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sábado, 20 de agosto de 2011

Cream - "The Fresh Cream" (1966)


"Doce e saboroso rock and roll"
Jack Bruce
para a Mellody Maker
em 1966


Se tem uma banda para a qual os termos superbanda ou power-trio se aplicam perfeitamente é o Cream. A formação era 'só', Jack Bruce, Ginger Baker e Eric Clapton . Quer mais? Baker era baterista conceituado e líder do Graham Bond Organisation, banda da qual Jack Bruce, baixista de formação jazz, fazia parte eventualmente, dividindo-se também entre outros projetos. Clapton, que já era Deus, conhecia o baixista dos Bluebreakers e do Powerhouse e convidado por Baker a formar um novo grupo, impôs a convocação de Bruce como condição. A indicação mostrou-se um grande acerto e um grande erro ao mesmo tempo: se por um lado formavam um timaço quase sem precedentes de qualidade, conceituação e técnica, por outro, levava confusão para dentro do grupo, uma vez que Bruce e  Baker, já desde o GBO tinham frequentes desentendimentos sérios, isso sem falar nas drogas e bebidas de Baker e na indisciplina e vaidades do problemático baixista.
Mas como se diz no futebol, o que importa é o que os jogadores faz dentro das quatro linhas e, no estúdio, em "Fresh Cream", seu disco de estreia, a nata do rock and roll mandou ver! Além de estraçalhar com seu baixão potente e apurado, Bruce compôs a maioria das musicas, à exceção dos covers de blues, que ocupam praticamente toda a segunda metade do álbum, e das duas compostas por Baker, "Sweet Wine" em parceria com a esposa de Bruce, e a espetacular "Toad" com seu incrível solo de bateria.
Dos blues, "Rollin' and Trumblin'" de Muddy Waters, "Spoonfull" de Willie Dixon e "Four Until Late" de Robert Johnson formam uma espécie de santíssima-trindade no disco com versões recriadas cheias de energia, além de "I'm So Glad" do blueseiro Skip James, para a qual o Cream deu provavelmente a versão definitiva. Tem ainda o blues de autoria desconhecida, "Cat's Squirrel", que nas mãos da banda ficou bem percussionado e cheio de peso, com destaque especial para a harmônica venenosa de Jack Bruce.
Das composições da banda, sou louco por N.S.U. que inicia com aquela bateria alta meio indígena e logo divide as honras com um baixo pesado e uma levada constante e agressiva de Clapton prenunciando tendências de estilos mais pesados; "Sweet Wine" que repete o barulho também enquadra-se nessa linha das influentes para o metal e afins; "Sleepy Time Time", um blues choroso, embora creditado a Bruce e à esposa Janet, é bem a cara de Clapton e traz toda a técnica do Deus da Guitarra; e a lenta "Dreaming", talvez a 'menos boa', se é que se pode dizer isso, é uma adorável balada num ritmo quase valseado.
Mas a grande música do álbum na minha opinião é mesmo "I Feell Free", um rock-jazz-blues totalmente psicodéleico marcado por uma percussão acelerada carregada nos pratos, com uma condução bem swingada do baixo e um solo notável de Clapton acompanhando os vocais na segunda parte. Fantástica!
Enaltecendo assim as composições de Bruce e o desempenho de Baker, pode parecer que a grande estrela do grupo, Eric Clapton, teria um papel menor na banda. Absolutamente. Pelo contrário. Além de funcionar quase como um líder discreto, com sua segurança técnica e moral, era também uma espécie de fiel-da balança no relacionamento Baker/Bruce e dava algum equilíbrio à banda sobremaneira nos seus primeiros momentos (enquanto ainda era possível). Mas no mais importante, no tocante à parte musical especificamente, sempre que exigido, quando chamado na responsa não deixava pedra sobre pedra proporcionado invariavelmente shows à parte. Isso sem falar que toda a parte de repertorização de pesquisa e resgate do blues passava por ele com as escolhas dos clássicos dos seus mestres inspiradores e as propostas de releituras dos mesmos.
Mas como sabemos, grandes estrelas, grandes gênios juntos não dão certo por muito tempo e o Cream teve um carreira bem breve; com eventuais retornos, é verdade, mas já sem o mesmo valor da fase inicial. Ainda fariam a obra-prima "Disraeli Gears" um ano depois de "Fresh Cream" mas isso, com certeza, é assunto para outro ÁLBUNS FUNDAMENTAIS.
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FAIXAS:
1. "I Feel Free" (Jack Bruce, Pete Brown) 2:53
2. "N.S.U. (Non-Specific Urethritis)" (Jack Bruce) 2:43
3. "Sleepy Time Time" (Jack Bruce, Janet Godfrey) 4:20
4. "Dreaming" (Jack Bruce) 1:58
5. "Sweet Wine" (Ginger Baker, Janet Godfrey) 3:17
6. "Spoonful" (Willie Dixon) 6:30
7. "Cat's Squirrel" (tradicional americana) 3:03
8. "Four Until Late" (Robert Johnson) 2:07
9. "Rollin' and Tumblin" (McKinley Morganfield) 4:42
10. "I'm So Glad" (Skip James) 3:57
11. "Toad" (Ginger Baker) 5:11

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Ouça:
Cream The Fresh Cream


Cly Reis

Um comentário:

  1. Muito bala! Grande Fresh Cream! O disco que fez eu conhecer a banda, porque me impressionava muito ouvir (e assistir eles tocando) I Feel Free naquele vídeo da época que a MTV transformou em clipe. Que máximo aquela bateria, que é praticamente só prato! Um troço muito inovador. E o solo do Clapton eu seguidamente me pego 'cantarolando', de tão marcante que é. E o que aquela versão punk de "Rollin' and Trumblin'"?! Aquela levada rápida do Baker é quase um hardcore. Puxa, e tem "Sleepy Time Time", "Dreamin"... baita disco.
    Dã.

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