Você retorna para um lugar que há muito tempo atrás era importante para você e quando está de volta é um mix de emoções. Boas ou ruins todas as lembranças voltam. Xavier Dolan consegue passar essas emoções através de sua câmera, ele é intimo, fechado e genial.
Longe de casa há doze anos, o escritor Louis vai ao encontro da mãe, da irmã, do irmão e da cunhada para informá-los que irá morrer em breve. No entanto, o roteiro da curta reunião, idealizado por Louis, sairá de seu controle assim que as mágoas, as memórias, as brigas e as lágrimas do passado começarem a ressurgir entre a família.
"É Apenas o Fim do Mundo" é baseado em um peça de teatro, então, já vou avisando que não tem muitos cenários e sua ação não é frenética baseando-se muito nos diálogos dos personagens e suas interações. O tom melancólico e seu desenvolvimento repleto de metáforas pode incomodar alguns, pois o ritmo de “É Apenas o Fim do Mundo” não muda do inicio ao fim e pode soar arrastado.
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O belo olhar de Louis (Gaspar Ulliel) |
No entanto, esse clima mais íntimo é ótimo se o espectador estiver disposto a embarcar na proposta do filme. Dolan fez uma excelente escolha em fazer sempre planos muito fechados e abusar de closes para captar bem as expressões dos personagens que estão sempre exalando emoções. O peso da obra está nisso, no olhar, na fala, nos gestos dos atores. Até mesmo a ambientação favorece esse intimismo uma vez que a história toda se passa, na maior parte do tempo, dentro da casa da família. De um modo geral não há exploração de outros ambientes e mesmo quando isso acontece, dentro da casa, quanto temos um plano um pouco mais aberto,o cenário fica levemente desfocado de modo que a tenção se concentre nos personagens.
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Um dos poucos momentos de sorrisos e luz.
Reparem nos olhos brilhantes dos personagens.
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Não tenho muito que falar do elenco, apenas apreciar. Embora o ator principal, Gaspard Ulliel (Louis) seja o que menos conheço, gostei muito da sua atuação. Seu olhar, sua angústia preenchem o personagem, que tem algo para revelar mas não consegue colocar para fora, pois é bombardeado de coisas externas e problemas familiares, tendo que ouvir mais do que falar. Léa Seydoux (Suzanne), consegue transmitir muito bem sua admiração pelo irmão e suas frustrações; Marion Cotillard (Catherine), num papel bem coadjuvante mas com olhar doce nos passa a inocência e bondade; Natalie Baye como a mãe, está muito bem fazendo-nos incorrer no engano de duvidar de sua lucidez; e Vincent Cassel (Antoine) com sua fúria, frustração, sempre ríspido, chega a fazer com que sintamos raiva dele em alguns momentos.
Seria impossível falar (escrever) sobre “É Apenas o Fim do Mundo ”, sem falar na sua seqüência quase final: família na mesa, jantar alegre, Louis pronto para contar o motivo de seu retorno, dizer que nunca mais irá voltar, quando começa toda a “tempestade” na mesa. Gritos, a meia luz da fotografia, os closes nos olhos, o suor, todos alterados, exceto Louis, é claro, terminando com a mãe se despedindo do seu filho, “Na próxima vez nós vamos melhorar”. Que pancada! Fiquem atentos ao simbolismo do pássaro, preso na última cena.
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Léa Seydoux, casa comigo? Nunca te pedi nada. |
Uma obra que se sustenta muito nas atuações, que diga-se de passagem, estão espetaculares. Uma obra muito sentimental e extremamente tocante. Toda a relação familiar, o ambiente fechado da casa, a forma como o filme desconstrói a instituição família do modo como é retratada na maioria dos filmes como lugar seguro e confortável são méritos de Xavier Dolan. Em "Apenas o Fim do Mundo" o lar não é confortante e acolhedor. É sufocante. Sentimos todos reprimidos, brigando, discutindo, parece que a casa vai explodir, mas ao mesmo tempo bate aquela vontade de abraçar todos, e confortá-los de suas angústias. Mas família não é bem isso? Apesar da brigas, das diferenças, das imperfeições de cada um (que dá muito raiva), não deixamos de nos amar e de querer cuidar um do outro.
Vagner Rodrigues
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