"Ele parecia um cavalo de raça
esperando pelo sinal para correr (...)
Quando o show anterior acabou,
Otis entrou por trás do palco,
agarrou o microfone e começou a andar
de uma ponta a outra do palco.
Eu não acreditei no que estava acontecendo:
uma energia que eu nuca tinha visto antes."
Al Bell,
produtor musical
e executivo da Stax
Um dos ao vivo mais eletrizantes que eu já ouvi na minha vida. Energia pura. A gente sente, ouvindo, que uma espécie de êxtase delírio, catarse paira no ar nas apresentações de Otis Redding que fazem parte do disco
"Live in Europe" (1967) que apanha fragmentos preciosos dos shows realizados em Paris, na turnê coletiva de artistas da gravadora Stax pela Europa.
Com apresentações curtas por causa do número de artistas que a gravadora levara para as apresentações no Velho Mundo, Otis Redding já tinha que chegar com o pé na porta mostrando que não vinha para brincadeira e por isso mesmo o
soulman já saía largando a esfuziante "Respect", cuja interpretação mais marcante, provavelmente, seja a de Aretha Franklin, mas a dele, o autor, não menos clássica, mostra-se, espacialmente ao vivo, tão grandiosa quanto. O povo já ia ao delírio logo de cara.
Sem deixar cair a bola, o disco traz na sequência a vibrante "I Can't Turn You Loose", baixando a rotação logo em seguida com "My Girl", clássico dos Temptations carregada nas doses certas de romantismo, doçura, sensualidade e pungência; e com a dolorida balada "I've Loving You too Long" conquistando ainda mais o público francês.
"Shake", de Sam Cooke, ganhava uma versão de andamento acelerada e muita intensa em que o cantor chegava a rasgar o vocal em alguns momentos, mandando ver e quebrando tudo, acompanhado de sua competentíssima e não menos endiabrada banda.
O clássico
riff rasgado de guitarra de Keith Richards, de "(I Can't Get No) Satisfaction" dos
Rolling Stones, dava lugar a uma introdução vibrante de baixo, que sucedida por um naipe de metais empolgante, culminaria numa interpretação surpreendente e memorável de Redding, numa daquelas
covers que a gente chega a pensar se não chega a ser melhor que a original.
"Fa-Fa-Fa-Fa-Fa" , um soul típico bem característico, tem a participação bacana do público no refrão e "These Arms of Mine" outra balada chorosa, esta com toques gospel, encaminha os momentos finis do álbum.
Assim como fizera com os Stones, Otis dava então a um clássico dos
Beatles uma releitura interessantíssima. "Day Tripper" nas mãos do
soulman e sua banda ganhava um andamento mais acelerado, um vocal mais ensandecido e uma metaleira marcante.
Final tradicional em todos os shows da turnê europeia, "Try A Little Tenderness", envenenada, frenética, alucinada, em uma interpretação pulsante e atuação de palco memorável enlouquecia definitivamente o Olympia de Paris. Em uma performance histérica na qual a banda terminava a música várias vezes para que o cantor a trouxesse de volta retomando-a ainda mais insanamente, não era difícil perceber ao fundo o público vindo abaixo. Êxtase, num final de espetáculo de deixar qualquer um paralisado, catatônico, incrédulo!
Otis Redding apresentaria-se ainda em junho daquele mesmo 1967 no festival de Monterey onde teria sua consagração definitiva, infelizmente, por pouco tempo, uma vez que sua carreira e sua vida seriam tragicamente interrompidas por um desastre aéreo ainda no final daquele mesmo ano. Até por isso, "Live in Europe" ganha um papel mais importante dentro da discografia do artista, a de mostrar a qualidade, a performance, o brilhantismo, o carisma e a intensidade de Otis Redding em cima do palco, neste que foi o único registro ao vivo em álbum de sua carreira.
********************
FAIXAS:
1. Respect 3:43
2. Can't Turn You Loose 3:29
3. I've Been Loving You Too Long (To Stop Now) 4:08
4. My Girl 2:43
5. Shake 2:56
6. (I Can't Get No) Satisfaction 3:01
7. Fa-Fa-Fa-Fa-Fa (Sad Song) 4:04
8. These Arms Of Mine 3:47
9. Day Tripper 3:06
10. Try A Little Tenderness 5:07
****************
Ouça:
Otis Redding Live in Paris Full Concert
Cly Reis