João Bosco se reinventou. Cantor e compositor egresso de um dos períodos mais férteis da MPB - os anos 70 -, João vem modificando seu estilo, sua maneira de cantar e suas composições. Isso ficou muito evidente na noite de quinta-feira no Teatro do Bourbon Country onde um público pequeno pode testemunhar esta transformação. A metamorfose do artista vem acontecendo ao longo dos anos mas se cristalizou com esta formação de guitarra (Ricardo Silveira), baixo e bateria (os gaúchos Guto Wirtii e Kiko Freitas respectivamente). Passeando pelo repertório do novo disco “Mano Que Zuera”, João foi enxertando trechos de clássicos de sua carreira como “Tiro de Misericórdia” e “O Ronco da Cuíca”, brincando com a música de Milton Nascimento (“Clube da Esquina Nº2” e “Lilia”) e de Tom Jobim (“Fotografia”) e apresentando novas parcerias com o filho Francisco Bosco (“Quantos Rios”) e Arnaldo Antunes (“Ultra Leve”).
O interessante é que a mudança está na interpretação. João é um caso único na MPB de hoje. Um artista com faixa própria e que não tem medo de rearranjar suas próprias músicas e de dar espaço generoso aos seus asseclas musicais. Ricardo Silveira é uma fábrica de timbres e climas. Já Guto Wirtii – que teve a primazia de abrir o show com um solo de baixo elétrico – segura a onda do violão magnífico de João e da bateria exuberante de Kiko Freitas. Este merece uma menção especial. Poucas vezes se viu um músico tão completo nos palcos gaúchos. Kiko faz o acompanhamento, sola e emula uma escola de samba num kit de bateria simples. Seus 20 anos de parceria com João se fazem sentir no espetáculo. A simbiose é completa. Meu amigo Norberto Flach – de quem “roubei” a foto que ilustra esta resenha – disse que se sentiu vendo um show de jazz. Eu diria mais: um espetáculo de MPBL, Música Popular Brasileira Livre. Pena que pouca gente viu.
por Paulo Moreira
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