A refilmagem de "Evil Dead - A Morte do Demônio", de 2013, é um daqueles exemplos clássicos de que nem sempre o fato de ter um bom orçamento garante um grande filme. Quando se fala em "filme de fundo de quintal", pode-se pensar quase literalmente no longa de Sam Raimi, que se não foi num quintal foi num sítio caindo aos pedaços. Problema? Não! Sam Raimi fez de sua limitação um de seus trunfos e a choupana escangalhada serviu como cenário sinistro para uma história simples, banal, clichê mas que tornou-se um grande clássico do cinema das últimas décadas. Para quem não conhece a história, um grupo de amigos vai passar um fim de semana numa cabana nas montanhas, em um lugar isolado no meio de uma floresta. Lá descobrem, no porão, um livro que, uma vez recitadas suas passagens, desperta demônios lá adormecidos.
Mesmo as atuações caricatas do elenco, formado basicamente por amigos do diretor; o tom cômico; e os efeitos especiais muitas vezes toscos, não desvalorizam em nada o trabalho de Raimi e, por incrível que pareça, não deixam o filme menos assustador. Talvez parte do problema de sua refilmagem tenha sido exatamente o fato de se levar muito a sério. A própria opção por uma protagonista feminina já indica uma pretensão além do entretenimento que, neste caso, não fazia muito sentido nem representava um ganho efetivo. Atitude? Demonstração de coragem? Prova de que mulheres também podem enfrentar grandes ameaças?... Tudo isso é válido e importante, ainda mais numa indústria tão machista como a do cinema, mas me parece que não era a hora nem o lugar. Se bem que mesmo que fosse um homem no papel seria difícil superar a performance do carismático Bruce Campbell, (que por sinal faz uma aparição na nova versão) que, por pior que fosse como ator, com seus trejeitos, exageros e caretas, tem uma daquelas atuações tão marcantes que eternizam um personagem.
Na tentativa de dar mais dramaticidade a algumas situações do original, o remake do diretor Fede Alvarez torna-se enfadonho e arrastado como é o caso da leitura do Livro dos Mortos, cheia de enrolação e pequenos desdobramentos paralelos. A própria cena do estupro da árvore, um clássico do cinema, ainda que tenha um ganho técnico e seja, a bem da verdade, mais soturna, não consegue superar em impacto a antiga. Aquele movimento de câmera, veloz, quase rasteiro, por entre as árvores da floresta, que virou meio que uma assinatura de Sam Raimi, é reproduzida por Fede Alvarez mas me parece também mal utilizada ou no mínimo uma mera cópia, a essas alturas, bem menos impressionante do que quando foi feita pela primeira vez.
Cena do estupro da árvore - 1981
Cena do estupro da árvore - 2013
Embora tenha a benção de Sam Raimi, que produz o longa, "A Morte do Demônio" (2013) não chega aos pés do original. Nem um roteiro mais elaborado, nem melhores atores, nem melhores recursos técnicos, nada disso foi o suficiente para desbancar um filme despretensioso mas claramente feito com gana. Coisa de quem sabia muito de cinema, tinha boas ideias, só não tinha muita grana na época, mas deu um jeito nisso com muita criatividade e paixão pelo cinema.
Há versões de que na verdade, o novo filme não seria uma refilmagem e sim uma continuação, o que só pioraria sua situação considerando a quantidade de situações iguais à do antigo, tornando, aí sim, um grande pastiche sem nenhum valor.
Mais uma vez, o CLÁSSICO é o CLÁSSICO, já o vice-versa, com certeza, aqui, não se aplica.
O demônio no porão nas duas versões, à direita o de 2013, bastante assustador, para ser bem justo. |
Evil Dead '81 não perdoa e corta todos os membros da nova versão com uma motosserra, ao melhor estilo de Ash, seu protagonista.
Vitória fácil.
Evil Dead '2013 até consegue seu golzinho de honra por conta do clima sombrio e pela parte técnica mas o placar final fica nisso...,
(dois braços e duas pernas amputados contra uma mutilação)
Cly Reis
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