"O que eu acho é que uma palavra
pode tornar-se arcaica porque nós
progredimos para o futuro,
de modo que as palavras podem ser redefinidas.
Eu não sou tipo, uma desajeitada com as palavras, você sabe,
uh, eu não pretendo distorcê-las e rasgá-las por capricho.
Mas eu sinto que as palavras podem sobreviver a essa obsolência,
a menos que sejam redefinidas."
Patti Smith sobre o termo "negro"
na canção "Rock'n Roll Nigger"
“Horses”, marco do pré-punk, é
frequentemente apontado com justiça, como o grande
trabalho da cantora norte-americana Patti Smith. É verdade que "Horses" foi um precursor, um disco visionário, mas já lá no
centro dos acontecimentos do punk, no olho do furacão, ali em 1978, em “Easter”, agora agregando o nome da banda, Patti Smith mostrava
toda a energia e a impetuosidade do movimento punk e a estética
sonora daquele momento.
“Easter”, ao mesmo tempo que mais
acessível, mais comercial, é um disco de mais pegada, mais força e
isso particularmente me agrada mais. A primeira faixa, “Till
Victory” já se encarrega de deixar isso muito claro num rock
pungente ; mas é na enérgica “Rock'n Roll Nigger”, que conheci no filme "Assassinos por Natureza", que o
ponto máximo dessa punkice se manifesta. Uma porrada sonora e
temática com Patti Smith quase berrando em alguns momentos, e
despejando uma controversa letra sobre o que é ser um “nigger”,
termo para ela mais abrangente do que meramente uma distinção
racial.
Mas apesar da força do álbum, não
pode-se deixar de lado as baladas, especialmente a delicada faixa que
dá nome ao disco, “Easter”; a bela "We Three"; e mais ainda a lindíssima e
apaixonada “Because the Night”, composta em parceria com Bruce Springsteen, que particularmente, só fui saber há pouco tempo que era dela, pois só conhecia a ótima versão dos 10.000 Maniacs, e se a interpretação de Natalie Merchant na cover já era interessantíssima a original de Patti Smith só ganha mais valor.
Destaque também para "Space Monkey", composta com Tom Verlaine do Television; a ótima "Privilege"; e para a dobradinha punk, emendada, sem intervalo, de transição quase imperceptível, "25th. Floor" e "High On Rebelion" .
Agressivo, sujo, poético, doce, pop,
herético, apaixonado, polêmico... De tudo um pouco. Se “Horses”,
experimental, inovador, ousado, é a porta de entrada, “Easter”, é o pé na porta.
********************
FAIXAS:
- “Till Victory” – 2:45
- “Space Monkey” (Smith, Ivan Kral, Tom Verlaine) – 4:04
- “Because the Night” (Smith, Bruce Springsteen) – 3:32
- “Ghost Dance” – 4:40
- “Babelogue” (Smith) – 1:25
- “Rock N Roll Nigger” – 3:13
- “Privilege (Set Me Free)” (Mel London, Mike Leander, Psalm 23) – 3:27
- “We Three” (Smith) – 4:19
- “25th Floor” (Smith, Kral) – 4:01
- “High on Rebellion” (Smith) – 2:37
- “Easter” (Smith, Jay Dee Daugherty) – 6:15
*******************
Ouça:
Cly Reis
Nenhum comentário:
Postar um comentário