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domingo, 21 de abril de 2013

cotidianas #217 - Figura de Pensamento


Litotes era uma metonímia muito graciosa. Na flor da idade, começava a despertar interesse dos oxímoros. Assim, sua mãe, Dona Antonomásia, não deveria ter-se surpreendido tanto com um pedido para ceder a mão da filha, como foi aquele que recebera naquele final de tarde, afora pelo fato de ter vindo de quem viera.

Sr. Assíndeto era um homem que embora muito considerado, tido como um anacoluto, uma espécie de zeugma na cidade, via pairarem sobre ele, por conta de seus pleonasmos, maldosas metalepses acerca de um certo eufemismo, o que lhe garantia uma certa má reputação nas elipses sociais.

Contudo, Dona Antonomásia, que criara sozinha a filha desde a catacrese do marido, o saudoso Sinédoque, recebeu com boas alegorias o circunlóquio, afinal o anacoluto Sr. Assíndeto era praticamente um hipérbato, sem falar em sua gradação de posses e bens. Não cria nas cacofonias do povo, por certo eram onomatopeias como sempre. Imaginem um epizeuxes como aquele homem se teria essas... ambiguidades. Certamente a filha ficaria bem, e de mais a mais, garantiria seu futuro.

Deu então sua assonância à aliteração dos dois. A diácope deu-se na paradoxa metropolitana, alguns meses depois com grande sinestesia.

Pouco tempo depois veio a público que o Sr. Assíndeto sofria de uma séria anadiplose. Dizia-se irreversível. Seus disfemismos, tão maldosamente comentados por todos, deviam-se na verdade aos efeitos já avançados da metáfora que o consumia aos poucos. Resolveu então retirar-se com Litotes para um lugar mais tranquilo, um sítio que tinha na cidadezinha de Silepse, no interior do estado, onde meses depois veio a acontecer sua catacrese, deixando toda sua generosa hipálage para a jovem viúva.


Cly Reis

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