Casas, bares, praças... Pessoas se reunindo e se aglomerado em todos os lugares na expectativa do primeiro título mundial da seleção espanhola.
Podia muito bem estar falando do jogo de hoje, na Copa do Mundo feminina da Austrália e Nova Zelândia, mas, no caso, me refiro à final do Mundial masculino de 2010.
Em "Assalto ao Banco da Espanha", aproveitando-se dessa mobilização popular e das consequentes modificações de sistemas de trânsito e segurança, um grupo de caçadores de tesouros, pretende invadir o banco mais seguro e protegido do país e roubar um artefato antigo que contém inscrições que indicam coordenadas para um tesouro de valor inestimável.
O problema é que para chegar ao objeto eles precisam acessar um cofre que é considerado, nada mais nada menos que "O milagre da engenharia". Para isso, então, vão atrás de uma mente capaz de desvendar o segredo dessa maravilha mecânica: um jovem, recém saído da faculdade, mas que, por sua reputação, feitos e façanhas, ainda no período acadêmico, é disputado por poderosas multinacionais para liderar seus projetos.
Petrolíferas, mineradoras, conglomerados econômicos...? Que nada! O jovem Tom Laybrick (Freddie Highmore), instigado pelo desafio e cansado de ser sempre o "bom rapaz", topa a proposta dos aventureiros. Agora, o primeiro desafio é descobrir o mecanismo do tal cofre, depois disso, como superá-lo, e, depois disso, aí sim, a principal tarefa, tão difícil quanto e ainda mais perigosa, que é entrar nele, pegar o item e sair do banco com o objeto.
O diretor Jaume Balgueró, do clássico do terror "REC", conduz bem a trama e consegue manter o espectador sempre interessado, inicialmente na questão do recurso secreto do cofre, depois nos preparativos do grupo, os contratempos, as soluções emergenciais e, por fim, a missão, tudo tendo como pano de fundo a campanha do time espanhol na Copa do Mundo da África do Sul. Com toques de "Missão Impossível", muita semelhança com "Onze Homens e Um Segredo", alguma coisa de "Truque de Mestre" e "Armadilha", "Assalto ao Banco da Espanha" funciona bem e deixa a gente na expectativa até o ultimo instante, até o apito final.
Hoje, dia da final da Copa do Mundo feminina da FIFA, na Austrália e Nova Zelândia, quando, novamente, milhares de pessoas estarão reunidas na Praça de Cibeles, em Madri, é bom ficar de olho, pois algo pode estar acontecendo, do outro lado da praça, no interior do Banco da Espanha.
Todo o povo na rua, na expectativa de ver o triunfo da seleção espanhola, e o grupo só na espreita, de olho nas das facilidades que a situação lhes proporciona
Eu fico me perguntando, às vezes, quando vejo um remake de um clássico absoluto, de um filme legendário, cultuado, idolatrado, uma unanimidade, se o diretor da tentativa pensou mesmo que pudesse fazer algo, de alguma forma superior ao original. Se ele pensou que poderia fazer melhor. Ou, se não pensou, em nome de que se deu o trabalho de gastar tempo, dinheiro do estúdio, da produtora, distribuição, divulgação, para falhar miseravelmente, ser massacrado pela crítica e ter uma bilheteria decepcionante. Pelo que sei, o bom e competente Walter Lima Jr. não tinha, exatamente, tais pretensões ao fazer seu "Através da Sombra", em 2016. Sua ideia era filmar uma adaptação de um romance pelo qual sempre tivera admiração e vontade de levar às telas. O caso é que quando alguém pensa em adaptar para o cinema "A volta do parafuso", de Henry James, tem que ter em mente que alguém já o fez, e que essa adaptação anterior não é nada menos que "Os Inocentes", de 1961, não só um dos maiores filmes de terror de todos os tempos, como um dos melhores filmes da história do cinema! Aí as comparações passam a ser inevitáveis e, é lógico, elas tendem a não favorecer o ousado "desafiante".
Na história, basicamente, em ambos os casos, uma moça é contratada por um milionário para cuidar de seus sobrinhos órfãos, dos quais ele tem a guarda mas nenhum interesse nem aptidão para criá-las. As crianças estão em sua mansão no interior para onde a contratada deverá rumar, tendo lá todo o suporte estrutural, logístico, financeiro, com a condição de não incomodar o contratante na capital, tendo total autonomia em ações e decisões.
Quando a preceptora chega, encontra a menina, mas o garoto de quem também deve cuidar, por sua vez, encontra-se no colégio interno. No entanto, uma carta da escola, nos dias seguintes, acusando uma série de inapropriações e "indecências" do menino, anunciam sua expulsão da instituição e o retorno para casa. Num ambiente envolto por mistérios acerca de um casal de ex-funcionários da casa, amantes, que teriam falecido no local, enquanto, claramente, a menina guarda segredos, o garoto confirma um comportamento inadequado, muitas vezes incompatível com uma criança. O menino é ousado, é insinuante, galanteador, e a governanta chega, mesmo, a ficar estranhamente "atraída" pela criança. Baseada em informações dos caseiros, logo ela descobre que o comportamento do garoto é muito semelhante ao do antigo cavalariço falecido, um homem rude, rústico, mas extremamente sedutor que, por sinal era amante de sua antecessora. Já atormentada por pesadelos e visões, ela começa então a associar a atitude do garoto ao do homem descrito e os mistérios da garota com a ex-governanta morta e conclui que os espíritos dos dois estão presentes no local e têm grande influência no comportamento das crianças.
trailer de "Os Inocentes" (1961)
trailer de "Através da Sombra" (2016)
A bola mal começa a rolar e "Os Inocentes" já movimentam o placar. A canção infantil entoada antes dos créditos e logo depois as mãos unidas rezando, suplicantes, sobre um fundo totalmente escuro, o som de pássaros ao fundo, um choro mudo e a angústia de uma mulher em pranto, tudo isso. enquanto os créditos iniciais vão aparecendo na tela, é um golaço do diretor Jack Clayton.
"Os Inocentes" (1961) - abertura e créditos iniciais
"Através das Sombras" se organiza, bota a bola no chão e reage. A contratação pelo tio, ainda na cidade, e o primeiro contato da nova empregada com a menina, funcionam melhor na versão brasileira. A ambientação, o diálogo com o tio e a postura da candidata à vaga na entrevista, a atuação de Mel Maia, ainda pequeninha, como a sobrinha Elisa, arredia e desconfiada ao conhecer a substituta da professora por quem tanto se afeiçoara, garantem um empate ainda cedo para a equipe brasileira. Mas se a pequena brasileira mostra seu talento e ajuda o time de Walter Lima Jr. a voltar para o jogo, a performance do jovem Miles, da versão inglesa, fazendo um verdadeiro "hominho", encarnando o gestual e a postura do falecido empregado, não deixa nada a desejar e logo põe os ingleses em vantagem novamente.
A partir daí, no geral, a qualidade prevalece, e a fotografia em preto e branco, o que seria uma limitação mas que se torna uma arma nas mãos do diretor de fotografia, e a luz, sempre perfeita, mínima, passando uma sensação angustiante e claustrofóbica, ampliam a vantagem dos comandados do técnico Jack Clayton.
Aí "Os Inocentes" tomam conta do jogo. Deborah Kerr, como a governanta Srta. Giddens, põe o jogo no bolso e faz todas as ligações perfeitas para as jogadas, deixando os mais jovens à vontade para mostrar o seu talento, como nas partes em que é "cortejada" pelo pequeno Miles; e fazendo todos os jogadores "aparecerem" pro jogo, até mesmo os falecidos, como a governanta Mary Jessel, na cena do corredor, na biblioteca, e na aterrorizante cena lago, e o sinistro Peter Quint, o possessor do garoto, imóvel no topo da mansão, ou a encarando com seu olhar demoníaco por trás das janelas da sala.
Quint, à esq., entrou na "janela" de transferências (do outro mundo para este) e Srta. Jessel, à dir., até pediu substituição, alegando que estava "mortinha", mas mesmo assim apareceu pro jogo.
Depois de cartear o jogo, deixar todo mundo na cara do gol, Deborah Kerr, a dona do time, não deixa por menos e faz o seu. Seu jeito, ora inseguro, ora decidido, seus olhões arregalados de medo, sua presença de cena, tudo é como um daqueles gols de driblar todo o time adversário inteiro. Gol de craque!
Virgínia Cavendish, como Laura, é boa atriz, é competente, na adaptação nacional, mas sequer amarra as chuteiras da governanta original, e o garoto, Antônio, na versão brasileira, não se destaca e, desta forma, não faz grande diferença.
"Através da Sombra" tem o mérito de transpor a ação para uma fazenda cafeeira, no interior, no início do século XX, e jogar um certo olhar sobre os resquícios da escravidão e a relação dos senhores do café com os empregados, o que lhe rende mais um golzinho. Mas a ousadia de "Os Inocentes", desafiando os padrões da época, expondo as situações do casal de amantes, quando vivos, pelos quartos da casa e, não satisfeito em insinuar uma atração entre um adulto e uma criança, mostrando, explicitamente, um beijo na boca entre eles, dá mais um gol para o filme de 1961. Pra fechar o caixão, toda a sequência final, quando a srta. Giddens confronta Miles, de modo a fazer com que o garoto admita a influência do obsessor e se livre dele, faz com que o time brasileiro busque mais uma bola no fundo da rede.
O filme original é que acaba, como iniciara, com as mãos unidas em oração, mas era a refilmagem que já estava rezando para que o jogo acabasse. Final de partida, 7x2 para Os Inocentes.
Quando a Deborah quer ela faz a diferença. E não deu outra: ela tava muito a fim e desequilibrou para o time dos anos 60. Já Virgínia Cavendish, por sua vez, começa a ser assombrada pelo fantasma do rebaixamento.
Fazer um remake de um filmezinho qualquer é uma coisa,
mas fazer um de algo como "Os Inocentes", é outra volta no parafuso.
melhor jogadora de futebol do mundo, na atualidade.
Pela rambla o estandarte das cores Catalunya, Barceloneta, Blaugrana A mirar-lhe o olhar de mil homens Bailarina dança na roda sardana
Chove chuva, molha o chão Nuvem, samba do avião Ela vai jogar
Hendrix, Elvis, Messi e hoje Brilha nova estrela dessa galáxia Flashes, lights, likes, closes Compartilha agora a beleza de Alexia
Vai começar mais um jogo
Menina mulher da pele branca Com a classe de quem sabe a arte de jogar bem futebol A bela da tarde com charme encanta Filme de Buñuel, obra de Gaudi ou tela de Miró
Hendrix, Elvis, Messi e hoje Brilha nova estrela dessa galáxia Inverte os pés, caem os cones Dribla as zagueiras e a guarda-metas
Nossas duas finalistas, dois grandes times, duas camisas pesadas da discografia kraftwerkiana chegam para o confronto final credenciadas por muita qualidade, muito prestígio junto aos fãs e campanhas de respeito ao longo da competição.
Radioactivity, faixa que dá título a um álbum, uma das mais inovadoras em linguagem considerando a época em que foi concebida e as limitações técnicas existentes, uma das favoritas do público nos shows, chega à decisão contra The Hall of Mirrors, canção extremamente técnica, riquíssima ritmicamente, uma das mais mencionadas entre fãs quando se fala nas preferidas de cada um, presente no álbum considerado, por muitos, o mais revolucionário do grupo.
E aí, o que pesa mais nessa hora?
Descobriremos...
Vejamos, então, como decidiram nossos especialistas, Luna Gentile, Daniel Rodrigues, Luciana Danielli e José Júnior.
Como diria aquele narrador: vai ter emoção até o fim.
Que comece a decisão:
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Luna Gentile
Grande final com muita radiatividade e explosões ao longo do jogo. Radioactivity tem uma melodia simples mas The Hall of Mirros se abre mais ao longo do jogo e tem o seu solo de taclado de outro mundo. E Radioactivity fica mais incrivel com seu solo de código morse. Assim, temos essa final em que o meu placar é... RADIOACTIVITY 3 X THE HALL OF MIRRORS 2
Grande jogo.
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Luciana Danielli
Eu continuo dando o placar pra The Hall of Mirrors. Ganhou pelo placar acirrado de 1X0 sobre a grande Radioactivity, pois não posso deixar de elogiar a majestosa música que demarca a raiz da música eletrônica pra cena musical contemporânea com o uso dos sintetizadores, construindo um gênero e consolidado pelas décadas seguintes. RADIOACTIVITY 0 X THE HALL OF MIRRORS 1
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Cly Reis
Sabe aquele jogo que, com três minutos já está 1x1? Pois é, a final já começa eletrizante. Se por um lado, Radioactivity começa com aquela introdução de contador Geiger aumentando a frequência com a proximidade de alguma radiação, para se transformar, definitivamente, na base da percussão da música, Hall of Mirrors, empata rapidinho com aqueles passos ecoando no ambiente para também se transformar numa das bases percussivas mais inteligentes e impressionantes da história da música. Hall of Mirros passa à frente no placar por conta de sua atmosfera misteriosa e melodia flutuante quase hipnótica. Radioactivity busca o placar com se solo de código-morse que é das coisas mais impressionantes e criativas que eu já ouvi na minha vida. 2x2. Que jogaço, senhoras e senhores! Sinceramente..., não consigo encontrar nenhum ponto de desequilíbrio. Alguma avaliação lógica, racional, ponderada, sobre algum elemento, algum item que possa pender mais para um lado do que para o outro.
Vai no subjetivo: por uma leve preferência pessoal, mas LEVE mesmo, Radioactivity solta uma verdadeira bomba de fora da área e estufa as redes do adversário aos 48 do segundo tempo. Vitória apertada. Muitos diriam que injusta, mas no futebol não existe injustiça. O que importa é bola na rede.
RADIOACTIVITY 3 X THE HALL OF MIRRORS 2
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Daniel Rodrigues
É chegada a grande final! E pra representar esta Copa, nada melhor que dois times clássicos. Camisas pesadas em campo. A escola alemã, que não abre mão de usar a ciência, a técnica, a tecnologia, mas tudo a favor e de forma a obter o melhor dos atletas. Enfim, sem mais delongas: rola a bola no Stadion Kling Klang! O jogo começa com muito estudo de ambas as partes. Todos sabem de suas próprias qualidades técnicas, mas ninguém avança de forma afoita, pois respeitam o adversário. Aliás, são dois times de característica de cadenciar o ritmo, em que o jogo vai sendo conduzido aos poucos e de forma constante. Neste passo, “The Hall of Mirrors”, que troca a bola literalmente de pé em pé, lentamente, mas com segurança de que está fazendo o espelhamento certo das funções táticas, abre o placar. A partida volta para o segundo tempo na mesma condição de igualdade de oportunidades do início, tendo em vista o equilíbrio dos dois times. Mas acontece que “The Hall...” já está na frente. Então, “Radioactivity” tem que correr atrás do prejuízo! Preocupado, o técnico decide por o time pro ataque faltando 15 min pra terminar. Ele troca peças e põe em campo o time que jogou em “The Mix”, aquele mais acelerado e pulsante. A mexida, porém, não dá certo, até porque esta versão é inferior tecnicamente à sua original. E já não havia mais tempo pra nada. Num placar apertado, “The Hall of Mirrors”, por muito pouco, vence a Copa Kraftwerk e leva a taça para guardar como relíquia no nobre Salão dos Espelhos, em Dusseldörf! RADIOACTIVITY 0 X THE HALL OF MIRRORS 1
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voto de desempate...
José Júnior
Começa a partida da final: Radioactivity x Hall of Mirrors. O barulho da torcida é ensurdecedor e a alegria geral. A sinfonia de sintetizadores de Radioactivity garante o primeiro gol no primeiro tempo. O jogo segue tenso e, no segundo tempo, Hall of Mirrors abre empatando com um gol de bicicleta. Essas duas canções, merecedores dessa final, mantém um jogo sem faltas, sem cartões, mas difícil de se prever qual venceria essa partida. O jogo já está na prorrogação do segundo tempo. Hall of Mirrors parte para o ataque, mas “mesmo as maiores estrelas vivem suas vidas no espelho”. E, no último minuto do segundo tempo, foi ela quem decidiu o jogo. Com calma e maestria, Madame Curie define o placar:
Jogo entre uma escola emergente, cada vez mais afirmada, contra uma já consagrada. Enquanto o cinema argentino é cada vez mais reconhecido, premiado, inclusive com dois Oscar de melhor filme estrangeiro no currículo, o cinema francês, além de ter alguns dos maiores diretores da história do cinema, como Cocteau, Godard, Truffaut, Resnais, mostrou ao mundo alguns dos melhores e mais importantes filmes de todos os tempos como "Viagem à Lua", "Jules et Jim", "Hiroshima, Meu Amor", "Acossado". "Intocáveis", de 2011, chega a ser citado em listas como um desses filmes mas, particularmente, não acho que seja para tanto, embora, tenha que reconhecer que é, sim, muito bom filme.
Até por isso, não dá para o remake argentino, "Inseparáveis", de 2016, competir. É uma refilmagem competente, gostosa, bastante engraçada, mas não é o suficiente para superar o original.
Em ambos, um milionário tetraplégico procura alguém para acompanhá-lo e lhe tomar conta. Entre dezenas de candidatos qualificados, com formação, experiência, cursos de fisioterapia, etc., ele, intuitivamente, opta por um homem rústico, despreparado, pobre, que sequer era candidato à vaga. A escolha mostra-se extremamente acertada, uma vez que, pelo fato do novo contratado não tratar o deficiente como um bebê, como alguém inútil, com uma piedade excessiva e constrangedora, faz com que ambos desenvolvam uma relação de amizade forte e sincera, com muitos momentos emocionantes e divertidos.
"Intocáveis" (2011) - trailer
"Inseparáveis" (2016) - trailer
Faz toda a diferença a favor do original o fato do protagonista, Driss, ser um imigrante na França, com dificuldades financeiras, sem emprego, com uma família cheia de problemas e lutando por um visto, enquanto na refilmagem, por mais modesto e ferrado que seja, o cuidador é um mero jardineiro. Ricardo de La Serna até é bom como Tito, dá conta do recado, é até naturalmente mais cômico que o mesmo personagem francês, mas o problema para ele, no comparativo, é que o personagem original é vivido por, ninguém menos que o ótimo e carismático Omar Sy, e aí não dá nem pra disputar.
O milionário Philippe (ou Felipe, no remake) até é equivalente nos dois filmes, com ambos os atores dando a devida dramaticamente ou discontração, nas devidas doses, nos momentos certos; já quanto à equipe, os funcionários da casa, vejo uma leve vantagem para o filme argentino, com atores mais cativantes nos papéis da governanta e da secretária, embora a filha do ricaço esteja muito melhor em atuação e seja mais relevante como personagem no primeiro filme.
De resto, são pequenos detalhes aqui outros ali, mas não tem muito como fugir de uma vitória do time de 2011.
Um, pelo fato da história real no qual os filmes se baseiam, ter se passado originalmente na França, o que dá mais autenticidade ao filme de 2011; dois, pelo fato do acompanhante ser um imigrante senegalês, o que vai ao encontro dos fatos reais, uma vez que o cuidador que realmente atendeu Philippe era um imigrante argelino, o que é extremamente significativo para o filme e para a atual conjuntura do mundo onde vivemos. Um gol para a comicidade do remake, mais engraçado pelas palhaçadas de La Serna, mesmo meio que forçadas em alguns momentos; dois pelos atores periféricos da casa, que funcionam melhor individualmente; mas o grande jogador do time francês desequilibra e Omar Sy marca dois, um pelo carisma, pela presença de tela, e outro, é claro, pela interpretação, muito precisa e convincente.
Não há nada a fazer. Tudo o que resta para "Inseparáveis" é dançar um tango argentino.
Placar final: 4x2 para "Intocáveis".
No alto, os dois empregados, Driss, à esquerda, e Tito, à direita, na "entrevista" de emprego. E, abaixo, ambos divertindo o paciente-amigo, Philippe (Felipe).
Omar Sy desequilibra e a França vence o duelo.
Como diria aquele narrador, sobre os jogadores franceses descendentes de imigrantes:
De trem, de carro ou de bicicleta, nossos finalistas tiveram um longo e árduo caminho até a decisão. Radioactivity, por exemplo, teve que passar por dois adversários do álbumTechno Pop, e ainda pegou a fortíssimaThe Model, do The Man-Machine. Hall Of Mirrors, por sua vez, igualmente, não teve facilidades e encarou adversários como a perigosa Airwaves, além de derrubar duas ciclistas do álbum Tour De France. Mas vamos repassar, então, na íntegra, o caminho percorrido pelo nossos dois finalistas, e deixar um gostinho de cada uma para você analisar e concluir para que lado sua preferência está pendendo: Radioactivity ou Hall of Mirrors?
Se lá no Catar já sabemos que argentinos e franceses decidirão o Mundial de futebol, por aqui, finalmente conheceremos os finalistas da Copa do Mundo Kraftwerk!
Como cada dupla de jurados ganhou uma partida, corríamos o risco que cada um escolhesse um vencedor. Deste modo, convocamos um convidado "coringa" para cada confronto, de modo a não correr o risco de empate. Anderson Reis, estudante, de Porto Alegre, ajudando a decidir o confronto entre Radioactivity e Metal on Metal, e José Júnior, fotógrafo, de Niterói, colaborando em Tour de France e Hall of Mirros.
Assim, nossos especialistas, juntamente com os participantes de apoio, avaliaram as semifinais e chegaram aos vencedores.
Vamos ver então, quem vai à decisão?
Confere aí, abaixo, o jogo de cada um:
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TOUR DE FRANCE
X
THE HALL OF MIRRORS
Luna Gentile
Um dos confrontos mais difíceis que eu peguei e dois times que não estão para brincadeira. Tour De France é incrivelmente completa e bem construída sendo da década de 80. Mas The Hall Of Mirros é de outro mundo, não da para explicar essa musica que vai se construindo com passos e um teclado tranquilo. E então o meu placar é: Tour de France 2 x 4 The Hall Of Mirrors
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Luciana Danielli
Hall of Mirrors ganha nesta semifinal. Essa música é viciante e profunda, um verdadeiro poema sonoro!! Salve e muita comemoração pra Hall of Mirrors!
Tour de France 0 x 2 The Hall of Mirrors
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José Júnior
Semifinal tensa. Os times chegaram ao segundo tempo no zero a zero, pois a cada ataque, uma defesa perfeita. A velocidade ritmada de Tour de France ajudou a chegarem aos pênaltis, mas Hall of Mirrors refletiu os jogadores adversários, com sua melodia mais melancólica, os confundindo, e ganhou a partida nos penais. Um a zero para Hall of Mirros nos pênaltis. Tour de France 0 (0) x 0 (1) The Hall of Mirrors
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RADIOACTIVITY
X
METAL ON METAL
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Cly Reis
Jogo grande. Duas camisetas pesadas. Dois timaços!
Metal on Metal tem todas aquelas variações 'táticas', a fusão com Trans-Europe Express, os elementos que entram, os trilhos, o túnel, os vagões, o ápice, quando tudo se entra e se mistura, mas Radioactivity é um time agressivo. é um pós-punk antes do punk existir, é um metal sem guitarras, sem falar naquele solo de código Morse que é pra quebrar qualquer um. Aí não tem jeito. Radioactivity detona os trilhos de Metal on Metal e vence a partida.
Radioactivity 4 x Metal on Metal 2
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Daniel Rodrigues
Times grandes, que conduzem bem o jogo, que não têm pressa em alongar a bola. Times que sabem do seu tamanho e qualidades. “Metal on Metal”, que já abre na sequência de “Trans-Europe Express” com a locomotiva a pleno vapor, vai pro ataque no início e marca nos primeiros segundos da partida. Mas do outro lado tem “Radioactivity”, que com seu início épico, em que o sinal de radioatividade vai se transformando nos acordes musicais, mal dá tempo da comemoração e também faz o seu. Que jogo! Na sequência, “Metal”, na parte em que os trilhos vão sendo construídos, põe outro no placar, mas “Radioactivity” não se intimida, e devolve a igualdade no solo de contador Geiger. Partidaça! Os times seguem se estudando, se respeitando, mas sem deixar de oferecer perigo na meta adversária. Até que, já na prorrogação, “Metal” não resiste à imponência de “Radioactivity” e leva o terceiro, que sacramento o placar de uma legítima semi de Copa Kraftwerk:
Radioactivity 3 x 2 Metal on Metal
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Anderson Reis
Metal on Metal começa o jogo fraca no primeiro tempo, já no segundo ela da uma animada, porém não consegue bater a Radioactivity que já é um time bom do início ao fim.
Se lá no Catar temos dois europeus, um sul-americano e um africano, no nosso certame futebolístico-musical temos duas do álbum Trans-Europe Express, uma do Tour de France Soundtracks e uma do Radio-Activity.
Será que a França vai para afinal no Catar e Tour de France vai para a final aqui? Será que teremos uma final dos ferroviários? Ou será que os radiativos chegarão à grande decisão pra causar uma explosão atômica?
Saberemos...
Agora tudo é semifinal!
Sorteio feito, confira aí, abaixo, como ficaram os confrontos da Copa do Mundo Kraftwerk:
Futebol sempre rende boas histórias, tanto quem torce, assiste, como de quem joga profissionalmente ou mesmo no campinho de terra da esquina. "Boleiros - Era uma vez o futebol...", filme de Ugo Giorgetti se vale desses papos de futebol para trazer um filme gostosíssimo para os apaixonados pelo esporte. Seis amigos que já tiveram envolvimento profissional com futebol, como jogadores, árbitros ou técnicos, se reúnem num barzinho para uma cervejinha de final de tarde, depois do expediente dos seus trabalhos, agora, convencionais. Ali, cercados pelos retratos de seus tempos de estrelado no futebol, espalhados pelas paredes, relembram episódios, passagens, momentos, histórias do tempo da bola, algumas vividas por eles, outras folclóricas, outras históricas, outras lendárias, tudo com muita paixão e nostalgia pelos tempos em que, de alguma forma, faziam parte daquele universo. Na mesa, relembram, primeiro, a história do árbitro comprado, vivido magistralmente por Otávio Augusto, que além de marcar um pênalti inexistente, fez o jogador bater até acertar, e como não acertou nenhuma, ele mesmo, o juiz, encarregou-se de trocar o batedor. Depois alguém puxa a do ex-craque Paulinho Majestade, idolatrado por um repórter que quer fazer uma matéria sobre ele e descobre que o ex-craque encontra-se numa péssima situação, muito mal de vida, mas ao encontrá-lo para a entrevista, surpreende-se com a excelência que ainda desfila e com a reverência que ainda lhe prestam aqueles que o conheceram em seus bons tempos. Outro na mesa, ex-jogador do São Paulo e que dirige uma escolinha para crianças, conta a história do garoto que apareceu por lá, olhando o jogo, grudado na cerca, um moleque pobre, sujo, maltratado, mas que, chamado a jogar, mostrara-se muito melhor do que os garotinhos classe alta da escolinha. Muito talento mas que, por conta, provavelmente, das complicações na "quebrada" onde morava, não apareceu mais por lá. Alguém lembra do Azul, jovem promessa, candidato a craque, enrolado com a mulherada e disputado por entrevistas nos programas esportivos, que, depois de um episódio de racismo que sofrera numa batida policial, possivelmente, acelerara as negociações para jogar na Itália. Um fala em lesões, médicos, rezas, simpatias, outro lembra do caso do Caco, jogador do Corinthians que nunca se curava de uma lesão no joelho, até o dia em que o cunhado do craque o levou para um curandeiro lá na "área" deles, o Pai Vavá, interpretado hilariamente por André Abujamra. Na última, o mais novo da mesa, um recém aposentado do futebol, conta aos demais o dia em que teve que dormir no terraço do hotel da concentração para deixar o quarto livre para a estrela, e o mãos bonitão do time, Fabinho Guerra, receber uma bonitona que conhecera no saguão, para desespero do técnico, brilhantemente interpretado por Lima Duarte, que exigia que todos os jogadores dormissem cedo. A maioria das histórias é engraçada, algumas, são um pouco mais tristes, como a do garoto da escolinha, outras comoventes como a do Paulinho Majestade, outras trazem uma reflexão como a do craque abordado pela polícia por ser negro num carrão, mas em todo o papo, todas as lembranças está presente o vazio que fica na vida daqueles homens depois que a carreira acaba. É exatamente o que é expressado e torna-se marcante na fala de Naldinho, numa atuação esplendorosa de Flávio Migliaccio, no final do filme. A sensação de ser aplaudido por multidões, ser reconhecido na rua, parado pata fotos, autógrafos, e, de repente, não se sentir ninguém, sentir-se um nada, não saber sequer quem realmente é. Em uma época que os programas de bate-papo com boleiros estão na moda, "Boleiros" é uma gostosa resenha com boas risadas e algumas coisas interessantes para se pensar.
A mesa de ex-craques rendendo muitas risadas e muitas histórias.
Se no Catar Argentina, França, Croáccia e Marrocos foram os classificados nas quartas e garantiram vaga para as semifinais, por aqui, na Copa do Mundo Kraftwerk, conheceremos também os semifinalistas.
Nessas quartas, teve clássico dos metais (Metal on Metal contra Robots), teve clássico dos transportes (Tour de France contra Trans-Europe Express), e muita disputa também nos outros dois jogos, afinal num torneio como esse, só dá jogaço.
E aí, quem será que os nossos especialistas kraftwerkianos classificaram?
Vamos conferir como foram os confrontos na avaliação de Luna Gentile, Cly Reis, Daniel Rodrigues e Luciana Danielli:
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Luna Gentile
Trans Europe Expres x Tour de France Um jogo disputado com dois times de primeira. Trans-Europe´é muito marcante na história da banda e Tour de France é aquela música que a gente consegue sentir como se estivesse andando de bicicleta.
Pela sua introdução, com a respiração ofegante, e todos os seus elementos, Tour de France ganha.
TRANS-EUROPE EXPRESS 1 x TOUR DE FRANCE 2
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Cly Reis
Metal on Metal x The Robots
Com certeza o confronto mais difícil que me caiu nas mãos, até agora. Duas gigantes! É tipo um Flamengo x Corinthians, um Alemanha x França, um Real Madrid x Liverpool...
Mas Metal on Metal, se fosse um time de futebol, parece aquela equipe que tem mais variações táticas, sai do 4-4-2, passa pro 4-3-3, se precisar cai num 4-1-4-1, conforme a necessidade do jogo. Ela incorpora Trans-Europe Express, adiciona aqueles sons metálicos dos trilhos, dos vagões, transforma-se em Abzug, volta aser TEE, mistura tudo e no final, o ouvinte está em êxtase. Já The Robots, mesmo brilhante, parece aquele time que tem um estilo de jogo mais fixo, um jogo mais macanizado, todos os jogadores sabem perfeitamente o que fazer, o fazem de modo brilhante mas o adversário consegue prever os próximos movimentos e fica fácil de marcar as principais jogadas.
METAL ON METAL 3 x THE ROBOTS 1
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Daniel Rodrigues
Radioactivity x Boing Boom Tschak
Jogo bom, bem jogado, com esquemas táticos diferentes e propositivos, mas... com um time realmente grande. “Radioactivity” impõe um ritmo cadenciado, bola no chão, toque de pé em pé com categoria, diante de uma “Boing...” boa de bola, atrevida, com variações de jogadas, mas que não segura a adversária, que abre o placar logo de cara. Depois, sem mudar a cadência, enfia um segundo e um terceiro, tudo no primeiro tempo. Avassaladora. “Boing...”, que tem muitas qualidades, volta pro segundo tempo atacando e marca também, mas aí a adversária, com sua imponência de faixa-título do disco que solidificou o estilo da banda, segura o placar e fecha a conta: 3 x 1 pra “Radioactivity”.
RADIOACTIVITY 3 x BOING BOOM TSCHAK 1
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Luciana Danielli
Planet of Visions x The Hall of Mirrors
Novamente entre a cruz e a caldeirinha... E por conta disso escolho “Hall of Mirrors”, pois esta música pertence a um dos maiores discos de todos os tempos "Trans-Europe Express". Essa música é sombria, é de viciar, como o disco, a discografia, a banda. Kraftwerk é uma das bandas que nos revela, representa o extraordinário e famigerado século XX.
Assim que começou a pandemia e veio a determinação do "fique em casa", minha filha, não retornando à escola até a normalização das atividades, que só aconteceria meses depois, ficara com o último livro que pegara na biblioteca da escola. Esse livro era "Bailado Esportivo", livro de poesias sobre futebol, do niteroiense Hardy Guedes, com belíssimas ilustrações de Renato Moriconi.
Sorte nossa! Nós dois, apaixonado por futebol, adorávamos ficar lendo esse livro!
Hardy, também cantor e compositor, com muita sensibilidade de torcedor, de amante do futebol, provavelmente de praticante de peladas desde a infância, capta e transmite com simplicidade, singeleza, o encanto do futebol em todos seus âmbitos: dentro do campo, em cada posição, na torcida, na imprensa, no futebol profissional, no amador, num estádio repleto em plena Copa do Mundo ou num campinho de terra. Em seus versos exalta o êxtase da vitória, lamenta o dissabor da derrota, ou, meramente, ressalta o prazer de torcer pelo seu time, independente do resultado que ele possa lhe proporcionar ("Torcer pelo meu time / não tem explicação. / Nem sempre é o melhor / nem sempre é o campeão. / Mas torço porque torço... / É coisa do coração...).
Leitura muito gostosa. Líamos, minha filha e eu, com frequência antes da hora de dormir. Pena que tivemos que devolver quando voltaram as aulas.
E o pior é que depois não encontrei mais nas livrarias...
Uma das belas ilustrações do artista Renato Moriconi.
Pois é, agora são apenas quatro jogos e tudo começa a se definir.
Alguns gigantes caíram pelo caminho e restaram apenas essas oito forte concorrentes.
Em álbuns, supremacia para o Trans-Europe Express, que coloca 3 participantes nessa fase, enquanto que todos os outros participantes, colocam penas um, sendo que dois grandes discos, Autobahn e Computer World, sequer classificaram representantes para essa reta final.
Será indício de que algum viajante do expresso trans-europeu levará o título, ou maioria não significa nada nesse momento da competição?
Saberemos nos próximos dias.
Enquanto isso, conheça os confrontos das quartas-de-final.
Muita gente defende que o jogo de futebol fica melhor e deveria ser jogado com dez jogadores de cada lado. Pois, aqui, no nosso jogo, os dois times já começam com dez. No romance "O Caso dos Dez Negrinhos", da mestra do mistério, Agatha Christie, nos apresenta uma trama em que oito desconhecidos são convidados, por um misterioso anfitrião, para um jantar num local isolado e de difícil acesso, no qual, por meio de uma gravação, são revelados crimes que cada um dos convidados e seus dois mordomos teriam cometido. A partir daí, um a um, eles vão sendo assassinados de maneira muito semelhante à subtração de um conhecido versinho infantil sobre dez negrinhos e para cada um que morre, uma estatueta de um conjunto de dez que enfeita a mesa de jantar, é removida. Haverá um décimo primeiro "jogador" ou um dos próprios convidados é o matador?
Nossos dois adversários contam a mesma história, mas com propostas de jogo um pouco diferentes: "O Último dos Dez", também conhecido como "e Não Sobrou Nenhum", de 1974, de Peter Collinson, ousa e faz algumas alterações na história original: ao invés de situar a trama em uma ilha, como no romance original, transfere a ação para o deserto do Irã, em um luxuoso hotel no meio do nada, ao qual os convidados chegam, deixados de helicóptero. Em nome desse atrevimento, ele é obrigado a fazer outras modificações e a maior parte das mortes acaba sendo diferente das idealizadas pela escritora, sendo adaptadas para situações determinadas pela localização, ambiente, hábitos culturais, comprometendo bastante a ligação dos assassinatos com o poema infantil que os ordena e determina.
As ousadias até funcionam, como adaptação cinematográfica, se formos analisar isoladamente, enquanto proposta, filme de mistério e tal, tá ok: deserto, serpentes, hábitos locais de execução, ruínas, etc. Mas, o problema é que, além de mexer numa obra impecável da maior escritora do gênero, no comparativo com o adversário desse jogão do Clássico é Clássico, a opção pelas alterações acaba pesando.
"O Caso dos Dez Negrinhos", de Stanislav Govorukhin, de 1987, é muitíssimo mais fiel ao original de Agatha Christie. A ação se passa numa casa, em uma ilha, no topo de um rochedo, cujo acesso se dá apenas por barco e apenas quando a maré permite; a produção, embora russa, tem todo o aspecto dos filmes noir norte-americanos, com chapéus, sobretudos, véus, persianas, sem perder, contudo, sua identidade; os crimes seguem à risca os versos do poema dos negrinhos que, por sinal, está exposto, emoldurado, em cada um dos quartos dos convidados, recebendo sua devida importância dentro da trama como acontece no livro; e a atmosfera, a casa, a ilha, o mar, os rochedos, tudo é muito mais angustiante e claustrofóbico do que no filme inglês.
"O Último dos Dez" (1974) - trailer original
"O Caso dos Dez Negrinhos" (1987) - trailer original
*não conseguimos os trailers dublados ou legendados de nenhum dos dois, no entanto a amostragem
destes originais serve para dar uma boa noção de escolhas e elementos visuais que mencionamos na análise das obras.
Enquanto a versão inglesa tem um aspecto árido, quase luminoso, uma decoração rica em ouro e pesada em tapetes persas, a produção russa é cinzenta, sombria, rústica, amadeirada, trabalha em planos fechados, sombras, reflexos, janelas, enquanto o filme de 1974 opta por planos mais abertos, travelings longos, e tomadas, na maioria das vezes, pegando todos os personagens no mesmo plano.
O filme de Govorukhin traz uma atmosfera mais misteriosa, furtiva, obscura, os convidados se esgueiram, são evasivos e parecem mais suspeitos por mais tempo, até que fique claro, por fim, que são tão vítimas e vulneráveis quanto qualquer outro ali.
O filme de 1974 até tem um elenco mais estelar, com Gert Fröbe, o Goldfinger de 007, Herbert Lohm, o comissário Dreyfuss da Pantera Cor-de-Rosa, Oliver Reed, de "Golpe de Mestre", "O Gladiador", o versátil Richard Attenborough, diretor do clássico "Gandhi, uma ponta do cantor francês Charles Aznavour, o primeiro a morrer, e a voz de Orson Welles, revelando os crimes de cada um dos convidados, mas no fim das contas, com exceção de Attenborough, que faz um bom juiz Cannon e Reed, como Detetive Lombard, tantos medalhões acabam não fazendo tanta diferença assim. O filme russo, ainda que não tenha nomes tão conhecidos no ocidente, traz o aclamado Vladimir Zeldin, a bela Tatyana Drubich, e Alexander Kaydanovski, o "Stalker" do filme de Tarkowski, no papel do investigador Lombard. Os demais, embora nada badalados, têm um um ótimo trabalho coletivo e garantem o bom desenvolvimento e a coesão do filme.
Dentro de campo, onze contra onze..., ou melhor, dez contra dez, o filme de 1987 leva vantagem. A fidelidade à novela original faz diferença e garante um gol para o time de Govorukhin, o clima noir, o visual soturno, o jogo de sombras, reflexos, espelhos, vidros, aumenta a vantagem.
No entanto, a audácia da proposta, da mudança da ambientação, ainda que não totalmente bem-sucedida, merece reconhecimento e a recompensa com um gol. Mas a alegria do time de 1974 não dura muito e a constante referência e a vinculação dos crimes aos versos nas paredes dos quartos, dá mais um gol para o time russo.
No tocante à escalação, Peter Collinson dá a camisa 10 para Oliver Reed, que até dá boa contribuição mas não consegue desequilibrar, até porque, do outro lado, o 10 é o 'Stalker' Alexander Kaydanovski que articula muito bem o jogo o tempo inteiro; Tatyana Drubich, no time de 1987, se sai muito melhor do que Elke Sommer como a secretária contratada pelo incógnito anfitrião, encarnando melhor o espírito da personagem, Vera Clyde, na versão inglesa e Vera Claythorne, na russa; e, de um modo geral, mesmo com mais jogadores destacados, rodados, com passagens por times grandes, o time inglês não consegue impor seu jogo, com exceção de Richard Attenborough, como juiz Cannon, que tem um desempenho excelente, sobretudo na sequência final, que é muito boa também no outro filme, com um flashback crucial e aquela recapitulação característica de Agatha Christie, mas que não supera a performance de Attenborough e a surpresa do filme inglês. No entanto, a cena em questão é resultante de uma mudança decisiva no final do romance original e isso é imperdoável!
(Para quem não leu o livro ou não viu nenhuma das adaptações, aqui vão spoilers - desculpem, mas absolutamente necessários).
Em nome de um final feliz, de ficar bem com o público, de não matar o 'mocinho' e a 'mocinha' do filme, Peter Collinson faz com que Lombard (Reed) depois de uma farsa com Vera Clyde, reapareça vivo, ao final, no salão, em frente ao juiz Cannon que, supondo êxito em seu plano, já dera um gole numa taça de veneno a fim de concluir seu plano, incriminando a garota pelos nove crimes, deixando-a sem opção, induzindo-a a fazer uso da forca já pendurada previamente pelo juiz na sala. Já sob efeito da substância, o velho morre (maravilhosamente bem) e o casal é resgatado do local pelo mesmo helicóptero que os deixara lá.
No outro, não! Depois de atirar, DE VERDADE, em Lombard, desconfiada e com medo dele, Vera volta para casa e encontra em seu quarto apenas a forca dependurada à sua espera. Com a culpa pelo crime que lhe é imputado na gravação e percebendo-se sem saída diante de nove cadáveres que, naturalmente, seriam atribuídos a ela, a garota sobe numa cadeira e coloca seu lindo pescocinho na corda e dá fim à sua vida, para regozijo do juiz que se fingira de morto a fim de fazer a justiça que os tribunais não fizeram. Realizado, ele, mais criminoso que todos ali, mete uma bala na própria cabeça, concretizando seu último ato de justiça, em uma cena, igualmente, de se aplaudir de pé. Pela fidelidade ao original no ápice do filme, na resolução do caso, vai mais um gol para o time russo.
O time britânico ainda marca um nos acréscimos pois, depois da morte do juiz e da retirada dos dois sobreviventes, de helicóptero, a gravação, com a narração de Orson Welles volta a ser rodada enquanto passam os créditos finais. Mas não há tempo para mais nada e o jogo termina assim.
Podia ter proposto, aqui o enfrentamento de um dos dois, "O último dos Dez" ou "O Caso dos Dez Negrinhos" contra a primeira adaptação para cinema, de 1939, de René Clair, "E Não Sobrou Nenhum", mas preferi tirar um pouco o foco das produções norte-americanas e, embora a Rússia não esteja na Copa do Catar, e venha criando problemas para o mundo inteiro com essa treta com a Ucrânia, achei que seria um confronto internacional mais interessante e original esse embate de russos contra britânicos.
Mas, olha, hein... o time de René Clair também teria sérias dificuldades contra esse ótimo time de Govorukhin.
No alto, à esquerda, o hotel que receberá os convidados, no meio do deserto iraniano, e, à direita, a mansão de aspecto sinistro no alto de um rochedo cercado pela água; na segunda linha, as estatuetas dos dois filmes, que vão sendo subtraídas conforme uma pessoa morre; na sequência, os jantares das duas versões, ainda com todos os acusados vivos na quarta linha, o plano aberto, alto, do filme inglês, e uma visão mais próxima, mais cúmplice, do filme russo. Na penúltima linha, o visual típico dos anos 70, com golas rolês, golas cubanas, branco, tweed, do primeiro filme, e o aspecto muito Hollywood anos 40, da outra versão; e, por fim, na última, as duas Veras (Clyde, no filme de 1974 (esq.), e Claythorne (dir.), no de 1987) no momento decisivo da trama.