"Eu quero te fuder como um animal
Eu quero te sentir por dentro
Eu quero te fuder como um animal
Minha existência toda é defeituosa
Você me deixa mais perto de Deus"
refrão de "Closer"
As pancadas de um espancamento que vão-se acelerando até se
incorporarem à batida de “Mr. Self Destruction”, música que dá início ao disco “The Downward Spiral” (1994), servem de
aviso para prevenir que o que virá a partir de então é uma pancadaria total.
Aliás, o próprio nome desta primeira faixa também é muito sintomático e
anunciatório sobre o teor e conteúdo da obra: as letras dolorosas,
desesperadas, inconsequentes, desesperançosas afiançam, sem esforço, a
auto-destruição anunciada por Trent Raznor.
Sob atmosferas de caos sonoro, peso absurdo, guitarras
distorcidas ao extremo, torrentes de ruídos e efeitos, Trent Raznor, o “Homem-NIN” visita estilos como o hip-hop, o dance, o gótico, o punk sem em
momento algum deixar de ser impactante, inquietante, perturbador.
A mencionada “Mr. Self Destruction” é uma sinfonia do caos
com suas guitarras barulhentas juntando-se ao que parece ser todos os efeitos
e ruídos de estúdio possíveis que alguém conseguisse produzir, até explodir em
êxtases infernais. “Piggy”, cuja inspiração, o assassinato de Sharon Tate pelo grupo fanático de Charles Manson, já pode ser considerada no mínimo sinistra , gravada inclusive, como
todo o restante do álbum, na casa onde o crime aconteceu,
é lenta, às vezes quase sussurrada, mas ao final irrompe em evoluções ensandecidas
de bateria, num solo primoroso e inspirado do próprio Trent.
“Ruiner” abre com um batidão rap mas logo ganha contornos
naturalmente furiosos com um refrão impiedosamente gritado, extraído do ponto
mais fundo de sua garganta. A acelerada “March of Pigs” impressiona pela
selvageria e pelo seu tempo de bateria completamente inusitado, ao passo que o
hit “Closer”, com seu ritmo compassado e bases eletrônicas variadas, quase
choca pela agressividade da letra pervertida, sádica, masoquista e explícita.
O caráter predominantemente eletrônico de “The Becoming”
talvez esconda o primor da composição extremamente elaborada e bem arranjada, mostrando
toda a capacidade de um músico de formação clássica que faz barulho porque quer
e não porque não sabe fazer música, como muitas vezes se pensa de roqueiros.
Introduzida por sons de um elevador, “Reptile” é um exemplar bem característico
do chamado metal industrial, numa composição inteligente fundindo peso, tecnologia e ritmo. Outra nesta linha, cheia de sons mecânicos, ruídos, barulhos estranhos e maquinários, é a do título do disco, "The Downward Spiral", uma peça bem experimental que remete ao solo de piano do final de "Closer" e, de certa forma ao violão de "Hurt".
Outra que merece referência especial é “I Do Not Want This” com seus loops de
bateria interessantíssimos, muito bem elaborada, evoluindo e culminando em outro final ensurdecedor, numa fusão aterradora de efeitos, guitarras e ruídos como o NIN, acima de qualquer outro, é especialista em fazer. Ainda temos “Big Man With a Gun” insana, gritada,
frenética, selvagem; a ótima instrumental, “A Warm Place”, que é um pequeno oásis de tranquilidade em meio ao apocalipse; “Eraser”,
muitíssimo bem construída; e a já clássica, “Hurt”, que viria a ser imortalizada
anos depois por Johnny Cash, fechando o disco sussurrada entre o som de um
piano e o barulho do vento, numa canção lamentosa e dolorida.
Se o Nine
Inch Nails já tinha produzido o
melhor exemplar de música industrial com o EP "Broken"
, neste álbum, “The Downward Spiral”, aprimorava então a fórmula e apresentava
um trabalho mais completo, encorpado e definidor. Aquilo era o tamanho do
potencial de Trent Raznor, aquilo era o melhor do industrial e, sobretudo,
aquilo era definitivamente Nine Inch Nails.
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FAIXAS:
- "Mr. Self Destruct" - 4:30
- "Piggy" - 4:24
- "Heresy" - 3:54
- "March of the Pigs" - 2:58
- "Closer" - 6:13
- "Ruiner" - 4:58
- "The Becoming" - 5:31
- "I Do Not Want This" - 5:41
- "Big Man With a Gun" - 1:36
- "A Warm Place" - 3:22
- "Eraser" - 4:54
- "Reptile" - 6:51
- "The Downward Spiral" - 3:57
- "Hurt" - 6:13
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Ouça:
NIN The Downward Spiral
Adoro esse disco.
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