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sábado, 11 de maio de 2019

"Karatê Kid", de John G. Avildsen (1984) vs. "Karatê kid", de Harald Zwart (2010)


Há pouco tempo atrás, surgiu na Internet uma montagem com o filme "Karatê Kid", de 1984, que revelava que, na verdade o protagonista, Daniel Larusso, objeto de nossa simpatia e comiseração, seria um filha-da-puta, um vitimista e grandessíssimo manipulador. Quando, exercendo seu melhor papel de vitiminha, convence o velho Miyagi a interceder por ele na academia dos Kobra-Kai; quando desconfia da namoradinha, Ali, a acusa injustamente e depois percebendo a mancada, vai lá com cara de cachorro-que-lambeu-banha, querer ficar numa boa como se nada tivesse acontecido; quando se aproveita do acordo de trégua para provocar os desafetos no patio da escola, e usa a presença de um professor para 'afugentar' os garotos; quando os caras estão na deles na festa à fantasia e ele vai lá e joga água no rival que está fumando unzinho em uma das cabines do banheiro... Enfim, revela um caraterzinho pra lá de duvidoso.

Daniel, herói ou vilão de "Karatê Kid"?

O vídeo em questão foi uma brincadeira, por certo de algum fã do filme, mas não deixava de ter um fundo de razão. Se formos analisar bem a personalidade de Daniel, o cara é uma mala! Ao contrário  do novo aprendiz de artes marciais, o jovem Dre, interpretado pelo filho de Will Smith, Jaden Smith,  na refilmagem de 2010, muito mais ético em suas atitudes e autêntico em suas reivindicações do que o mocinho lá  de 1984.
Mas nem os defeitos de caráter do nosso herói são o suficiente para desbancar o velho "Karatê Kid" se comparado à sua refilmagem que não é ruim, não. Tem seus méritos, não é um mau filme. Longe disso! Algumas situações gozam de maior verossimilhança e confiabilidade na nova versão do que na velha, como, por exemplo, insatisfação do garoto com a mudança da mãe, para a qual ele inevitavelmente é obrigado a ir junto, que é muito mais pertinente no remake, por se tratar de um outro país (China) com uma cultura totalmente diferente, do que no antigo em que, por mais problemas de distância e adaptação devam ser admitidos e considerados, a mudança se dava dentro do próprio país e para um lugar, em tese, mais aprazível (de New Jersey para a Califórnia). Por outro lado, o treinamento do garoto, que, se já era bem caricatural na primeira versão com os trabalhos cotidianos como pintar, cerca, lixar piso, lavar carros, etc., fica praticamente inaceitável com o tal de "veste-o-casaco", "tira-o-casaco" imposto pelo treinador do novo filme. Aliás, salvo problemas como este do casaco, a interpretação de Jackie Chan como Sr. Han é outro ponto positivo do filme, no papel do zelador que treina Dre para enfrentar os valentões que o importunam. Contudo, embora destacado, Chan não tem como superar o carismático Noriyuki "Pat" Morita, o eterno senhor Miyagi, com seu folclórico treinamento e seu ar inabalável. E a propósito de treinamento, o golpe final de Karatê Kid, que, apesar da previsibilidade da execução no filme de 1984, tornou-se lendário no imaginário dos amantes da Sétima Arte, na refilmagem, é tão exagerado, estapafúrdio, com voltas, reviravoltas, cambalhota, giro e sei lá o que mais, que chega a cair no ridículo e, tentando valorizar um dos grandes momentos do filme original, acaba, pelo contrário, pecando e depreciando o seu produto final.
"Karatê Kid" ('84) ganha! Faz 3x 1. Mas é aquele placar meio enganoso, tipo, abriu 2x0 no primeiro tempo, tomou um golzinho no início da segunda etapa, levou uma pressãozinha, teve que segurar as pontas, mas lá pelos 30 do segundo tempo, meteu o terceiro e sacramentou a fatura. Vitória mais na camiseta do que na bola, até porque o original, apesar de inegavelmente tratar-se de um dos novos clássicos do cinema, não é lá tudo isso, também.

Ambos os golpes são inverossímeis, improváveis, inaceitáveis,
fantasiosos, beirando ao ridículo, mas não há como negar que
o do Daniel-San, no original, é um clássico.

Daniel-San se posiciona na posição da garça, troca o pé de apoio e acerta um chute certeiro no quengo do filho do Will Smith que vai à lona. E não adianta nem chamar o papai.
Vitória do verdadeiro karatê (até porque a refilmagem nem de karatê é. É de kung fu.)




Cly Reis

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