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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Secos e Molhados - "Secos e Molhados" (1973)


"Foi meu jardim da infância,
um jardim da infância bem
barra pesada (risos).
Enfrentamos o Brasil,
o governo, a polícia,
era transgressão pura."
Ney Matogrosso



Eles foram, assim, uma espécie de mistura de New York Dolls, com Kiss, com David Bowie pelo caráter teatral, pela maquiagem, pela androginia, pela sensualidade, mas no que diz respeito à música, extremamente originais e vanguardistas na proposta, compondo uma sonoridade de influências múltiplas sem abrir mão, no entanto, da brasilidade e das raízes da cultura nacional.
Os Secos e Molhados estreavam em disco em 1973 com um trabalho recheado de ritmos variados, exotismo, lendas, folclore, poesia, psicodelia e rock'n roll. Um grupo de maquiagens exageradas, figurinos extravagantes, performances impressionantes que trazia à frente o expressivo vocalista Ney Matogrosso, um tipo exótico, provocante, cheio de requebrados, trejeitos tresloucados, de atuação singular e interpretações vocais marcantes e impecáveis. Ney chamava mais a atenção por todos os atributos enumerados, mas sua retaguarda, com os músicos Gérson Conrad, Marcelo Frias (que não permaneceu na banda) e João Ricardo, o principal letrista e compositor da banda, eram a garantia de uma sustentação perfeita além de composições precisas, inspiradas e geniais.
O clássico "Sangue Latino", cuja base marcante veio a ser utilizada, tempos depois pelos Titãs na introdução da música "Eu Não Aguento", abre o disco e, como supõe o nome, é cheia de latinidade, numa toada lenta e insinuante, com uma interpretação notável e irreparável de Ney Matogrosso. A segue outro clássico: "O Vira", ilustrado por magias, lendas e personagens fantásticos, e que mesmo com toda a evidente influência do ritmo português que lhe dá o nome, é um rock guitarrado, pesado e cheio de vitalidade.
"O Patrão nosso de Cada Dia" que vem na sequência é uma balada com ares barrocos mais uma vez com o talento de Ney extrapolando os limites; seguem a ótima "Amor", um soul-rock que muita banda por aí sonha em conseguir fazer; o blues psicodélico "Primavera nos Dentes", de belíssima introdução de piano; o rock'n roll bem percussionado de "Assim Assado"; o free jazz acelerado de "Mulher Barriguda"; e "El Rey" de Gérson Conrad (em parceria com João Ricardo, é claro) , uma curta vinheta de belíssimo trabalho de violões.
"Rosa de Hiroshima" uma balada lamentosa, cuja beleza contrasta com o pessimismo da poesia de Vinícius de Morais é outro clássico em mais uma interpretação absurda de Ney nos vocais.
Depois vem a boa, porém comum, "Prece Cósmica"; "Rondó do Capitão", adaptação do poema de Manuel Bandeira; "As Andorinhas", que assim como "O Vira" também remete à música portuguesa; e o fecha o disco de maneira magnífica com "Fala", em mais um show particular de Ney Matogrosso.
Um marco da música nacional! Um disco corajoso. Afrontador na ideia, no conceito, na atitude, na sutileza da poesia. Ícone do rock brasileiro. Do rock,sim! Por mais que em muitos momentos possa não parecer um disco de rock efetivamente, tal a singeleza das letras, a leveza dos vocais, os arranjos de viola ou de cordas, "Secos e Molhados" inova na linguagem alavancando o rock nacional a outro patamar criativo. disco essencial extremamente influente para qualquer banda do cenário pop rock que tenha aparecido depois dele.
antes de finalizar, não poderia deixar de falar da capa, igualmente uma das mais marcantes, criativas e emblemáticas da discografia nacional e que curiosamente, surgiu quase que por acaso, meio de improviso, na hora, no estúdio fotográfico. A ideia de utilizar os produtos de secos e molhados (nome dado a comércio de produtos alimentícios) já existia, no entanto, o lampejo de colocar as cabeças em bandejas, dando uma conotação um tanto antropofágica à imagem, veio na hora, ficando assim os integrantes sentados em tijolos sob a mesa, apenas com as cabeças colocadas em furos feitos nela, com as bandejas encaixadas aos seus pescoços.
Até a capa é espetacular!

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FAIXAS:
1. "Sangue Latino" (João Ricardo/Paulinho Mendonça) 2:07
2. "O Vira" (J. Ricardo/Luhli) 2:12
3. "O Patrão Nosso de Cada Dia" (J. Ricardo) 3:19
4. "Amor" (J. Ricardo/João Apolinário) 2:14
5. "Primavera nos Dentes" (J. Ricardo/J. Apolinário) 4:50
6. "Assim Assado" (J. Ricardo) 2:58
7. "Mulher Barriguda" (J. Ricardo/Solano Trindade) 2:35
8. "El Rey" (Gerson Conrad/J. Ricardo) 0:58
9. "Rosa de Hiroshima" (G. Conrad/Vinicius de Moraes) 2:00
10. "Prece Cósmica" (J. Ricardo/Cassiano Ricardo) 1:57
11. "Rondó do Capitão" (J. Ricardo/Manuel Bandeira) 1:01
12. "As Andorinhas" (João Ricardo/C. Ricardo) 0:58
13. "Fala" (J. Ricardo/Luli)


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Ouça:
Secos e Molhados 1973


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