introdução de
"Vida Bandida"
"Vida Bandida"
O senhor João Luiz Woerdenbag, mais
conhecido como Lobão, é um grandessíssimo babaca!
"Ah, mas..."
Não. Não tem, "ah, mas".
É um idiota que costumeiramente liga
uma metralhadora giratória atirando no que está por perto, no que está no seu caminho, no que está quieto, no que não
lhe diz respeito, no que não valeria a pena disparar, ou até no que ele defendia anteriormente, tudo em nome de uma pseudo-imagem de...
Lobo-Mau. Seria isso? Vá lá, às vezes até critica com razão, até vocifera com
justiça, ataca coisas atacáveis, mas com uma contundência, não
raro tão desproporcional, que quase sempre se torna tão antipático, por vezes até para os que concordam com ele, que sua razão e
credibilidade ficam abaladas.
Mas, polêmicas à parte, não posso
negar que esse idiota, enquanto fazia música relevante, ali pela
metade dos anos 80, produziu alguns dos discos mais legais e
importantes do rock nacional e por que não, da música brasileira. O
amadurecimento musical depois da fase new-wave com Os Ronaldos no
ótimo “O Rock Errou”; o bom “Cuidado!” de experimentações
rítmicas e letras afiadas; o interessante, porém mal mixado “Sob o Sol de
Parador”; e o excelente “Vida Bandida”, seu maior sucesso
comercial, que entra a partir de agora para o hall dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS deste blog.
“Vida Bandida” de 1987, gravado na sua maior parte na cadeia quando o cantor fora preso por porte de drogas, é um
disco meio marginal, meio poético, meio punk, tudo isso com a dose
perfeitas de peso e leveza, com melodiosidade e agressividade nas medidas certas.
Lobão, indignado com a polícia, com a
mídia, com a hipocrisia, abre o disco, dedicando aos parceiros de cela a violenta e vibrante
“Vida Bandida” que, apesar de indubitavelmente rockeira, já
sinalizava para as experiências sambísticas que viriam em
“Cuidado!”. Entre violência, dinheiro, traição, notícias,
cadeia, o lobo vociferava com raiva aquele refrão poderoso como se
cuspisse na cara da sociedade e pretendesse com aquele brado mostrar todo seu desprezo: "Vidaaaaaa, Vida,vida, vida, vida bandida".
A gostosa “Girassóis da Noite”,
também indicava caminhos mais MPB, com uma levada se aproximando do
samba e um belo sax delineando a canção; “Soldier Lips”, a
única cantada em inglês, é uma espécie de blues envenenado com uma interpretação
“embrigada” do cantor; “Nem Bem, Nem Mal”, também com um sax muito bacana, é um soco na normalidade, na mediocridade, no conformismo; a pesada “Esse Mundo Que
Eu Vivo” é vigorosa e contundente; e a
belíssima “Tudo Veludo”, é uma esfumaçada balada melancólica, apaixonante, com pé no tango e outro blues, trazendo, além de outra interpretação magnífica, um show de guitarra do Lobo.
A conhecidíssima “Rádio Blá”,
uma canção de decepções amorosas, parte de uma introdução lenta
pontuada pelo sax, ganhando ênfase a seguir até estourar num refrão
altamente marcante e contagiante que não podia dar em outra coisa
que não num estrondoso sucesso radiofônico. Outra que tocou à
exaustão, primeiro com Lobão e mais tarde com Cazuza, foi “Vida
Louca Vida”, mais um daqueles manifestos contra a chatice,
falsidade, babaquice do mundo. A música acabou ganhando outra
dimensão e um significado todo especial com Cazuza, pela
inevitabilidade da morte do cantor em virtude da AIDS combinada aos
versos resignados, “vida louca vida/ vida breve/ já que eu não
posso te levar/ quero que você me leve”, mas a interpretação de
Lobão, na minha opinião, é muito superior e continua insuperável.
O brilhante álbum fecha com uma canção
quase sertaneja, por assim dizer,“Chorando No Campo”, uma espécie
de balada folk com ares rurais, na qual Lobão estraçalha no violão
e nos proporciona mais uma interpretação vocal memorável.
Este era Lobão. Grande cantor, grande músico, grande letrista. Um cara capaz de fazer
um disco assim.
Sempre foi porra-louca, sempre foi
linguarudo, meio bobalhão, metido a dono da verdade mas ao menos
fazia música de qualidade.
Hoje em dia nem isso...
Até se pinça uma música que outra de
um disco que outro nos últimos tempos, mas é pouco pra quem fala
demais. Talvez por isso, apenas fale.
Talvez seja falta das drogas mais
pesadas, que ele mesmo admite ter deixado (tem artistas para quem,
infelizmente, elas são necessárias). O que sei é que desde que
virou um 'careta', não produz mais nada de interessante. E o pior,
ficou um chato insuportável e estúpido. O que resta é separar o
Lobão-artista, do Lobão-apresentador, do Lobão-escritor, do Lobão-opiniático e nos deliciarmos com essa
curta fase de sua carreira que compreende uns 3 ou 4 álbuns de alta
qualidade. É lamentável ter que ser tão cruel assim com um artista que eu aprecio mas a vida é
assim. Ela é bandida, mesmo.
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FAIXAS:
"Vida Bandida"
|
"Da Natureza dos Lobos"
|
"Nem Bem, Nem Mal
|
"Soldier Lips"
|
"Girassóis da Noite"
|
"Esse Mundo que Eu Vivo"
|
"Vida
Louca Vida"
|
"Tudo Veludo"
|
"Blá Blá Blá... Eu Te Amo (Rádio Blá)"
|
"Chorando no Campo"
|
Ducaralho. Ficou joia.
ResponderExcluirTanta besteira sem fundamento. .. nem consegui ler tudo.
ResponderExcluirMuito bom o texto,um dos melhores e, parece que o Lobão está se regenerando,tomara!
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