Desde que eu soube que Herbie Hancock viria ao Brasil, fiquei com vontade de ver o show. Gosto tanto da fase Blue Note quando da Headhunters. Aí, vi um vídeo no YouTube do show de Montevidéu e o Gopala, o baterista Julio Falavigna, colocou suas impressões do espetáculo em Buenos Aires no Facebook. Posso dizer que em São Paulo, no Credicard Hall, as coisas não foram diferentes, mas acabei vendo um outro show.
Ao começar com "Actual Proof", do disco
"Thrust", Herbie mostrou que teríamos uma espécie de viagem
nostálgica aos seus "greatest hits". Digo isso porque não faltaram,
entre outras, "Watermelon Man" - aqui na versão Headhunters e
mesclada com "Seventeen", do guitarrista africano Lionel Loueke. Ao
apresentar a música, HH destaca a qualidade dos três músicos que estiveram com
ele no palco: o baixista James Genus - irreconhecível, portando um baixo
elétrico, ele que sempre tocou acústico, especialmente com Michael Brecker; o
cultuado baterista Vinnie Colauita, realmente um músico de exceção; e o
percussionista indiano Zakir Hussain, armado de um arsenal de tablas, kalimba e
outras milongas mais. Herbie se revezava entre o piano acústico e o teclado e
as programações. E resgatou do limbo - para alguns, de onde nunca deveriam ter
saído - o keytar, aquela mistura de teclado com guitarra, de muito sucesso nos
anos 80, e o vocoder, o sintetizador de voz, também muito em moda naquela
década maldita. Não sou um purista, mas tendo um piano de qualidade para tocar,
foi decepcionante ver HH, aos 70 anos, desperdiçar seu tempo com estes
jurássicos gadgets de antão.
foto: Manuela Scarpa
Photo Rio News
|
Pode-se dizer que as passagens em quarteto foram muito mais
interessantes do que os solos. Concordo pela metade com o Gopala. Afinal de
contas, o especialista em tabla é ele e não eu. Mas confesso que cortaria meio
solo de Zakir, que parecia não saber onde terminar, apesar de possuir uma
técnica exuberante. Dez minutos de tablas solo foram um pouquinho demais pra
mim. Assim como Hancock, que começou sozinho uma digressão pianística muito
interessante do conhecido tema "Maiden Voyage", mas logo trocou o
piano Steinway pelo Korg e pelo vocoder. A partir daí, Hancock resolveu
disputar o espaço destinado a chatos insuportáveis como Kitaro e Yanni, num
clima da pior New Age. Felizmente, o grupo voltou ao palco e partiu para mais
uma das viagens de Hancock sobre temas conhecidos. Agora em cima de
"Cantaloupe Island", que deu espaço para Colaiuta mostrar porque é
adorado pelos bateristas de todo mundo. Ele alia uma supertécnica a um approach
muscular, surrando sem dó nem trégua aqueles couros e pratos. E no bis,
Hancock, jogando pra torcida, entrou com "Rockit", seu hit dos anos
80 e, de repente, invadiu sua própria praia com "Chameleon" do disco
"Headhunters", um clássico do funk-jazz dos 70's, que levantou a plateia
do Credicard Hall.
Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Mas eu gostaria
de um pouco mais de música acústica. A culpa é minha. Esqueci que Herbie
Hancock sempre fez estas misturas a vida inteira. E não seria aos 70 que ele
iria mudar.
por Paulo Moreira
Nenhum comentário:
Postar um comentário