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sábado, 23 de setembro de 2017

"É Apenas o Fim do Mundo", de Xavier Dolan (2016)



Você retorna para um lugar que há muito tempo atrás era importante para você e quando está de volta é um mix de emoções. Boas ou ruins todas as lembranças voltam. Xavier Dolan consegue passar essas emoções através de sua câmera, ele é intimo, fechado e genial.
Longe de casa há doze anos, o escritor Louis vai ao encontro da mãe, da irmã, do irmão e da cunhada para informá-los que irá morrer em breve. No entanto, o roteiro da curta reunião, idealizado por Louis, sairá de seu controle assim que as mágoas, as memórias, as brigas e as lágrimas do passado começarem a ressurgir entre a família.
"É Apenas o Fim do Mundo" é baseado em um peça de teatro, então, já vou avisando que não tem muitos cenários e sua ação não é frenética baseando-se muito nos diálogos dos personagens e suas interações. O tom melancólico e seu desenvolvimento repleto de metáforas pode incomodar alguns, pois o ritmo de “É Apenas o Fim do Mundo” não muda do inicio ao fim e pode soar arrastado.
O belo olhar de Louis (Gaspar Ulliel)
 No entanto, esse clima mais íntimo é ótimo se o espectador estiver disposto a embarcar na proposta do filme. Dolan  fez uma excelente escolha em fazer sempre planos muito fechados e abusar de closes para captar bem as expressões dos personagens que estão sempre exalando emoções. O peso da obra está nisso, no olhar, na fala, nos gestos dos atores. Até mesmo a ambientação favorece esse intimismo uma vez que a história toda se passa, na maior parte do tempo, dentro da casa da família. De um modo geral não há exploração de outros ambientes e mesmo quando isso acontece, dentro da casa, quanto temos um plano um pouco mais aberto,o cenário fica levemente desfocado de modo que a tenção se concentre nos personagens.
Um dos poucos momentos de sorrisos e luz. 
Reparem nos olhos brilhantes dos personagens.
Não tenho muito que falar do elenco, apenas apreciar. Embora o ator principal, Gaspard Ulliel (Louis) seja o que menos conheço, gostei muito da sua atuação. Seu olhar, sua angústia preenchem o personagem, que tem algo para revelar mas não consegue colocar para fora, pois é bombardeado de coisas externas e problemas familiares, tendo que ouvir mais do que falar. Léa Seydoux (Suzanne), consegue transmitir muito bem sua admiração pelo irmão e suas frustrações; Marion Cotillard  (Catherine), num papel bem coadjuvante mas com olhar doce nos passa a inocência e bondade; Natalie Baye como a mãe, está muito bem fazendo-nos incorrer no engano de duvidar de sua lucidez; e Vincent Cassel (Antoine) com sua fúria, frustração, sempre ríspido, chega a fazer com que sintamos raiva dele em alguns momentos.
Seria impossível falar (escrever) sobre “É Apenas o Fim do Mundo ”, sem falar na sua seqüência quase final: família na mesa, jantar alegre, Louis pronto para contar o motivo de seu retorno, dizer que nunca mais irá voltar, quando começa toda a “tempestade” na mesa. Gritos, a meia luz da fotografia, os closes nos olhos, o suor, todos alterados, exceto Louis, é claro, terminando com a mãe se despedindo do seu filho, “Na próxima vez nós vamos melhorar”. Que pancada! Fiquem atentos ao simbolismo do pássaro, preso na última cena.
Léa Seydoux, casa comigo? Nunca te pedi nada.
Uma obra que se sustenta muito nas atuações, que diga-se de passagem, estão espetaculares. Uma obra muito sentimental e extremamente tocante. Toda a relação familiar, o ambiente fechado da casa, a forma como o filme desconstrói a instituição família do modo como é retratada na maioria dos filmes como lugar seguro e confortável são méritos de Xavier Dolan. Em "Apenas o Fim do Mundo" o lar não é confortante e acolhedor. É sufocante. Sentimos todos reprimidos, brigando, discutindo, parece que a casa vai explodir, mas ao mesmo tempo bate aquela vontade de abraçar todos, e confortá-los de suas angústias. Mas família não é bem isso? Apesar da brigas, das diferenças, das imperfeições de cada um (que dá muito raiva), não deixamos de nos amar e de querer cuidar um do outro.




Vagner Rodrigues

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