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terça-feira, 16 de outubro de 2018

Exposição "Serguei Maksimishin - O Último Império" - Centro Caixa Cultural - Rio de Janeiro - RJ




“O tema deste último império é,
 provavelmente, o mais interessante.
Porque eu não sou alguém
pronto a pintar
 a União Soviética apenas com tinta preta.
Houve muita coisa boa.
Vivemos esse fenômeno complicado
e é muito interessante investiga-lo.”
Serguei Maksimishin



Visitei recentemente a exposição fotográfica "Serguei Maksimishin - O Último Império", na Caixa Cultural aqui no Rio de Janeiro. Belíssimo apanhado de imagens dos últimos vinte e cinco anos do território soviético, com os reflexos do que foi a grande potência comunista mundial e no que resultou de sua dissolução, captadas com extrema sensibilidade e sagacidade pelo fotógrafo que começou fotografando durante seu serviço militar em Cuba e somente nos anos 90 passou a trabalhar  profissionalmente para um veículo de comunicação de grande porte, o jornal Izvestya, um dos maiores e mais respeitados da Rússia.
Como todo bom fotógrafo que sabe extrair as melhores observações visuais de suas lentes, Serguei Maksimishin apresenta-nos os contrastes de uma terra que já não existe mais como era antes. Conturbada por conflitos, dividida por costumes, religiões, etnias, interesses políticos e econômicos, a ex-União Soviética em suas diversas ramificações, suas aldeias e novas nações, é o cenário para as imagens ora belas, ora chocantes, ora desoladoras, ora provocativas, ora poéticas de Seguei Maksimishin.
Infelizmente, para quem pudesse vir a se interessar, o evento saiu de cartaz exatamente neste último final de semana, mas para quem não pode ir, o ClyBlog traz aqui alguns momentos da exposição.

Muito simbólico.
Uma parede vermelha ruindo.

Tipos bastante pitorescos.

Tem fome também.

Mulheres 

Desolação no museu

Fábrica de peles

Escola destruída pelas guerras

à sombra do comunismo

Funcionária limpando um cenário de teatro

Crianças brincando num cenário pós-guerra

Um beijo antes do abate

Peixes voadores

Sob o olhar de Mao na parede vermelha

Festa de casamento

Não podem crucificá-la por sua alegria

O blogueiro na exposição



texto e fotos: Cly Reis

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Acabou a Copa...












É, acabou a Copa do Mundo!
foto:Avener Prado, Folhapress
E nós do ClyBlog vamos sentir saudades. Durante todo o período da Copa e, antes dela mesmo, já no aquecimento, trouxemos publicações relacionadas a futebol e à Rússia em várias das nossas seções. Só no mês em que durou o torneio, de um total de trinta e cinco postagens do blog, neste período, vinte e seis, entre tirinhas, filmes, discos, livros, foram relacionadas de alguma forma ao Mundial. Se lá em Moscou tivemos a França levantando o caneco, aqui no ClyBlog, "There's a light that never goes out" levou a taça na Copa do Mundo The Smiths e "Vogue" conquistou o título na Copa do Mundo Madonna. Se lá tivemos clássicos como Argentina vs. França e Espanha vs. Portugal, por aqui tivemos enfrentamentos eletrizantes de filme contra filme, como no caso de "Scarface" de 1932 contra "Scarface" de 1983, ou "Psicose" do mestre Hitchcock contra sua refilmagem de 1998, no nosso Clássico é Clássico (e vice-versa). E não faltaram análises esportivas (ou seria melhor nutritivas?), nas tirinhas do Berinjela Beligerante, na melhor mesa-redonda da TV hortifrutigranjeira, o Horta na Mesa. Além disso, destacamos publicações literárias ligadas a futebol na seção Lido, contos e poesias envolvendo o país sede da Copa ou esporte mais amado do planeta, no Cotidianas, e ainda trouxemos os Álbuns Fundamentais ClyBola, destacando artistas ou discos que unem futebol e música.
Enfim, foi um período muito legal em que não deixamos de falar de tudo o que mais gostamos como música, cinema, arte, literatura e ainda colocamos futebol para incrementar. .
E pensar que só daqui a quatro anos teremos mais Copa do Mundo Rock, Clássico é Clássico, Cotidianas ClyBola, Álbuns Fundamentais Especiais de futebol... Ai, essa ansiedade que me mata!


C.R.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

CLAQUETE ESPECIAL 10 ANOS DO CLYBLOG - "O Sacrifício", de Andrei Tarkovsky (1986)



Todo presente é um sacrifício
por Cleiton Echeveste


“Estou interessado no homem que contém o universo dentro de si mesmo. E a fim de encontrar a expressão para a ideia, para o significado da vida humana, não há necessidade de um pano de fundo repleto de acontecimentos”. 
Andrei Tarkovsky


Quando recebi o convite para escrever um texto que refletisse sobre a forma como o filme “O Sacrifício” (1986), de Andrei Tarkovsky, inspirou/influenciou a criação do meu espetáculo teatral para todos os públicos “Cabeça de Vento” (2012), pensei que essa “viagem no tempo” – afinal lá se vão praticamente sete anos desde que escrevi o texto e dirigi a montagem da Pandorga Cia. de Teatro – me custaria muito tempo e muita (re)elaboração. Para minha sorte e felicidade, o convite do meu querido amigo Daniel Rodrigues se mostrou mais do que pertinente nesse momento, quando reensaio o espetáculo – em repertório desde a estreia, com a mesma concepção e algumas trocas no elenco – em sua versão em espanhol, para uma temporada da Pandorga em Lima, no Peru. Revê-lo agora – filme, texto, espetáculo, bem como motivações, desejos, inspirações – é um exercício prazeroso de mergulho no meu próprio processo de criação.

Não consigo – até esse momento – lembrar como foi que cheguei ao filme de Tarkovsky. Provavelmente o encontro se deu por indicação de um amigo. Ou por pura sincronicidade, já que, em 2010, vivia um dos períodos mais intensos e marcantes da minha vida, que foi a morte do meu pai. Aquela perda me fez parar e dar alguns passos atrás para recuperar o fôlego. A criação do texto veio meses após a morte dele, e foi acolhida pela equipe de criação e produção com uma confiança e uma entrega comoventes. Do início da escrita do texto à estreia da montagem passou-se não mais que um ano, entre março de 2011 e março de 2012. Outras referências me serviram de inspiração nesse período, mas nenhuma delas teve ou tem a força poética e simbólica que tem o derradeiro filme do grande cineasta russo.

Relação pai e filho: a árvore como
símbolo da continuidade da vida
Apontar um único sentido nessa fonte de inspiração é impossível. Ela se deu de forma pulverizada, em aspectos que vão do andamento à edição, do perfil do personagem central (Alexander) ao estado contemplativo que o filme provoca. Revê-lo agora para escrever estas linhas é um exercício de resgate e de redescoberta do encantamento exercido por essa obra magistral. Se com “O Sacrifício” Tarkovsky queria se contrapor ao cinema comercial, em “Cabeça de Vento”, por meu turno, busquei fugir do padrão atribuído aos espetáculos para infância e juventude (que no caso do meu trabalho prefiro chamar de teatro para todos os públicos): excesso de movimentação, geralmente esvaziada; música feita para grudar no ouvido do espectador; humor óbvio e de fácil apelo; personagens tipificados; overdose de cores na concepção visual como um todo; entre outras características ainda menos abonadoras. Remar contra a corrente e oferecer ao público algo um pouco mais aprofundado e conectado a um sentido espiritual da existência humana foram nortes importantes apreendidos/assimilados dessa inspiração em Tarkovsky.

Esperança e confiança

A frase que escolhi como título este texto, vem de uma fala do carteiro-filósofo Otto, personagem do filme, dita ao presentear Alexander com uma réplica do quadro “A Adoração dos Magos”, de Leonardo da Vinci. Ela me faz pensar no sentido possível da palavra presente como um dom (no inglês, a palavra gift possui estas duas acepções), um dom mágico, como aquele dom transmitido pela fada-madrinha/benfeitora à criança nos contos de fada tradicionais – como a boneca dada a Vasalisa pela mãe, que a protegerá em futuras situações que representarão perigo à menina.

A impressionante cena do incêndio: morte simbólica e renovação
Qual seria, então, o dom concedido por Alexander ao seu pequeno filho? É apenas ao final do filme que ele diz duas frases, as quais ecoam a primeira fala do pai no filme. Seria o dom da fala, da palavra, da capacidade de reflexão? Será esse também o maior dom que nós, animais racionais, herdamos dos nossos ancestrais? Qual é o dom, afinal, concedido pelo pai ao personagem Leo, de “Cabeça de Vento”? O presente, objeto físico, é representado por um livro de história, em que são brevemente narradas as biografias de grandes personalidades históricas (Leonardo da Vinci, Mahatma Gandhi, Ricardo Coração de Leão, Benjamin Franklin, entre outros). E também por uma pipa, objeto ícone (ou até objeto transicional, neste caso), que o menino ganhou do pai, pouco antes deste falecer. Ambos conectam o Léo, simbólica, mas também concretamente, com um sentido menos materialista da vida, sinalizando a ele uma perspectiva de “esperança e confiança”, fundamentais, a meu ver, em toda obra artística voltada para crianças e jovens. “Esperança e confiança” são, aliás, as duas palavras com as quais Tarkovsky conclui a dedicatória do seu filme ao filho.

Por outro lado, vejo a cena de abertura do filme como um ato de fé na força da vida e também um desafio às novas gerações. Enquanto narra uma parábola oriental para o filho, Alexander planta uma árvore aparentemente morta. De acordo com a parábola, após regar durante três anos uma árvore também aparentemente morta na encosta de uma colina, por orientação do seu mestre, um discípulo consegue reavivá-la. Da mesma forma, ao final do filme, o filho de Alexander rega a árvore plantada pelo pai. Enquanto o pai cala-se, após refletir e discutir sobre o esvaziamento da vida humana contemporânea durante praticamente todo o filme, o menino, nesta cena final, ganha voz e fala: “No principio era o verbo. Por que, papai?”


cena final de "O Sacrifício"

Esse questionamento ganha ainda mais impacto por ter sido precedido, na cena imediatamente anterior, pela impressionante cena do incêndio da casa de Alexander, causado pelo próprio. O que é esse incêndio senão a destruição simbólica de todas as estruturas existentes para que o novo possa surgir? O final de um ciclo e início de um tempo novo, que necessariamente há de surgir. Paralelamente, “Cabeça de Vento” significa a construção de uma nova forma de estar no mundo, um novo olhar para a vida e para as relações. A partir de um questionamento do porquê da partida tão súbita do pai, Léo reconstrói um novo mundo, a partir do legado deixado por ele.

“O Sacrifício” é também um filme-legado, é o filme-síntese de toda a obra de Tarkovsky e uma afirmação veemente da confiança de que é somente a perspectiva espiritual que pode ajudar o homem a construir um sentido positivo para sua existência.

Rio de Janeiro, 08/7/18


***********************

Cleiton Echeveste é ator, dramaturgo e diretor de teatro, graduado em Artes Cênicas (UFRGS), onde também estudou Letras. É um dos criadores da Pandorga Cia. de Teatro, na qual é autor e diretor de O Menino que Brincava de Ser (indicação ao 2º Prêmio CBTIJ de Teatro para Crianças) e Cabeça de Vento (ganhador de prêmios de melhor texto nos festivais de Ponta Grossa/PR e Duque de Caxias/RJ). Com a Pandorga, criou Juvenal, Pita e o Velocípede (ganhador do 10º Prêmio Zilka Sallaberry de Teatro Infantil, categoria texto). Único dramaturgo latino-americano no festival de dramaturgia New Visions/New Voices 2014 (Washington, D.C./EUA). Em 2016, na Casa de la Literatura Peruana, em Lima, participou do VI Congreso de Literatura Infantil y Juvenil e do 1er. Festival del Libro y las Ideas, com mesas-redondas, conferências e oficina de processo colaborativo. Atualmente é o presidente do Conselho de Administração do Centro Brasileiro de Teatro de Teatro para Infância e a Juventude – CBTIJ/ASSITEJ Brasil. Site: https://pandorgaciadeteatro.wordpress.com/   

terça-feira, 12 de junho de 2018

cotidianas #571 - "Vida, vida"



I.
Imagem do filme "O Espelho", de Andrei tarkovski (1975)
Não acredito em pressentimentos, e augúrios
Não me amedrontam. Não fujo da calúnia
Nem do veneno. Não há morte na Terra.
Todos são imortais. Tudo é imortal. Não há por que
Ter medo da morte aos dezessete
Ou mesmo aos setenta. Realidade e luz
Existem, mas morte e trevas, não.
Estamos agora todos na praia,
E eu sou um dos que içam as redes
Quando um cardume de imortalidade nelas entra.

II.
Vive na casa e a casa continua de pé
Vou aparecer em qualquer século
Entrar e fazer uma casa para mim
É por isso que teus filhos estão ao meu lado
E as tuas esposas, todos sentados em uma mesa,
Uma mesa para o avô e o neto
O futuro é consumado aqui e agora
E se eu erguer levemente minha mão diante de ti,
Ficarás com cinco feixes de luz
Com omoplatas como esteios de madeira
Eu ergui todos os dias que fizeram o passado
Com uma cadeia de agrimensor, eu medi o tempo
E viajei através dele como se viajasse pelos Urais

III.
Escolhi uma era que estivesse à minha altura
Rumamos para o sul, fizemos a poeira rodopiar na estepe
Ervaçais cresciam viçosos; um gafanhoto tocava,
Esfregando as pernas, profetizava
E contou-me, como um monge, que eu pereceria
Peguei meu destino e amarrei-o na minha sela;
E agora que cheguei ao futuro ficarei
Ereto sobre meus estribos como um garoto.

Só preciso da imortalidade
Para que meu sangue continue a fluir de era para era
Eu prontamente trocaria a vida
Por um lugar seguro e quente
Se a agulha veloz da vida
Não me puxasse pelo mundo como uma linha.


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"Vida, vida"
Arseni Tarkovsi
(poema recitado no filme "O Espelho"
de Andrei Tarkovski)

sábado, 2 de junho de 2018

"Esculpir o Tempo", de Andrei Tarkovski - ed. Martins Fontes (1990)



"Qual é a essência do trabalho de um diretor?
 Poderíamos defini-la como 'esculpir o tempo'.
 Assim como o escultor toma um bloco de mármore e,
guiado pela visão interior de sua futura obra,
 elimina tudo que não faz parte dela
- do mesmo modo, o cineasta, a partir de um 'bloco de tempo'
constituído por uma enorme e sólida quantidade de fatos vivos,
corta e rejeita tudo aquilo que não necessita,
 deixando apenas o que deverá ser elemento do futuro filme,
o que mostrará ser um componente essencial
da imagem cinematográfica."
Andrei Tarkovski




Grande admirador que sou da obra de Andrei Tarkovski, fiquei imediatamente interessado no livro "Esculpir o Tempo", de autoria do próprio cineasta, assim que o descobri. Escrito no período em que as atividades profissionais do cineasta russo estavam suspensas e entre intervalos de filmagens, "Esculpir o Tempo" repassa praticamente toda a produção cinematográfica do diretor trazendo curiosidades, informações, reflexões e revelações acerca de toda sua obra, fotos de filmes, trechos de roteiros, análises de obras de outros cineastas como Bresson, Bergman e Kurosawa, além de belíssimos poemas de seu pai, Arseni Tarkovski.
Além da expectativa por ver revelados pormenores e particularidades de uma filmografia tão rica, tinha especial curiosidade pelos símbolos recorrentes em seus filmes como água, cavalos, vento, no que acabei, de certa forma, vendo frustradas minhas intenções de saciá-la mas ao mesmo tempo me sentindo valorizado na condição de espectador, por conta da naturalidade com que o diretor trata tais elementos, não atribuindo-lhes senão, na maior parte das vezes, nenhuma característica que não suas próprias belezas e fascínios naturais ("A chuva, o fogo, a água, a neve, o orvalho, o vento forte - tudo isso faz parte do cenário material em que vivemos; eu diria mesmo da verdade de nossas vidas (...) Não estou tentando me esquivar à minha plateia, ou tentando ocultar do espectador alguma intenção secreta particular: estou recriando meu mundo com detalhes que me parecem expressar com mais exatidão e plenitude o sentido indefinível da nossa existência."). Mas ainda assim, dando margem a possíveis interpretações, Tarkovski mostra-se extremamente generoso e respeitoso com compreensões diversas que seus espectadores curiosos e interessados possam vir a ter em relação não só destes elementos como de seus filmes em si ("O autor não pode esperar que sua obra seja entendida de uma forma específica e de acordo com a percepção que tem dela. Tudo o que pode fazer é apresentar sua própria imagem do mundo, para que as pessoas possam olhar esse mundo através dos seus olhos e se deixem impregnar por seus sentimentos, dúvidas e ideias."); e ao contrário, severo em relação àqueles pretensiosos, levianos ou preguiçosos que não buscam significados e conteúdo dentro de sua obra. Tal postura tão aberta em relação à interpretação, que poderia sinalizar para alguém mais precipitado uma forma de defesa de um artista perdido que na verdade não tivesse, nem ele próprio, uma ideia clara sobre o que colocara na tela, é facilmente rebatida pela clareza com que suas concepções artísticas e conceituais são descritas no livro e a coerência entre estes conceitos e sua produção.
A maneira como Tarkovski vê cinema, vê a arte, como encara seus compromissos enquanto cineasta, enquanto homem e o que pretende transmitir, é algo fascinante e só valoriza ainda mais sua obra ("Um artista que não tenta buscar a verdade absoluta, que ignora os objetivos universais em nome de coisas secundárias, não passa de um oportunista."; "O poeta pensa por imagens, com as quais, ao contrário do público ele pode expressar sua visão do mundo. É óbvio que a arte não pode ensinar nada a ninguém, uma vez que em quatro mil anos, a humanidade não aprendeu nada."). Suas concepções, suas pretensões artísticas, seu perfeccionismo, seu amor à arte são tão verdadeiros e admiráveis que chegam a deixar um cinéfilo, fã de seu trabalho, envergonhado por assistir a tanta porcaria que ainda temos coragem de chamar de filmes. Mas... a gente não tem vergonha na cara mesmo e acaba indo ver "Vingadores: Guerra Infinita" e ainda sai achando tudo muito bom. Perdão, Tarkovski, perdão.



Cly Reis

terça-feira, 17 de abril de 2018

"Sem Amor", de Andrei Zvyagintsev (2017)



Não é uma tarefa fácil digerir um filme desses. “Sem Amor” é frio e egoísta, infelizmente como muitas pessoas no mundo atualmente. Mas é uma obra que nos coloca para pensar por horas após seu termino.
Boris (Alexey Rozin) e Zhenya (Maryana Spivak) estão se divorciando. Depois de anos juntos, os dois se preparam para suas novas vidas: ele com sua nova namorada, que está grávida, e ela com seu parceiro rico. Com tantas preocupações eles acabam não dando atenção ao filho Alyosha (Matvey Novikov), que acaba desaparecendo misteriosamente.
 O longa se mantém na rotina dos personagens, embora isso nos ajude a entendê-los melhor, alguns momentos se tornam repetitivos e por vezes essa repetição mostra-se desnecessária, como o caso de algumas cenas contemplativas que tentam enfatizar a tristeza e melancolia dos personagens, o que com alguns minutos de filme já tínhamos “sacado, sem a necessidade de marcar tanto os personagens.
A construção ou desconstrução dos personagens é muito bem feita. Vemos a figura da mãe sempre explodindo, totalmente emocional. Já o pai, completamente o oposto, está sempre escondendo seu verdadeiro eu para todos. Enquanto o menino fica sempre de lado e o espectador o sente diminuindo cada vez mais no longa.
A fotografia é algo! Seus tons e cores frias acompanham o clima e os sentimento que o longa tenta transmitir. A narrativa de "Sem Amor" é fabulosa especialemente na maneira como mostra o sumiço do menino. No início a historia é contada do ponto de vista do garoto, mas aos poucos começa a mostrar a vida dos pais, como está a vida de divorcio, seus novos relacionamentos, e de repente, notamos que o menino sumiu, e aí vem o desespero.
Não é só uma história sobre paternidade e maternidade, ela serve como uma alegoria sobre a atual situação da Rússia, um país que assim como os personagens, vive da sombra do que já foi,  que mesmo em crise não assume isso, se fecha para mundo e olha apenas para si. Um longa pesado, triste, gelado e cruel, porém repleto de beleza e sensibilidade. Tenho certeza que vai fazer você se sentir incomodado com o egoísmo humano mostrando em "Sem Amor", e perceber o quanto isso é real e assustador. Assista “Sem Amor”, reflita sobre o que você é e como está sendo seu papel na vida daqueles que você ama, alias você ama alguém? E possível viver sem amor?
A fria e triste Russia, que “Sem amor”, nos mostra, com frias e tristes pessoas.


por Vagner Rodrigues

sábado, 14 de abril de 2018

"Sergei M. Eisentein", de Arlindo Machado - ed. Brasiliense (1978)



"(...) O orgasmo sexual não é senão a via mais fácil e corrente
de se obter o êxtase, mas este não se restringe ao prazer sexual,
podendo ocorrer até mesmo sob a forma
de um ataque epilético ou obra de arte."
Sergei Eisenstein



Dei a sorte de, numa dessas bibliotecas comunitárias, na frente da escola da minha filha, encontrar entre alguns outros títulos interessantes, um que me atraiu sobremaneira dada a minha admiração pelo biografado. Trata-se do cineasta russo Sergei Eisenstein, um dos diretores mais importantes dos primórdios do cinema, ainda no início do século XX, e que ajudou a tornar o ato de filmar e contar histórias com imagens em movimento em arte. Eisenstein não via o cinema apenas como uma sucessão de fotogramas e por isso tentava aplicar seus conceitos riquíssimos de intenções formais e artísticas a suas obras criando assim um cinema diferenciado, admirado e imitado por muitos até hoje. Apesar de ser um bolchevique, o cineasta vivia em constantes conflitos com Stálin e com as autoridades culturais do Partido Comunista por conta de sua luta por maior liberdade de expressão artística, por discordâncias pontuais em relação à política imposta, e, por incrível que pareça, por razões conceituais e estéticas de sua obra, que segundo os órgãos culturais, mesmo não representando oposição aos ideais do regime implantado há não muito tempo, na Revolução de 1917, não se enquadravam na propaganda que o Partido pretendia
Muito interessante conhecer e observar os critérios e técnicas de montagem de Eisenstein, um dos primeiros cineastas a dar ênfase e importância a este recurso fazendo dele um elemento fundamental e marca registrada em sua obra, inspirando com sua genialidade gerações futuras de diretores a partir dele. Além disso, a preocupação com a linguagem, com a semiótica, com a captação dos sentidos do espectador, o erotismo e a sensualidade em sua obra, sua busca pelo êxtase, tudo isso é contemplado e examinado com muita profundidade, critério e propriedade pelo estudioso Arlindo Machado.
Como curiosidade, na seção final da edição que eu tive em mãos, de 1978, na parte de filmografia recomendada, o autor lista os filmes de Eisenstein e ao lado de títulos como "Outubro", "O Encouraçado Potemkin", "A Greve", aparece a infame observação "Filmes proibidos no Brasil". Era o medo do comunismo privando as pessoas de obras de arte como aquelas.
Qualquer semelhança com certo país nos tempos atuais não é mera coincidência.
Diagrama de montagem desenhado por Eisenstein para "O Encouraçado Potemkin".
Ordem, movimento e conflitos de direções e formas.


Cly Reis

terça-feira, 27 de março de 2018

ClyBola 2018



Vai ter Copa! Sim! Sei que tem coisas mais importantes, o Brasil tá pegando fogo, ninguém tá muuuuito animado com futebol a essas alturas mas é bom a gente dar uma arejada na cabeça com coisas menos importantes de vez em quando também, se bem que dizem que futebol é a coisa desimportante mais importante do mundo. E 2018, além de ser ano de aniversário de um década do ClyBlog, é ano de Copa do Mundo e, como aconteceu em 2014, o nosso blog entra no clima do maior evento de futebol do planeta e introduz em suas publicações e atrações elementos, quadros, seções, postagens relativas a futebol, a países participantes do torneio mundial e ao país sede, que no caso, desta vez, é a Rússia. Assim, nesse 2018, trazemos de volta o quadro O Jogo da Sua Vida, sempre com convidados falando sobre uma partida de futebol de seu time do coração que não sai da sua memória; reeditamos as Copas do Mundo Rock com "partidas" eliminatórias entre as músicas para sabermos qual a melhor obra do seu cantor, cantora ou banda preferido; teremos contos relacionados a futebol nas Cotidianas e discos que e alguma forma tenham a ver com o esporte bretão nos Álbuns Fundamentais; além de charges e cartoons sobre o assunto nas tirinhas com qualquer um dos nossos personagens. A novidade, este ano, fica por conta do Clássico é Clássico (e vice-versa), quadro dentro da seção Claquete que trará embates memoráveis de um filme com seu remake analisado como se fosse uma partida por nossos especialistas no futebol da sétima arte. E no mais, o futebol, a Copa do Mundo, a Rússia, estarão presentes em todo o blog por todas suas seções até julho quando o evento na Rússia chegará ao fim. Mas pode ficar tranquilo e curtir porque até lá, tem muita coisa pra rolar.
Então, vamos lá. Está dada a largada para a Rússia 2018 e para as novas atrações do ClyBlog. Foi dado o pontapé inicial para o ClyBola 2018.



C.R.