"(...) As gravadoras não tem a menor ideia
do que o Cure faz
e do que a banda significa."
Robert Smith
Eu juro que, como fã, queria ter gostado de "Nunca é o Bastante: A História do The Cure" do jornalista australiano Jeff Apter, mas o livro é um trabalho sem alma, sem paixão. Talvez "excessivamente" jornalístico, em muitos momentos, parece um mero relatório de números e datas com a dolorosa finalidade de em algum momento chegar ao final. Embora seja inegável o trabalho, a investigação, parece haver uma certa ausência de envolvimento do autor com o tema o que acho estranho para alguém que se proponha a fazer uma biografia de um artista ou banda. Jeff Apter parece um biógrafo profissional que escreve sobre artistas e não um fã que escreve biografias de bandas que considere que mereçam ter sua história contada.
Não sei, sinceramente o quanto o senhor Apter é ou julga-se fã do The Cure mas a sensação que dá é que ele não é lá muito admirador ou, se é, faz como aquele tipo de comentarista esportivo que, conhecido seu clube do coração, quando comenta sobre ele, a fim de alicerçar credibilidade, põe defeitos ou vê marcações a favor do adversário. Jeff Apter por várias vezes dentro do livro deprecia canções, desvaloriza instrumentistas, subvaloriza feitos e desmensura importância e qualidade de álbuns. Dedica pouca atenção à construção, concepção, idealização dos álbuns e é muito básico na descrição da parte técnica das canções, e quando o faz, a meu ver, o faz tão equivocadamente a ponto do fã perguntar-se, "ele está falando da mesma música que eu estou pensando?". Gasta muita tinta com bebedeiras e números de turnê quando poderia estar concentrando esforços em coisas mais relevantes.
Mas tenho que admitir que, de qualquer forma, o livro cumpre com a sua proposta, de contar a história da banda e não há como negar que o produto envolveu um belo esforço, contatos, pesquisa e pedras pelo caminho. Como méritos do livro devo apontar o fato de dar a real dimensão do problema de Lol Tolhurst com a bebida e explicar definitivamente sua inviabilidade na banda; de revelar os motivos pelos quais "Wild Mood Swings" é um álbum tão ruim e o quão equivocadas foram as decisões em torno dele; revelar, não raramente, inconsistência de declarações de Robert Smith sobre sua obra; confirmar o quanto cada um dos discos da trilogia sagrada do Cure, "Pornography", "Disintegration" e "Bloodflowers" são importantes desde sua concepção, inclusive para o próprio Robert Smith; e mostrar o quão perto o Cure esteve, efetivamente, várias vezes, à beira do fim.
No mais, parabéns pela pesquisa, pelo interesse, pelo esforço mas, infelizmente, não foi o bastante.
Cly Reis
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