Transpiração ou inspiração? A
história por trás de “Rubber Soul”, o álbum revolucionário que sobreviveu ao
deadline
"Eu realmente não estava completamente
pronto para aquela unidade.
pronto para aquela unidade.
Parecia que todas [as músicas] eram juntas.
‘Rubber
Soul’ era uma coleção de canções que,
de alguma forma, eram juntas
como nenhum álbum já feito antes,
de alguma forma, eram juntas
como nenhum álbum já feito antes,
e fiquei muito impressionado.
Eu disse: ‘É isso. Eu
realmente fui desafiado
a fazer um grande álbum’."
a fazer um grande álbum’."
Brian Wilson,
líder
dos Beach Boys
Quando o assunto em pauta é a obra dos Beatles, a transpiração sempre
andou abraçada à inspiração. Principalmente, no período entre 1962-1965, quando
o quarteto vivia à base de anfetaminas para cumprir a agenda transbordada de
shows, aparições na BBC, entrevistas e sessões de gravação em Abbey Road.
Com “Rubber Soul” não foi diferente. O LP, lançado em 3 de Dezembro de
1965, teve a honra de ser o primeiro a marcar um dos “fins” ligados aos
Beatles. John, Paul, George e Ringo bateram o martelo para o empresário Brian
Epstein. A turnê pelo Reino Unido seria a última da carreira. E eles cumpriram
a promessa. O fim dos shows foi uma
exigência, já que o interesse era desenvolver as composições e o trabalho no estúdio.
“Rubber Soul”, não há dúvida, foi o grito inicial de independência da banda
para fugir da maratona de compromissos... Apesar de que muito sofrimento ainda
estava por vir.
Bob Dylan
E não foi brincadeira. Com o Natal chegando, e a turnê pela
Grã-Bretanha à vista, os Beatles foram obrigados a produzir (com ajuda de
Norman Smith e George Martin) o sexto álbum da carreira em apenas um mês, entre
Outubro e Novembro de 1965.
A inspiração transbordava pelas mentes da principal dupla de
compositores. Uma das fontes mais
generosas foi Bob Dylan, que continuava a influenciar o grupo (“Help” – também
lançado em 65 – trouxe “You’ve Got To Hide Your Love Away”, bastante dylanesca).
Em “Rubber Soul”, o mix de folk e
eletricidade de álbuns como "Bringing It All Back Home" e "Highway 61 Revisited" (respectivamente lançados em março e agosto daquele ano) deram o toque do novo
rock americano ao sabor britânico de Liverpool.
Deadline
Além de Lennon/McCartney,
George Harrison aparecia naquela hora como a segunda força criativa. Na
verdade, até Ringo conseguiu um crédito em uma das 14 faixas que entraram no
disco. Mas como não dava apenas para ficar na inspiração, os Beatles precisaram
resgatar músicas de seu arquivo para completar o álbum. O deadline era antes do
Natal. E antes da excursão pelas Terras da Rainha, que estava marcada para
iniciar na Escócia, dia 3 de Dezembro (Exatamente no dia que o LP chegaria às
lojas).
Por isso, “Wait” foi fisgada das fitas de gravação de “Help!”, e “What
Goes On” (composição antiga de John) teve de ser recuperada para ganhar cores
das novas roupas dos Beatles. No caso de
“What Goes On”, Ringo contribuiu com 5 palavras, e ganhou o crédito como
Richard Starkey, ao lado de John Lennon e Paul McCartney. As demais faixas –
incluindo mais duas não incluídas no disco – precisaram ser geradas “à força”
para cumprir o calendário.
“Maternidade”
A história das músicas dos Beatles pode ser complexa, mas como também
existe limite de tempo e espaço para escrever, os contos da maternidade
criativa serão breves...
“I’m Looking Through You” nasceu lenta, e ganhou mais pegada na versão
definitiva. A música, que escancara os problemas de relacionamento entre Paul
McCartney e Jane Asher, é um rocker
com sombras do som produzido por Dylan em "Highway 61 Revisited" e do single “Positively 4th Street”.
A origem da linda balada “In My Life” é das mais disputadas. John
garantiu que Paul criou o meio da música. Paul disse em sua biografia, “Many
Years For Now”, que colocou a melodia sobre um longo poema editado pelo amigo
sobre a infância e amigos da região de Penny Lane, em Liverpool.
A melodia de “Michelle” já existia há alguns anos na cabeça de Paul,
mas só virou composição com a ajuda de John que a complementou com os “I want you, I want you, I want you”,
inspirado por Nina Simone. O francês da música veio das aulas de francês da
mulher do amigo Ivan Vaughan.
“Drive My Car” é outro exemplo da parceria Lennon/McCartney. Ao invés
de “You can give me golden rings”,
John sugeriu “Baby you can drive my car”,
alimentando o duplo sentido materialista da letra.
Já “The Word” foi a primeira tentativa da dupla de escrever sobre o que
aconteceria no “Verão do Amor” dois anos mais tarde. “Say the Word and
you’ll be free... it’s sunshine”.
The Byrds
Na turnê de 65 pelos Estados Unidos, George Harrison tinha ficado amigo
da banda The Byrds, que misturava o folk
e o rock, também influenciada pelo som de Bob Dylan. Esta inspiração aparece
nos arranjos de “If I Needed Someone” – o seu recado nada animador às fãs
histéricas – graças à magistral base criada pela guitarra de 12 cordas usada no
estúdio. Sua outra contribuição – “Think For Yourself” – tem letra filosófica e
conteúdo pragmático. A letra acusa alguém de falar mentiras. Quem seria? A
mulher Patty Boyd (que viria a ser mulher de Eric Clapton anos mais tarde) ou o
empresário Brian Epstein?
Ciúmes
As músicas de Paul McCartney e John Lennon também não tinham tons
alegres. “You Won’t See Me” e
“We Can Work It Out” seguem a linda de “I’m Looking Through You”. Todas
são gritos de descontentamento com a relação amorosa com a noiva, uma atriz
bastante ocupada com o tradicional grupo inglês Old Vic.
Já a sensual “Girl” – com
instrumentação que remete à música grega – conta a história de uma mulher
destruidora de corações, insensível e materialista.
“Run For Your Life” é o grito de ciúmes de John, casado com Cynthia
Powell. “Day Tripper” (que divide o espaço do single com “We Can Work It Out”) fala de mulheres e drogas de forma
subliminar. Segundo o próprio Lennon, assim como “Nowhere Man” (resultado de
uma noite em claro, tentando buscar inspiração) a música foi criada “à força”
(imagine se não fosse) para preencher os 14 sulcos do vinil.
Uma das (muitas) joias da coroa do LP fecha esse texto. Em “Norwegian
Wood” (100% dylanesca) John e Paul dão show nas harmonias, e contam a história
de um provável caso extraconjugal de Lennon que termina com incêndio no
apartamento do casal. “So I lit a fire –
isn’t good, Norwegian Wood” (“Então eu toquei fogo – a madeira da Noruega não é
das melhores”).
A madeira citada na música pode não ser das melhores. Mas “Rubber Soul”
– que completou 48 anos em dezembro de 2013 – é força de inspiração contínua no
universo musical de hoje. E do amanhã.
por Eduardo Lattes
fonte e revisão: Claudio Dirani,
autor de "Paul McCartney - Todos os Segredos da Carreira Solo" (esgotado na editora)
e "Na Rota da
BR-U2" (disponível com o autor).
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FAIXAS:
1. "Drive My
Car" - 2:30
2. "Norwegian
Wood (This Bird Has Flown)" - 2:05
3. "You Won't See
Me" - 3:22
4. "Nowhere
Man" - 2:44
5. "Think for
Yourself" (Harrison) - 2:19
6. "The
Word" - 2:43
7.
"Michelle" - 2:42
8. "What Goes
On" (Lennon/McCartney/Starr) - 2:50
9. "Girl" -
2:33
10. "I'm Looking
Through You" - 2:27
11. "In My
Life" - 2:27
12. "Wait" -
2:16
13. "If I Needed
Someone" (Harrison) - 2:23
14. “Run for Your Life"
- 2:18
todas de Lennon/McCartney, exceto indicadas
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OUÇA:
Eduardo Lattes de Mattos Vellani é paulista é formado em Comunicação Social, Publicidade e Propaganda.RP pela FIAM -Faculdades Integradas Alcântara Machado, de São Paulo. Devoto de Elvis Presley e de seus “apóstolos”, os Beatles, tem quase duas décadas de experiência em Public Relations. Coordena matérias jornalísticas de cobertura em campo, tendo acompanhado de perto a execução de filmagens e reportagens para clientes como SBT, Bandeirantes, FAAP, Roberto Manzoni, Astrid Fontenelle e vários outros.
Muito boa as histórias das origens das melodias e letras dos caras.
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