"(...) O orgasmo sexual não é senão a via mais fácil e corrente
de se obter o êxtase, mas este não se restringe ao prazer sexual,
podendo ocorrer até mesmo sob a forma
de um ataque epilético ou obra de arte."
Sergei Eisenstein
Dei a sorte de, numa dessas bibliotecas comunitárias, na frente da escola da minha filha, encontrar entre alguns outros títulos interessantes, um que me atraiu sobremaneira dada a minha admiração pelo biografado. Trata-se do cineasta russo Sergei Eisenstein, um dos diretores mais importantes dos primórdios do cinema, ainda no início do século XX, e que ajudou a tornar o ato de filmar e contar histórias com imagens em movimento em arte. Eisenstein não via o cinema apenas como uma sucessão de fotogramas e por isso tentava aplicar seus conceitos riquíssimos de intenções formais e artísticas a suas obras criando assim um cinema diferenciado, admirado e imitado por muitos até hoje. Apesar de ser um bolchevique, o cineasta vivia em constantes conflitos com Stálin e com as autoridades culturais do Partido Comunista por conta de sua luta por maior liberdade de expressão artística, por discordâncias pontuais em relação à política imposta, e, por incrível que pareça, por razões conceituais e estéticas de sua obra, que segundo os órgãos culturais, mesmo não representando oposição aos ideais do regime implantado há não muito tempo, na Revolução de 1917, não se enquadravam na propaganda que o Partido pretendia
Muito interessante conhecer e observar os critérios e técnicas de montagem de Eisenstein, um dos primeiros cineastas a dar ênfase e importância a este recurso fazendo dele um elemento fundamental e marca registrada em sua obra, inspirando com sua genialidade gerações futuras de diretores a partir dele. Além disso, a preocupação com a linguagem, com a semiótica, com a captação dos sentidos do espectador, o erotismo e a sensualidade em sua obra, sua busca pelo êxtase, tudo isso é contemplado e examinado com muita profundidade, critério e propriedade pelo estudioso Arlindo Machado.
Como curiosidade, na seção final da edição que eu tive em mãos, de 1978, na parte de filmografia recomendada, o autor lista os filmes de Eisenstein e ao lado de títulos como "Outubro", "O Encouraçado Potemkin", "A Greve", aparece a infame observação "Filmes proibidos no Brasil". Era o medo do comunismo privando as pessoas de obras de arte como aquelas.
Qualquer semelhança com certo país nos tempos atuais não é mera coincidência.
Diagrama de montagem desenhado por Eisenstein para "O Encouraçado Potemkin". Ordem, movimento e conflitos de direções e formas. |
Cly Reis
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