xógum: A Gloriosa Saga do Japão 


Melhor Ator em Série Musical ou Comédia

Jeremy Allen White, O Urso 


Melhor Atriz em Série Musical ou Comédia

Jean Smart, Hacks 


Melhor Atriz Coadjuvante (Musical, Comédia ou Drama)

Jessica Gunning, Bebê Rena 


Melhor Ator Coadjuvante (Musical, Comédia ou Drama)

Tadanobu Asano, Xógum: A Gloriosa Saga do Japão 


Melhor Ator (Série Limitada, Antologia ou Filme para TV)

Colin Farrell, Pinguim 


Melhor Atriz (Série Limitada, Antologia ou Filme para TV)

Jodie Foster, True Detective: Terra Noturna 


Performance em Comédia Stand-up para TV

Ali Wong 


Daniel Rodrigues


domingo, 5 de janeiro de 2025

“Juvenal en Viaje_Colômbia”, de Renato Mangolin - Pandorga Cia. de Teatro (2024)

 

Filmes de teatro, na grande maioria das vezes, não funcionam. No campo da ficção, há, sim, inúmeras boas adaptações. Porém, comumente essas artes não dialogam tão facilmente, o que leva a que, não raro, os problemas da transposição já apareçam no roteiro, prejudicando, em geral, todo o restante do filme. É como se ambas as linguagens, teatro e cinema, fossem formadas de barros muitas vezes incompatíveis. Com documentários de teatro, embora por motivos distintos, não é muito diferente. O conceito de “teatro filmado” é uma das coisas mais enfadonhas que existe, visto que deixa de cumprir as duas funções: nunca consegue captar a atmosfera da encenação ao vivo e, por consequência, resulta em um audiovisual superficial e desprovido de alma.

Há, porém, quem entenda que essa estratégia fílmica precise de maior criatividade. "Moscou", de Eduardo Coutinho, (2009), e "Filme Ensaio", de Maria Flor (2018), são bons exemplos. É o caso também do saboroso documentário “Juvenal en Viaje_Colômbia”, da companhia de teatro carioca Pandorga e da qual tenho especial carinho, principalmente por conta dos amigos Cleiton Echeveste, dramaturgo e diretor, e Eduardo Almeida, ator e produtor, este último, o que encarna o personagem Juvenal e protagoniza filme e peça. Tive, aliás, o prazer de assistir a montagem que originou o documentário, "Juvenal, Pita e o Velocípede", há pouco menos de 10 anos, no Centro Cultural Justiça Federal, Centro do Rio de Janeiro, onde esta estreou, ao lado de minha esposa Leocádia e de minha sobrinha Luna, então com 5 anos, e fiquei encantado (aliás, como elas e a absoluta maioria da plateia). 

Terceiro espetáculo para público infanto-juvenil da Pandorga, “Juvenal, Pita e o Velocípede”, com direção de Cadu Cinelli e dramaturgia de Cleiton, é um monólogo que traz diversas reminiscências de Edu, contando o reencontro do protagonista com Pita, sua amiga imaginária da infância, após se afastarem por cerca de 30 anos. Fazendo um inventário de lembranças, Juvenal se depara com o velocípede que seu tio construiu especialmente para ele, o que serve de estopim para uma série de reencontros e descobertas emocionais. O espetáculo foi ganhador dos Prêmios CBTIJ na categoria Ator (Eduardo Almeida) e Zilka Sallaberry nas categorias Texto (Cleiton Echeveste) e Iluminação (Ricardo Lyra Jr.) e foi apontado como um dos destaques da temporada 2018 paulistana pelo Guia Folha. 

Cartaz da peça de 2015
Mas minha apreciação sobre o doc passa longe de ser em razão do apreço pessoal por Cleiton e Edu ou pela turma da companhia - os quais merecem, independentemente, admiração por esta e outras várias montagens ao longo de quase duas décadas. É que, com méritos, o filme sabe construir a narrativa de uma peça teatral sem incorrer nas inconsistências da transposição teatro-cinema. Com direção, roteiro e edição de Renato Mangolin, “Juvenal en Viaje_Colômbia” é um projeto selecionado na Chamada de Apoio à Internacionalização da Cultura "Ano Rio Colômbia" da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro e narra os 13 dias de viagem e apresentação da peça pelos festivais da Colômbia de San Ignacio, em Medellin, e Artes de la Calle, em Santa Fé de Antioquia.

Este breve argumento é suficiente para criar uma narrativa muito agradável deste quase roadie-movie, mostrando os trechos percorridos para as duas apresentações, desde a saída do Brasil até a viagem de uma cidade à outra em terras colombianas. Além disso, traz com riqueza os momentos na maioria das vezes distantes aos olhos comuns, que são os bastidores do mundo teatral. As decisões, as trocas de ideias, as adaptações, as inseguranças, as apreensões, os intercâmbios, as horas de preparação física e emocional de cada um dos membros da equipe, da iluminação à cênica, tudo é evidenciado de uma maneira bastante orgânica, que dá uma noção do quanto trabalho exige para que o público assista o produto final, aquilo que vai para o palco.

Ou seja, o documentário acerta em não reproduzir a peça e, sim, em delineá-la. São poucos trechos de Eduardo em cena que se veem na tela, mas suficientes para transmitir a atmosfera da mesma e, principalmente, a interação desta com os públicos locais: um, num espaço fechado, o Teatro Matacandelas, e o outro em plena rua. A edição funciona muito bem, dando um ritmo ideal entre bastidores, diálogos filmados, depoimentos, cenas e, claro, atuação. Dá tempo até de o espectador "turistar" um pouco nas bonitas cenas de passeio da trupe pelas ruas da capital da Colômbia ou nas paisagens do interior do país andino, o que atribui outro aspecto interessante ao filme.

Mais do que isso, no entanto, é apreciável o sensível crescente emocional a que a história leva quem assiste. O universo onírico da peça é reproduzido e ressignificado no filme num outro estado de apreciação para além do original, fazendo dialogar, de forma criativa, teatro e cinema. “Juvenal en Viaje_Colômbia” faz com que se aproveite a experiência do que a viagem proporciona, fazendo valer aquela máxima de que nunca se retorna desta o mesmo que começou o trajeto. Por isso, culminar as filmagens com a apresentação em plena praça pública, no meio do povo, mais o desfecho em off e retornando à infância de Eduardo, dá um caráter ainda mais metalinguístico à obra. É a linguagem do teatro e do cinema se conciliando, provando que é possível casar estas duas artes e forjá-las com o mesmo barro quando este barro é de natureza nobre.

Eduardo Almeida, já encarnado do personagem Juvenal, anda no meio
do povo antes de entrar em cena na bucólica Santa Fé de Antioquia


"Juvenal en Viaje_Colômbia"
Direção: Renato Mangolin - Pandorga Companhia de Teatro 
Elenco: Eduardo Almeida, Cleiton Echeveste, Ricardo Lyra Jr., Thiago Monte, Daniele Geammal
Gênero: Documentário
Duração: 80 min.
Ano: 2024
País: Brasil


🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬


Daniel Rodrigues


quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

"Feliz Natal", de Joe Begos (2022)

 


Papai Noel robótico implacável não vai parar até acabar com todos à sua frente.
Olha..., bem legalzinho. Fui esperando quase nada e ganhei de Natal um terror com muito sangue, boas mortes com um matador cruel e imparável.

"Feliz Natal", (no original "Christmas Blooby Christmas" - muito melhor!) traz um Papai Noel desses, tipo, de enfeite de porta de loja, desses que canta e se mexe quando o cliente entra, sabe? Só que esse "brinquedo" no caso específico, era um projeto abandonado das forças armadas e como não atendia às exigências militares, peças foram doadas, vendidas para fins comercias ou recreativos. Agora, imagine só... Quanta irresponsabilidade, não? 

Na véspera de Natal, a descolada dona de uma loja de discos de uma cidadezinha interiorana, planeja ter uma noite de sexo com um carinha do Tinder, ao passo que seu único funcionário, gamado por ela, tenta convencê-la de passar a noite com ele bebendo, falando de rock'n roll e filmes de terror e, quem sabe, alguma coisa a mais, se rolar. Em meio a isso, o Santa Claus de enfeite na porta da loja de brinquedos da tal cidadezinha, tem uma pane, se descontrola e desperta seus instintos militares para o qual fora programado originalmente, aniquilando implacavelmente todos que cruzam seu caminho. Alguns perguntar-se-ão, "Mas é só isso? Ele não tem motivos?". Isso é que é o melhor! Ele não tem motivações, não tem remorso, não sente pena, não tem o que o faça parar. Adoro os assassinos do tipo quanto mais implacáveis possível, e este é um deles. É o objetivo, e só.

Sendo ele um robô, uma máquina senti falta de uma aparência, um gestual, uma expressão corporal, um pouco mais mecânica, mas o importante é que, depois que deu tilt no sistema da máquina, o Santa dá conta do recado no que a gente espera dele, e senta o machado na garotada. SEM PERDÃO, SEM PENA, SEM DISTINÇÃO ENTRE MULHER, CRIANÇA, IDOSO, ETC.

Em muitos momentos, pela determinação assassina, pela gradual deterioração e pela sobrevivência mesmo quase reduzido a uma carenagem metálica, lembra um pouco o "Exterminador do Futuro", mas também, em muitos momentos, pela fotografia, as tomadas rasteiras, a iluminação avermelhada, luzes picantes, lembra o clássico underground "Hardware, O Destruidor do Futuro".

Como se não bastassem os méritos sanguinários, pra mim muito importantes quando se fala em terror, a dupla de protagonistas é um barato com suas discussões sobre rock e filmes de terror, cheios de referências a clássicos e desafios musicais, do tipo "qual o melhor Hellraiser?", " Cemitério Maldito 1 ou 2?", "qual a melhor canção rock de Natal?", "por que bandas de rock ficam ruins depois que os caras cortam o cabelo?", etc.

Poderiam discutir também qual o melhor terror sanguinário de Natal... "Noite do Terror", "Natal Sangrento", "Krampus"...? "Feliz Natal" talvez não chegue a tanto mas certamente entra na lista dos bons no assunto, e é uma pedida interessante para cinéfilos que curtem referências cinematográficas e fãs do horror em busca de uma boa noite natalina repleta de sangue. Para estes, um feliz Natal.

Projeto militar descartado, um Papai Noel robô promove terror em uma pequena cidade americana. Uma espécie de Exteminador do Futuro natalino e com muito mais sangue.
Aqui o "Bom Velinho" já bem avariado (mas insistente) depois dos enfrentamentos
com a brava Tori, dona da loja de discos local.


"Feliz Natal"
Título Original: "Christmas Bloody Christmas"
Direção: Joe Begos
Elenco: Riley Dandy e Sam Delich
Gênero: Terror/Ficção Científica/Slasher
Duração: 86 min.
Ano: 2022
País: EUA
Onde encontrar: Prime Vídeo


🎅🎅🎅🎅🎅🎅🎅🎅🎅🎅🎅


por Cly Reis


sábado, 21 de dezembro de 2024

"Meninas Malvadas", de Mark Waters (2004) vs. "Meninas Malvadas", de Samantha Jayne, Arturo Perez Jr. (2024)

 


É como se, tipo, o diretor executivo de um clube que teve sucesso, depois de algum tempo, resolvesse ir para outro montar outro projeto, com um elenco renovado, com outras características e apostasse numa nova proposta de jogo. A atriz Tina Fey, roteirista e idealizadora do clássico juvenil "Meninas Malvadas", 20 anos depois resolve escrever o roteiro uma refilmagem musical de seu sucesso cinematográfico. Ok... Nós do ClyBlog então tratamos de colocar os dois em campo. Frente a frente. Os dois times de rosa porque, afinal, nas quartas, as meninas usam rosa. Sei que vai dar confusão pro juiz, pra torcida, e sei que não é quarta, mas Regina George, certamente não daria a possibilidade do adversário usar sua cor favorita. Seja ela a Regina nova ou antiga.

Em "Meninas Malvadas", Cady Heron, uma adolescente que sempre vivera na África com os pais pesquisadores e fora educada em casa, ao retornar para os Estados Unidos, finalmente entra para uma escola. Lá, num primeiro momento, consegue fazer apenas alguns poucos amigos, dois míseros na verdade, e estes lhe apresentam as "tribos" do território, e a alertam em especial para um grupo de 'patricinhas' pretenciosas, conhecidas como "As Poderosas". Um pouco por curiosidade, um pouco por competitividade, outro tanto por crueldade, Regina George, a 'abelha-rainha' convida a novata Cady para fazer parte do grupo. Uma vez dentro, ela conhece toda a perversidade das riquinhas que desprezam e difamam as demais garotas da escola e ainda mantém um livro de comentários maldosos, fofocas, mentiras, e bullying, com fotos e ofensas contra muitas das outras alunas, com o qual se deliciam dando risadas. 

Nesse meio-tempo, Cady cai de amores por um garoto da escola, só que o gatinho fora namorado exatamente de Regina, que sabendo do interesse da caloura, reata com o rapaz somente para comprovar força e magoar a outra. Indignada com o fato e solidária à única amiga de verdade, a esquisitona Janis, que sofrera humilhações nas mãos de Regina no passado, Cady resolve aproveitar sua situação dentro do grupo para desmoralizar a abelha-rainha, ganhar o garoto e tomar seu lugar na liderança das Poderosas.

As coisas dão certo... mas nem tanto... os objetivos são alcançados mas acabam gerando efeitos colaterais e, digamos, todas têm as lições que merecem e que precisam. Todas, TODAS mesmo! Inclusive as outras garotas da escola que aprendem e entendem a grande lição que meninas, garotas, mulheres devem se apoiar ao invés de ficaram se desvalorizando e se difamando. 

Com pequeníssimas mudanças, a história é a mesma, até mesmo as falas são as mesmas e estão nos mesmos lugares no filme. O que muda é que o remake troca a narração da protagonista por uma condução musical para as explicações, elucidações, impressões e passagens de tempo. Criativo... Ousado... Interessante.

Mas o fato é que, praticamente tudo que a refilmagem se propõe a (re)fazer, é melhor no primeiro. 

A apresentação às Poderosas no refeitório; a famosa cena em que Aaron fala com Cady pela primeira vez e que consagrou o dia 3 de outubro como o Dia Mundial das Meninas Malvadas; a fantasia de Halloween de Cady; a surpresa, o choque, a incredulidade pelo inusitado do atropelamento de Regina; a reunião de grupo de todas as garotas da escola no auditório para analisarem suas atitudes em relação às outras; a competição de matemática; e, é claro a icônica apresentação de Natal, que o remake até muda um pouco a situação excessivamente 'pastelão' do original, mas mesmo assim  não chega perto da do Jingle Bell Rock com Lindsay Lohan salvando a apresentação e botando tudo abaixo numa performance inesquecível.

A propósito, as atualizações de mídias, temas, discussões, atmosfera, o comportamento, são alguns dos méritos da nova versão, mas ao contrário do que eu, que não gosto de musicais, imaginava, os números musicais que conferem ao longa um ar de um grande videoclipão, e as performances vocais de Reneé Rapp, a nova Regina George, são o grande trunfo para o novo filme e fazem com que ele realmente valha a pena. 


Winter Talent Show - "Jingle Bell Rock"
"Meninas Malvadas" 2004


Winter Talent Show - "Rock Around the Pole"
"Meninas Malvadas" (2024)


Mas fica nisso...

Do outro lado temos um dos maiores clássicos teen desde os filmes de John Hughes e não tem como ganhar desse time. Quem pode segurar um ataque com Rachel McAdams, Amanda Seyfried e Lindsay Lohan? Impossível! (E ainda tem a boa Lacey Chabert fazendo função tática no meio). O trio de estrelas trama várias vezes pelo meio da defesa adversária totalmente desguarnecida e marca o primeiro. 1x0 

As cenas clássicas já mencionadas: "Às quartas usamos rosa"; "No dia 3 de outubro ele me perguntou que dia era"; os 'atropelamentos'; a coreografia de Natal... Tudo isso garante o segundo gol para as malvadas de 2004. 2x0 

O terceiro é dela, Lindsay "Loca" . Atleta difícil, daquelas que poderia ter construído um carreira mais exitosa se tivesse mais comprometimento, disciplina e outros detalhezinhos mais... mas que inegavelmente, em sua boa época, em jogos como esse desequilibrava. E foi o que aconteceu: atuação perfeita. Discreta quando tem que ser tímida, verdadeiramente divertida nos momentos engraçados, convincente na parte dramática, arrasadora quando tem que ser poderosa, e irresistível quando tem que fazer a gostosona. Lindsay Malvadeza se infiltra no campo do adversário (o covil da Poderosas), faz a leitura perfeita da jogada (o Livro do Arraso), dá um chega pra lá na rival (dizem que ela empurrou Regina na frente do ônibus...), cai, levanta, marca com categoria (dividindo a coroa do baile) e corre para o abraço com os verdadeiros amigos (Janis e Damian). 3x0 

O remake faz o seu por conta das já destacadas partes musicais, os pequenos videoclipes de transições, pensamentos e devaneios com ótimas adaptações, bem pop e revitalizadas, das canções da peça da Broadway para o filme, além das excelentes performances vocais da cantora Reneé Rapp, cujas canções para sua personagem são especialmente legais. Legais mesmo! 3x1  para MM2004.

O novo filme até surpreende, joga bem, usa seus recursos, até tenta uma cartada de mestre usando a própria craque do time adversário, Lindsay Lohan, que aparece em uma cena como a mediadora da olimpíada de matemática, mas já veterana e sem o mesmo brilho de outros tempos não tem capacidade de mudar o resultado do jogo. Vitória das Poderosas de 2004.

No alto, os dois times, ambos de rosa em campo (as originais à esquerda);
na segunda linha as duas Regina George, e o gatinho em disputa, os dois Aaron;
na terceira, as amigas sonsas, as Karen à esquerda, e as Gretchen, à direita;
e por último, a nossa protagonista em dois momentos,
logo ao entrar na escola e já deslumbrante depois de tomar conta do território.


Não tem jeito: as Malvadonas de 2004 atropelam aquelas que 
cruzaram seu caminho e ousaram desafiá-las.







por Cly Reis



  

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

"Uma Natureza Violenta" ou "In a Violent Nature", de Chris Nash (2024)

 


O grande barato e o diferencial de "In a Violent Nature" é a perspectiva do filme sob o ponto de vista do assassino. Desde que ele desperta, ergue-se, vemos praticamente toda a ação pelos seus olhos. Não necessariamente em primeiro plano, com câmera na mão, mas até mesmo as impressões visuais e sensoriais de seu ambiente. 

Se por uma lado essa opção leva a um ritmo um tanto lento, de outra sorte, rende boas imagens, até um tanto contemplativas da floresta, da natureza, e pequenos planos sequência às costas do nosso serial-killer. Seria um 'slasher de arte'?

Muito parecido com Jason Vohrees, nosso Johnny, basicamente, desperta a partir do momento que aventureiros curiosos violam sua morada final e levam dela algo de grande significado para ele. Ele então levanta, anda pela floresta e... mata, mata, mata. Sem dó nem piedade. Só mais tarde viremos a saber da tragédia que envolveu uma família de madeireiros e seu filho, nada menos que o pequeno Johnny. 

Gore, sangue, tripas, mortes chocantes, fúria incontrolável, contorcionismos impossíveis (não vou comentar mais pra não dar spoiler da melhor cena de brutalidade do filme), "In a Violent Nature" ao mesmo tempo que consagra, subverte os clichês dos filmes slasher. Não interessa se é com machado, facão, gancho, corrente, serra... não interessa! Para Johnny só a vingança importa.

Clássico imediato!

Surge um novo slasher mascarado com potencial para tornar-se tão lendário quanto seu inspirador, Jason Vohrees.

(Já que reviveu) Longa vida a Johnny!

Tá pensando que é só isso?
Essa obra de arte das mortes de slashers aqui está só começando.


"Uma Natureza Violenta"
Título Original: "In a Violent Nature"
Direção: Chris Nash
Elenco: Ry Barret, Andrea Pavlovic, Cameron Love
Gênero: Terror/Slasher
Duração: 94 min.
Ano: 2024
País: Canadá
Onde encontrar: Google Play (pago)


🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬


Cly Reis

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

"Longlegs - Vínculo Mortal", de Osgood Perkins (2024)

 



"Longlegs - Vínculo Mortal" é um policial com elementos de terror. O mistério, a investigação, os crimes, as pistas se sobrepõe ao macabro, embora ele esteja presente, e de uma forma silenciosamente assustadora.

Maika Monroe está excelente no papel da investigadora Lee Harker, uma jovem agente federal que por sua competência e métodos, é designada para reabrir um intrigante caso de um serial-killer conhecido como Longlegs. Determinada mas frágil emocionalmente e com uma certa capacidade sensitiva, conforme a investigação avança, Lee vai se percebendo afetada por alguma ligação com o caso, o que vai se revelando gradualmente na trama. Algo sinistro está por trás das mortes e ao que parece, ela tem alguma conexão com o criminoso.

Nicolas Cage está absurdo (de incrível) na pele (esbranquiçada e quase irreconhecível) do assassino. Um de seus melhores papéis dando vida, possivelmente, a um dos novos personagens marcantes do cinema, daqueles que não será esquecido tão cedo.

Atmosfera sombria, vazia, cinzenta, ritmo lento, tomadas precisas, leitura das expressões dos personagens, ambiente retrô noventista, mistério constante e envolvente, e um dos serial-killers mais marcantes que já se viu.

Um dos melhores thriller-terror-suspense que assisti nos últimos tempos.

Algo como um novo "O Silêncio dos Inocentes", menos elegante, menos requintado, porém mais místico e demoníaco. Seria um exagero meu, um absurdo compará-lo com tamanho clássico? Talvez, talvez... Mas não posso negar que "Longlegs" me impressionou bastante. Como já aconteceu com muitos clássicos ao longo da história do cinema, talvez o tempo nos dê resposta.


À esquerda, a agente Harker absorvida pelas pistas, mergulhada em suas investigações;
e à direita, o irreconhecível Nicolas Cage na pele do sinistro vilão Longlegs.


"Longlegs - Vínculo Mortal"
Título Original: "Longlegs"
Direção: Osgood Perkins
Elenco: Maika Monroe, Nicolas Cage, Alicia Witt
Gênero: Policial/Suspense/Terror
Duração: 101 min.
Ano: 2024
País: EUA
Onde encontrar: YouTube, Prime Vídeo, Google Play, Apple TV (pago)


🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬


por Cly Reis

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

"Fanfare d'Amour", de Richard Pottier (1935) vs. "Quanto Mais Quente Melhor", de Billy Wilder (1959)

 


Eis aqui um caso em que o remake, simplesmente, atropela o original. É quando uma comédia despretensiosa, sem grande desenvolvimento, produzida por um país ainda não tão significativo, na época, é repensado com maiores ambições, ganha uma melhor elaboração, tem o aporte de um grande estúdio norte-americano e é entregue nas mãos de um dos grandes mestres do cinema. Aí não tinha como dar rúim.

O francês "Fanfarras do Amor" é legal, é  simpatiquinho, sua premissa cômica é interessante é promissora, mas é exatamente nisso que o diretor e roteirista norte-americano Billy Wilder tem seu grande trunfo. O mote inicial é bom: dois músicos com dificuldade financeira que tem que ingressar, travestidos, em uma banda feminina para dar um jeito na miséria, mas que, inevitavelmente acabam se envolvendo com as garotas e tem que alternar as identidades para, ora tocar no conjunto, ora tentar conquistar as integrantes desejadas.

Wilder pegou esse bom prato e acrescentou alguns temperos. Pensou então, "e se eles, além da dureza de grana, tivessem forçosamente que se disfarçar para salvar a própria pele?", "...se eles estivessem, tipo..., sendo perseguidos por criminosos?", "se apenas um dos músicos se interessasse por uma instrumentista do grupo e o outro mesmo relutante servisse como seu escudeiro?", "e se esse cúmplice tivesse que se submeter a situações quase absurdas para ajudar o romance do amigo?". A incrementada de Billy Wilder fez toda a diferença e favorece diversas dinâmicas. Enquanto o longa francês morre cedo, se esgota rápido numa repetição de vira homem vira mulher, vai e toca na banda e corre pro o quarto do hotel; o norte-americano, mesmo repetindo esse frenesi de "põe o disfarce e tira o disfarce", é mais criativo, diversifica ambientes, insere personagens, cria novas complicações para a dupla de protagonistas. 

Se em "Fanfarras do Amor" a viagem com a banda feminina para a Riviera Francesa é meramente circunstancial, em "Quanto mais Quente Melhor", o afastamento para um lugar mais quente, a Flórida, é fundamental no enredo, uma vez que a dupla de músicos, tendo sido testemunha de um crime numa garagem em Chicago, vê na oportunidade de viajar para beeeem longe, a melhor, e talvez única, alternativa para escapar dos mafiosos que passam a os perseguir. 

No filme francês, pode-se dizer que grande parte do envolvimento do músico bonitão, Jean, com uma das cantoras do grupo se passa no trem, enquanto que no norte-americano, embora o interesse do saxofonista, Joe, pela tocadora de ukelele seja revelado também na viagem sobre os trilhos, e as confusões deles com as garotas rendam boas risadas, o ápice da ação e dos encontros e desencontros se dá no hotel em Miami. Na versão francesa, no entanto, o hotel é palco, além dos números musicais, de uma série de repetições de troca de figurinos, sobe e desce de escadas, e tentativas do mais cômico mas menos atraente da dupla, Pierre (Jean Carrete), em revelar a identidade do companheiro, Jean (Fernand Gravey), de modo a conquistar a desejada Gaby. É! Sim! Em "Fanfarras do Amor" há uma competição pela garota da banda e a todo momento um fica tentando desmascarar o outro, só que Jean leva uma certa vantagem por fazer o tipo galã e por se passar por produtor musical, o que acalenta o sonho de Gaby de se tornar uma cantora conhecida e se projetar no cenário artístico.

Em "Quanto Mais Quente Melhor" a resistência de Jerry ao assédio às garotas da banda, o contrabaixista vivido por Jack Lemmon, se dá somente pelo temor de revelarem o disfarce e serem expulsos do grupo. Embora tentado pelas formas femininas, Jerry não tem nenhuma pretensão nesse sentido. Já seu colega de fuga, o saxofonista Joe (Tony Curtis), mulherengo e galanteador, logo se encanta por Sugar Kane, a garota mais rebelde da banda, interpretada por Marilyn Monroe, e, sabendo da ambição da loura por conhecer um milionário, além do disfarce feminino, ainda se faz passar por um magnata dono de uma das maiores petrolíferas do mundo. Mas para tal farsa terá que contar com a retaguarda de Jerry, agindo sob a identidade de Daphne para distrair um ricaço (esse, sim, de verdade) e usufruir de suas vantagens para impressionar Sugar.

A propósito, o trio de ataque do técnico Wilder é de enlouquecer qualquer adversário. Lemmon simplesmente hilário a cada mudança de Jerry para Daphne e vice-versa; Curtis, malandro, conquistador, ardiloso, se desdobrando em três papéis (Joe, Josephine e Junior), e Marilyn, mesmo indisciplinada, acima do peso, chegando atrasada nos treinos e brigando com o treinador (tinha discussões com Wilder), entregava em campo e fazia um dos papéis mais marcantes de sua carreira.


"Fanfare d'Amour" - Jean (Fernando Gravey)
em número musical no hotel


"Quanto Mais Quente Melhor" - Sugar Kane (Marilyn Monroe)
em número musical no hotel


Não tem jeito: "Quanto Mais Quente Melhor" goleia.

Um gol pelo enriquecimento do enredo com elementos como a máfia, o testemunho do assassinato, o motivo adicional de aceitarem entrar para um grupo feminino e da fuga para um lugar o mais distante possível, a farsa do milionário, o verdadeiro ricaço e seu "envolvimento" quase compulsório com o baixista...  Tudo! A história simplória de "Fanfarres d'Amour" vira outra coisa!!! QMQM 1x0.

A propósito da quedinha do milionário Osgood pela 'delicada' Daphne, na verdade o relutante baixista Joe, a situação toda, absurdamente cômica, e a atuação de Jack Lemmon tendo que ceder à pressão do amigo e se fazer convincente como mulher para conseguir as benesses de luxo do esbanjador pretendente, vale mais uma bola na rede para o time de 1961. A sequência toda em que eles se encontram no bar do hotel e dançam tango a noite inteira é de morrer de rir. 2x0 para o time do Tio Billy.

Por falar em gargalhadas, a sucessão situações hilárias garante o terceiro para o time de Billy Wilder. A "festinha" no trem, Joe enfiado na banheira de roupa e tudo para não ser desmascarado, os dois embaixo da mesa dos criminosos no reencontro com a máfia no hotel em Miami, a própria caracterização dos dois como mulheres... 3x0 no placar.

Mas aí, com o placar favorável, jogo tranquilo, o time de 1961 relaxa e acaba metendo um gol contra. Na ânsia de explorar a sensualidade da loura sem ser apelativo, Wilder erra a mão na sequência do iate com uma situação longa e cansativa do que seria uma "recuperação" das capacidades masculinas do (falso)milionário Shell Junior. Ah, é um beija, rebeija, insiste, desiste, aposta, embaça os óculos de tanta "pressão" da loira, e aquilo não acaba nunca. Cansativo. O time francês faz o seu primeiro numa falha do treinador adversário. 3x1.

Será sinal de uma reação? 

Que nada!

Marilyn, que teve culpa no gol do adversário, se redime em grande estilo com o número musical de "I Wanna Be Loved By You", que é das coisas mais graciosas que já se viu na história do cinema. Ela fazendo aquele "Boop-boop-a-doop" é algo simplesmente sensacional. Jogada individual. Gol de uma das craques do time. Pode até não ser um exemplo de atleta mas lá dentro resolve. 4x1! Marilyn Monroe!!!

Já pelo lados da Riviera Francesa, de um modo geral, a maioria dos números musicais são chatos e maçantes, com uma espécie de coreografia bávara exibida no hotel, no entanto, o primeiro momento em que Jean se passa por produtor, ainda no trem, mostra sua canção a Gaby e ambos a cantam juntos no trem, é um momento bonito, bem captado e garante o segundo para Fd'A. 4x2.

Mas não havia muito mais para tirar do time do técnico Richard Pottier e o placar estava definido. 

Ôpa!!!

...

...

Quando parecia que nada mais ia acontecer, no apagar das luzes, na cena final de "Quanto Mais Quente Melhor", numa tabelinha de Jack Lemmon com o ator Joe E. Brown, o milionário Osgood Fielding, o diálogo final entre os dois garante o quinto para QMQM. Golaço de Jack (ou Jerry... ou Daphne...). Ora, não importa! O importante é que o remake faz 5x2 e liquida com qualquer chance do filme original. O árbitro aponta o centro de campo e está encerrada a partida.

Prevalece o time com mais criatividade, qualidade técnica e talento individual.


O time francês tem virtudes mas contra o trio de ataque dos
comandado do técnico Wilder, não tem como competir.



Não tem como culpar "Fanfare d'Amour" por tentar encarar "Quanto Mais Quente Melhor".
Viu que tinha bons jogadores, achou que teria chance, ok, ok...
Como diria o apaixonado velhote Osgood, "Ninguém é perfeito".






por Cly Reis

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Capas de VHS V - "A Bela e a Fera" e "Orfeu"

 






RODRIGUES, Daniel
"A Bela e a Fera + Orfeu"
Arte para VHS doméstico sobre os filmes de Jean Cocteau, de 1940 e 1946, respectivamente, 
Série "Grandes Diretores - Jean Cocteau"
Recorte, impressão jato de tinta e colagem sobre papel
26 x 21 cm
Anos 2000


segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Os 100 Melhores Filmes de Terror da IndieWiere (e aquelas 12 títulos que faltaram)


 
Cada vez mais fica claro que listas são feitas para serem complementadas. As famosas (e polêmicas) seleções de melhores do cinema não desmentem: por mais criteriosas que sejam em suas elaborações, sempre deixam aquela sensação de que algo faltou. Ainda mais quando o tema envolve os melhores “de todos os tempos ", que, por motivos óbvios - o de abarcar tudo que o universo daquela temática ou recorte deve oferecer -, corre muito mais risco de erro.

"O Iluminado", um clássico do terror incontestável.
Mas há outros
Caso da lista divulgada recentemente pelo IndieWire, reconhecido portal sobre cinema, que elaborou uma publicação com os 100 melhores filmes de terror de todos os tempos. Por si só, aliás, um gênero polêmico, seja pela classificação de um filme dentro desse gênero (às vezes, discutível se é terror ou não), seja pela paixão que exerce sobre seus milhares de fãs (o que supõe uma maior diversidade de preferências). 

Porém, a IndieWire encarou a empreitada. E o fez muito bem, por sinal. Tem de tudo: zumbi, monstro, slasher, vampiro, espírito, lobisomem. Sangue, morte e medo para todos os gostos. Podem se achar listados os principais filmes de terror que se conhece. Clássicos incontestes como "O Iluminado", "O Bebê de Rosemary", "Tubarão" e "O Massacre da Serra Elétrica" estão lá. Igualmente, a consideração a obras nem tão badaladas, mas inegavelmente merecedoras, tal "A Beira da Loucura", de John Carpenter (69°), "Irmãs Diabólicas", de Brian De Palma (87°) e "Violência Gratuita", de Michael Haneke (15°). Até mesmo a primeira colocação a "Possessão" (de Andrezej Żulawski) surpreende, mas é bem interessante em se tratando de uma lista claramente revisionista. Também é apreciável o prestígio aos orientais com várias produções do Japão e Coreia do Sul da década de 50 até a de 2000. Como diz a própria publicação, “prestamos atenção às seleções que abriram caminho em inovações para o gênero e para o cinema como um todo”.

No entanto, há controvérsias, claro. A começar pela má colocação de alguns títulos que fazem jus a uma melhor pontuação, seja por sua importância para o gênero ou para a própria história do cinema, como "A Hora do Pesadelo", pondo o icônico Freddie Krugger apenas no 98° lugar; o referencial "Psicose", obra-prima de Alfred Hitchcock e possivelmente top of the tops numa relação mais tradicional, aqui contentando-se somente com o 39° posto; ou o já citado "O Bebê...", 42°, recorrentemente tido como um dos principais filmes da história do cinema em todos os gêneros. E "Nosferatu" de Murnau, na 40ª? Ou "O Exorcista" só 51ª? Sinistro...

Mas são as ausências que mais gritam tal qual a mocinha clichê fugindo do serial killer no meio da noite. Ver uma seleção de 10 dezenas de obras de terror e enxergar algumas sendo esquecidas (ou preteridas) motiva àquilo que referimos no início do texto: o ímpeto de querer complementá-la. Por isso, trazemos aqui 12 títulos não listados pela IndieWire, mas que consideramos essenciais de constarem. Tirar alguns? Ampliar? Adicionar aquele "plus"? Tanto faz. Importante é contribuir com mais filmes certamente cabíveis numa lista como esta: legal, mas incompleta. Os amantes do terror hão de concordar.


🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬


"O MAL QUE NOS HABITA", de Damián Rugna - ARG (2023) - Um desses recentes, mas que já mexeu com as estruturas do universo do horror é o aterrorizante argentino "O Mal Que nos Habita". Tem possessão, tem gore, tem violência extrema, tem canibalismo, tem sobrenatural, tem perseguição e, de quebra, ainda, na entrelinha, crítica social. A gente fica apavorado com o que vê, cenas gráficas e sangrentas daquelas de fechar os olhos, como a famosa sequência do cachorro matando a menininha; espantado com o que aconteceu mas não viu, como o garoto que comeu a avó; e amedrontado pelo que não vê, a maldição que persegue os moradores de uma cidadezinha interiorana na argentina e que pode estar em qualquer um, em qualquer lugar. Um dos grandes filmes do gênero nos último anos.





"TERRIFIER", de Damien Leone - USA (2016) - "Terrifier" surgiu meio que como um cult. Era uma espécie de clássico do underground daqueles que só tinha visto quem conseguia por algum meio menos convencional. Mas o fato é que, mesmo difícil, restrito a alguns fanáticos sanguinários e incansáveis ratos de internet, o filme era muito comentado pelas barbaridades, atrocidades e brutalidades de um palhaço mímico que comete uma verdadeira carnificina numa noite de Halloween. E de fato, a fama não era a toa. "Terrifier" é dos filmes mais brutais que já assisti. As coisas que faz o palhaço Art são duvidáveis até para o mais acostumado fã de slashers. Tipo, "Ele não vai fazer isso... não vai fazer...  Fez!!!". O visual da fantasia preto e branco com uma mini-cartola, aquele sorriso sujo assustadoramente amplo, a determinação em seus objetivos assassinos, o sadismo doentio, e o talento para as execuções de suas vítimas fazem de Art um dos novos grandes matadores do cinema e mais um personagem clássico do horror.



"INVASÃO ZUMBI", de Yeon Sang-ho - KOR (2016) - Os zumbis foram mudando ao longo da história do cinema desde que George Romero os 'inventou". Já foram apalermados, organizados, individualistas, inconscientes, cruéis, devoradores, possuídos, experimentais... Em "Invasão Zumbi" um dos grandes baratos é que ao invés de zumbis lentos, descoordenados, capengando com os braço estendidos para a frente e babando, temos zumbis rápidos. Velozes, determinados, imparáveis e vorazes! A partir do momento que o primeiro infectado entra no trem de Seul para Busan o frenesi não tem mais fim. Aí ele morde um que morde outro que morde outro, e os corredores apertados do trem são o cenário perfeito para um dos filmes de zumbi mais alucinantes que já se viu.





"ATIVIDADE PARANORMAL", de Oren Peli - USA (2007) - Sei que o found-footage já tá enchendo no saco de tanta coisa que se fez no formato desde o sucesso do fenômeno "A Bruxa de Blair", mas não dá pra ignorar e deixar de fora o igualmente criativo "Atividade Paranormal". Basicamente uma câmera num tripé posicionada no quarto de um jovem casal que suspeita sua casa, suas vidas, estejam sendo atormentadas por alguma força sobrenatural, um espírito, um demônio ou algo assim. Para tentar tranquilizar a esposa Katie e esclarecer as dúvidas, o marido, Micah, aficionado por eletrônicos, vídeos, filmagens, coloca câmeras gravando o tempo inteiro em vários pontos da casa, inclusive no dormitório do casal. É, e para desespero dos dois, as imagens revisadas nos dias seguintes às gravações, depois de suas noites de sono, confirmam seus piores temores: tem alguma coisa lá. Simples? Sim, mas eficiente. O passar dos dias, o aumento gradual da atividade, dos fenômenos mantém o interesse do espectador. Sem graça? Uma câmera fixa na mesma posição... Que nada! Aquele silêncio, aquela imagem parada na amplitude do quarto faz a gente ficar com o olho atento a cada detalhe, a cada cantinho. Será que a porta vai mexer? Será que sai alguma coisa debaixo da cama? E o lençol? E o chinelo? E o pé dela? E o pé dele?... Pior é, depois de ver o filme, ir dormir e ter que apagar a luz do quarto.



"CREEPSHOW", de George A. Romero - USA (1982) - Se um filme dirigido por George A. Romero com argumento e roteiro de Stephen King, inspirado nos clássicos quadrinhos de terror dos anos 50 não é uma das melhores coisas do mundo do terror, eu não sei mais o que é bom ou não. Com todo aquele colorido e visual de HQ na tela, com arte desenhada, fontes Comic Sans, layout de tela como uma página de papel, os mestres do terror nos apresentam cinco contos recheados de medo, morte, sangue e humor, com mortos-vivos, criaturas assassinas, coisas de outros planetas, infestações incontroláveis, em tramas envolventes que desfilam ódio, traição, vingança, ambição e repugnância. King, Romero, quadrinhos, sangue, decapitações, zumbis, insetos nojentos, monstros... O que pode ser melhor que isso?







trailer de "Creepshow"



"O SEGREDO DA CABANA"
, de Drew Godard - USA/CAN (2012) - Reverência e crítica ao mesmo tempo, "O Segredo da Cabana" brinca com os clichês dos filmes de horror construindo a partir disso, por incrível que possa parecer, uma obra inteligente e singular. Grupo de jovens, cabana no meio do nada, lenda local, livro no porão, despertar de algo sobrenatural... Sei, sei. Já vimos tudo isso. Mas e se tudo isso estivesse sendo meticulosamente controlado por uma espécie de central mundial de eventos paranormais que decide qual monstro, assombração ou criatura será destinado para cada local, e quando e como o maligno deverá agir? Tipo de arma, tipo de morte, ambiente, essas coisas... Enquanto o 'escolhido' entra em ação, os funcionários do local, que já prepararam tudo, luz, nevoeiro, trilhas, dificuldades, obstáculos, apostam entre si, enquanto assistem por um circuito privado de vídeo, como se dará, efetivamente, cada execução: morte rápida, lenta, decapitação, mutilação, estrangulamento, muito sangue, pouco sangue, etc. Lá pelas tantas as coisas fogem do controle desse pessoal da retaguarda da 'empresa' e dois dos jovens descobrem suas instalações secretas subterrâneas, e é quando muita coisa passa a entrar em jogo, incluindo a existência da humanidade se aquela horda de aberrações, mantida até então sob controle, for libertada e sair pelo mundo afora. A hora em que os garotos abrem os elevadores das criaturas é um dos momentos de maior caos que já se viu em filmes do gênero, e ao mesmo tempo um dos momentos mais "lindos" para fãs de terror. Tudo está ali: Lobisomens, vampiros, bruxas, ciclopes, górgonas, dragões, duendes doentios, crianças malignas, palhaços assassinos, répteis gigantes, zumbis famintos, surgem todos ao mesmo tempo, remetendo a diversas referências do mundo do cinema que entusiastas do gênero com certeza não deixam de notar. "Hellraiser", "It", "O Chamado", "Poltergeist", "O Iluminado", "A Noite dos Mortos-Vivos", "A Múmia", "O Monstro da Lagoa Negra", "O Massacre da Serra Elétrica" e outros mais... todos estão homenageados nas celas de vidro ou corredores de sangue da tal 'empresa', a fábrica de pesadelos do diretor Drew Godard. Um deleite para nós, cultuadores desses filmes! Uma crítica ao cinema hollywoodiano, seus vícios, seus padrões, seus métodos, sua influência e abrangência, mas também, de certa forma, uma cutucada quanto ao mundo em que vivemos como um todo, no qual uma minoria de poderosos, 'donos do mundo', decide como as coisas são e como devem continuar sendo. 


"POLTERGEIST, O FENÔMENO", de Tobe Hooper – USA (1982) - Assim como "O Exorcista", "Tubarão" e "Pânico", o filme de Tobe Hooper - àquela altura, início dos anos 80, bem melhor aparado pela indústria do cinema do que quando realizou na raça o independente "O Massacre da Serra Elétrica" em 1974 - é daqueles que títulos que, independentemente da colocação conforme o critério adotado para a seleção, não pode faltar a uma lista de 100 best horror of all times de jeito nenhum. Produzido por Steven Spielberg e com trilha do craque Jerry Goldsmith, além do enorme sucesso que fez à época de lançamento, tornando-se um marco dos filmes de terror assim como os citados acima, "Poltergeist" "cumpre" algo que nem sempre filmes do gênero, por mais bem feitos que sejam, conseguem alcançar: ele assusta. Depois de assisti-lo, nunca mais se olha para uma árvore ao lado da janela da mesma maneira.



“O ESTRANHO MUNDO DE ZÉ DO CAIXÃO”, de José Mojica Marins - BRA (1968) - O máximo que a lista da IndieWire vai fora da América do Norte, da Ásia ou da Europa é um filme do Oriente Médio (“Garota Sombria Caminha pela Noite”, do Irã) e outro da América do Sul, o chileno “Santa Sangre”. Talvez por essa pouca atenção além do circuito tradicional tenham deixado de voltar seu olhar para o Brasil e o seu grande ícone do cinema de horror: José Mojica Marins, o homem por trás do personagem cujo mundo é tão estranho quanto magnífico. Os gringos que não se façam de loucos, pois o conhecem muito bem como Coffin Joe, quando o brasileiro foi descoberto nos festivais internacionais de cinema como Avoriaz, nos anos 90, e passou a ser cultuado. Poderia ser o seminal “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” ou o lisérgico “O Despertar da Besta”, mas “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” é sua obra mais bem acabada e sintética do estilo híbrido de seu cinema, que vai do trash e o vampirismo ao gótico e o body horror.



“O MENSAGEIRO DO DIABO”, de Charles Laughton – USA (1955) - Se tem um filme absolutamente injustiçado nessa listagem publicada esse filme é "O Mensageiro do Diabo". Clássico da segunda fase do cinema noir, o único longa dirigido pelo experiente ator inglês Charles Laughton impressiona pela perfeição em todos os aspectos fílmicos: fotografia, roteiro, edição, trilha, atuações. E que atuações! Robert Mitchum, que encarnaria o perigoso Max Cady na primeira versão de "Cape Fear" 12 anos depois, leva muito para aquele papel o clima do personagem deste filme, o assassino de viúvas ricas Harry Powell. Mas não só Mitchum: a perseguida Willa, vivida por Shelley Winters e, principalmente, as crianças (Lilian Gish e Billy Chapin) dão um show de interpretação, lembrando o desempenho acima da média de outra dupla de pequenos atores noutro título clássico do terror: "Os Inocentes" (41° da lista).





“AS DIABÓLICAS”, de Henri-Georges Clouzot – FRA (1955) - Um dos critérios adotados pela IndieWire para compor a lista é de que os filmes não fossem somente fantásticos, mas também dessem medo. Seguindo esta lógica, "As Diabólicas" não estar presente é definitivamente um equívoco. Uma das mais marcantes obras da cinematografia francesa dos anos 50 pré-Nouvelle Vague, "As Diabólicas" assusta pra caramba! Michel Delassalle dirige com mão de ferro um pensionato para meninos, assistida por sua doce esposa Christina. Ele tem por amante Nicole Horner, professora da instituição. Cansadas do despotismo de Michel, as duas mulheres unem para assassiná-lo. Alguns dias depois do crime, no entanto, o cadáver desaparece e situações estranhas começam a se suceder. Esteticamente impressionante, algo expressionista, é contado de forma magistral pelo diretor Henri-Georges Clouzot, mestre de narrativas tensas a se ver pelo sufocante Palma de Ouro "O Salário do Medo", de 1953. O ambiente sombrio do pensionato, a figura arrepiante de Simone Signoret como a fria Nicole e, principalmente, as reviravoltas do roteiro, fazem deste filme uma obra-prima do gênero do terror. Ah: e é uma das inspirações de Hitchcock para produzir "Psicose". Não precisa dizer mais nada, né?


trailer de "As Diabólicas"



"A CASA QUE PINGAVA SANGUE", de Peter Duffell - ING/IRL (1971) - Típico filme de terror inglês "das antigas": histórias criativas, instigantes e bem contadas. Reunião de quatro histórias que são contadas ao Inspetor Holloway, que investiga o misterioso desaparecimento do ator de filmes de terror Paul Henderson após mudar-se para uma antiga casa. Assassinos que saem dos livros para a realidade, um museu de cera que desperta desejos proibidos, uma menina alijada de uma boneca e uma capa capaz de dar poderes a um homem fazem dessa reunião de pequenos filmes - mas interligados entre si - daqueles clássicos que dava gosto de assistir na tevê com a dublagem da TKS. E ainda conta no elenco com o veterano Peter Cushing, que viveria Sherlock Holmes no cinema em 1984, e ele: Christopher Lee, lenda do terror.





“HALLOWEEN III – A NOITE DAS BRXAS”, de Tommy Lee Wallace – USA (1982) - Tá ok: já tem o clássico “Halloween” do Carpenter, o filme que melhor captou o lado sombrio dessa comemoração muito peculiar da cultura norte-americana, abrindo a porta para uma interminável sequência que perdura até hoje, mais de 40 anos após seu lançamento. Mas é impossível não referir nessa relação de melhores de terror uma dessas sequências, a de nº 3. Curiosamente (e isso é uma das qualidades do filme de Tommy Lee Wallace), não tem nada a ver com a história do assassino Michael Myers entabulada nos até então outros dois anteriores. Mas a principal qualidade de “Halloween III” é o de ser absolutamente arrepiante como poucos filmes o são. Antecipando a viagem paranoico-televisiva de “Videodrome” de Cronenberg e resgatando ideias de obras como “Invasores de Corpos”, dos filmes de zumbis, inova a abordagem dos filmes de bruxa ao adicionar, inclusive, a crítica ao sistema capitalista, capaz de penetrar no cérebro dos consumidores e lobotomizá-los para vender seus produtos. Isso tudo sem deixar de ser sanguinolento. Em uma época em que se começava a discutir os efeitos nefastos da propaganda subliminar, é de arrepiar só de ouvir aquele jingle maldito mas aparentemente inocente.



Cly Reis
Daniel Rodrigues