Em uma sexta-feira qualquer de 1968 depois de beber uma garrafa e meia de Jim Beam, Mick Jagger invadiu bêbado e meio "alto" a uma terreira de Candomblé em Salvador na Bahia. Ao seu lado o fiel escudeiro e não menos doidão Keith Richards e sua namorada Anita Pallenberg. Mick trazia a tiracolos Marianne Faithful sua atual companheira e que tinha simpatia pelos ritos africanos.
Jagger pediu permissão ao Exu e todos adentraram a terreira, poucos sabiam de quem se tratava, apenas diziam um "gringo" quer participar. O pai de santo permitiu e viu parte da trupe dos Stones ficar doida e encantada com o batuque. Keith já tinha visto algo parecido em New Orleans, degolar uma galinha ou um cordeiro era normal no vudú, mas um banquete de alimentos tão grande ele jamais tinha visto em ritual algum. Richards perguntou se podia tocar o atabaque, ele não conhecia esse instrumento, com a permissão da casa o músico acostumado as guitarras deu um show na percussão. Enquanto isso Mick e os demais seguiam dançando com a benção dos Orixás, Inquices e Exus. Em junho daquele ano, os Rolling Stones lançavam o álbum "Beggars Banquet", com uma capa que mostrava desordem, desobediência, falta de higiene ou apego as tradições. A canção que abre o disco começa com atabaques africanos e um grito. Na voz, um homem se dizendo rico e de bom gosto, e que está há tempos zanzando pelo mundo. Inspirado pelo romance soviético "O Mestre e a Margarida", da década de 20, mas traduzido para o inglês pela primeira vez em 1967, Mick Jagger escreveu a letra como se fosse o diabo conversando com o ouvinte, contando de sua vida e esperando ansiosamente que você adivinhasse quem ele era. Era para ser uma canção folk completamente inspirada em Bob Dylan, com aquele violão e a voz rasgada. Mas Keith Richards pensou que seria muito mais interessante se o som viesse travestido de samba, como se fosse um ritual afro ou do candomblé. Daí veio a percussão repetida, catártica, hipnotizante, que não sobe e não desce, mas que permanece quente o tempo todo, deixando o couro comer, as pernas baterem umas nas outras. Mick e Keith agora não eram somente os Stones, eram o próprio capiroto e faziam nascer uma tal canção demoníaca chamada "Sympathy for the Devil" que ia chocar a sociedade da época por seu conteúdo satânico com influência Brazuca.
Saravá.
e "Sympathy for the Devil" é uma daquelas canções que
surgiu como uma coisa, começamos a mudança do ritmo
e depois tornou-se completamente diferente.
Começou como uma canção pop e,
em seguida, tornou-se um samba.
Uma boa canção pode se tornar qualquer coisa.
Ele tem um monte de referências históricas e muita poesia. "
Mick Jagger
A mesa está posta e um grande banquete sonoro será servido (bom, considerando a quem o jantar está sendo oferecido, pode ser servido no chão, mesmo). "Beggars Banquet" dos Rolling Stones, de 1968, é verdadeiramente uma refeição dos deuses, mas ao contrário do que propõe o título, tal é a qualidade da comida que não é justo que seja oferecida a indigentes maltrapilhos, e sim à mais alta nobreza. Mas, pensando bem, por que um pedinte de rua não mereceriam algo desse tipo? Ainda mais estiver esmolando por boa música. Ah, aí sim! Em "Beggars Banquet" a doação é generosa.
Mas, sentem-se, arranjem um lugarzinho em torno da mesa improvisada no chão. Aperte um pouquinho que tem lugar pra todo mundo. A mesa pode ser modesta mas o cardápio é variado e farto.
Tem blues, tem country, tem folk, tem balada, tem soul, rock'n roll, é claro e... samba (?). Bom, não exatamente um samba, se tanto uma rumba ou algo do tipo, mas consta que a clássica e fantástica "Sympathy for the Devil" teria sido inspirada pelos ritmos brasileiros numa das passagens turísticas que Mick Jagger teve por essas bandas no final dos anos 60. Fato é que a combinação de ritmos latinos, sugerindo algo tipo magia-negra, associada à letra repleta de referências demoníacas, só contribuiu para aumentar a má imagem em torno do rock'n roll e especialmente em cima dos Stones, que seria selada definitivamente com o assassinato de um fã pelos seguranças da banda no show de Altamont, um ano depois.
Mas desculpem não termos servido um aperitivo antes de trazer o prato principal, pois, sim, "Sympathy for the Devil" é o ponto alto do banquete. Mas de entrada podemos servir-lhes uma baladinha folk leve, ao violão, "No Expectations", pra começar. Aceitam?
E seguem-se os pratos, cada um mais saboroso auditivamente que o outro: a deliciosa "Jigsaw Puzzle", com sua slide guitar e belíssimo trabalho de piano; o excepcional blues de harmônica envolvente, "Parachute Woman"; e o rockaço politizado "Street Fighting Man" com sua batida oca e pesada, baixo marcante e magistral levada de violão de Keith Richards.
Temos os country-rocks "Dear Doctor", "Prodigal Son" e "Factory Girl", se preferirem pratos mais interioranos; a soul-music "Salt on Earth" caso optem por uma especialidade mais popular, oriunda dos guetos negros de New Orleans; ou ainda a elétrica e pegada "Stray Cat Blues", um prato que pode cair pesado, pois é quase um protótipo de punk tal a energia sonora e fúria dos vocais de Mick Jagger.
Ah, saciado. Satisfeito.
Com "Beggars Banquet" os Rolling Stones voltavam às raízes e acertavam em cheio com um discaço daqueles como poucas vezes se tem a felicidade de fazer. Um ábum de encher os ouvidos e empanturrar a alma. Um verdadeiro jantar de nababos.
Está na mesa
Estejam servidos.
*************** FAIXAS: 1. Sympathy For The Devil - 6:14 2. No Expectations - 3:52 3. Dear Doctor - 3:19 4. Parachute Woman - 2:17 5. Jigsaw Puzzle - 6:07 6. Street Fighting Man - 3:10 7. Prodigal Son - 2:47 8. Stray Cat Blues - 4:32 9. Factory Girl - 2:06 10. Salt Of The Earth - 4:43 Ouça; The Rolling Stones Beggars Banquet
The Rolling Stones - Olé Tour 2016 Maracanã - Rio de Janeiro (20/02/2016) por Cly Reis
Mick Jagger, Richards e Watts, no palco.
Provavelmente não voltaremos a ver esse time junto novamente.
foto: Jacson Vogel
Meus caros, eu fiquei emocionado.
Fiquei com os olhos marejados por praticamente todo o show e em alguns momentos, devo admitir, não pude conter as lágrimas. Como se não bastasse estar ali diante da, possivelmente, maior banda de rock do planeta, uma lenda viva da humanidade, o que já seria suficiente para que uma pessoa como eu tão envolvida emocionalmente com a música, se entregar à emoção, os caras, senhores de idade, setentões, vovozinhos, fizeram um show absolutamente incrível, competente, profissional, vivaz e emocionante. Senhores, um dos melhores shows que vi em minha vida.
A emoção já começou com "Start Me Up", que como já falei aqui no blog, é a música da minha filha, o que a torna absolutamente especial para mim. Mas independente disso, pelo musicaço que é, pela energia que passa, é uma escolha sempre acertada da banda que a utiliza com frequência nas aberturas de show. E não foi diferente, "Start Me Up", literalmente ligou, acendeu o público, e dali pra frente eles incendiaram o Maracanã.
Num repertório praticamente só de grandes hits, com exceção, talvez, para "Doom and Gloom", o êxtase foi garantido do início ao fim. A energia ficou nas alturas praticamente o tempo todo, com um breve momento para respirar com a balada "Angie", mas que já seria sucedida pela devastadora "Paint It, Black" com a batida elegante mas potente de Charlie Watts e com Ron Wood tocando cítara como na original. No trecho "acústico" do show provavelmente para que o elétrico Mick Jagger pudesse ir fazer uma nebulização, se o ritmo também diminuiu, com a balada "You Got The Silver", a energia não, com uma emocionante, demorada e merecida ovação para o gênio da guitarra Keith Richards que depois ainda emendou nos vocais "Before They Make Me Run", do "Some Girls".
Escolhida pelo público em votação, "Like a Rolling Stone", de Bob Dylan, foi para mim uma agradabilíssima surpresa uma vez que não a tinha visto nas listas dos outros shows pela América Latina; a quilométrica "Midnight Rambler" foi absolutamente fantástica cheia de improvisos dos guitarristas que mostraram mais uma vez porque são dois dos monstros do instrumento; "Miss You", não menos incrível, com seu embalo convidativo foi um show à parte do baixista Darryl Jones que mandou ver, inclusive quando solicitado em solo; e a contagiante "Brown Sugar" teve seu tradicional coro regido pelo maestro Mick Jagger, provavelmente o melhor frontman que já pisou num placo.
"Gimme Shelter", irradiando aquela sua estranha aura pelo estádio inteiro, no seu misto de beleza, fascinação e terror, me levou definitivamente às lágrimas. Sua execução, as performances individuais e o efeito que causou no público justificam sua grandeza e mais confirmam que considero a maior dos Stones e uma das maiores da História.
De energia não menos estranha e mais sinistra ainda, "Sympathy For The Devil" começava como um verdadeiro inferno com o palco todo iluminado em vermelho, pentagramas no telão e o líder da seita vestido com sua tradicional capa de pele perguntando a todos ali conheciam seu nome. E não?
E a primeira parte fechava com a favorita da minha esposa que estava lá comigo, "Jumping Jack Flash", outro dos grandes clássicos da história do rock, cheia de energia e com seu o velho Richards executando seu inspirado e inconfundível riff. Espetacular!
E então, depois de uma breve pausa, da escuridão do palco, um suave côro gospel de voz femininas anunciava a música escolhida para abrir o bis: era a monumental "You Can't Always Get What You Want", um épico do rock, uma pequena grande obra prima que se estendeu, ganhou um ritmo acelerado no final e preparou terreno para um final ainda mais apoteótico. Pois quando o riff destruidor de "(I Can't Get No) Satisfaction" irrompeu rascante e corrosiva nas caixas de som dos estádio a celebração então estava completa. O estádio foi abaixo! Aliás, tenho que dar uma passada por lá daqui a pouco pra ver se ainda restou alguma coisa dele porque "Satisfaction" foi simplesmente destruidora! Êxtase, êxtase! Um final mais que apropriado para um show como aquele. Um show à altura da maior banda de rock em atividade. Os caras justificaram plenamente porque é que são essa lenda. Porque são os ROLLING STONES!
E eu vi!
Eu estava lá.
E, não querendo secar, mas, tirando as brincadeiras que se faz com a longevidade dos 'rapazes', especialmente do "fenômeno" Keith Richards, provavelmente foi a última vez que tivemos a oportunidade de ver essa turma toda junto por essas bandas. Ou seja, quem viu, viu, quem não viu, acho que não verá mais.
Eu vi.
"Start Me Up" filmada do meu celular. O som, é claro, não está dos melhores, mas vale para sentir a vibração do lugar.
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SETLIST Start Me Up It’s Only Rock ‘n’ Roll (But I Like It) Tumbling Dice Out of Control Like a Rolling Stone Doom and Gloom Angie Paint It Black Honky Tonk Women You Got the Silver (vocal: Keith Richards) Before They Make Me Run (vocal: Keith Richardss) Midnight Rambler Miss You Gimme Shelter Brown Sugar Sympathy for the Devil Jumpin’ Jack Flash
Bis: You Can’t Always Get What You Want (I Can’t Get No) Satisfaction
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Galera chegando e o céu se preparando para um temporal.
Independente da qualidade da contribuição musical dos Beatles ao mundo da música através dos tempos, inegável e fundamental, sempre tive para mim a impressão de que os Garotos de Liverpool eram os bons moços e os Rolling Stones os maus. Ainda que os Beatles também possuam polêmicas, episódios com mulheres e tal, a conduta de Mick Jagger e companhia sempre me pareceu muito mais roqueira. Até o jeito de cantar, de vestir, da postura do palco, tudo. Talvez por tudo isso sempre tenha gostado mais dos Stones.
O próprio título deste disco já é mostra desta diferença. É dasafiador e irônico em relação ao “Let It Be” dos Beatles. Algo como, “vocês fazem isso? nós fazemos ISSO!”.
E verdadeiramente o disco é TUDO ISSO. Uma obra admirável e grandiosa quase que sem igual na história do rock.
Pra começar, abre com “Gimme Shelter” que na minha opinião é a melhor canção de rock de todos os tempos. Jagger com um vocal impetuoso, quase agressivo; os vocais femininos de arrepiar, a guitarra precisa de Richards e aquele tom apocalítico da letra fazem de “Gimme Shelter” algo mágico e superior.
“Love in Vain” que vem na seqüência é demonstração evidente de uma das influências mais fundamentais da banda, o blues, e particularmente, Robert Johnson, que imortalizou a canção. A propósito, os chatos (mas bons) irmãos Reid do Jesus and Mary Chain, chegaram a afirmar que os Stones eram apenas “a melhor banda de blues do mundo”, e quando dizem APENAS de blues, quer dizer que não consideram uma banda de rock. Mas tirando essa antipatia dos Reid, eu compreendo a afirmação, pois no fim das contas os Rolling Stones incrementaram seu rock com muito blues e deram ao blues traços mais roqueiros e fizeram isso como ninguém.
O blues se faz presente em vários momentos no disco e outros bons exemplos no disco são a ótima “Midnight Rambler”, mais agitada, forte e vibrante, e a faixa título “Let It Bleed”, mais melancólica.
O álbum fecha com a grandiosa “You Can’t Always Get What You Want” pontuada por um belíssimo coral gospel, num crescendo mejestoso que confere um final digno a uma obra fantástica como esta. Se eu até posso não ter sempre o que quero, não sei, mas a sensação que se tem ao ouvir “Let It Bleed” é de que não se precisa de mais nada.
"'Dougie, eu gostei dessa banda. O que você acha que devo fazer?' Eu disse a ele: 'Você é Mick Jagger, cara! Leve-os ao estúdio e faça algo com eles.'"
Doug Wimbish, atual baixista da Living Colour
Chuck Berry e Little Richards nunca esconderam a frustração de, mesmo sendo músicos negros como eles os inventores do rock ‘n’ roll, os louros tenham ido para artistas brancos. Não que Elvis Presley, Jerry Lee Lewis ou Bill Halley não tenham grande valor, mas é fato que a indústria fez abafar por uma imposição mercadológica racista a importância de autores negros como eles ou os irmãos Fats Domino, Bo Diddley e Sister Rosetta Tharpe. Com o passar dos anos, o estilo se desenvolveu e vieram os Beatles, os Rolling Stones, a Pink Floyd, a Led Zeppelin, a Black Sabbath... todos majoritariamente brancos. A Love, rara banda de rock composta somente por membros negros, era uma exceção onde deveria ser regra. Jimi Hendrix, como Pelé, virou um mito sem cor. Os punks Bad Brains e Death nunca tiveram a mesma vitrine que Ramones ou Sex Pistols. A "solução" da indústria? O mesmo mercado que desapropriou a criação do rock dos negros lhes deu o “direito” de serem pais de ritmos inquestionavelmente pretos, como a soul music e o jazz. Ou seja: sistematizou o apartheid musical.
Claro que Berry e Richards garantiram, por aclamação, seu lugar no panteão da música universal. Porém, por muito tempo pairou aquela sensação de que os negros, os verdadeiros inventores do gênero mais popular do século XX, tinham uma dívida a cobrar. As décadas se passaram desde que o rock veio ao mundo cultural, e a indignação só fazia aumentar. Foi quando uma turma resolveu cobrar com juros e correção monetária esse débito e reclamar para si a verdadeira gênese do rock ‘n’ roll. “É pra gente mostrar que negro faz rock melhor que qualquer um? Então, aqui está!” Com esta vividez corajosa e empoderada surgiu a Living Colour, formada somente por músicos de fina estampa: o vocalista Corey Glover, o baixista Muzz Skillings, o baterista William Calhoun e o guitar hero Vernon Reid, principal compositor do grupo. Negros.
Produzidos pelo tarimbado Ed Stasium e por ninguém menos que Mick Jagger, que apadrinhou a banda após descobri-los tocando no underground de Nova York, “Vivid” é a extensão da própria ideia de uma banda cujo nome ressalta a vivacidade da cor da pele preta. Afinal, como disse o poeta: "Negro é a soma de todas as cores." Nas suas linhas melódicas, na sua potência, na sua sonoridade, nas letras de crítica social, no seu visual, o primeiro disco da banda resgata todos os tons da tradição do rock em um dos mais bem elaborados sons produzidos na música pop em todas as épocas. O rock pesado da Living Colour soa como se fosse inevitável valer-se dos altos decibéis para manifestar com autenticidade tudo aquilo que esteve guardado anos e anos. Tem hard rock, heavy metal e punk pincelados de funk, blues e jazz, aquilo que os negros fazem como ninguém. Ou seja: a Living Colour, com o perdão da redundância, dá cores muito próprias à sua música. O hit "Cult of Personality", faixa de abertura, é como um traço original num quadro que condensa todas essas tintas. Riff arrebatador, daqueles de dar inveja a Metallica e Anthrax. E a letra, na voz potente e afinadíssima de Glover, referencia Malcom X e critica a superficialidade da sociedade: “Olhe nos meus olhos/ O que você vê/ O culto da personalidade/ Eu conheço sua raiva, conheço seus sonhos/ Eu tenho sido tudo o que você quer ser”.
Hard rock de primeira, "I Want to Know" antecipa "Middle Man", outra de sucesso do álbum que também ganhou videoclipe na época de ouro da MTV. Reid, excepcional tanto na criação do riff quanto na condução da melodia e no solo, mostra porque é um dos maiores guitarristas de todos os tempos, capaz de variar de um suingue a la Jimmy Nolen ou fazer a guitarra urrar como uma das big four do trash metal. Já a pesada "Desperate People" destaca o talento de Calhoun nas baquetas, seja no ritmo, que vai do funk ao hardcore, quanto na habilidade e potência, ainda mais quando martela os dois bumbos. Mais um sucesso, e das melhores do repertório da banda, visto que uma tradução do seu estilo: "Open Letter (To a Landlord)". A letra fala da realidade da periferia (“Essa é minha vizinhança/ Aqui é de onde vim/ Eu chamo este lugar de meu lar/ Você chama este lugar de favela/ Você quer expulsar todas essas pessoas/ É assim que você é/ Trata pessoas pobres como lixo/ Vira as costas e ganha dinheiro sujo”) e traz um dos refrãos mais emblemáticos e tristes daquele final de anos 80, o qual, inteligentemente, repete os primeiros versos da letra, só que cantados agora numa melodia vocal especial: “Now you can tear a building down/ But you can't erase a memory/ These houses may look all run down/ But they have a value you can't see” (“Agora você pode derrubar um prédio/ Mas você não pode apagar uma lembrança/ Essas casas podem parecer estar em mau estado/ Mas elas tem um valor que você não pode ver.”).
O punk rock vem com a alta habilidade de músicos de ouvidos acostumados com o jazz fusion em “Funny Vibe”. Isso, no começo, porque depois a música vira um funk ao estilo James Brown com pegadas de rap, principalmente no jeito de cantar em coro – lembrando o hip-hop raiz de Run DMC e Afrika Bambaata – e na participação de Chuck D e Flavor Flav, MC’s da Public Enemy, a banda de rap mais politizada de todos os tempos. Aí, vem outra das grandes da banda: sua versão para a escondida proto-metal “Memories Can’t Wait”, da Talking Heads. Pode ser que, para uma banda estreante como a Living Colour, tenha pesado a indicação de Stasium, que havia trabalhado com o grupo de David Byrne nos anos 70. Porém, a influência do produtor vai até este ponto, visto que a leitura da música é totalmente mérito de Reid e de seus companheiros. O arranjo é perfeito: intensifica os aspectos certos da harmonia, faz emergir o peso subentendido da original e aplica-lhe pequenas diferenças, como leves mudanças na melodia de voz, que personalizam esta que é, certamente, uma das melhores versões feitas no rock dos anos 80.
Já na melodiosa "Broken Hearts", Reid exercita sua técnica deixando de lado o pedal de distorção para usar um efeito slide bastante elegante, assim como o vozeirão aveludado de Glover. Nesta, Jagger solta sua gaita de boca abrilhantando a faixa. Numa linha também menos hard e ainda mais suingada, “Glamour Boys”, que também tocou bastante à época e que tem participação de Jagger aos vocais, precede outra de vital importância para o discurso de reivindicação levantado pela banda: “What's Your Favorite Color?”. Seus versos dizem: "Qual é a sua cor favorita, baby?/ É branco?/ Fora de moda".
E quando se pensa que se ouvirá mais um heavy metal furioso, com a mesma naturalidade eles enveredam para um funk psicodélico de fazer orgulhar-se dr. P-Funk George Clinton pelos filhos musicais que criou. Noutro hard rock pintado de groove, "Which Way to America?", com destaque para o baixo em slap de Skillings, solta o verbo contra a sociedade de consumo e a ideologia racista da televisão, veículo concentrador das amálgamas no mundo pré-internet, alinhando-se novamente ao discurso dos parceiros Public Enemy, ferozes denunciadores do branconcentrismo da mídia norte-americana.
Com outros bons discos posteriores, como “Times Up”, de 1990, o qual traz o maior hit da banda, “Love Rears It's Ugly Head”, a Living Colour abriu em turnê para os Rolling Stones e foi atração de festivais como Hollywood Rock de 1992, tornando-se, por incrível que pareça, o primeiro grande grupo do rock integralmente formado por negros, mais de 40 anos depois dos precursores mostrarem o caminho para as pedras rolarem. Além disso, mais do que seus contemporâneos Faith no More, eles expandiram as falsas fronteiras do rock pesado, injetando-lhe uma propriedade que somente os “de cor” poderiam realizar. Depois deles vieram a Infectious Grooves, a Body Count, a Fishbone, todos com bastante influência daquilo que ouviram em “Vivid”. Todos que não deixaram esquecer jamais que o rock é, sim, essencialmente preto. E vamos parar com essa palhaçada! As memórias de Berry e Richards agradecem.
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FAIXAS:
1. "Cult of Personality" - 4:54 (Glover/ Skillings/ Reid/ Calhoun)
Mick e sua turma mandaram ver, em uma apresentação histórica.
Um em um milhão e meio! Não, não se trata de uma probabilidade estatística embora não deixe de fazer sentido se eu for parar para pensar nas probabilidades que eu via, na minha vida, digamos uns quatro ou cinco anos antes, de, em 2006, estar no Rio de Janeiro, em plena praia de Copacabana, assistindo a um show dos Rolling Stones. Mas a vida da gente dá uma mudadas e, voltando no tempo, um ano antes deste grande evento de rock na praia mais famosa do mundo, algumas coisas acabaram dando um novo rumo à minha história. Por questões de saúde, minha mãe acabou se mudando para o Rio de Janeiro com minha irmã e embora tivesse me convidado para acompanhá-la, num primeiro momento, vinculado ao meu antigo trabalho, a uma namorada da época, a amigos e, enfim, à cidade, preferi ficar. Mas poucos meses depois da partida delas, meu vínculo com a empresa onde trabalhava acabara e não seria possível renovar, meu relacionamento, outrora promissor, desabava lentamente e, ainda que tivesse amigos, parentes e uma relação afetiva muito forte com Porto Alegre, tudo parecia indicar que se fazia necessário uma nova perspectiva, novos ares. Assim, consultei minha mãe se mantinha sua proposta e se teria um lugarzinho pra mim no seu "puxadinho". Mãe é mãe e, como não poderia deixar de ser, ela acolheu o filho.
Deste modo, eu iria definitivamente em março mas, decidi ir antes, de visita, para perceber o ambiente, conhecer o apartamento, decidir que providências preliminares deveríamos tomar, etc. E por que não unir o útil ao agradável? Um show monumental dos Rolling Stones estava marcado para fevereiro, de graça, na praia de Copacabana, e vi aí uma grande oportunidade de ver, ao vivo, uma das maiores bandas do planeta, coisa que até então eu nem imaginava que seria possível. Marquei minha ida, então, para aquele período. Passeei, fui à praia, visitei pontos turísticos e no dia dos Rolling Stones, lá estava eu. Cheguei cedo mas nem tanto, de modo a não ficar "o dia inteiro" de bobeira lá na frente do palco. Faltavam umas quatro ou três horas para o show quando desci do metrô em Copacabana. Caminhei pela orla até chegar nas proximidades do Copacabana Palace e não era difícil, já à distância perceber onde seria o evento, uma vez que cada vez mais multidão ia se acumulando conforme se chegava mais perto do local do show. Fui me metendo, me acomodando e, no fim das contas, para um evento daquele tamanho e pela hora que cheguei, até que me posicionei bem. Nada muito próximo, mas também nem tão longe que a banda parecesse um bando de formiguinhas. Fiquei na calçada, numa boa diagonal que favoreceria a vista, especialmente, quando Mick Jagger se deslocasse pela longa passarela que avançava entre o público.
The Rolling Stones - "(I Can't Get No) Satisfaction" -
Copacabana - Rio de Janeiro (2006)
Algumas horinhas esperando, uma cerveja aqui, outra ali, algumas situações engraçadas, um monte de gringos inocentemente desavisados sendo assaltados e finalmente chegara a hora do show. Aqueles quatro velhotes eram muito mais do que eu esperava. Um show vibrante, cheio de energia, vitalidade, simpatia e muitos sucessos. Lembro-me, especialmente, de "Brown Sugar", com a galera levantando os braços em resposta aos gritinhos do vocalista, e da elétrica e contagiante "(I Can't Get No) Satisfaction", que fechou o show, beeeem alongada para que a pudéssemos curtir os Rolling Stones, ali, até a última gota, e mais e mais, até que... acabou.
Em algum momento ia ter que acabar, né?
A multidão foi se desfazendo, cada um tomando seu destino e eu, decidindo como voltaria pra casa, de metrô, de ônibus, de táxi, comecei a caminhar, pensando no show, continuei caminhando e acabei indo pra casa a pé, mesmo. Sabe quando a gente quer prolongar o máximo uma sensação? Não era chegar rapidinho em casa, deitar e dormir. Não! Era ruminar cada minuto daquilo que tinha acabado de presenciar. Afinal de contas, não é todo dias que se vê os Rolling Stones, ainda mais naquela que passaria a ser sua apresentação para uma maior plateia em sua carreira. Eram um milhão e meio de pessoas, e eu estava lá. Um no meio daquele milhão e meio.
Um mar de gente à beira do mar. Um dos maiores públicos já registrados em um show, em todos os tempos.
"Não que eu seja um grande fã de punk, mas a energia deles e o fato que você notava que outra geração estava ultrapassando você eram como um chute no traseiro. Era hora de ir direto ao básico e não ficar brincando com vozes femininas glamurosas, metais e coisas assim."
Mick Jagger
Pra começar bem 2012, que tal um Stones nos FUNDAMENTAIS ?
Hum! Nada melhor. Ainda mais no ano em que a banda completa meio século de existência.
Saiu recentemente uma reedição bacanérrima do álbum "Some Girls" de 1978, com disco original na íntegra mais um disco extra com material inédito. "Some Girls" é dos meus prediletos da banda ainda que seja seja um Stones-tardio, e devemos admitir, que quanto mais recente, menor a qualidade do trabalho dos velhinhos, infelizmente. Mas não é o caso deste. Em meio à onda punk do final dos '70 e às tendências disco-music que estavam em alta, Jagger e cia. não ficavam indiferentes ao que acontecia no mundo musical e injetavam doses de energia e embalo ao seu som.
Coisas como "Lies", "Respectable", "Shattered" e "When the Whip Comes Down" tem toda uma pegada mais pesada, mais forte e mais crua até, entendendo a sonoridade da época, de um som mais sujo, mais básico, sem contudo fazer concessões excessivas que viessem a descaracterizar seu som. Por sua vez, a clássica "I Miss You" é um excelente exemplo de levada disco aplicada ao rock-blues característico do grupo numa composição primorosa que de tão sofisticada adquiriu um caráter naturalmente atemporal.
Destaques também para a ótima regravação de "Just My Imagination" dos Tempatations, permanecendo uma balada porém ganhando mais guitarras; para os vocal principal de Richards em "Before They Make Me Run"; para o excelente trabalho de guitarras de "Beast of Burden"; para o lamento country "Far Away Eyes" e para a que empresta nome ao disco, "Some Girls", com aquele ar debochado do vocal de Jagger descrevendo as mais variadas garotas, seus tipos e manias.
O CD extra desta nova edição especial também não fica atrás e seria certamente um bom álbum de carreira, com destaques especiais para o rock-caipira "Claudine", "When You're Gone" de Ron Wood e para o bluesaço "Keep Up Blues". E daí, ouvindo extras como estes, o que dá pra concluir é que a exemplo das 'sobras' do outro álbum clássico, "Exile on Main Street", que também teve um relançamento de luxo, o que é 'resto' de uma banda como os RS ainda é bem melhor do que muito material que um monte de bandinhas por aí que suam pra conseguir fazer num disquinho que no fim das contas sai bem mais-ou-menos.
Ah, e só pra não deixar passar: a capa e toda arte do álbum são um grande barato. Melhor no LP, com a capa vazada e os rostos dos integrantes da banda, do encarte, preenchendo os vãos das formas femininas da capa. Mas não deixa de ser muito legal a parte gráfica nesta edição também, sobretudo pelo encarte mais completo e detalhado.
Bom, particularmente devo dizer que, agora tendo adquirido este duplo em CD, tenho os dois formatos, sendo que o LP é um original de 1978.
Aham...
(Não me levem a mal)
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FAIXAS: 1. "Miss You" 4:48 2. "When the Whip Comes Down" 4:20 3. "Imagination"* (Norman Whitfield / Barrett Strong) 4:38 4. "Some Girls" 4:36 5. "Lies" 3:11 6. "Far Away Eyes" 4:24 7. "Respectable" 3:06 8. "Before They Make Me Run" 3:25 9. "Beast of Burden" 4:25 10. "Shattered" 3:48
Faixas adicionais - CD Bônus reedição 2011: 1. "Claudine" 3:42 2. "So Young" 3:18 3. "Do You Think I Really Care?" 4:22 4. "When You’re Gone"* (Ronnie Wood) 3:51 5. "No Spare Parts" 4:30 6. "Don’t Be a Stranger" 4:06 7. "We Had It All"* (Troy Seals/Donnie Fritts) 2:54 8. "Tallahassee Lassie"* (Bob Crewe/Frank C. Slay Jr./Frederick A. Picariello) 2:37 9. "I Love You Too Much" 3:10 10. "Keep Up Blues" 4:20 11. "You Win Again"* (Hank Williams) 3:00 12. "Petrol Blues" 1:35 todas as faixas Jagger/Richards, exceto as indicadas*
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Ouça: The Rolling Stones Some Girls
Entre muitas drogas, álcool, discussões, brigas e polêmicas, os Rolling Stones em 1972 lançavam aquele que seria o único álbum duplo de sua discografia e ainda hoje considerado por grande parte da crítica, o melhor da banda. “Exile on Main St.” curiosamente, apesar das boas vendas, causou algum estranhamento no público e desagrado à gravadora pelo tratamento diferente dado a cada música, o que, além do resultado fonográfico considerado irregular, saíra muito caro por conta do longo período que a banda permanecera em estúdio. Este é outro detalhe importante deste disco que, sem falar na grande qualidade da obra, é envolvido por grandes curiosidades: a maioria das músicas eram sobras dos dois álbuns anteriores e foram levadas para terem um “tratamento” diferente e aí então comporem um álbum e o interessante é que mesmo com origens diferentes e não tendo sido pensadas para uma obra ou conceito específico conseguem ter uma unidade e coesão a ponto de receberem até hoje tamanho destaque. A banda foi gravá-lo na França e alugou uma antiga casa que tinha servido na 2° guerra como quartel-general da Gestapo. Consta que a própria banda diz ter sido afetada pelas vibrações do lugar o que teria contribuído em parte para (um dos) quase fim da banda por conta das freqüentes brigas de Jagger e Richards. Daí já vem outra curiosidade: Jagger, insatisfeito com o resultado que estava se apresentando, meio que largou de mão o material gravado e aí que Richards achou de dar o tratamento que bem entendia, enchendo a sonoridade de metais e vocais gospel. O fato de estar insatisfeito com o que vinha sendo feito talvez tenha servido de estímulo a Mick Jagger que acaba tendo uma performance vocal incrível no disco. Pra completar, a capa cheia de bizarrices, esquisitices, absurdos e abominações já era uma mostra do que estava contido ali dentro, refletindo, em parte, o que se passara com a banda, o ambiente e a atmosfera das gravações. O resultado de tudo isso é o disco mais chapado, criativo e experimental dos Stones e um dos melhores de todos os tempos.
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FAIXAS: 1. Rocks Off 2. Rip This Joint 3. Shake Your Hips 4. Casino Boogie 5. Tumbling Dice 6. Sweet Virginia 7. Torn and Frayed 8. Sweet Black Angel 9. Loving Cup 10. Happy 11. Turd on the Run 12. Ventilator Blues 13. I Just Want to See His Face 14. Let It Loose 15. All Down the Line 16. Stop Breaking Down 17. Shine a Light 18. Soul Survivor
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Ouça: The Rolling Stones Exile On Main Street
Chega ao Brasil com 8 anos de atraso em relação à edição original, "According to the Rolling Stones: A Banda Conta Sua História", uma coletânea de entrevistas dos próprios integrantes retratando os primeiros 40 anos da banda. Keith, Mick, Ron e Charlie remexeram numas entrevistas dadas em 2002, compilaram, revisaram o material e, em parceria com a empresária Dora Lowenstein, botaram na roda pra galera relatos interessantes, curiosos, impressionantes e tudo mais que se possa esperar dos velhos Stones. Os próprios integrantes trataram, além de organizar os textos, de escolher as fotos que ilustram o trabalho, lançando mão inclusive de seus acervos pessoais.
Não tem como não ter satisfação com isso, hein.
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"According to The Rolling Stones: A Banda Conta sua História" de Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood, Charlie Watts e Dora Loweisntein Ed. Cosac Naify 360 páginas R$119,00
"Não importa quantas vezes a gente se encontre na pista, ele [Halston] me agarra e me abraça e me beija e diz, 'É muito bom ver você, mr. Warhol'".
Andy Warhol, em "Diários de
Andy Warhol - vol. 1 (1976-1981)"
Não é errado dizer que o motivo que nos levou a esta curta mas proveitosa temporada em São Paulo foi ver Andy Warhol. A vontade de visitar a cidade já nos era acalentada há anos, mas sempre impossibilitada por uma série de fatores que não vêm ao caso enumerar. Porém, a presença de Warhol através da exposição temática a ele “Andy Warhol: Pop Art!”, no Museu de Arte Brasileira – MAB FAAP, era forte o suficiente para considerarmos a possibilidade, o que se concretizou em junho, pouco antes da mesma ser prorrogada até final de agosto.
Artista referencial em nossas formações tanto culturais e filosóficas como acadêmicas, Andy é daquelas admirações de anos. Aliás, para possivelmente qualquer ser humano que viveu os últimos 80 anos, visto que suas criações, tão emblemáticas quanto icônicas, são parte da vida social do mundo moderno. Já havíamos visto algumas obras dele em parceria com Jean-Michel Basquiat no CCBB de Belo Horizonte, em 2014, e na mostra individual de Basquiat no CCBB do Rio de Janeiro, em 2018, e já tínhamos nos embasbacado. Imagina agora, nesta exposição, que reúne mais de 600 peças do “pai da pop-art”!?
Como fãs e conhecedores de sua trajetória, não deixamos de sentir algumas ausências na seleção das obras. É o caso das belíssimas capas para LP’s de jazz do início da carreira, anos 50, ou mesmo os quadros coassinados com Basquiat, da segunda metade dos anos 80, de um Warhol já adoecido e “passando o bastão” ao pupilo. Porém, nada que desmereça a excelente curadoria, que dá, sim, a dimensão da magnitude de sua obra. Estão lá as bottle-lines da revista Glamour no começo da carreira; os anúncios para calçados e artigos de luxo dos anos 50; a arte kitsch dos anos 70; a Factory; o Studio 54; o lado designer; o publisher, a ligação com a música pop; os quadros clássicos (Marylin, Liz Taylor, Elvis, Pelé, Liza); o pioneirismo como “influencer”; a moda; o ativista político; o visionário do audiovisual e quantos Andy Warhol se queira imaginar.
Com textos muito bem escritos e informativos, ressaltando o que merece, a exposição recapitula os principais momentos históricos de sua carreira nas artes, sejam elas visuais, da música, da moda, do cinema, da televisão ou da fotografia. De um senso estético-visual impressionante, o qual ele ajudou a redefinir no cenário da arte contemporânea, Warhol tinha também domínio do desenho – como, aliás, todo grande artista visual que se preze, tal Picasso, Dali ou Pollock. Por trás das fotos manipuladas e das serigrafias havia sempre um traço apurado, como fica evidente seja nas naturezas mortas, dos anos 50, ou nas serigrafias e tinta acrílica sobre linho das figuras de Miguel Bose (1983) ou de Albert Einstein (1980), que lembram o traço leve e contínuo de Jean Cocteau.
Quadro de Miguel Bose: serigrafia que não esconde o lindo traço a la Cocteau
É muita coisa legal que Warhol produziu, e impressiona bastante ver isso tudo reunido. As séries com rostos de artistas, como as de Silvester Stallone, Debbie Harry, Alfred Hitchcock e Clint Eastwood é de cair o queixo. Igualmente, as centenas de polaroides das mais variadas pessoas, de Yoko Ono a Truman Capote, de Dennis Hooper a Mick Jagger, de Jane Fonda a Valentino. As fotografias das funções na Factory, os filmes experimentais (“Eat”, “Kiss” e “Velvet Underground”), as embalagens de Campbell’s e Mott’s, as capas de discos...
Famosos ou não, ninguém em NY escapava de sua Polaroid
Nada escapava a essa figura aglutinadora e em constante processo, uma força da natureza multimídia. Embora vivesse rodeado de famosos iguais a ele, Warhol nunca deixou que isso se sobrepusesse ao seu trabalho e relegasse a segundo plano sua arte. Pelo contrário: quanto mais se enfurnava nesses universos, mais tirava combustível para produzir. Warhol não se perde nessa fogueira de vaidades justamente porque ele sabia ser ferramenta para a materialização - e crítica - do que hoje é conhecido como showbiz. Ele era figura central e catalizadora de todos esses estímulos que o rondavam: Hollywood, universo queer, noite nova-iorquina, publicidade, moda, música pop, televisão. Dos famosos aos anônimos, todos deveriam ter pelo menos 15 minutos de fama, entendia ele. Warhol teve muitos 15 minutos multiplicados até os dias de hoje e assim certamente continuará.
No Jornalismo, reza que se deve evitar usar o termo "gênio" para qualquer pessoa com o perigo de vulgarizar o termo. Se for aplicar genialidade para qualquer um, o que dizer, então, de Mozart, Da Vinci ou Shakespeare? Embora não leve tanto assim a sério a regra, visto que me empolgo com "genialidades" alheias, hei de concordar, sim, que muitas vezes se vulgariza o termo. Mas com Andy Warhol não há esse receio. Warhol é gênio, sim, tanto quanto estes citados. Um Mozart, um Da Vinci, um Shakespeare de nossos tempos.
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As flores dos primeiros desenhos, anos 50
Rosas feitas em nanquim e corante de anilina sobre papel
"Cabeça de menino", de 1950, bonito traço feito a nanquim e grafite
Borboletas, do mesmo ano (grafite sobre papel)
"Lenço de seda" em grafite e têmpera
O universo da moda entra na sua vida em 1955
Como ilustrador exclusivo da marca de calçados I. Miller Shoes Company, faz anúncios para o New York Times
Anúncio para perfume Bottle, de 1953
"Pássaros e abelhas voando" (s/d): ideias de pop art
Dos anos 60, abstratos
Mais borboletas, espalhadas pelos anos 50 e 60
Brilhante anúncio para a Dior, já com cara do que Basquiat faria
Ainda a moda: torso de Paola Dominguim, de 1983. Moderníssimo
O estilista Halston ganharia alguns posters em 1982 para sua linha de casacos
"Abra este lado": a fantástica série baseadas em etiquetas de transporte e manuseio, de 1962. Muito pop
Vestido "Frágil" composto só de etiquetas "descartáveis"
As clássicas embalagens de Campbell's: arte como produto
Brillo, Mott's, Heiz, Del Monte, Campbell's:
o design industrial ganha status de arte
Embalagem de Campbell's virou um ícone
Elvis duplo: um clássico do mundo moderno
Por falar em clássico, o que dizer desta serigrafia de 1964, a obra mais cara do mundo?
Victor Hugo, amigo e modelo para diversos quadros, aqui neste díptico de tinta acrílica e serigrafia sobre linho de 1978
Mais um clássico: Elizabeth Taylor, de 1964
Liz Taylor num dos mais emblemáticos trabalhos de Warhol
A série feita para Jackie O. em 1964, logo após o assassinato de John Kennedy
As borboletas, as flores e as imagens
repetidas estampadas nos lenços
A criatividade das artes e capas da revista Interview
Mais da Interview: arte visual e gráfica
Como layoutar uma revista com criatividade
As estamparias de camisetas. O amigo Keith Hering está numa delas
Warhol nos domínios do seu estúdio Factory
Cenas das festas nova-iorquinas dos anos 70/80
A agitação cultural da Factory em fotos
Um jovem Sting fotografado por Warhol
Série "Ladies and Gentlemen", de 1975, sobre a cena queer de NY
Mais do tributo vibrante à comunidade trans e drag da Big Apple
Warhol faz seu próprio "Rorscharch", gigante acrílico sobre linho de 1984
"Estátua da Liberdade Fabis", de 1986, último ano de vida do artista
Da série Skulls, de 1976: crítica à tradição cristã, pegada punk e o desencanto do fim de século com a AIDS e a Guerra Fria
"Tunafish Disaster": o atum em lata que matou pessoas em 1963 virou crítica ao consumismo
Genial obra feita da oxidação provocada pela urina sobre metal
A impactante - e grandiosa - "A Última Ceia", de 1986
"A Última Ceia", dos trabalhos finais de Warhol
Fantásticas serigrafias para criticar a cadeira elétrica da série "Death and Disaster", de 1963
Série de Mao Tsé Tung, de 1972
Mais Mao
Lindas pinceladas sobre o desenho numa das 199 serigrafias de Mao feitas por Warhol
Filme "Kiss", de 1963
As lindas capas de discos e filmes. Pena que se expuseram poucas
Velvet Underground & Nico: projeto musical experimental
que mudou a história da música moderna
As incríveis polaroids, que invariavelmente viravam base para outra obra, como as de Mick Jagger e Pelé
Deuses dos esporte viraram também pop na série Atletas, de 1977
O gênio da bola pelo gênio da arte popular
Judeus célebres retratados: Einstein...
... e Freud. Anos 80
Beethoven num quádruplo originalíssimo
Joan Collins em acrílica e serigrafia sobre linho, de 1985
Neil Armstrong fincando a bandeira na Lua pop
Miss Aretha Franklin em díptico magnífico
E o que dizer desse poster de Liza para o show dela de 1981?
Michael e o estilo de Warhol combinam muito
Outra série espetacular, a de retratos. Aqui, mestre Clint Eastwood
Stallone em retratos de 1980 e 1981
Diane Keaton em acrílica e serigrafia sobre linho (1984)
Bill Murray também ganhou seu retrato
Mestre do suspense em arte do mestre da pop art
E nós escolhemos miss Debbie Harry para compartilhar nosso registro
Ah! E também viramos pop art a la Warhol, nossos 15 minutos de fama
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exposição "Andy Warhol: Pop Art!”
Obras de Andy Warhol
local:Museu de Arte Brasileira – MAB FAAP
endereço: Rua Alagoas, 903 - Higienópolis - São Paulo/SP
visitação:de terça-feira a domingo, das 9h às 20h (último horário de entrada às 19h)
período:até 31/08/2025
entrada: gratuita
texto:Daniel Rodrigues fotos e vídeos:Leocádia Costa e Daniel Rodrigues