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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Sinéad O'Connor - "The Lion and the Cobra" (1987)



Acima, a capa original
com uma Sinéad furiosa.
abaixo a edição americana
'suavizando' a imagem da cantora
"Combata o verdadeiro inimigo."
Sinéad O' Connor



Ela surgiu como uma grata novidade no mundo pop. Um sopro de vida no mundo da música. Era diferente do que se via naquele momento. Era indesmentivelmente pop, sim, não negava isso, mas mostrava que era possível fazer aquilo sem apelação, gemidinhos ou lingeries. E além do mais tinha a careca! Aquela cabeça raspada que conferia aquela garota todo um ar de agressividade e rebeldia mas que, no entanto, não era gratuita, jogo de cena ou meramente uma marca pop, e sim uma reminiscência da infância sofrida entre abusos, violência e orfanatos.
Sinéad O' Connor, aparecia lá naquele 1987 com seu vigoroso "The Lion and the Cobra", um disco que conduzia juntos força e singeleza, atitude e universalidade, fúria e sensibilidade.
"Jackie", a primeira do disco, uma faixa crescente, conduzida só na guitarra, funciona quase como uma pequena introdução ao álbum, dada sua curta duração; sendo assim, a seguir vem então uma sequência matadora com os dois principais hits do disco, a vigorosa "Mandinka" e "Jerusalém" com sua atmosfera mística e exótica de magia.
Aí o ritmo quebra um pouco com a balada quase acústica "Just Like You Said It Will B" de linhas espanholas; com a etérea "Never Get Old", de participação da também irlandesa Enya, em uma faixa bem ao estilo desta conterrânea; e com a orquestrada "Troy" que ganha em ímpeto, em intensidade, em ênfase e interpretação, até culminar num final grandioso e espetacular.
Um dos grandes momentos do álbum, "I Want Your Hands (On Me) é um um pop de primeira qualidade com uma programação de bateria pra lá de bacana, um embalo contagiante e uma interpretação fantástica da cantora com um refrão de poder hipnótico. "Drink Before the War", que vem na sequência, baixa a rotação de novo numa balada melancólica e "Just Call Me Joe", segue a linha da abertura, numa faixa conduzida por uma guitarras rascante mas que aqui contrasta com a doçura do vocal de Sinéad.
"Combata o verdadeiro inimigo"
A irlandesa viria ainda a alcançar grande com a interpretação inspiradíssima de "Nothing Compres 2 U" de Prince em seu disco seguinte "I Do Not Want What I Haven't Got", interessante mas não tão brilhante quanto o primeiro; mas prejudicou brutalmente a própria carreira quando em 1992, rasgou a foto do então Papa João Paulo II ao vivo na TV americana advertindo "Combata o verdadeiro inimigo". Atitude até com fundamento, se formos considerar a hipocrisia, o poder, e sobretudo os escândalos sexuais da igreja católica envolvendo crianças, mas naquele momento tão gratuito e fora de contexto que acabou por lhe render restrições, boicotes, vaias e, enfim, uma péssima repercussão. Talvez a cantora tenha pago o preço exatamente por não ser oportunista. Teria sido muito mais 'fácil' e garantido, se formos pensar em termos de visibilidade para um artista, fazer tal protesto diante de uma manchete forte envolvendo o Vaticano, de algum escândalo específico, ou nos dias de hoje em que os abusos são constantemente denunciados, mas naquele momento,desvinculado de qualquer fato forte o suficiente e com o carisma de João Paulo II, tudo acabou apenas conspirando contra a própria artista. Fato é que desde então a carreira (e a vida) de Sinéad tem sido uma constante confusão entre casamentos, divórcios, seitas, discos religiosos, ativismo, engajamento, polêmicas e projetos musicais interessantes porém mal resolvidos.
Sinéad O'Connor é para mim uma espécie de xodó. Até gosto mais de outras cantoras, outras tem obras mais relevantes, contribuições maiores que as dela mas gosto dela de uma maneira quase irrestrita. Além de musicalmente praticamente sempre curtir as coisas que faz, mesmo as mais esquisitas, tenho uma espécie de carinho por essa 'menina' confusa, traumatizada e revoltada como se a conhecesse pessoalmente e para cada perda de rumo ou besteira que ela faz na vida eu até entenda mas intimamente não deixe de lamentar, pensando cá comigo algo do tipo, "Ai, Sinéad, de novo?".


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FAIXA:
1. "Jackie" 2:28
2. "Mandinka" 3:46
3. "Jerusalem" 4:20
4. "Just Like U Said It Would B" 4:32
5. "Never Get Old" 4:39
6. "Troy" 6:34
7. "I Want Your (Hands on Me)" 4:42
8. "Drink Before the War" 5:25
9. "Just Call Me Joe" 5:51

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Ouça:

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