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quinta-feira, 9 de maio de 2013

Lobão - "Vida Bandida" (1987)




"Aí, galera da onze"
introdução de
"Vida Bandida"



O senhor João Luiz Woerdenbag, mais conhecido como Lobão, é um grandessíssimo babaca!
"Ah, mas..."
Não. Não tem, "ah, mas".
É um idiota que costumeiramente liga uma metralhadora giratória atirando no que está por perto, no que está no seu caminho, no que está quieto, no que não lhe diz respeito, no que não valeria a pena disparar, ou até no que ele defendia anteriormente, tudo em nome de uma pseudo-imagem de... Lobo-Mau. Seria isso? Vá lá, às vezes até critica com razão, até vocifera com justiça, ataca coisas atacáveis, mas com uma contundência, não raro tão desproporcional, que quase sempre se torna tão antipático, por vezes até para os que concordam com ele, que sua razão e credibilidade ficam abaladas.
Mas, polêmicas à parte, não posso negar que esse idiota, enquanto fazia música relevante, ali pela metade dos anos 80, produziu alguns dos discos mais legais e importantes do rock nacional e por que não, da música brasileira. O amadurecimento musical depois da fase new-wave com Os Ronaldos no ótimo “O Rock Errou”; o bom “Cuidado!” de experimentações rítmicas e letras afiadas; o interessante, porém mal mixado “Sob o Sol de Parador”; e o excelente “Vida Bandida”, seu maior sucesso comercial, que entra a partir de agora para o hall dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS deste blog.
“Vida Bandida” de 1987, gravado na sua maior parte na cadeia quando o cantor fora preso por porte de drogas, é um disco meio marginal, meio poético, meio punk, tudo isso com a dose perfeitas de peso e leveza, com melodiosidade e agressividade nas medidas certas.
Lobão, indignado com a polícia, com a mídia, com a hipocrisia, abre o disco, dedicando aos parceiros de cela a violenta e vibrante “Vida Bandida” que, apesar de indubitavelmente rockeira, já sinalizava para as experiências sambísticas que viriam em “Cuidado!”. Entre violência, dinheiro, traição, notícias, cadeia, o lobo vociferava com raiva aquele refrão poderoso como se cuspisse na cara da sociedade e pretendesse com aquele brado mostrar todo seu desprezo: "Vidaaaaaa, Vida,vida, vida, vida bandida".
A gostosa “Girassóis da Noite”, também indicava caminhos mais MPB, com uma levada se aproximando do samba e um belo sax delineando a canção; “Soldier Lips”, a única cantada em inglês, é uma espécie de blues envenenado com uma interpretação “embrigada” do cantor; “Nem Bem, Nem Mal”, também com um sax muito bacana, é um soco na normalidade, na mediocridade, no conformismo; a pesada “Esse Mundo Que Eu Vivo” é vigorosa e contundente; e a belíssima “Tudo Veludo”, é uma esfumaçada balada melancólica, apaixonante, com pé no tango e outro blues, trazendo, além de outra interpretação magnífica, um show de guitarra do Lobo.
A conhecidíssima “Rádio Blá”, uma canção de decepções amorosas, parte de uma introdução lenta pontuada pelo sax, ganhando ênfase a seguir até estourar num refrão altamente marcante e contagiante que não podia dar em outra coisa que não num estrondoso sucesso radiofônico. Outra que tocou à exaustão, primeiro com Lobão e mais tarde com Cazuza, foi “Vida Louca Vida”, mais um daqueles manifestos contra a chatice, falsidade, babaquice do mundo. A música acabou ganhando outra dimensão e um significado todo especial com Cazuza, pela inevitabilidade da morte do cantor em virtude da AIDS combinada aos versos resignados, “vida louca vida/ vida breve/ já que eu não posso te levar/ quero que você me leve”, mas a interpretação de Lobão, na minha opinião, é muito superior e continua insuperável.
O brilhante álbum fecha com uma canção quase sertaneja, por assim dizer,“Chorando No Campo”, uma espécie de balada folk com ares rurais, na qual Lobão estraçalha no violão e nos proporciona mais uma interpretação vocal memorável.
Este era Lobão. Grande cantor, grande músico, grande letrista. Um cara capaz de fazer um disco assim.
Sempre foi porra-louca, sempre foi linguarudo, meio bobalhão, metido a dono da verdade mas ao menos fazia música de qualidade.
Hoje em dia nem isso...
Até se pinça uma música que outra de um disco que outro nos últimos tempos, mas é pouco pra quem fala demais. Talvez por isso, apenas fale.
Talvez seja falta das drogas mais pesadas, que ele mesmo admite ter deixado (tem artistas para quem, infelizmente, elas são necessárias). O que sei é que desde que virou um 'careta', não produz mais nada de interessante. E o pior, ficou um chato insuportável e estúpido. O que resta é separar o Lobão-artista, do Lobão-apresentador, do Lobão-escritor, do Lobão-opiniático e nos deliciarmos com essa curta fase de sua carreira que compreende uns 3 ou 4 álbuns de alta qualidade. É lamentável ter que ser tão cruel assim com um artista que eu aprecio mas a vida é assim. Ela é bandida, mesmo.
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FAIXAS:
"Vida Bandida"
"Da Natureza dos Lobos"
"Nem Bem, Nem Mal
"Soldier Lips"
"Girassóis da Noite"
"Esse Mundo que Eu Vivo"
"Vida Louca Vida"
"Tudo Veludo"
"Blá Blá Blá... Eu Te Amo (Rádio Blá)"
"Chorando no Campo"

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Ouça:
Lobão Vida Bandida

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