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quinta-feira, 16 de junho de 2022

Chrome - "Inworlds" (1981)

 

"Tomando dicas de Suicide, Can, Pink Floyd, Jimi Hendrix, The Residents e qualquer um que já fez fitas caseiras em seu quarto, os densos e caóticos épicos de ficção científica da dupla são pesadelos vívidos de vinil  – uma mistura espessa de ruídos mecânicos, filtrados, vozes distorcidas e letras fantásticas e bizarras – que dão vida a um mundo assustador ao mesmo tempo absorvente e repelente." 
Revista nova-iorquina Trouser Press, especializada em rock alternativo, sobre a Chrome

O industrial é, se não o mais criativo subgênero do rock n roll, o que carrega as referências mais instigantes em sua concepção. Sociohistoricamente falando, gera-se nos anos 70 na tensão capitalista da decadência da industrialização e a iminência ao mundo digital. A revolução industrial do século XIX não só havia desgastado e viciado o sistema fordista como, igualmente, não deixava no seu lugar um futuro promissor para o homem num mundo pós-Guerra/Guerra Fria. Talvez, para as máquinas, mas não para o homem. Esse contexto sombrio contamina toda a estética decadentista do industrial rock, que, dessa forma, bebe indistintamente em diversas vertentes, que vão do punk à eletrônica, do heavy metal ao futurismo, do gótico ao fantástico, do pós-punk ao minimalismo. Características que, juntas, não raro levam o gênero a aproximar-se das vanguardas musicais, seja da eletroacústica ou do atonalismo.

Claro que tamanha confluência de estéticas só poderia advir das profundezas do underground. Se bandas como Nine Inch Nails e Ministry tornaram-se as mais conhecidas do rock industrial, certamente todas elas devem a uma dupla ainda mais alternativa do que eles: a Chrome. Surgida na San Francisco em plena efervescência do movimento punk, a dupla Damon Edge (voz, teclados, bateria, sintetizador, tapes e arte) e Helios Creed (guitarra, baixo, programação e backing) entendeu antes de todo mundo que caminho iria dar toda aquela cena explosiva encabeçada por Ramones e Sex Pistols. Antes mesmo da Pere Ubu e da Throbbing Gristle, reconhecidos precursores do estilo, a Chrome, embora quase nunca lembrada por isso, já praticava a inversão dialética que os eletropunks da Suicide intuíam instintivamente: desafiar a máquina diante da condição humana - e não o contrário, como a era digital instituiu.

Da extensa discografia da Chrome, que tem discos tão desafiadores quanto experimentais e ruidosos como “Alien Soundtracks (1977), “Half Machine Lip Moves” (1979), "Anorther World" (1985) e "Feel It Like A Scientist" (2014), destaca-se, porém, aquele em que souberam valer-se do mínimo: o EP “Inworlds”, de 1981. São apenas duas faixas em que resumem a face criativa da dupla e onde eles conseguem expressar sua musicalidade de forma eficiente e marcante. “Danger Zone”, uma delas, guarda todos os predicados do melhor rock industrial: riff entre o punk e o metal, ritmo "pogueado", efeitos eletrônicos ruidosos e clima denso. A produção caprichada empresta ao contexto sonoro sujeira na medida certa, diferente dos primeiros álbuns, bastante mais carregados neste sentido. E a letra adensa ainda mais essa atmosfera da “tensão pré-milênio” como nos versos do refrão: “Totalmente sozinho/ Na zona de perigo”.

Já “In a Dream”, tema irmão de “Danger Zone”, traz uma melodia até parecida, porém numa cadência um pouco mais lenta, mas sem perder o clima vanguardista de cyberpunk. A Chrome consegue fazer lembrar num tempo Can, Killing Joke, Polyrock e The Residents. Aliás, a produção arrojada lhe dá ainda mais personalidade, com efeitos de mesa e de voz, sintetizadores sujando o arranjo e os instrumentos-base soando vivos, pulsantes. Para ouvidos mais apurados, dá para perceber de onde Herbert Vianna tirou o tipo de sonoridade que aplicou na produção dos discos da Plebe Rude poucos anos dali. 

De grande personalidade, a Chrome segue ativa até os dias de hoje, tendo lançando recentemente, o 26º álbum, “Scaropy”, de 2021, sem, contudo, jamais ter obtido sucesso comercial. Mas se as páginas da história do rock os obscureceram, os fãs ovacionam. Não é difícil encontrar nas redes sociais afirmações de que a Chrome é “a banda mais subestimada da história da música moderna” ou de que é ”a melhor banda de todos os tempos”. A melhor é difícil de afirmar, a mais subestimada, idem, mas que Damon Edge e Helios Creed conseguiram juntar as peças e forjar o gênero do rock mais múltiplo de todos, o industrial, isso é inegável. A história nem sempre é justa com seus pioneiros.

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FAIXAS:
1. "Danger Zone" - 05:32
2. ""In a Dream" - 05:11
Ambas as composições de autoria de Damon Edge e Helios Creed 

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Daniel Rodrigues

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Música da Cabeça - Programa #267

 

quantas vezes teremos que levantar o nosso punho em combate ao racismo? quantas vezes forem necessárias, e por isso o mdc de hoje resiste. na luta com a gente, tem os mulheres negras, pink floyd, djonga, madonna, nick drake e mais. ainda, os quadros fixos e um sete-list pra celebrar os 70 anos de david byrne. dentro ou fora dos gramados, o programa hoje entra fardado de igualdade e respeito às 21h na combativa rádio elétrica. produção, apresentação e #fogonosracistas: daniel rodrigues.



Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

segunda-feira, 11 de abril de 2022

Living Colour - "Vivid" (1988)

 

"'Dougie, eu gostei dessa banda. O que você acha que devo fazer?' Eu disse a ele: 'Você é Mick Jagger, cara! Leve-os ao estúdio e faça algo com eles.'"
Doug Wimbish, atual baixista da Living Colour

Chuck Berry e Little Richards nunca esconderam a frustração de, mesmo sendo músicos negros como eles os inventores do rock ‘n’ roll, os louros tenham ido para artistas brancos. Não que Elvis Presley, Jerry Lee Lewis ou Bill Halley não tenham grande valor, mas é fato que a indústria fez abafar por uma imposição mercadológica racista a importância de autores negros como eles ou os irmãos Fats Domino, Bo Diddley e Sister Rosetta Tharpe. Com o passar dos anos, o estilo se desenvolveu e vieram os Beatles, os Rolling Stones, a Pink Floyd, a Led Zeppelin, a Black Sabbath... todos majoritariamente brancos. A Love, rara banda de rock composta somente por membros negros, era uma exceção onde deveria ser regra. Jimi Hendrix, como Pelé, virou um mito sem cor. Os punks Bad Brains e Death nunca tiveram a mesma vitrine que Ramones ou Sex Pistols. A "solução" da indústria? O mesmo mercado que desapropriou a criação do rock dos negros lhes deu o “direito” de serem pais de ritmos inquestionavelmente pretos, como a soul music e o jazz. Ou seja: sistematizou o apartheid musical. 

Claro que Berry e Richards garantiram, por aclamação, seu lugar no panteão da música universal. Porém, por muito tempo pairou aquela sensação de que os negros, os verdadeiros inventores do gênero mais popular do século XX, tinham uma dívida a cobrar. As décadas se passaram desde que o rock veio ao mundo cultural, e a indignação só fazia aumentar. Foi quando uma turma resolveu cobrar com juros e correção monetária esse débito e reclamar para si a verdadeira gênese do rock ‘n’ roll. “É pra gente mostrar que negro faz rock melhor que qualquer um? Então, aqui está!” Com esta vividez corajosa e empoderada surgiu a Living Colour, formada somente por músicos de fina estampa: o vocalista Corey Glover, o baixista Muzz Skillings, o baterista William Calhoun e o guitar hero Vernon Reid, principal compositor do grupo. Negros.

Produzidos pelo tarimbado Ed Stasium e por ninguém menos que Mick Jagger, que apadrinhou a banda após descobri-los tocando no underground de Nova York, “Vivid” é a extensão da própria ideia de uma banda cujo nome ressalta a vivacidade da cor da pele preta. Afinal, como disse o poeta: "Negro é a soma de todas as cores." Nas suas linhas melódicas, na sua potência, na sua sonoridade, nas letras de crítica social, no seu visual, o primeiro disco da banda resgata todos os tons da tradição do rock em um dos mais bem elaborados sons produzidos na música pop em todas as épocas. O rock pesado da Living Colour soa como se fosse inevitável valer-se dos altos decibéis para manifestar com autenticidade tudo aquilo que esteve guardado anos e anos. Tem hard rock, heavy metal e punk pincelados de funk, blues e jazz, aquilo que os negros fazem como ninguém. Ou seja: a Living Colour, com o perdão da redundância, dá cores muito próprias à sua música. O hit "Cult of Personality", faixa de abertura, é como um traço original num quadro que condensa todas essas tintas. Riff arrebatador, daqueles de dar inveja a Metallica e Anthrax. E a letra, na voz potente e afinadíssima de Glover, referencia Malcom X e critica a superficialidade da sociedade: “Olhe nos meus olhos/ O que você vê/ O culto da personalidade/ Eu conheço sua raiva, conheço seus sonhos/ Eu tenho sido tudo o que você quer ser”.

Hard rock de primeira, "I Want to Know" antecipa "Middle Man", outra de sucesso do álbum que também ganhou videoclipe na época de ouro da MTV. Reid, excepcional tanto na criação do riff quanto na condução da melodia e no solo, mostra porque é um dos maiores guitarristas de todos os tempos, capaz de variar de um suingue a la Jimmy Nolen ou fazer a guitarra urrar como uma das big four do trash metal. Já a pesada "Desperate People" destaca o talento de Calhoun nas baquetas, seja no ritmo, que vai do funk ao hardcore, quanto na habilidade e potência, ainda mais quando martela os dois bumbos. Mais um sucesso, e das melhores do repertório da banda, visto que uma tradução do seu estilo: "Open Letter (To a Landlord)". A letra fala da realidade da periferia (“Essa é minha vizinhança/ Aqui é de onde vim/ Eu chamo este lugar de meu lar/ Você chama este lugar de favela/ Você quer expulsar todas essas pessoas/ É assim que você é/ Trata pessoas pobres como lixo/ Vira as costas e ganha dinheiro sujo”) e traz um dos refrãos mais emblemáticos e tristes daquele final de anos 80, o qual, inteligentemente, repete os primeiros versos da letra, só que cantados agora numa melodia vocal especial: “Now you can tear a building down/ But you can't erase a memory/ These houses may look all run down/ But they have a value you can't see” (“Agora você pode derrubar um prédio/ Mas você não pode apagar uma lembrança/ Essas casas podem parecer estar em mau estado/ Mas elas tem um valor que você não pode ver.”).

O punk rock vem com a alta habilidade de músicos de ouvidos acostumados com o jazz fusion em “Funny Vibe”. Isso, no começo, porque depois a música vira um funk ao estilo James Brown com pegadas de rap, principalmente no jeito de cantar em coro – lembrando o hip-hop raiz de Run DMC e Afrika Bambaata – e na participação de Chuck D e Flavor Flav, MC’s da Public Enemy, a banda de rap mais politizada de todos os tempos. Aí, vem outra das grandes da banda: sua versão para a escondida proto-metal “Memories Can’t Wait”, da Talking Heads. Pode ser que, para uma banda estreante como a Living Colour, tenha pesado a indicação de Stasium, que havia trabalhado com o grupo de David Byrne nos anos 70. Porém, a influência do produtor vai até este ponto, visto que a leitura da música é totalmente mérito de Reid e de seus companheiros. O arranjo é perfeito: intensifica os aspectos certos da harmonia, faz emergir o peso subentendido da original e aplica-lhe pequenas diferenças, como leves mudanças na melodia de voz, que personalizam esta que é, certamente, uma das melhores versões feitas no rock dos anos 80.

Já na melodiosa "Broken Hearts", Reid exercita sua técnica deixando de lado o pedal de distorção para usar um efeito slide bastante elegante, assim como o vozeirão aveludado de Glover. Nesta, Jagger solta sua gaita de boca abrilhantando a faixa. Numa linha também menos hard e ainda mais suingada, “Glamour Boys”, que também tocou bastante à época e que tem participação de Jagger aos vocais, precede outra de vital importância para o discurso de reivindicação levantado pela banda: “What's Your Favorite Color?”. Seus versos dizem: "Qual é a sua cor favorita, baby?/ É branco?/ Fora de moda". 

E quando se pensa que se ouvirá mais um heavy metal furioso, com a mesma naturalidade eles enveredam para um funk psicodélico de fazer orgulhar-se dr. P-Funk George Clinton pelos filhos musicais que criou. Noutro hard rock pintado de groove, "Which Way to America?", com destaque para o baixo em slap de Skillings, solta o verbo contra a sociedade de consumo e a ideologia racista da televisão, veículo concentrador das amálgamas no mundo pré-internet, alinhando-se novamente ao discurso dos parceiros Public Enemy, ferozes denunciadores do branconcentrismo da mídia norte-americana.

Com outros bons discos posteriores, como “Times Up”, de 1990, o qual traz o maior hit da banda, “Love Rears It's Ugly Head”, a Living Colour abriu em turnê para os Rolling Stones e foi atração de festivais como Hollywood Rock de 1992, tornando-se, por incrível que pareça, o primeiro grande grupo do rock integralmente formado por negros, mais de 40 anos depois dos precursores mostrarem o caminho para as pedras rolarem. Além disso, mais do que seus contemporâneos Faith no More, eles expandiram as falsas fronteiras do rock pesado, injetando-lhe uma propriedade que somente os “de cor” poderiam realizar. Depois deles vieram a Infectious Grooves, a Body Count, a Fishbone, todos com bastante influência daquilo que ouviram em “Vivid”. Todos que não deixaram esquecer jamais que o rock é, sim, essencialmente preto. E vamos parar com essa palhaçada! As memórias de Berry e Richards agradecem.

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FAIXAS:
1. "Cult of Personality" - 4:54 (Glover/ Skillings/ Reid/ Calhoun)
2. "I Want to Know" - 4:24
3. "Middle Man" - 3:47 (Reid/ Glover)
4. "Desperate People" - 5:36 (Glover/ Skilling/ Reid/ Calhoun)
5. "Open Letter (To a Landlord)" - 5:32 (Tracie Morris/ Reid)
6. "Funny Vibe" - 4:20
7. "Memories Can't Wait" - 4:30 (David Byrne/ Jerry Harrison)
8. "Broken Hearts" - 4:50 
9. "Glamour Boys" - 3:39
10. "What's Your Favorite Color? (Theme Song)" - 3:56 (Reid/ Glover)
11. "Which Way to America?" - 3:41
Todas as composições de autoria de Vernon Reid, exceto indicadas

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OUÇA O DISCO:


Daniel Rodrigues

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Rage Against the Machine - "Rage Against the Machine" (1992)

 






"As pessoas que se ofendem com [minhas opiniões sobre] política
 no Twitter ou Instagram, por favor,
 saibam que é porque você não era inteligente o suficiente
 para saber sobre o que era a música
 que você estava ouvindo
 todos esses anos (...)
De nada pela música,
 mas se você é um supremacista branco
 ou um protofascista,
 essa música não é escrita para você
 – é escrita contra você."
Tom Morello,
 guitarrista e compositor


A última passagem de Roger Waters pelo Brasil, em 2018, reacendeu uma discussão, que na verdade não faz muito sentido, uma vez que o rock, mesmo quando apenas reivindicava o direito de não cortar o cabelo ou de namorar no banco de trás do carro, à sua maneira, era "político", sobre o fato de artistas de rock se posicionarem politicamente. A situação toda começou quando o ex-baixista e vocalista da célebre Pink Floyd fez mostrar no telão, ao fundo do palco, os dizeres #EleNao, referindo-se ao então candidato Jair Bolsonaro à presidência brasileira (que, para infelicidade do país, veio a se eleger) arrancando um misto de vaias e aplausos da plateia e causando a reclamação de muitos "fãs" de sua antiga banda pelo fato de "agora" ter resolvido se meter em política e que um show de rock não seria lugar para esse tipo de manifestação do artista. A lamúria dos fãs superficiais, pseudo-roqueiros, no entanto foi ironizada pelos verdadeiros admiradores do grupo e roqueiros de verdade que questionaram se aqueles modinhas de ocasião que estavam no show nunca ouviram, por exemplo, o "The Wall" do Pink Floyd, que trata exatamente sobre o enfrentamento da sociedade opressora. Ou se ouviram, não leram as letras ou nunca entenderam do que se tratava. A discussão, especialmente em redes sociais, se ampliou e para situar os roqueiros do chalalá, que só curtiam o som mas não faziam a menor ideia do que estava sendo falado, outras bandas foram citadas de modo a mostrar o quão ignorantes aquelas criaturas estavam sendo. System of Down, Plebe Rude, Bruce Springsteen e até  a queridinha Legião Urbana foram algumas das que serviram de exemplo e, para maior surpresa, geraram ainda mais indignação entre os "revoltadinhos de condomínio-fechado", que qualificaram esses artistas, de forma simplista, imatura e desinformada, meramente de comunistas.

No entanto, a surpresa que mais chamou foi em relação à banda Rage Against the Machine. Ora, pensavam que a Máquina do nome da própria banda era o quê? Uma cafeteira elétrica? O RATM é antes de mais nada uma banda engajada, politizada e de pensamentos predominantemente de esquerda. Suas letras são quase sempre uma bala na cabeça, como diz o título de uma das músicas de seu primeiro álbum,  "Rage Against the Machine" de 1992, que, por sinal, fala exatamente sobre alienação e idiotização em massa.

No disco, os tiros da banda vão pra todo lado e sobra bala pra todo mundo que merece: "Bombtrack" atira na indústria musical; o hino "Killing in the Name" dispara contra o racismo; "Settle of Nothing" é  sobre criminalidade e vidas jovens arruinadas; "Freedom", fala, é claro, sobre liberdade, mas também acerta em cheio quanto à ignorância do ser-humano e sua relação com o meio ambiente; "Wake Up" liga a metralhadora giratória e atira nos fascistas, no judiciário, na mídia e no que estiver pela frente; e "Take the Power Back", "Know Your Enemy", "Fistfull of Steel" e "Township Rebelion", simplesmente, miram no sistema, de um modo geral, convocando para uma reação diante de tudo que nos oprime.

Tudo isso ao som da guitarra eletrizante de Tom Morello, conduzido pelos vocais contagiantes de Zach de La Rocha e  embalado por uma mistura explosiva de metal, hardcore, funk, rap e hip-hop, tão intensa que, eu até posso entender que tenha seduzido até o mais superficial roqueirinho de ocasião. Sim, sim, eu também escuto muita coisa pela sonoridade, muitas vezes não dou, mesmo, muita bola para a letra, ou nem ligo muito para o que estão dizendo em inglês, mas certos artistas, cuja atitude está ligada à sua obra é impossível, e até imperdoável, que se ignore essa relação. É o caso de Dead Kennedy's, Bob Dylan e do Rage Against the Machine, uma banda essencialmente política, engajada, atuante, como fica provado em seu primeiro disco. A própria capa do disco atesta essa atitude com a foto do monge vietnamita que preferiu atear fogo ao próprio corpo a se render ao governo autoritário de seu país. Esse é o espírito. Isso é o Rage Against the Machine. 

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FAIXAS:

1. "Bombtrack" 4:02
2. "Killing in the Name" 5:14
3. "Take the Power Back" 5:36
4. "Settle for Nothing" 4:49
5. "Bullet in the Head" 5:08
6. "Know Your Enemy" (featuring Maynard James Keenan) 4:57
7. "Wake Up" 6:06
8. "Fistful of Steel" 5:32
9. "Township Rebellion" 5:22
10. "Freedom" 6:06

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Ouça:
Rage Against the Machine (1992)



por Cly Reis

domingo, 6 de março de 2022

Deep Purple - Riocentro - Rio de Janeiro / RJ (01/12/2006)




O Deep Purple, na turnê brasileira de 2006
Certa vez, conversando com uma ex-colega de trabalho sobre música,  sobre rock, ela me contava que o filho, uma grata raridade entre o bando de desculturalizados musicais de sua geração, dentro do possível, não perdia a oportunidade de ver ao vivo grandes nomes do rock, quando estes vinham ao Brasil, pois, já tendo essa galera das antigas uma idade avançada, somada a todos os excessos que cometeram em seus tempos áureos, possivelmente seria a última oportunidade de ver aquela determinada lenda, ali, na sua frente.

Embora não tenha colocado como meta pessoal, pelo fato desses nomes terem contribuído substancialmente para minha formação musical, dos tantos shows que fui, acabei já tendo presenciado a apresentações de alguns desses artistas fundamentais para a história do rock. Já vi ao vivo Rolling Stones, Black Sabbath, vi Pink Floyd, ou pelo menos parte dele, no show de Roger Waters, e, num negocinho de ocasião, vi o Deep Purple. Quando foi anunciado, no finalzinho de 2006, meu primeiro ano morando no Rio de Janeiro, que eles viriam e tocariam na cidade, inicialmente, os ingressos foram informados em valores um tanto salgados. No entanto, logo em seguida, talvez percebendo a baixa procura, numa promoção do extinto Jornal do Brasil, com um cupom e, se não me engano, um alimento não perecível, o preço ficava extremamente em conta.
Aí não teve dúvidas: pronunciei a minha entrada e me garanti pro show de uma das maiores lendas do rock de todos os tempos. O problema é que a parada ia rolar lá no Riocentro e, pra quem não é  do Rio e não tem muita noção, o tal do lugar é longe pra caramba. Pra piorar, o Riocentro é um conjunto de pavilhões para eventos em geral, feiras, simpósios, etc., e a estrutura física dos prédios não é nada adequada para shows de rock. Muito concreto, vigas metálicas, telhas de zinco, pilares distribuídos ao longo do espaço... Resultado: acústica  ruim, reverberação, pontos cegos, visibilidade prejudicada pelos pilares... enfim: uma bela bosta!
Mas não tem sabotagem infra-estrutural que derrube um show do Deep Purple. Boa parte da banda original no palco, incluído o frontman Ian Gillan, um repertório clássico w de respeito, energia total e uma galera de fãs empolgada por estar vendo à sua frente aqueles monstros do rock.
Sinceramente não lembro com detalhes do show em si, de cada momento, do set-list e tal. Minha recordação é  mais como um todo e essa memória é feliz e muito positiva. É claro que teve, "Black Night", "Space Truckin'", "Highway Star", e "Smoke on the Water" que, essa sim lembro, foi uníssonamente acompanhada em coro pela galera.
Já vi Black Sabbath, já vi Deep Purple...  faltou o Led Zeppelin pra completar a tríade dos criadores do metal. Mas vai que Plant, Page e Jones resolvam se juntar pra uma última turnê... Essa seria uma daquelas pra não perder de jeito nenhum. Daquelas oportunidades únicas. A do Deep Purple foi uma dessas. Ainda bem que não  perdi.

Confira abaixo alguns momentos do show do Rio, em 2006, obtidos no canal do fã
Leandro Macedo, no Youtube:

Solo de Steve Morse


"Black Night"


"Perfect Strangers"




Cly Reis 

domingo, 9 de janeiro de 2022

DOSSIÊ ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2021




O velho Wayne de olho no trono dos Beatles
Chegou a hora da verdade! A hora dos número. Mais um ano se foi e é chegada a hora de fazer aquele habitual levantamento dos álbuns que entraram para a seleta galeria dos Fundamentais do Clyblog. Lembrando sempre que, na verdade, a seção não tem por objetivo promover disputa ou qualquer tipo de comparação entre artistas e obras, mas a gente mesmo fica curioso para saber quais as marcas e quantitativos e aí, então, levantamos e, em forma de ranking, passamos para vocês. 

2021 foi o ano do jazz nos ÁLBUNS FUNDAMENTAISÁLBUNS. Das 29 obras destacas na nossa seção de discos, 11 foram do refinado estilo norte-americano. Se aproveitando desse predomínio, neste período, o craque Wayne Shorter encostou definitivamente no pessoal de cima. Ainda não alcançou os Beatles, que continuam liderando, mas, junto com seu companheiro de sopro, Miles Davis, que também chegou nas cabeças, já começam a botar uma certa pressão nos rapazes de Liverpool. A propósito da Terra da Rainha, curiosamente no último ano, não tivemos NENHUM artista britânico teve discos incluídos na nossa seção. as ações ficaram basicamente divididas entre norte-americanos e brasileiros, com destaque para o primeiro japonês na lista, o versátil Ryuichi Sakamoto.

No que diz respeito aos brasileiros, Caetano Veloso que dividia a liderança com Jorge Ben, agora toma a frente isoladamente por conta pela participação no disco "Brasil", com João Gilberto, Bethânia e Gilberto Gil. Mas  a disputa está tão apertada quanto no internacional e qualquer disco aqui, disco ali, no ano que chega, pode mudar o panorama.

Entre as décadas com mais obras mencionadas, os anos 70 continuam imbatíveis, embora o ano que aparece mais vezes seja o de 1986. Chama atenção que cada vez mais é inevitável que seja reconhecida a qualidade e se projete a relevância de trabalhos recentes, o que faz com que venham aparecendo com mais frequência, em maior número e cada vez mais fresquinhos, como foi o caso do recém lançado "Carnivore", do Body Count, que mal nasceu  e já figura entre os melhores.

Então, vamos aos números que é o que interessa. Chegou a hora da verdade!


  • The Beatles: 6 álbuns
  • David Bowie, Kraftwerk, Rolling Sones, Pink Floyd, Miles Davis e Wayne Shorter: 5 álbuns cada
  • Talking Heads, The Who, Smiths, Led Zeppelin, Bob Dylan, John Coltrane e John Cale*  **: 4 álbuns cada
  • Stevie Wonder, Cure, Van Morrison, R.E.M., Sonic Youth, Kinks, Iron Maiden, Lee Morgan e Lou Reed**: 3 álbuns cada
  • Björk, Beach Boys, Cocteau Twins, Cream, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Elton John, Queen, Creedence Clarwater Revival, Herbie Hancock, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Madonna, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, U2, Pixies, Dead Kennedy's, Velvet Underground, Metallica, Dexter Gordon, Philip Glass, Body Count, Faith No More, McCoy Tyner, Vince Guaraldi, Grant Green e Brian Eno* : todos com 2 álbuns
*contando com o álbum  Brian Eno e John Cale , ¨Wrong Way Out"
**contando com o álbum Lou Reed e John Cale,  "Songs for Drella"



PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)

  • Caetano Veloso: 6 álbuns*
  • Jorge Ben: 5 álbuns **
  • Gilberto Gil*  **: 5 álbuns
  • Tim Maia e Chico Buarque: 4 álbuns
  • Gal Costa, Legião Urbana, Titãs, Engenheiros do Hawaii e João Gilberto*  ****: 3 álbuns cada
  • Baden Powell**, João Bosco, Lobão, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Paulinho da Viola, Ratos de Porão, Roberto Carlos, Sepultura e Milton Nascimento**** : todos com 2 álbuns 

*contando com o álbum "Brasil", com João Gilberto, Maria Bethânia e Gilberto Gil
**contando o álbum Gilberto Gil e Jorge Ben, "Gil e Jorge"
*** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas"
**** contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto"
**** contando com os álbuns Milton Nascimento e Criolo, "Existe Amor" e Milton Nascimento e Lô Borges, "Clube da Esquina"



PLACAR POR DÉCADA

  • anos 20: 2
  • anos 30: 3
  • anos 40: -
  • anos 50: 19
  • anos 60: 96
  • anos 70: 138
  • anos 80: 116
  • anos 90: 89
  • anos 2000: 13
  • anos 2010: 15
  • anos 2020: 2


*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1


PLACAR POR ANO

  • 1986: 22 álbuns
  • 1977: 19 álbuns
  • 1969 e 1985: 17 álbuns
  • 1967, 1972, 1973 e 1976: 16 álbuns cada
  • 1968 ,1970 e 1991: 15 álbuns cada
  • 1971, 1979, 1980 e 1991: 14 álbuns
  • 1965, 1975 : 13 álbuns
  • 1965 e 1992: 12 álbuns cada
  • 1964, 1966, 1987,1989, 1990 e 1994: 11 álbuns cada
  • 1978: 10 álbuns



PLACAR POR NACIONALIDADE*

  • Estados Unidos: 192 obras de artistas*
  • Brasil: 139 obras
  • Inglaterra: 114 obras
  • Alemanha: 9 obras
  • Irlanda: 6 obras
  • Canadá: 4 obras
  • Escócia: 4 obras
  • México, Austrália, Jamaica, Islândia, País de Gales: 2 cada
  • Japão, País de Gales, Itália, Hungria, Suíça, França, Bélgica, Rússia, Angola e São Cristóvão e Névis: 1 cada

*artista oriundo daquele país
(em caso de parcerias de artistas de páises diferentes, conta um para cada)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Música da Cabeça - Programa #243

 

Se é o Aristides ou não, não se sabe, o que importa é que você vai ficar com esse olhar para o MDC hoje depois de ouvi-lo. Também, só tem coisas apaixonantes! Björk, Pink Floyd, James Brown, Paulinho da Viola e mais. Ainda rola um "Sete-List" lembrando os 20 anos da perda de George Harrison e uma homenagem a Stephen Sondheim. Piscando os olhinhos, o programa hoje vai ao ar às 21h na nubente Rádio Elétrica. Produção e apresentação in love: Daniel Rodrigues.



Rádio Elétrica
www.radioeletrica.com

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2020

 


Corre pro abraçaço, Caetano!
Você tá na liderança.

Como de costume, todo início de ano, organizamos os dados, ordenamos as informações e conferimos como vai indo a contagem dos nossos  ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, quem tem mais discos indicados, que país se destaca e tudo mais. Se 2020 não foi lá um grande ano, nós do Clyblog não podemos reclamar no que diz repsito a grandes discos que apareceram por aqui, ótimos textos e colaborações importantes. O mês do nosso aniversário por exemplo, agosto, teve um convidado para cada semana, destacando um disco diferente, fechando as comemorações com a primeira participação internacional no nosso blog, da escritora angolana Marta Santos, que nos apresentou o excelente disco de Elias Dya Kymuezu, "Elia", de 1969
A propósito de país estreante nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, no ano que passou tivemos também a inclusão de belgas (Front 242) e russos (Sergei Prokofiev) na nossa seleta lista que, por sinal, continua com a inabalável liderança dos norte-americanos, seguidos por brasileiros e ingleses. 
Também não há mudanças nas décadas, em que os anos 70 continuam mandando no pedaço; nem no que diz respeito aos anos, onde o de 1986 continua na frente mesmo sem ter marcado nenhum disco nessa última temporada, embora haja alguma movimentação na segunda colocação.
A principal modificação que se dá é na ponta da lista de discos nacionais, onde, pela primeira vez em muito tempo, Jorge Ben é desbancado da primeira posição por Caetano Veloso. Jorge até tem o mesmo número de álbuns que o baiano, mas leva a desvantagem de um deles ser em parceria com Gil e todos os de Caetano, serem "solo". Sinto, muito, Babulina. São as regras.
Na lista internacional, a liderança continua nas mãos dos Beatles, mas temos novidade na vice-liderança onde Pink Floyd se junta a David Bowie, Kraftwerk e Rolling Stones no segundo degrau do pódio. Mas é bom a galera da frente começar a ficar esperta porque Wayne Shorter vem correndo por fora e se aproxima perigosamente.
Destaques, de um modo geral, para Milton Nascimento que, até este ano não tinha nenhum disco na nossa lista e que, de uma hora para outra já tem dois, embora ambos sejam de parcerias, e falando em parcerias, destaque também para John Cale, que com dois solos, uma parceria aqui, outra ali, também já chega a quatro discos indicados nos nossos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS.

Dá uma olhada , então, na nossa atualização de discos pra fechar o ano de 2020:



PLACAR POR ARTISTA INTERNACIONAL (GERAL)

  • The Beatles: 6 álbuns
  • David Bowie, Kraftwerk, Rolling Sones e Pink Floyd: 5 álbuns cada
  • Miles Davis, Talking Heads, The Who, Smiths, Led Zeppelin, Wayne Shorter e John Cale*  **: 4 álbuns cada
  • Stevie Wonder, Cure, John Coltrane, Van Morrison, Sonic Youth, Kinks, Iron Maiden, Bob Dylan e Lou Reed**: 3 álbuns cada
  • Björk, The Beach Boys, Cocteau Twins, Cream, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Elton John, Queen, Creedence Clarwater Revival, Herbie Hancock, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Lee Morgan, Madonna, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, R.E.M., Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, U2, Pixies, Dead Kennedy's, Velvet Underground, Metallica, Grant Green e Brian Eno* : todos com 2 álbuns
*contando com o álbum  Brian Eno e John Cale , ¨Wrong Way Out"
**contando com o álbum Lou Reed e John Cale,  "Songs for Drella"



PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)

  • Caetano Veloso: 5 álbuns
  • Jorge Ben: 5 álbuns *
  • Gilberto Gil*, Tim Maia e Chico Buarque: 4 álbuns
  • Gal Costa, Legião Urbana, Titãs e Engenheiros do Hawaii: 3 álbuns cada
  • Baden Powell**,, João Bosco, João Gilberto***, Lobão, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Paulinho da Viola, Ratos de Porão, Sepultura e Milton Nascimento**** : todos com 2 álbuns 
*contando o álbum Gilberto Gil e Jorge Ben, "Gil e Jorge"
** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas"
*** contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto" ****
contando com os álbuns Milton Nascimento e Criolo, "Existe Amor" e Milton Nascimento e Lô Borges, "Clube da Esquina"



PLACAR POR DÉCADA

  • anos 20: 2
  • anos 30: 3
  • anos 40: -
  • anos 50: 15
  • anos 60: 90
  • anos 70: 132
  • anos 80: 110
  • anos 90: 86
  • anos 2000: 13
  • anos 2010: 13
  • anos 2020: 1


*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1


PLACAR POR ANO

  • 1986: 21 álbuns
  • 1985, 1969 e 1977: 17 álbuns
  • 1967, 1973 e 1976: 16 álbuns cada
  • 1968 e 1972: 15 álbuns cada
  • 1970, 1971, 1979 e 1991: 14 álbuns
  • 1975, e 1980: 13 álbuns
  • 1965 e 1992: 12 álbuns cada
  • 1964, 1987,1989 e 1994: 11 álbuns cada
  • 1966, 1978 e 1990: 10 álbuns cada



PLACAR POR NACIONALIDADE*

  • Estados Unidos: 171 obras de artistas*
  • Brasil: 131 obras
  • Inglaterra: 114 obras
  • Alemanha: 9 obras
  • Irlanda: 6 obras
  • Canadá: 4 obras
  • Escócia: 4 obras
  • México, Austrália, Jamaica, Islândia, País de Gales: 2 cada
  • País de Gales, Itália, Hungria, Suíça, França, Bélgica, Rússia, Angola e São Cristóvão e Névis: 1 cada

*artista oriundo daquele país
(em caso de parcerias de artistas de páises diferentes, conta um para cada)

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Música da Cabeça - Programa #179


Se é pra ter aglomeração, então que seja de música boa! E isso é o que não vai faltar no MDC! Olha só quanto som legal no mesmo espaço: The Velvet Underground, Noel Rosa, Pink Floyd, Cartola, New Model Army, Gal Costa e mais. Fora isso, ainda os quadros fixos e móvel. Tudo junto e misturado hoje, às 21h, na aglomerante Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues. Porque música legal não precisa de distanciamento.


Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL 12 ANOS DO CLYBLOG - Pink Floyd - "The Wall" (1979)


"Vera! Vera!
O que aconteceu com você?
Alguém por aqui
Sente o mesmo que eu?"
trecho da música "Vera", 
que faz referência a Vera Lynn,
recentemente falecida.



"The Wall" definitivamente não é melhor trabalho do Pink Floyd, não é melhor que "Wish You Were Here" ou "The Dark Side of the Moon", mas é tão icônico quanto. É um álbum fundamental pela qualidade musical aliada a temática existencialista e, também, pela enorme capacidade  de adaptação as novas mídias, adaptação para cinema, shows e novas versões, que cativam o público fiel da banda e atraem novos admiradores para Pink Floyd.

Pink Floyd foi uma banda inglesa formada em Londres no ano de 1965, liderada por Syd Barret (1946-2006),  cujo período marcado pelo psicodelismo durou até o ano de 1968, quando foi substituído por David Gilmour (1946) nos vocais e guitarra. Roger Waters (1943) nos vocais e guitarra baixo, Richard Wright (1943-2008) nos vocais e teclados e Nick Mason (1944) na bateria completam a formação clássica que imprimiu uma linha de som progressiva, período que lançou o álbum The Wall.

"The Wall", álbum duplo produzido e lançado em 1979, é uma “ópera rock” que rivaliza com outros sucessos do gênero, como "Tommy" (1969) do The Who"...Ziggy Stardust" (1972) de David Bowie. São exatamente 26 músicas compostas na sua maioria por Roger Waters, que apresentou a proposta temática a banda, assumiu as letras, a maioria das músicas, a coprodução, e o design do álbum. A personalidade de Waters se agigantou ao longo da produção de "The Wall", tomando o controle da banda para si, quando os componentes do Pink Floyd já demonstravam a incapacidade de administrar seu egos e anseios artísticos.

O tema elaborado por Waters de The Wall, em tom autobiográfico,  trata da perda do pai (Eric Fletcher Walter morto na Batalha de Anzio na Itália durante a 2ª Guerra Mundial), a imagem da mãe protetora, a repressão do sistema educacional inglês, a sexualidade reprimida na adolescência e a traição, que vão compondo partes de um muro protetor ao redor do solitário personagem do trama, que em meio ao medo e ao ódio, renasce na pele de um líder fascista.

Musicalmente, "The Wall" segue a linha criativa dos trabalhos anteriores do Pink Floyd, com uma base instrumental irrepreensível, marcada pela pegada firme do baixo de Waters em sintonia com o peso da bateria de Mason, os voos solos da guitarra de Gilmour, mas pouca coisa de Wright (em processo de saída da banda). Mixagens e efeitos sonoros estabelecem um diálogo que alterna velocidade e ritmo, com Waters em uma vocalização esquizofrênica contrapondo o tom vocal mais contido de Gilmour.

No meio de tantas faixas, destacam-se "Another Brick in the Wall", música em três partes, a conhecida música do helicóptero foi faixa de trabalho nas rádios por ocasião do lançamento do álbum, sendo considerada um hino contra a repressão escolar.  "Mother", trata da superproteção e castração materna, e "Hey You" um pedido desesperado de ajuda. Mas é "Comfortably Numb", considerada por muitos como a melhor composição do grupo, criação original de Gilmour para seu trabalho solo, mas que apresentado a Walters, este deu letra à música, e incorporou ao álbum, com o destaque do virtuoso solo da guitarra de Gilmour.

"The Wall", o filme, foi adaptado para o cinema em 1982, conduzido pelo ótimo diretor Alan Parker (cuja filmografia também é fundamental), cineasta recentemente falecido, com Roger Walters de roteirista. O filme narra a vida de Pink, astro de rock interpretado por Bob Geldof, cuja estória é ancorada pelas músicas do álbum. O filme obteve boas críticas em geral, considerado por alguns como uma das melhores obras do gênero musical e do rock. "The Wall" custou US$12 milhões e arrecadou $22 milhões só nos Estados Unidos. Em Porto Alegre as exibições ocorreram no antigo e saudoso cinema Baltimore, onde a sala de exibição tinha uma atmosfera própria, um névoa londrina tomava conta do local, provocada pelo consumo cigarros proibidos e embalada pela poderosa trilha sonora. Terminado a exibição os expectadores se misturavam com a horda que habitava o bairro Bonfim, reduto boêmio da cidade da época.

Filme "The Wall", de Alan Parker

"The Wall", o show, originalmente apresentado entre 1981 e 1982 na Europa e EUA, passou pelo Brasil em turnê de Roger Waters, por três cidades brasileiras (Porto Alegre, São Paulo e Rio) em março de 2012, sendo um dos maiores espetáculos musicais apresentados no país. O palco era constituído de um muro de 137 metros de largura, onde eram projetadas imagens originais de Gerald Scarfe do álbum, e incluía o famoso avião cruzando o estádio do Beira-Rio (estádio do Sport Club Internacional, que estava em obras na época) e explodindo junto ao muro. Segundo a revista Billboard, a turnê arrecadou mais de 450 milhões de dólares, o que faz dela a terceira de maior sucesso na história.

Passados 40 anos do lançamento de "The Wall", e 75 anos do fim da 2ª guerra mundial, com o fim da vida daqueles que testemunharam e lutaram contra a escalada do fascismo na Europa, assistimos o renascimento da cultura do ódio e do medo em vários cantos do mundo. Sim, "The Wall" continua atual, o que o eleva a categoria de Álbum Fundamental.


"The child is grown
The dream is gone"
versos finais da música "Confortably Numb"



por  Á L V A R O   S T E I W


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FAIXAS:

  • Lado 1 (primeiro vinil)

1. "In the Flesh?"  
2. "The Thin Ice"  
3. "Another Brick in the Wall (Part I)"  
4. "The Happiest Days of Our Lives"  
5. "Another Brick in the Wall (Part II)"  
6. "Mother"  

  • Lado 2 (primeiro vinil)

1. "Goodbye Blue Sky"  
2. "Empty Spaces"  
3. "Young Lust"  
4. "One of My Turns"  
5. "Don't Leave Me Now"  
6. "Another Brick in the Wall (Part III)"  
7. "Goodbye Cruel World"  

  • Lado 3 (segundo vinil)

1. "Hey You" 
2. "Is There Anybody Out There?" 
3. "Nobody Home" 
4. "Vera" 
5. "Bring the Boys Back Home" 
6. "Comfortably Numb" 

  • Lado 4 (segundo vinil)

1. "The Show Must Go On" 
2. "In the Flesh" 
3. "Run Like Hell" 
4. "Waiting for the Worms" 
5. "Stop" 
6. "The Trial" 
7. "Outside the Wall"  

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OUÇA O DISCO:
Pink Floyd - The Wall



Álvaro Steiw é arquiteto e mestre em Sensoriamento Remoto, trabalha na área ambiental.
Gosta de filmes, fotos e músicas antigas.
Seu álbum preferido do Pink Floyd é "Ummagumma".