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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

PIL - "Album" (1986)

"Ele (John Lydon) canta como eu toco trumpete."
Miles Davis


Uma superbanda, um disco cujo título é seu formato, um hit com a cara dos anos 80 com refrão fácil e inconfundível e um’ frontman’ que havia sido nada mais nada menos que o rei do punk. O cara: John Lydon, ex-Johnny Rotten do Sex Pistols; o álbum: bom, o nome do álbum era “Album” mesmo. E todo o panorama em torno dele e seu lançamento pode ser justificado com o nome de outro disco da banda: “Isso é o que vocês querem, isso é o que vocês terão”. Com “Album”, John Lydon dava à industria pop o que ela queria, e o PIL, sempre avesso às regras do sistema, por sua vez aproveitava então para ganhar dinheiro com a brincadeira. E por que não?
Como o PIL na verdade é John Lydon, ou, John Lydon é o PIL (não importa), depois de brigar com um integrante aqui, dispensar outro ali, convocar outro lá, resolveu então chamar um timaço de feras para reforçar a IMAGEM PÚBLICA da banda: Ruyichy Sakamoto nos teclados; o multicolaborador de inúmeras bandas Jonas Hellborg no baixo; Steve Vai (que dispensa apresentações) nas guitarras; Tony Williams (da banda de Miles Davis) e Ginger Baker (ex-Cream) para a bateria, tudo sob a batuta do produtor Bill Laswell.
Laswell era conhecido por trabalhos de funk, ligações com o jazz tendo conduzido um trabalho interessantíssimo com Herbie Hankock pouco antes. Trabalhara também produzindo o Time Zone, parceria de Lydon com Afrika Bambaata, o suficiente para convencer o ‘anticristo’ a convidar o cara para produzir seu novo projeto. A escolha mostrou-se perfeita! Laswell dava ao projeto de Lydon o tempero que ele precisava acertando em cheio logo de cara com o sucesso “Rise” composto pelos dois. Quem não lembra daquele refrão “I could be wrong, I could be wright”?
“Album” provavelmente consegue o melhor resultado daquilo que se costuma chamar “superbanda”, normalmente grupos com muito nome, pouca qualidade e resultado bastante insuficiente. Neste não: Ginger Baker destrói na bateria, sempre soando alta e estourando, com destaque especial para “Round”que por ser enfática para a percussão permite-lhe um showzinho à parte. Sakamoto e Tony Willimas são aqueles que não aparecem muito pra torcida mas jogam um bolão; sempre discretos mas competententíssimos, sendo que o japonês pode, sim, ser destacado em “Ease”, épico que fecha o disco, na qual aliás todos matam-a-pau. Em “Ease” Ginger volta a estourar o couro da bateria, Lydon está inspirado, mas nesta especialmente Steve Vai, que na maior parte das faixas empresta seu talento com disciplina e discrição, aqui estraçalha e esmirilha num solo final arrepiante.
Se por um lado Lydon parece com “Album” ter-se rendido de vez à indústria fonográfica, dando o que ela queria; por outro mantém nas letras seu tradicional fel e violência pouco palatáveis para rádio e deixa uma dose implícita de cinismo quando, ao invés de uma capa colorida, chamativa, com a banda posando fodona, simplesmente nos apresenta uma capa branca com o nome do formato escrito grande. (Bem pouco comercial, não?) Algo como uma caixa de medicamento, uma embalagem... um produto.
Mas tal simplicidade da capa, de certa forma, se justifica plenamente: o que mais precisaria-se dizer de um disco como este, afinal?
Basta dizer apenas que é O ÁLBUM.

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(O disco efetivamente leva o nome do formato, tanto que a versão em fita chamava-se "Cassete" e o CD chama-se "Compact Disc", mas é conhecido e referido na maioria das vezes, independente da forma como se apresenta, como "ALBUM")
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FAIXAS (listadas na contracapa como "Ingredientes") :
  1. "F.F.F." (John Lydon, Bill Laswell) – 5:32
  2. "Rise" (Lydon, Laswell) – 6:04
  3. "Fishing" (Lydon, Jebin Bruni, Mark Schulz) – 5:20
  4. "Round" (Lydon, Schulz) – 4:24
  5. "Bags" (Lydon, Bruni, Schulz) – 5:28
  6. "Home" (Lydon, Laswell) – 5:49
  7. "Ease" (Lydon, Bruni) – 8:09
Músicos:
John Lydon - vocais
Tony Williams - bateria em "FFF", "Rise" e "Home"
Ginger Baker - bateria na "Fishing", "Round", "Bags" e "Ease"
Bernard Fowler - backing vocals em todas as faixas
Ryuichi Sakamoto - Fairlight CMI em "Rise", "Fishing", "Bags" e "Ease"
Nicky Skopelitis - guitarra em todas, exceto "Ease"
Steve Vai - guitarra em todas as faixas
Jonas Hellborg - baixo em todas as faixas

pessoal adicional
Shankar - violino elétrico de "Rise" e "Round"
Bernie Worrell - órgão em "FFF", "Round" e "Home", Yamaha DX7 em "Fishing"
Malaquias Favores - baixo acústico em "Fishing" e "Bags"
Steve Turre - didjeridu em "Ease"
Aïyb Dieng - tambores em "Round"


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Ouça:
PIL Album



Cly Reis

Um comentário:

  1. Uau! "Album" é simplesmente incrível! Dia desses estava reouvindo e babando. Sabe que não tinha refletido de que trata-se, realmente (como diria José Mojica Marins), do melhor disco de "spuerbanda". Pois é, né: geralmente sai uma merda essas junções malucas, mas o "Album" vence essa barreira por ser "punkmente" honesto. Mas discordo que se trate de um disco "comercial". A sonoridade altíssima da bateria e, principalmente, a extensão das faixas, todas com mais de 4min, é algo vai bastante "contra" o que a rádio ou a MTV custumavam tocar na época. Mas o legal é que os anos 80 a qualidade musical superou muitas vezes essa barreira do considerado "não-comercial". Basta lembrar do hit-febre "Faroeste Caboclo", da Legião, em 87, ou até "Trhiller", do Michael Jackson (principalmente na TV, com aquele clip-filme de uns 10min). O "Album", principalmente o sucesso "Rise", entram para este time de coisas boas feitas naquela época que conquistaram um público maior porque eram ao mesmo tempo boas comercialmente e honestamente artísticas.
    Ah, o Steve Vai destrói também em "FFF" e "Home".
    Dã.

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