“Eu vi os Happy Mondays na TV
e eles me lembraram os Beatles
da fase “Strawberry Fields.”
Paul Mc Cartney
Eles foram praticamente os responsáveis pela falência da gravadora que lançou o Joy Division. Tá certo que a Factory era administrada de uma maneira um tanto amadorística pelo ilustríssimo Tony Wilson mas a viagem para Barbados pra a gravação de um álbum, estourando prazos, orçamento e o saco de todo mundo foi a gota d'água para o já moribundo selo de Manchester. Mas antes de afundar a gravadora, os Happy Mondays foram responsáveis por um dos grandes discos dos anos 90, altamente influente e, de certa forma, um dos precursores da mistura de rock com a house-music. “Pills'n' Thrills and Bellyaches”, embora não fosse um disco eletrônico, tivesse guitarras distorcidas e riffs bacanas, pelas levadas dançantes, pela psicodelia, pelas repetições, pelas programações de bateria e vocais femininos ocasionais, de certa forma reproduzia as diretrizes dos estilos que ganhavam força nas pistas de dança naquele início de anos 90. A clássica “Bob's Yer Uncle” que o diga, com seu ritmo gostoso, sensual, embalado, seu tecladinho grudento e os gemidos femininos no refrão. Exemplar bem característico da mistura do pop britânico com os principios das pistas de eletrônico. Estupenda!
“Loose Fit”, apesar de mais cadenciada também remetia à dance-music, com seu riff infinitamente repetido e programação de bateria constante com tons latinos, assim como “God's Cop” com uma guitarra rascante e cortante mas cheia de funk e embalo. “Holiday”, alegre, ritmada, festiva, de levada de guitarra muito bacana; e “Step On”, com uma linha de teclado gostosíssima, todo seu balanço e uma espécie de vocal “Pica-Pau” também traduzem bem o espírito e ênfase do álbum.
A ótima “Kinky Afro”, um pop rock swingado que abre o disco, foi centro de polêmica por conta do verso “I had to crucify some brother today” pelos quais a banda foi acusada de racismo. A polêmica nunca foi totalmente esclarecida mas, talvez pelo fato da música ser tão legal, tão bacana, tão boa, a maioria das pessoas não deu muita importância para se era ou não, e preferiu dançar, alienadamente ao ritmo dela.
Dois detalhes interessantes sobre a banda: um deles é que o nome Happy Mondays era exatamente uma alusão às avessas à música “Blue Monday” do New Order, como que indicando uma ideia de contramão ao cenário musical do momento.
O outro é que a banda, composta originalmente por Shaun Ryder nos vocais, seu irmão, Paul no baixo, Mark Day nas guitarras, Paul Davis no teclados e programações, e Gary Wheelan na bateria, tinha ainda um integrante quase que simbólico. O carismático Bez, um amigo dos rapazes, parceiro de noitadas, que para não constar que não tocasse nenhum instrumento, creditavam-lhe as maracas, sendo que nos shows, na maior parte das vezes, apenas dançava no palco com uma performance absolutamente singular.
Embora tenham marcado aquele início de anos 90 com um dos gfrandes discos do período, Os Happy Mondays nunca gravaram mais nada de muito interessante. Não como Happy Mondays, pelo menos. Pouco tempo depois do anúncio do fim da banda, surgiram com o interessantíssimo projeto Black Grape, que de certa forma dava continuidade ao trabalho original do grupo, mas com outro tipo de leitura. Mas isso é assunto para um outro ÁLBUM FUNDAMENTAL.
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FAIXAS:
- "Kinky Afro" – 3:59
- "God's Cop" – 4:58
- "Donovan" – 4:04
- "Grandbag's Funeral" – 3:20
- "Loose Fit" – 5:07
- "Dennis and Lois" – 4:24
- "Bob's Yer Uncle" – 5:10
- "Step On" (John Kongos, Christos Demetriou) – 5:17
- "Holiday" – 3:28
- "Harmony" – 4:01
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