"Meu irmão, vem pra cá porque pintou uma música que eu acho que não poderemos deixar pra depois".
Roberto ligando para o parceiro Erasmo depois de ter feitos os primeiros versos de "Detalhes"
Hoje completando 70 anos, pode-se dizer que o Rei voltou à moda. não que em algum momento tenha deixado de estar. Não! Pelo contrário. Roberto Carlos é provavelmente um dos casos raros de inabalável longevidade e permanência de notoriedade e carinho público. Mas digo que está em voga de novo por causa dessa coisa toda de homenagem de escola de samba, CD gravado por divas da MPB, de show épico no Maracanã, show pra milhões de pessoas na praia, suposta namoradinha bem mais nova..., etc. Embora nunca esquecido, é verdade, pode-se afirmar contudo que poucas vezes nos últimos tempos foi tão badalado. Mas todo este reconhecimento de sua obra e carreira, que parece ter sido despertado, efetivamente, com a presente exposição, não é sem justiça. Ainda que, claramente, tenha apresentado um decréscimo na qualidade de sua obra nos últimos anos, com um apelo excessivamente popular e mirando grupos específicos como baixinhas, gordinhas,mulheres de óculos, etc., o conjunto de seu trabalho é inegavelmente valoroso e importantíssimo para a música popular brasileira. Mesmo com estas variações de nuances e ênfases na carreira, conseguiu atingir com a mesma intensidade diferentes gerações e diferenciados públicos, passando pelo romântico, pelo rock, pelo religioso, pelo soul, pelo brega, sem nunca perder a majestade.
Numa carreira tão vasta e com uma discografia tão ampla, coisas pra destacar é que não faltam em qualquer uma das fases, mas escolho aqui, "Roberto Carlos" de 1971, por ser um dos discos que, além de apresentar uma boa variação dos elementos que compõe a obra de RC, o romântico, o soul, o brega, o cancioneiro, o gospel, o rythm'n blues; é até hoje um dos seus trabalhos de maior sucesso.
O disco é um daqueles definitivos onde praticamente todas as músicas são clássicos e várias foram pras paradas de sucesso.
Abre com uma das mais marcantes do Rei e uma de suas mais populares: a apaixonada e triste "Detalhes", que transformou-se praticamente em sinônimo de canção romântica na música brasileira. Traz a ótima "Como Dois e Dois", com sua levada meio blues, de autoria de Caetano Veloso a quem, a propósito, é dedicada outra das grandes do disco, "Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos", feita por conta do exílio do cantor baiano fora do país. "Todos estão Surdos", mesmo com tema religioso, que poderia fazê-la tornar-se enfadonha, é uma das melhores da carreira de Roberto Carlos, num soul ousado, meio gospel, cantado (falado) meio à moda rap antecipando alguma coisa do estilo em nível de música brasileira. Tem ainda a interessante "I Love You", na qual Roberto arrisca uma voz diferente, num ritmo mais alegre e descontraído e fecha com "Amada Amante", meio brega, é verdade, mas inegavelmente outro dos marcos da música romântica nacional e da carreira do Rei, onde o cara solta todo seu mel numa letra sensual e provocante.
Infelizmente, ainda que valorosas, músicas como "Detalhes" e "Amada Amante"começaram a abrir caminho para o rumo que Roberto viria a tomar mais ou menos daquele momento em diante até chegar a álbuns repetitivos e especiais chatos de fim de ano da Globo, mas não há como negar que este, nesta fase de transição, ainda é um baita de um disco e sobretudo não há como refutar a importância do Rei para a música brasileira. Eternamente Majestade.
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FAIXAS:
1.Detalhes
2.Como Dois E Dois
3.A Namorada
4.Você Não Sabe o Que Vai Perder
5.Traumas
6.Eu Só Tenho Um Caminho
7.Todos Estão Surdos
8.Debaixo dos Caracóis dos seus Cabelos
9.Se Eu Partir
10.I Love You
11.De Tanto Amor
12.Amada, Amante
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Ouça:
Roberto Carlos 1971
Cly Reis
Não considero este como o melhor disco do Roberto Carlos (o de 1977 para mim é o melhor do Rei), mas seu disco de 1971 é um dos melhores de sua discografia e marcam o começo de uma nova fase de sua carreira. Apenas isso!
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