Me vê aí um punhado de
desrespeito, pô. Tô nem aí pras desgraças mundiais. Sim, hoje quero ser
egoísta. Não quero obrigações morais e muito menos delicadezas sociais. Hoje
vou virar a cara para a senhora fofoqueira que encontro na escada, todo dia. Na
boa, ela é chata. E meu dedo vai fechar o elevador antes do cara atrasado
conseguir entrar. To nem aí, pode agendar minha passagem pro inferno.
Hoje, quero fazer só o que eu
quiser. Falar para namorada que ela tá gorda sim e – caramba! – como eu amo ela
assim. Também não vou dar 10% pro garçom, não. Não derramou nada em mim, mas
errou minha bebida três vezes. Na próxima, amigo. Abração.
Ah, me dá também uns xingamentos,
por favor. Um vai pro seu filho. Que piá chato, senhora. Esse dedo já tocou no
nariz dele e em todas as comidas dessa mesa, umas seis vezes. Por favor,
controle as melecas do seu filho! Outro xingamento vai pro descolado piadista.
Cara, na boa, a gente ri de você, e não com você, realmente eu preciso
explicar? E dedico mais um pro mané que não deixa eu atirar no gato porque o
gato já morreu. Deixa eu te dizer, senhor politicamente correto, eu canto a
porcaria da música do jeito que eu quiser. Acredito que vou conseguir ensinar
pro meu filho não fazer tudo que ouve nas músicas antes dele aprender a catar
paus no meio da rua. E já que tô falando, sempre achei a Dona Chica uma omissa.
Admirou-se com o berro do gato, mas não fez nada pra ajudar o coitado? Baita de
uma bundona.
Enfim, me vê uma dose caprichada
de impaciência. Vou usá-la com a minha mãe na próxima vez que ela ligar na hora
errada. E vou falar bem de boa pra ela, na sinceridade. “Pô, mãe. Tomei água
hoje, sim. Agora desliga o telefone que eu tô transando”. Vou mesmo. E, ah, vou
dizer pro porteiro do prédio “bom dia, o caramba! Acordei cedo pra vir
trabalhar, que tu quer sorrindo pra mim?”, certo que vou. E pra encerrar, nem
um final bonito pro meu discurso vou dar. Porque, de boa, tô nem aí se tem
alguém que vai gostar.
O lance é que por um dia não ligo
se o mundo me odiar.
por Luan Pires
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