por Daniel Rodrigues
sábado, 12 de novembro de 2016
Paulinho da Viola - “Memórias Cantando” (1976)
por Daniel Rodrigues
terça-feira, 17 de maio de 2016
João Bosco - "Acústico" (1992)
segunda-feira, 16 de dezembro de 2024
Cartola - "Cartola" (1974)
O ano foi 1974 e Sérgio Cabral, no texto da contracapa do LP, celebrava que, finalmente, havia um disco do grande Cartola. A realização deste feito, no entanto, se deve em grande parte ao destino e ao sentimento de dívida para com Cartola alimentado por algumas personalidades importantes da cultura carioca. O primeiro ė Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, jornalista e cronista que, em 1956, certa noite, descobriu que o já histórico compositor e fundador da Mangueira, dado por ele como morto, estava num subemprego de lavador de carros, ajudando-o, por fim, a retornar à carreira musical. Anos depois, nos anos 60, preterido pelos sambas-canções bolerizados e, principalmente, pela bossa-nova, Cartola se desilude, mas volta aos holofotes quando, em plena Ditatura Militar os jovens ligados ao CPC/UNE passam a valorizar artistas da velha-guarda do samba como ele. É quando participa, por iniciativa de Hermínio Bello de Carvalho, do memorável projeto "Fala, Mangueira" ao lado de outros bambas de seu calibre: Nelson Cavaquinho, Clementina, Carlos Cachaça e Odete Amaral
Impossível não citar ainda outro ardoroso venerador de Cartola dos que lhe ajudaram em vida e que foi responsável por, enfim, colocá-lo num estúdio: João Carlos Botezelli. Produtor musical e fã, Pelão levou a ideia ao selo Marcus Pereira de gravar um LP da lenda viva do samba. As sessões ocorreram entre os dias 20 e 21 de fevereiro e 16 e 17 de março daquele ano, contando com as participações de exímios músicos, como o percussionista Mestre Marçal, o violonista e arranjador Dino 7 Cordas, o flautista Copinha e o trombonista Raul de Barros. Não havia músico no Rio que quisesse perder aquela oportunidade de participar de um momento histórico: Cartola lançaria seu primeiro álbum solo, que já nascia clássico.
Basta ouvir os primeiros acordes da faixa inicial, “Disfarça e Chora”, para perceber que se inaugurava ali uma era na música brasileira – ou melhor, se resgatava o tempo perdido. Samba elegante, letra exata, melodia engenhosa, poesia romântico-parnasiana. Que acordes bonitos e criativos! Nunca o samba, nem com Paulo da Portela, com Dª Ivone, com Candeia, com Wilson Batista, com Batatinha, havia sido tão lírico. Lirismo e perfeição, aliás, caminham juntos durante todo o álbum. O que dizer de cânones da MPB como “O Sol Nascerá (A Sorrir)”, dele e de Elton Medeiros, e seus versos infalíveis em melodia, harmonia e poesia? “Finda a tempestade/ O Sol nascerá/ Finda esta saudade/ Hei de ter outro alguém para amar”.
Ou “Alvorada”? “Alvorada lá no morro/ Que beleza/ Ninguém chora/ Não há tristeza/ Ninguém sente dissabor/ O sol colorindo é tão lindo/ É tão lindo/ E a natureza sorrindo/ Tingindo, tingindo”. Parceria com Carlos Cachaça e Hermínio Bello de Carvalho, remete, em sua repetição harmoniosa de palavras e na economia harmônica de seus acordes, a simplicidade universal de outro sambista contemporâneo seu, o baiano Dorival Caymmi. É muita maestria.
E os clássicos só vão se avolumando. “Tive Sim”, uma das mais singelas declarações de amor da música brasileira e que pode ser considerada irmã de outra composição de Cartola, “Nós Dois”, de seu terceiro disco, “Verde que te Quero Rosa”, de 1977, pois conta sobre a felicidade de se ter um amor (Dª Zica, companheira do segundo casamento até sua morte) sem esconder que teve, sim, “um outro amor antes" daquele. Composta em 1968, a música participou da Primeira Bienal do Samba, defendida por Cyro Monteiro, e ficou em quinto lugar. Outra irreparável é “Corre e Olha o Céu”, com a bela introdução em que Copinha e Raul de Souza dão a deixa com seus sopros para Cartola entoar com a elegância de sempre os versos. “Linda!/ Te sinto mais bela/ Te fico na espera/ Me sinto tão só”.
Porém, há os clássicos entre os clássicos. Isso é a mais certeira afirmação, pois trata-se da música chamada “Sim”. Samba de 1962, gravado originalmente por Gilberto Alves, é a exatidão da palavra cantada no ritmo mais afro-brasileiro por excelência. “Para ter uma companheira/ Até promessas fiz/ Consegui um grande amor/ Mas eu não fui feliz/ E com raiva para os céus/ Os braços levantei/ Blasfemei/ Hoje todos são contra mim”. Não são dignos de um Álvares de Azevedo estes versos?
E o que dizer, então, de “Acontece”? Um assombro a capacidade de Cartola de sintetizar em pouco mais de 1 min tamanha perfeição musical. Traços de Villa-Lobos emanam do morro. E que canto o de Cartola! Elegante, afinado, emotivo, seguro, dono da própria criação. "Esquece nosso amor, vê se esquece/ Por que tudo no mundo acontece". Sem dúvida nenhuma, top 10 entre as melodias mais bem construídas da música brasileira. Para um país que tem o privilégio de ter compositores do calibre de Caymmi, Gil, Edu, Garoto, Donato, Joyce, Chico, Tânia, Moacir, alguns destes, maestros formados, isso é bastante representativo.
Mas tem mais. “Amor Proibido”, claramente uma forte inspiração para Paulinho da Viola em estilo melódico e cuja melodia é tão linda que ganhou, em 2008, uma versão apenas instrumental de Zé Paulo Becker, no disco-homenagem “Viva Cartola – 100 anos”. Ainda, outras preciosidades: “Quem Me Vê Sorrindo”, nova parceria com Carlos Cachaça, “Festa da Vinda”, um ano antes gravada por Elza Soares, e “Ordenes e Farei”, sua e de Aluísio Dias. Finalizando o disco, uma música de 1965 que, resgatada, traduzia o momento especial do velho bamba: “Alegria”. “Alegria/ Era o que faltava em mim”. Em depoimento a O Globo, o próprio falou sobre esse sentimento quando se deu conta de que era verdade o que vivia: “Me senti muito emocionado quando ouvi a minha voz no disco. Eu já tinha até pensado que ia morrer sem gravar um disco”. Cartola, mesmo com cerca de meio século de atraso, estava de volta.
Até debutar em estúdio, Cartola já havia fundado, nos anos 20, uma das mais tradicionais escolas de samba cariocas – a qual ele mesmo, com seu senso estético apurado, escolhera as cores verde e rosa como símbolo. Já havia composto sambas-enredo campeões de diversos carnavais nas décadas de 40 e 50. Já havia inventado um ritmo, o samba-canção. Já havia posto sucessos nas vozes de artistas como Carmen Miranda, Noel Rosa, Francisco Alves e Aracy de Almeida. Já havia sido aprendiz de tipografia, pedreiro, pintor, guardador e lavador de carros, vigia de edifícios e contínuo de repartição pública. Já havia enviuvado e casado novamente, sido pai, dono da casa noturna Zicartola e radialista junto com Paulo da Portela e Heitor dos Prazeres. Tudo isso, toda uma vida antes desta estreia como artista solo.
Isso é muito sério e diz bastante sobre o Brasil: rico em cultura, mas paupérrimo em autoestima. É como se a genialidade prodigiosa de Mozart, desperta na infância, fosse enclausurada na Áustria por uma vida inteira até ser revelada só quando este tivesse branqueado os cabelos. Não é exagero essa comparação, pois Cartola é o Mozart do samba. O maestro de música erudita britânico Leopold Stokowski, em excursão ao Brasil nos anos 50, já havia ficado impressionado com a musicalidade de Cartola. Nada mais do que a sua obrigação como homem da música em reconhecer o talento do brasileiro, considerou outro brasileiro genial, Carlos Drummond de Andrade. Aliás, é do poeta mineiro a definição mais sintética do que o admirável poeta do morro representa: “Cartola é daquelas criaturas que a música habita nelas”.
FAIXAS:
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Fotos da Minha "Casa"
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"Espaçonave Barroca" |
por Daniel Rodrigues
Vasculhando meus alfarrábios, deparei-me com fotos produzidas por mim, provavelmente em 2001, na Casa de Cultura Mário Quintana, um dos principais centros culturais de Porto Alegre, que, mesmo com o advento de novos espaços de cultura nos últimos tempos na cidade, não perdeu em charme nem importância. Foi anunciado recentemente, inclusive, que o espaço será totalmente revitalizado, com previsão de conclusão em março de 2014.
CCMQ fundamental na minha formação intelectual e com a qual mantenho uma relação especial desde a infância. Guardo-lhe ótimas lembranças. Das talvez centenas de filmes assistidos, entre eles “Apocalipse Now Redux” do Coppola, “Acossado” do Godard e “Verdes Anos” do Gerbase e do Giba. Lá conheci o cinema de alguns diretores que hoje admiro como Eric Rhomer, Yasujiro Ozu e Max Ophuls. Casa de exposições maravilhosas, como a das fotos panorâmicas do cineasta Win Wenders, em 1999, feitas no deserto de Paris (Texas!), e a recente do fotógrafo-artista Gui Bourdin , que tive o prazer de presenciar este ano. Os bate-papos com personalidades, como o em comemoração aos 40 anos do Tropicalismo, em 1998, com Tom Zé, Capinam e Luiz Tatit. E shows! Aquele inesquecível de Jards Macalé cantando só Noel Rosa, em 2001, por exemplo, foi lá! Os vários encontros com amigos... ih, CCMQ de muitas histórias.
Não recordava deste meu trabalho fotográfico, feito para uma das cadeiras da faculdade de Jornalismo, e surpreendi-me positivamente com o resultado quando revi, pois me considero limitado tecnicamente para fotografia. Mas sempre acreditei no meu olho, e acho que foi isso que (reforçado pela necessidade de tirar uma boa nota) me impulsionou a produzir boas imagens deste cartão-postal da capital dos gaúchos. Devem alguma coisa em técnica às de um profissional, sei; mas que lhes há poesia, há. Confiram:
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"Stalker" |
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"A Alma" ou "Um passa, outro para" |
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"Tango do Passaredo" |
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"Jazida" |
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"Olhos e Boca" ou "A CCMQ me olhando" |
quinta-feira, 28 de julho de 2011
cotidianas #95 - Conversa de Botequim
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quarta-feira, 9 de setembro de 2020
Música da Cabeça - Programa #179
Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/
quarta-feira, 24 de abril de 2019
Música da Cabeça - Programa #107
Notícia de última hora do STF: o Música da Cabeça foi censurado! Calma, pessoal, isso é só mais uma fake news feita só pra chamar sua atenção. Nosso programa não tem nada de falso, basta ver pelas atrações como as de hoje: The Cure, Can, Noel Rosa, Terry Riley, Seu Jorge, Simon & Garfunkel e mais. Aqui é tudo assim: às claras e sem censura. Afinal, o MDC, às 21h, roda na Rádio Elétrica e a produção e apresentação são de Daniel Rodrigues. Só não acredita quem é falso.
Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/
quinta-feira, 2 de maio de 2024
Jards Macalé - Show "Jards Macalé 72" - Espaço Cultural BNDES - Rio de Janeiro/RJ (25/04/24)
Quase encerrando uma temporada de alguns dias no Rio de Janeiro, Leocádia e eu, que já havíamos tido a mágica experiência de uma roda de samba na Portela, em Madureira (que, aliás, é mais do que uma experiência apenas musical, pois antropológica), pudemos fechá-la com chave de ouro assistindo a um show (gratuito!) do mestre Jards Macalé. Comemorando os mais de 50 (52 precisamente) anos de lançamento do seu primeiro LP, Macau e sua excelente banda entregaram um show como só um dos maiores da música brasileira (e latina, e mundial) pode entregar.
A juventude de Gulherme Heldt (guitarra) e Pedro Dantas (baixo) se unem à experiência do próprio Jards e de ninguém menos que Tutty, Moreno, lendário baterista da MPB integrante da banda original que gravou com Jards seu marcante álbum de estreia. A química é visível, com Jards comandando as ações com seu violão desconcertante e sua voz/canto rasgado e eles se integrando à atmosfera do genial maldito numa sonoridade híbrido de jazz fusion, samba e rock. Aliás, Jards é muito rock 'n roll! Absolutamente claro isso nas execuções de "Farinha do Desprezo", "Revendo Amigos", "Mal Secreto", "Pacto de Morte" e "78 Rotações", todas clássicas. Muito interessante de se notar o quanto se acertou na sonoridade jazzistica prevalecente naquele período na música brasileira do início dos anos 70 (a qual, inclusive, Jards é o principal artífice ao captar essa atmosfera cosmopolita no exílio em Londres) na arquitetura dessa nova banda, que soube renovar esse estilo e, principalmente, não fazê-lo datar.
Em homenagem à amiga Gal Costa, de quem tanto gostava, dedicou "Hotel das Estrelas", mas indiretamente também celebrou a memória de "Gracinha", como carinhosamente a chama, com "Vapor Barato" acompanhado só da guitarra, para trazer sua mais conhecida parceria com o poeta e agitador Wally Salomão. Ainda, tocou ao violão uma sentida "Movimento dos Barcos", num dos melhores momentos do show, e, recuperou as ainda mais antigas "Soluções" e "Só Morto", que compõem seu EP de 1970.
Além das faixas do repertório do disco, houve espaço também para as recentes "Trevas" e "Meu Amor é Meu Cansaço", parceria com a rapaziada Kiko Dinucci, Rômulo Fróes e Thomas Harres, do seu excelente "Besta Fera", de 2019. Teve também a linda e inédita bossa-nova "Um Abraço do João", motivada por uma inspiração "espiritual" no amigo e ídolo João Gilberto. A música, embora tenha ganhado letra da magnífica Joyce, foi tocada de forma instrumental, uma vez que, gracejador e simpático, Jards admitiu para o público e para a própria artista, que também prestigiava o show, não ter adicionado a letra à melodia ainda. Se no violão já ficou perfeita, imagine-se com letra de Joyce!
"Let's Play That", com Torquato Neto, foi mais uma de arrepiar com sua anarquia sonora implacável. Pra fechar, outra deferência a outro saudoso craque da MPB assim como João, Wally, Torquato e Gal: Luiz Melodia, na blueseira "Farrapo Humano". Para quem nunca o havia visto ao vivo como Leocádia e a mim, que o vira nos idos dos anos 90 num show especial em Porto Alegre dedicado a Noel Rosa, a oportunidade de assisti-lo no excelente palco do Teatro BNDES foi um presente. Presenciamos uma das obras mais grandiosas e sui generis da música brasileira, capaz de fazer pontes sem distinção entre o samba do morro, a vanguarda, o tropicalismo, a bossa-nova, o jazz e o rock. E ainda tivemos tudo isso sem precisar de muito dinheiro. Graças a Deus.
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Ao centro, Jards comanda sua banda tocando o repertorio de 1972 |
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Sob o olhar do craque Tutty Moreno, remanescente do disco de estreia de Jards, há 52 anos |
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Com a banda ao final e sob aplausos |
quarta-feira, 17 de novembro de 2021
Música da Cabeça - Programa #241
http://www.radioeletrica.com/
quarta-feira, 8 de janeiro de 2020
Música da Cabeça - Programa #144
O Música da Cabeça não é livro didático, mas tem muita letra pra dar, como deve ser, aliás. Não só letra, mas também música, como as de Arnaldo Antunes, The Stranglers, Noel Rosa, O Rappa, Suzanne Vega e Arca de Noé. Fora isso, ainda tem "Música de Fato" sobre as tensões EUA-Irã, "Sete-List" com o jazz de Amaro Freitas e "Palavra, Lê" bossa-novístico. Tudo hoje, às 21h, nas páginas escritas da Rádio Elétrica. Produção, apresentação e alfabeto completo: Daniel Rodrigues.
Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
Música da Cabeça - Programa #46
“Pra tudo se acabar na quarta-feira”, disse o poeta lamentando o fim do Carnaval. Mas no Música da Cabeça a gente não acaba: começa! Aqui a gente cura a ressaca da Quarta-feira de Cinzas com música aos montes. Sente só o que vai ter: Pequeno Cidadão, The Smiths, Elvis Presley, Noel Rosa, The Strokes e Madonna. E tem mais ainda no programa de hoje! Mas aí, só escutando pra saber. Por isso, sintoniza na Rádio Elétrica às 21h, que o programa vai fazer tua volta de feriadão ficar bem colorida. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues.
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017
Mart’nália – Show “Em samba!” – Espaço Cultural BNDES – Rio de Janeiro/RJ
A carismática e talentosa Mart'nália interagindo com o público |
Visão geral do bonito palco do BNDES |
Fotos Leocádia Costa