Em 1996, David Cronenberg adaptou para o cinema o livro
“Crash”, escrito por James G. Ballard, em 1973. O filme chegou a ser proibido
em Londres, despertando uma larga discussão, na época, sobre a erotização da
era tecnológica e sobre o automóvel como máquina fantasmática, mortífera e
libidinal. No filme, o gozo e o prazer sexual são obtidos através de desastres
e acidentes de carro. Os personagens se aventuram no trânsito caótico de uma
grande cidade, atrás de sensações e prazeres intensos. Como se estivessem
buscando “matar o desejo”. Nestas buscas, chegam a reproduzir acidentes
automobilísticos fatais, que vitimizaram astros de Hollywood e outras pessoas
famosas.
Um automóvel coloca em jogo, de fato, uma explosiva
combinação de liberdade, desejo, voyeurismo, anonimato e direito à privacidade.
Nesse processo, os próprios hábitos sexuais acabam mesmo reconfigurados. O
escritor John Steinbeck chegou a dizer, certa vez, que “a maioria das crianças da América foi concebida em Fords Modelo T...”.
Ou seja: para ele, a vertigem da velocidade corresponderia à vertigem do
amor.
Noutro livro, Guillermo Giucci desenvolveu uma história
cultural do automóvel, como um romance de curiosidades em torno do veículo. É interessante,
por exemplo, a expressão “modernidade cinética”, que foi ali formulada. O termo
servia para nos referirmos ao período que vai de 1900 até 1940,
aproximadamente, quando começam a amadurecer aquelas que seriam algumas das
principais características da vida moderna: a velocidade e a mobilidade. No
centro desta revolução científica, tecnológica e social estava o automóvel,
obviamente. Outro ponto importante do texto de Giucci: haveria uma sexualidade
associada ao carro, aos objetos industriais e às substâncias inorgânicas.
Cena final "Crash - Estranhos Prazeres"
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Assista ao filme:
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