O final de semana foi cinematográfico: sábado foi “Iron Man 2”, mas antes disso, na sexta-feira teve “Alice no País das Maravilhas”. Guardava grandes e boas expectativas acerca do filme pelo fato de adorar as histórias de Alice do Lewis Carrol (País das Maravilhas e Reino do Espelho) e por ser fã do trabalho de Tim Burton, suas atmosferas soturnas e suas criaturas fantásticas. Além disso tinha o fato de que um mundo concebido já tão fantasticamente quanto o que a garota Alice visita, receberia pelas mãos do diretor, um tratamento visual em 3 dimensões, o que é sempre uma sensação a mais em obras com tamanha sugestão visual ainda que só se justifique plenamente MESMO em uma cena ou outra.
Enquanto filme, entretenimento, adaptação, proposta para um público abrangente, “Alice no País das Maravilhas” atende plenamente ao que se propõe. É um barato! Tim Burton dá vida a personagens bizarros e estranhos do autor, confere cores e formas a ambientes surreais e dá ritmo a uma história que não é, na sua origem, exatamente uma aventura de ação ou algo parecido. No entanto, o preço de ter-se algo tão visual e tão frenético foi a TOTAL perda literária. Não restou nada da qualidade de texto de Lewis Carrol. A sutileza, o sarcasmo, a acidez, a inteligência do texto desaparecem por completo. Tudo o que é sugerido sobre crescimento, maturidade, personalidade, com genialidade nas entrelinhas de diálogos aparentemente banais nos dois livros do autor inglês, se perde ou fica diluído em conversas inexpressivas ou lições de moral que soam como clichês.
Pode parecer que dizendo tudo isso a respeito do filme não tenha gostado. Não! Incrivelmente achei bem legal. É que no cinema, vendo já num primeiro instante que o que havia de rico no texto tinha sido deixado à parte, me desapeguei disso e curti a proposta cinematográfica, e neste aspecto o resultado foi legal.
Tim Burton consegue dar cara de Tim Burton ao País das Maravilhas com aqueles seus galhos retorcidos, ambientes sombrios, muitas cores e ordem nas cenas. Recria os personagens de Carrol de uma maneira muito particular e simpática, como o adorável coelho de casaca, a sábia lagarta azul, os confusos gêmeos gorduchos e o impagável Gato com aquele constante e quase sinistro sorriso, aberto de um lado a outro da cara, sempre com um ar sonolento e viajante. Restrição à concepção de Alice que ele faz no filme uma moça prestes a casar e não uma menininha, o que tira um pouco da inocência da obra e do valor de algumas sacadas do livro que se palicariam mais a uma criança do que a uma adolescente. Eu que não gosto das atuações de Johnny Depp, xodó do diretor, tenho que tirar meu chapéu (com o perdão da redundância) para o Chapeleiro Maluco que ele interpreta. Muito divertido e expressivo. Mas como eu sempre digo a respeito deste ator: pra estes personagens cheios de caras e bocas, olhos arregalados, artificialismos e caricaturices, ele até que funciona bem. Um barato a "Futterwacken" que ele dança no final do filme, com ajuda da tecnologia é claro, uma vez que segundo a colega de set, Helena Bonham Carter (excelente como a cruel e divertida Rainha Vermelha), o cara não dança nada!
C.R.
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