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quinta-feira, 4 de junho de 2020

"Os Miseráveis", de Ladj Ly (2019)



Toda violência gera um pouco de tensão e essa obra, "Os Miseráveis", é carregada disso: tensão!

Stéphane (Damien Bonnard) é um jovem que acaba de se mudar para Montfermeil e se junta ao esquadrão anti-crime da comuna. Colocado no mesmo time de Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djibril Zonga), dois homens de métodos pouco convencionais, ele logo se vê envolvido na tensão entre as diferentes gangues do local.

Com um ar bem documental, “Os Miseráveis” se torna bem realista, e nos coloca nas ruas juntamente com os personagens em suas ações poiciais. Embora esse clima de tensão seja aquilo de que mais gostei no longa, em alguns momentos ele parece tentar ser documental demais usando, por exemplo, câmera na mão em momentos frenéticos e o resultado é que o espectador acaba ficando um tanto perdido na cena. Fica tudo muito perto, a câmera fica tremendo tanto que chega a dar até tontura.

Policial bom, policial mau e tudo misturado.
O filme é mais um trabalho que se destaca pelo teor crítico. Ele consegue nos passar um visão bem direta dos problemas sócias da periferia de Paris, apresentando os problemas das diferenças de etnias, de religiões, de gangues e seus conflitos constantes, o que é agravado, como se não bastasse tudo acontecer numa zona muito pobre, pelo fato de contar também com uma polícia extremamente violenta. "Os Miseráveis" mostra que Paris, não é apenas cidade luz e dos casais apaixonados, ela também tem o lado preto, pobre e oprimido (infelizmente, como a maioria dos lugares).

Achei fantástica a escolha do diretor em não deixar os personagens unidimensionais. (Eu falo bastante sobre isso né?). Temos, sim, um pouco da mecânica do policial bom e o policial mau, mas a linha entre dois e muito estreita. O que é mau usa violência, o medo, mas com objetivo de manter uma certa ordem e harmonia no bairro, respeitando as lideranças locais. O que é bom tenta resolver tudo no diálogo, mas quando vê seus colegas usando a força, não se opõe totalmente e certas vezes demonstra uma passividade que de certa forma pode ser traduzido como um consentimento.

Há muita coragem no filme, isso não se pode negar, assim como tem muita força, mas em às vezes essa força parece ser até excessiva, o que torna, a propósito, a sequência final um pouco confusa. Não chega a estragar o filme mas inegavelmente prejudica seu melhor desenvolvimento. Gosto de como o diretor, Ladj Li mostra a “verdadeira identidade francesa, com o povo todo junto, vibrando, com a final da Copa do Mundo de 2018, quando sua câmera vem como se desse um zoom, ao longo do filme, mostrando detalhes com seu enredo, expondo seu olhar como um drone sobrevoando a sociedade, evidenciando que se você olhar de perto, não existe essa união. A realidade é outra: polícia autoritária e violenta, misoginia, jovens negros marginalizados.
Isso é o Bra...ops,... a França.

A juventude parisiense em mais uma de suas diversas lutas diárias.


 

 por Vagner Rodrigues

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