Passou por um carro vermelho. Agora já
não estava mais muito longe de casa. Mais alguns quarteirões e
poderia relaxar depois de um dia tumultuado.
Andou mais alguns quilômetros e, por
coincidência, outro carro vermelho muito parecido com o que acabara
de ultrapassar, surgia à sua frente. Apenas achou curioso, afinal
havia tantos carros vermelhos daquela marca por aí. O ultrapassou
também e seguiu em frente. Uma esquina, um semáforo, à direita,
direita de novo. Mais uns 10 minutos se o trânsito continuasse bom.
Mas agora já era demais: um carro vermelho exatamente igual aparecia
à sua frente de novo. E agora estava quase certo de ser o mesmo. Mas
era impossível, não podia tê-lo ultrapassado. Até porque das
vezes que cruzara com o veículo o mesmo transitava em velocidade
mínima, até, a propósito, atrapalhando os demais. Quis crer que
fosse nova coincidência mas desta vez em menos tempo do que das
anteriores, depois de ultrapassá-lo o misterioso automóvel voltava
a surgir diante de sua vista. O que estava acontecendo ali??? Alguma
brincadeira? Mas de quem? Seria mesmo o mesmo carro? Desta vez quis
certificar-se; notou em todos os detalhes possíveis; um amassado, um
arranhão, uma sujeira... Tentou olhar o motorista desta vez mas o
vidro era muito escuro. Observou um pequeno adesivo na parte
traseira, um símbolo indecifrável, uma espécie de mandala com uma
forma simétrica, de quatro pontas ao centro, e tomou aquilo por sua
pista para comprovação. Estava a, não mais que três quadras de
casa, quando comprovou sua suspeita. À sua frente reaparecia o carro
vermelho com o estranho adesivo. Como era possível? Já o havia
ultrapassado um tanto de vezes, o deixara para trás e ele não
surgia vindo de uma esquina, não passara por ele rasgando o asfalto,
não! Não tinha como estar à sua frente. Entrou numa espécie de
pequeno estado de pânico. Acelerou. Livraria-se daquele
“perseguidor”, se é que podia chamar assim. Correu, ultrapassou,
cruzou vários sinais fechados mas em um cruzamento perigoso teve que
parar no sinal vermelho. Mal parou, viu aproximar-se lentamente e
parar ao lado de seu carro o veículo misterioso. Tremeu não sabia
se de medo e de ansiedade. Então o vidro do carro ao lado foi
baixando lentamente e o rosto magro de um homem de meia idade,
grisalho, de feições secas apareceu. Dirigiu-se então, entre as
janelas dos carros ao motorista apavorado:
- Perdido, amigo?
O outro, assustado, hesitou um pouco,
mas respondeu:
- Não, não. Estou indo pra casa. -
disse forçando um sorriso ao final da frase como que para demonstrar
tranquilidade.
O outro, no carro vizinho, lançou, por
sua vez, um sorriso enigmático e observou:
- Eu acho que não.
Verde.
O misterioso carro vermelho pôs-se em
movimento e perdeu-se na noite da cidade. O outro, permaneceu ali
parado no cruzamento. Permaneceu. O sinal fechou novamente.
O carro continuou ali parado.
Cly Reis
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