“Mas se essas calçadas [de Nova Iorque] parecerem um pouco
mais familiares agora, é porque Lou mostrou-nos tudo ao redor delas há muito
tempo atrás, dando rostos humanos a todos os habitantes das trevas.”
Michael
Hill,
jornalista,
jornalista,
no texto do encarte da
reedição de 30 anos do álbum
“Transformer” é
de certa forma um álbum escuro, um álbum sombrio, que mostra o lado B do mundo,
das pessoas , das ruas. As drogas, a prostituição, as perversões, a solidão, de
certo modo permeiam todo o desenvolvimento desta obra do ex-Velvet Underground, Lou Reed. Produzido por David Bowie e por Mick Ronson, “Transfromer”, de 1972, é um
dos exemplares mais significativos das constantes contribuições entre Bowie e
outros artistas, sobremaneira, das que se seguiriam, na chamada ‘fase
berlinense’, com Brian Eno e Iggy Pop.
A clássica “Walk on the WildSide” com seu baixo insinuante,
seu clima cool e seu charmoso
trumpete, exprime perfeitamente todo esse universo com putas de esquina,
cafetões agressivos, garotos vendendo drogas e mentes desajustadas. Outras complementam
o conceito underground como a ótima e um tanto sadomasoquista, “Vicious” de
fraseado marcante de guitarra; a embalada e gostosa “Hangin’ Round”, uma trilha
para vidas confusas; e a transformação de uma garota para a ‘noite de trabalho’
em “Make Up”.
Na teatral “New York Telephone Conversation”, Reed
praticamente recita a letra sob um acompanhamento de piano numa exposição sobre
a cidade e seus habitantes como um todo; a adorável “Satellite of Love” é um
pouco mais iluminada com seu belo coro feminino do final; “Wagon Wheel” é o
típico rock loureediano, básico e objetivo ao passo que “I’m So Free” tem a
cara do produtor, Bowie; “Goonight Ladies” com sua tuba engraçada é um perfeita
despedida para aquelas damas da noite que Reed refere-se o tempo inteiro e um
final perfeito para o disco, no fim das contas.
Mas em contraste com toda o clima pesado do temas, do disco,
dos tipos, das vidas, das amarguras, minha principal lembrança deste disco
sempre remete a um dia de sol em que estava em
Veneza e entrei em uma loja de
vidros de Murano e a atendente, uma bela jovem loura, ouvia música em um pequeno
discman. Logo percebi que era Lou Reed mas por um momento não identifiquei a
música, até que me veio. Próximo ao balcão como estava, comentei simplesmente,
“’Perfect Day’...”, ao que a balconista sorriu e respondeu em inglês “É, você
gosta?”. “Adoro”, respondi. É do álbum...” - interrompi tentando sinceramente
buscar na memória a informação que naquele momento me falhava - “...’Transformer’”, completei lembrando
finalmente, ao que ela confirmou novamente em inglês “yeah!”, seguido por outro
gracioso sorriso.
Não continuei nenhuma conversa, acho que não quis
sacrificá-la com meu inglês sofrível e sequer me aventurei no italiano.
Compramos algumas coisas, saímos do loja e nos metemos afora pelas vielas de
Veneza novamente. Era um belo dia de sol, um
belo dia para se andar em
Veneza .
Um dia perfeito.
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FAIXAS:
2- Andy's Chest
3- Perfect Day
4- Hangin' 'Round
5- Walk on the Wild Side
6- Make Up
7- Satellite of Love
8- Wagon Wheel
9- New York Telephone Conversation
10- I'm So Free
11- Goodnight Ladies
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Ouça:
Tava com Vicious hoje na cabeça e cheguei a escutar. Que legal, baita disco.
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