"As críticas foram muito divididas,
não ia muita gente aos shows,
mas eu sentia que finalmente
havíamos feito um grande disco."
não ia muita gente aos shows,
mas eu sentia que finalmente
havíamos feito um grande disco."
Robert Smith
Durante muito tempo este foi o disco da minha vida. Hoje em dia tenho que admitir que não é mais "O" disco da minha vida, conheci muitos outros, descobri coisas interessantíssimas de alta qualidade, alto valor técnico, histórico, referencial, etc., mas posso afirmar tranquilamente que ainda é "UM DOS" grandes álbuns da minha discoteca. Naquela época, metade dos anos 80 quando descobri o The Cure, auge da minha fase darkzinha, se tinha um disco traduzia precisamente todo aquele clima e atmosfera era certamente o "Pornography" do The Cure. Um disco denso, pesado, de letras mórbidas, sofridas, sombrias e negativas, muito centralizado nos trabalhos de bateria e com arranjos de guitarra marcantes e bem desenhados. A pessimista "One Hundred Years" ("It doesn't matter if we all die") que abre o disco exemplifica bem isso: uma programação de bateria contínua muito bem desenvolvida com uma guitarra estridente e angustiante como que solando o tempo todo e teclados preenchendo os espaços sufocantemente. "One Hundred Yeras" parece sangrar.
Com uma batida tribal lenta e cansada, a bizarra, surreal e inquietante "Siamese Twins" traz outro trabalho de guitarra notável de Robert Smith em uma interpretação dolorida e agonizante.
'The Figurehead", outra das grandes do álbum tem por sua vez destaque para o baixo de Simon Gallup, numa condução firme, com uma melodia dura, acompanhando uma batida de tons militares de Tolhurst, numa canção que aborda o tema das drogas, tão presente no grupo naquele momento, e os efeitos de estar preso a elas ("I will never be clean again").
"Strange Day", talvez a mais leve do disco também traz outra performance legal de Gallup no baixo, com uma base que lembra muito a de "Charlotte Sometimes"; "A Short Term Effect" vem com uma 'confusão' de guitarras zunindo, dando rastantes, cortando o ar, quase sufocadas pelo som da beteria que parece querer estourar; a gélida "Cold" depois de iniciar com um violoncelo aterrador, explodir numa batida alta e poderosa, se transforma numa suplicante e sombria canção de amor ("Your name like ice into my heart"); e "Hanging Garden", o single do álbum, mostra o perfeito conjunto na proposta do projeto, desde a programação de bateria em rolos contínuos de Tolhurst, ao baixo seguro e preciso de Gallup, e na guitarra aguda e perturbadora de Robert Smith, completada por sua interpretação amedrontadora.
O Cure que sempre deu bons desfechos para seus discos, neste não fez diferente e, se não trata-se de uma grande canção, esta que é o título do álbum, "Pornography", sem dúvida alguma, no mínimo faz com que fiquemos com as sensações de inquietude e angústia vivas mesmo depois que a música barulhenta e claustrofóbica, cheia de ruídos e de diálogos de filmes incompletos e indecifráveis, é interrompida quase que abrupatamente terminando a audição. De deixar sem fôlego.
Certamente até hoje, um dos grandes discos da minha vida.
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- One Hundred Years
- A Short Term Effect
- The Hanging Garden
- Siamese Twins
- The Figurehead
- A Strange Day
- Cold
- Pornography
Ouça:
The Cure Pornography
Cly Reis
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