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quinta-feira, 19 de novembro de 2020

"Matthias & Maxime", de Xavier Dolan (2019)

 



Que filme bem pé chão, para se assistir de boa. Quase faz você se sentir dentro das festas do grupo de amigos do filme, rindo, se constrangendo, ficando com raiva e sentindo a tensão no ar.  Dolan, diminui um pouco sua empolgação em querer mostrar que sabe muito de cinema e volta ao “comum” (mesmo tento alguns “dolanismos” no longa), e que bom que ele faz isso.

"Matthias e Maxime" são amigos de longa data cujo relacionamento é testado quando atuam em um curta-metragem cujo roteiro exige que eles se beijem o que acaba fazendo com que ambos questionam suas identidades sexuais quando a experiência desperta sentimentos há muito adormecidos de um pelo outro.

Eu não acho correto dizer; “Que filmes de Dolan não são para todo mundo”, porque qualquer filme, por melhor ou pior que seja, pode servir para qualquer pessoa, mas que Dolan tenta impor uma linguagem mais poética, rebuscada, "artística” em sua obra, isso não se pode negar. Sabe o aluno mais inteligente da sala, que sempre quer ir no quadro responder as questões dos Professores, para mostrar que sabe da matéria? Esse e Xavier Dolan. Temos bons personagens que são muito bem apresentados. Apenas achei as questões familiares de Max pouco proveitosas. Se por um lado nos passa mais empatia com em relação ao personagem, por outro, são de pouco gsnho para a evolução do filme. A relação com a mãe e com o irmão, acaba tendo muito tempo de tela, e, no entanto, nada é resolvido.

As atuações não são espetaculares mas são bastante naturais e sentimos a energia do grupo de amigos. As cenas, muito bem dirigidas, nos colocam, muitas vezes, dentro das festas como se fossemos mais um dos membros do grupo. Mesmo com seus exageros, não tem como não exaltar a competente direção de Dolan. Seus enquadramentos são muito bem pensados e dialogam muito bem com a narrativa. Na maioria dos enquadramentos em que temos Max e Matt em cena juntos, há algo, objeto ou pessoa, entre os dois, mostrando, não somente com o texto mas também com a imagem, como é difícil para os dois ficarem juntos, por mais próximos que estejam. Até mesmo na principal cena, a do beijo, a câmera fica entre os dois.

Perto, porém longe.

Parece simples o longa mas não é.  Somos “enganados” pela naturalidade do filme, por seu texto ser simples e direto, mas é um cinema muito bem feito. Texto e imagem em uma união perfeita. A abordagem sobre a sexualidade e os sentimentos que os rapazes sentem um pelo outro é bem desenvolvida,  a relação tem crescimento e Dolan não tem pressa em acelerar as coisas. E o melhor: tendo a temática LGBTQ, o longa não termina numa tragédia, ninguém morre ou sofre grave acidente, como de clichê de  diversos longas nessa temática. O “problema” aqui é interno. É o saber de si.

Quando chegamos na fase saindo da adolescência, entrando na fase adulta, o mundo cobra muito para que já tenhamos tomado todas as decisões na vida, com o futuro completamente traçado, mas sabemos que não é assim, ainda mais quando nem conhecemos a nós mesmos direito. Confuso, não é? Dolan consegue fazer muito bem um recorte dessa época da vida onde não basta você se aceitar, ainda ter que lutar para ter aceitação da sociedade e de viver em padrões definidos. É complicado isso mas é fundamental para sua felicidade e o primeiro passo é se aceitar do seu jeito. O mundo que lute.

Uma bela direção de arte.
(Obs: Tem uma personagem no filme que pode ser vista como uma autocritica do diretor,
 ou ele apenas está tirando sarro da visão que os críticos de cinema tem dele)



por Vagner Rodrigues


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