Ganhei
de presente de minha amada Leocádia Costa o último CD do projeto
Partimpim, de Adriana Calcanhoto: o “Partimpim Tlês” (isso
mesmo, três com “L”, bem queridinho e infantil). Como esperado,
um encanto de disco. Assim como os dois primeiros, o já fundamental
“Adriana Partimpim”, de 2004, e “Partimpim 2”, lançado
somente cinco anos depois, o novo da série traz canções infantis
(ou não) para crianças (ou não) com muita poesia e numa roupagem
ao mesmo tempo lúdica e arrojada, tendo em vista os arranjos
primorosos que vão do intimismo à vanguarda.
Tudo é muito
artesanal, mas não que se exima de usar toda uma parafernália
tecnológica e uma produção caprichadíssima. A banda, por exemplo,
conta com nada menos que craques como Kassin, Moreno Veloso, Domenico
e Berna Ceppas. Enfim, um projeto que já dura nove anos e que tem
como diferencial não subestimar a inteligência dos pequenos. A
instrumentação rebuscada, o primor das harmonias, o alto nível dos
autores e parceiros (que vão desde Augusto de Campos e Ferreira
Gullar até Péricles Cavalcanti e Arnaldo Antunes, tudo mostra o
quanto este público merece, sim, não só Xuxa ou coisa pior.
Mas o disco? Repleto de pérolas do cancioneiro infantil ou, melhor ainda, identificadas com muita sensibilidade por Adriana como sendo também música que criança pode ouvir. Por que não? É o caso da sacada de “Taj Mahal”, de Jorge Ben compositor cujas letras, de fato, sempre tiveram um quê de infantil. Também é o que acontece com a ecológica “Passaredo”, de Chico Buarque e Francis Hime, e a mais surpreendente e brilhante delas: “Lindo Lago do Amor”, hit de Gonzaguinha nos anos 80 mas que nunca havia sido identificada como podendo ser também para os pequenos ouvintes. Tem ainda, ao contrário do primeiro da série, que só continha músicas de outros compositores, canções próprias de Adriana – tal como já ocorrera a partir do segundo volume. Destas, “Salada Russa”, parceria com Paula Toller, é um verdadeiro barato com sua letra inteligente que brinca com divertidas e inteligentes antífrases (despertando, inclusive, a curiosidade nas crianças sobre as figuras de linguagem).
Das
inéditas, também tem a graciosa “Criança Crionça”, do poeta
concretista Augusto de Campos e seu filho, o compositor Cid Campos –
que conta com a participação especialíssima nos créditos do
ronronar da gatinha de Adriana, a Sofia; a poética e etérea “Por
que os Peixes Falam Francês?”; e a fofa canção-de-ninar “Também
Vocês”, feita, como diz na dedicatória, para Lucinda Verissimo
cantar para seu avô (Luís Fernando Veríssimo).
Destaques ainda para “De Onde Vem o Baião”, de Gilberto Gil (feita originalmente para Gal Costa que a gravou em 1978), e o clássico da bossa-nova “O Pato”, que há tempos estava caindo de maduro para Adriana gravar no Patimpim.
O CD desfecha em tom leve e quase “soninho” com Dorival Caymmi e sua “Acalanto”, autor que também mereceu outra homenagem com a maravilhosa “Tia Nastácia”, feita originalmente para a trilha sonora do Sítio do Pica-Pau Amarelo da Globo, nos anos 70. Esse é o melhor exemplo de que Adriana Calcanhoto, que assumiu o sobrenome Partimpim até nos créditos, pegou pra si a responsabilidade de seguir adiante com a tradição de trilhas para criança inteligentes como se fizera tempo atrás em obras referenciais como "Plunct Plact Zum!!!", “O Grande Circo Místico” ou “Arca de Noé” mas que, em tempos de progressiva imbecilidade da sociedade, vinha se estabelecendo. Ainda bem que a Adriana (a Partimpim!) está aqui para salvar a nós e à criançada. Longa vida a Adriana, seja a Partimpim ou a Calcanhoto.
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por Daniel Rodrigues
Lindo texto,mas ''O Grande Circo Místico'' seria para criança?
ResponderExcluirEu sempre imaginei a música ''Quero'',gravada por Elis Regina em ''Falso Brilhante'',como sendo música-infantil,a Adriana devia ter regravado para esse seu projeto.
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