"Eu atirei num cara em Reno
só pra vê-lo morrer."
Folson Prison Blues
Outro daqueles concertos clássicos da história da música.
Com o ingrediente de este ter sido executado para uma platéia, no mínimo,
inusitada: detentos de uma das mais tradicionais penitenciárias americanas, a
Prisão Estadual de Folson, na Califórnia.
Aquelas duas apresentações de Johnny Cash na casa de detenção, era o
típico do negócio que era bom para os dois lados: para ele, Cash por estar
retomando a carreira e tentando reimpulsioná-la depois de um período de
recuperação das drogas e para os aqueles condenados que teriam um evento, uma
grande atração e sobremaneira alguém com que se identificavam por conta de suas
temáticas marginais, principalmente por causa da canção “Folson Prison Blues”
que sempre suscitara pedidos através de cartas para que o cantor se
apresentasse em presídios. E aquele era o momento certo para fazer um grande
show e recuperar o prestígio.
E não teve erro!
A apresentação foi emocionante, o disco resultante dela, “At Folson Prison” lançado em 1968,
teve êxito e Cash, revigorado, voltava à evidência.
Pra começar o show o Homem de Preto apresentava seu cartão
de visitas com a música que todos ali queriam ouvir, “Folson Prison Blues”, e
com seu carisma, sua voz adoravelmente sinistra e sua levada característica de
violão, cativava aqueles homens enclausurados ali com uma série de músicas
sobre presos, homens simples, dor, solidão, saudades de casa e de suas amadas,
ganhando definitivamente o público para seu lado. “Green, Green Grass of Home”
fala dessa vontade de rever o lar; “Cocaine Blues” sobre um cara que mata a
mulher e acaba exatamente lá, em Folson; e a dramática “The Wall” é sobre o
plano de um interno de chegar até o muro da cadeia para fugir mas já sabendo
que a tentativa seria suicídio. Além disso, fala de trabalhadores como o
solitário e triste mineiro de “Dark as Dungeon”, e na espetacular “The Legend os
John Henry’s Hammer” sobre um funcionário de uma ferrovia que tem que
praticamente disputar o emprego contra uma máquina, com a percussão imitando as
marretadas do operário, numa interessante metáfora sobre o desemprego na
sociedade industrial.
Mas Mr. Cash também é romântico como em “Give My Love To
Rose” na qual divide os vocais com a esposa June Carter; é sentimental em “Send
a Picture of Mother”; mas também faz rir como na hilária “Dirty Old
Egg-Suckin'Dog” ou na trágica, interpretada de maneira irreverente, “25 Minutes
to Go”, com sua contagem regressiva para a forca.
Surpreende a todos encerrando o show com “Greystone
Chappel”, composição de autoria de um dos presos dali, que havia-lhe enviado a
canção meses antes ao saber que o cantor se apresentaria na penitenciária, em
mais um momento emocionante da apresentação.
Depois daquilo era hora de
retornar às celas. A dura realidade voltava a reinar. A diversão havia acabado.
Show lendário de uma das figuras mais importantes da
história da música. Talvez o maior ícone do country-rock de todos os tempos e
um dos músicos mais influentes que já esteve neste planeta. Ali, com o concerto
na prisão de Folson, Johnny Cash se reerguia mais uma vez ressurgindo das
cinzas, mas cairia de novo infelizmente. Levantaria novamente, é verdade, cairia de novo e
seguiria assim, praticamente até o final de sua carreira quando teria a
consagração definitiva e final com a série “Americans” que o faria ter de novo
todo o reconhecimento que sempre mereceu. Mas isso é assunto para outra
resenha.
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1. Folsom Prison Blues
2. Busted*
3. Dark as The Dungeon
4. I Still Miss Someone
5. Cocaine Blues
6. 25 Minutes to Go
7. Orange Blossom Special
8. The Long Black Veil
9. Send a Picture of Mother
10. The Wall
11. Dirty Old Egg-Suckin'Dog
12. Flushed From the Bathroom of Your Heart
13. Joe Bean
14.
15. Give My Love to Rose*
16. I Got Stripes*
17. The Legend of John Henry's Hammer
18. Green, Green Grass of Home
19. Greystone Chapel
*não faziam parte da edição original do álbum, tendo sido acrescentadas no formato CD.
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Ouça:
Emocionante resenha sobre um disco emocionante.
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