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segunda-feira, 30 de março de 2009

"Entre os muros da escola", de Laurent Cantet (2008)



Fui assistir ontem ao filme “Entre os muros da escola”, premiado na edição 2008 do Festival de Cannes com a Palma de Ouro. Já vi grandes filmes que receberam esta premiação e vi também outros que me passaram a impressão de que o prêmio fora “muita areia para o caminhãozinho” daquela obra. Acho que nunca vi um Palma de Ouro terrível. Vi alguns contestáveis como “Yol” ou “A enguia”, só para citar alguns, e este “Entre os muros da escola” acho que se esquadra nesta categoria.
Tem lá seus méritos, uma boa intenção, mas me parece que o ingrediente CINEMA fica para trás. Pois vejamos, então: o filme na maior parte do tempo se passa dentro de uma sala de aula com situações corriqueiras do dia-a-dia de uma escola pública (a minha surpresa ficou na verdade por conta de que em uma escola pública francesa, a situação fosse tão parecida com as brasileiras). Mas até aí não é mérito nem demérito. O problema que eu vejo, enquanto filme, é que estas cenas de sala de aula, praticamente não tem nada de especial e as vendo repetidamente o filme fica desgastante e cansativo.
É como se uma sala de aula de uma escola brasileira tivesse um circuito interno e assistíssemos a situações cotidianas de deficiência de aprendizado, indisciplina, desinteresse e comportamento, só que o diretor transforma estas situações em uma longa mas com pouco arrojo cinematográfico.
Pode-se argumentar que um espaço restrito como uma sala de aula não permite arroubos nem ousadias e é verdade mas pode ter cortes mais bem articulados, captação de emoções nos rostos, entre outros recursos que, mesmo quando aparecem, são um tanto mal explorados. Pode-se também argumentar que o enfoque, a ênfase do filme reside nos dilemas, conflitos, temas levantados, o ensino, a diversidade cultural, etc., mas colocado de maneira tão superficial não sei se atende ao que se propõe.
Da maneira como foi filmado e com os temas tão crus, fica parecendo meramente um documentário. E quando digo crus, não reclamo pelo fato de serem temas eventualmente polêmicos, fortes, relevantes ou impactantes. Os classifico assim exatamente porque são pouco aprofundados. Não precisa-se fazer uma dissertação sobre cada um deles, mas se não os leva um pouco adiante, fica um pouco vazio.
As questões extraclasse que influem no rendimento, no aprendizado, no comportamento dos alunos, os sinais dos tempos, os hábitos e as personalidades dos indivíduos tudo isso tem seu valor no filme, seu valor humano e seu valor de análise, assim como é um barato e até um espelho o fato de remeter à nossa época de escola (principalmente para quem como eu estudou em escola pública). Só fico com a impressão de que é um FILME superestimado e que mesmo com o mérito de levar-nos à constatação inevitável, que a situação em uma escola pública de um país desenvolvido de primeiro-mundo é muito parecida com a daqui, e provavelmente com a de vários outros lugares do mundo, não vejo isto como sendo suficiente para sustentar o filme.


Cly Reis

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