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sexta-feira, 31 de agosto de 2018

"Benzinho", de Gustavo Pizzi (2018)


Embalado pelas notícias do Festival de Cinema de Gramado, ocorrido recentemente na cidade gaúcha, e pela premiação, eu e Andrea Rita Muller fomos ver "Benzinho", de Gustavo Pizzi (2018). Durante muito tempo, me ressentia de só ver filmes de violência urbana, polícia e traficantes e comédias cariocas idiotas no cinema brasileiro. Foram incontáveis vezes que fiquei com inveja da cinematografia iraniana que, com pouquíssimo dinheiro, conseguia retratar as inúmeras realidades do país, como "O Balão Branco"; "O Caminho de Kandahar", "Gosto de Cereja", "A Maçã" e "A Separação", entre muitos outros. Pois, já está em cartaz em Porto Alegre, "Benzinho", que leva o cinema brasileiro para as discussões nem tão prosaicas sobre a vida de uma família de classe média baixa.

Em resumo, o filme conta a história de um adolescente que é convidado a jogar handebol numa equipe profissional da Alemanha e os efeitos que este convite tem em sua família, especialmente na mãe, Irene, interpretada magistralmente por Karine Teles, melhor atriz em Gramado 2018. Com este ponto de partida, "Benzinho" analisa uma série de temas importantes na realidade socioeconômica brasileira sem fazer proselitismo nem transformar tudo em melodrama. Estão ali, os desmandos econômicos que fazem com que as irmãs Irene e Sônia (Adriana Esteves, também maravilhosa em
Karine Teles: Melhor Atriz em Gramado
cena) vendam quentinhas e lençóis para completar a renda da família; os planos mirabolantes do marido de Irene (Otávio Muller) para ganhar dinheiro; a falência do casamento da irmã em função do vício em drogas do cunhado (César Troncoso, numa ponta excelente); a busca da casa própria numa construção que está pela metade; o cuidado com os filhos pequenos, quando pai e mãe estão fora trabalhando. Uma série de "pequenos problemas", que afligem os personagens e, de uma maneira geral, o povo brasileiro.

A ternura com que Pizzi enxerga e trata seus personagens é comovente, e a atuação de Karine mostra que o cinema brasileiro não é só feito de carinhas bonitas e mulheres gostosas. As crianças, filhos gêmeos de Karine e do diretor e o sobrinho dela, além do protagonista Konstantinos Sarris, dão um show de naturalidade à parte. "Benzinho" recoloca o cinema nacional na vida de sua população, não somente na Zona Sul ou nas favelas do Rio de Janeiro. Vale a pena conferir.

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Trailer de "Benzinho"


por Paulo Moreira

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