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terça-feira, 25 de setembro de 2018

Primus - "Pork Soda" (1993)



"Lugar de fenômeno 
é no 'Isto é Incrível'. "


... foi o que sentenciou o crítico da revista Bizz sobre o baixista Les Claypool, líder e mentor da banda Primus, em sua resenha na seção de discos quando da época do lançamento do álbum "Frizzle Fry". Ainda que a redução a um número num show de atrações extraordinárias na TV possa soar um tanto antipática e cruel, como aliás costumeiro entre os jornalistas da revista, o crítico não deixava de ter uma certa razão uma vez que, Les, instrumentista dotado de uma habilidade incomum e dono de uma enorme criatividade musical, não raro, exagerava um pouco no exibicionismo quase que relegando a música, em si, a uma esfera secundária. Tenho certeza que não pela dica do crítico da Bizz, mas Clypool corrigiu bastante este porém no segundo disco "Sailing in the Sea of Cheese", fazendo-o bem mais musical e palatável e, parece que, já tendo dominado bem o meio-termo entre habilidade, experimentalismo e musicalidade, conseguiu unir todos esses elementos de forma mais coesa e interessante no ótimo "Pork Soda", de 1993. "My Name is Mud", por exemplo, que abre o álbum logo depois da pequena introdução de banjo, "Pork Chop's Little Ditty", é um show de destreza no baixo sem se tornar uma mera demonstração individual. Os três membros que num entrosamento perfeito e com desempenhos tão destacados quanto o do baixista, ajudam a conduzir a música de maneira brilhante e empolgante. Aliás, em "Pork Soda", o time completado por Todd Huth na guitarra e Jay Lane na bateria, confirma definitivamente a sincronia e entendimento necessários para o tipo de proposta sonora da banda, aqui, neste álbum, bem mais coletiva e completa.
Depois da pequena sinfonia pitoresca que é "My Name is Mud", temos uma sequência matadora com "Welcome to This World" de construção preciosa, a opressiva "Bob" na letra e na atmosfera sonora, e a eletrizante "DMV", uma das melhores do álbum na minha opinião.
 Outra das grandes, "Nature Boy" tem uma sua condução simples do baixo que na verdade só espera pela forte e intensa descarga de peso que surge no refrão; "The Pressman" tem construção semelhante, com um fraseado mínimo e repetido do baixo que, nas ênfases, vê se juntar a ele os outros instrumentos para juntos darem toda uma intensidade dramática à canção; e "Mr. Krinkle", pequena obra de arte escondida sob a habitual máscara jocosa da sonoridade do Primus, é brilhantemente desenvolvida em torno de uma linha de baixo tocado com arco, ganhando assim uma atmosfera entre o burlesco e o sinistro. Antes de encerrar com duas vinhetas, uma reeditando a faixa de abertura e outra saudando o bom velhinho ("Hail Santa"), o disco ainda traz a espetacular instrumental "Hamburger Train", uma jam jazz-funk alucinante na qual o trio se esbalda em improvisos e performances individuais livres, proporcionando uma viagem sonora contagiante.
Embora ainda tenha, sim, algumas esquisitices como na faixa-título na qual o baixo parece uma motossera, alguns experimentalismos como na instrumental, praticamente toda percussiva, "Wonded Knee", e pareça em alguns momentos uma trilha de desenho animado como em "The Air is Getting Slippery", de um modo geral, "Pork Soda" mostra-se mais harmônico e convidativo ao ouvinte.
Um dos grandes discos dos anos 90 de uma das bandas mais talentosas e criativas dos últimos tempos mas que normalmente não recebe o devido reconhecimento muito pelo fato do Primus soar um tanto caricato muitas vezes, um pouco por conta da imagem "engraçadinha" que construiu em videoclipes e performances ao vivo, um pouco por conta da voz anasalada de boneco de Les Claypool e outro tanto pela ligação com animações como "South Park" e Frango Robô, para as quais a banda compôs o tema musical, que dão a impressão, a muita gente que o Primus não é uma banda a ser levada a sério.
Recordo de uma vez, numa conversa com meu irmão, parceiro daqui do blog, Daniel Rodrigues, enquanto ouvíamos o Primus, admirados com aquele desempenho, com aquela mecânica, com aquela sonoridade, de ele me exclamar que não se espantaria se alguém, naquele momento, apontasse o Primus como a melhor banda do mundo. "Um absurdo!". Pode parecer um absurdo num primeiro instante, você vai pensar em mais um monte de bandas para colocar à frente, eu mesmo coloco dezenas, centenas. Mas um boa audição de "Pork Soda", impressionando-se mais e mais a cada faixa, pode ser o suficiente para colocar uma pulguinha atrás da orelha. Será? Depois, racionalmente, a gente até chega à conclusão que não mas, ali, durante a audição, que é capaz chegar a suscitar tal sensação, é.
Será?...

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FAIXAS:
1. Pork chop's little ditty (intrumental)
2. My name is Mud
3. Welcome to this world
4. Bob
5. DMV
6. The Ol' diamondback sturgeon (Fisherman's chronicles, part 3)
7. Nature boy
8. Wounded knee (instrumental)
9. Pork soda
10. The Pressman
11. Mr. Krinkle
12. The air is getting slippery
13. Hamburger train (instrumental)
14. Pork chop's little ditty (instrumental)
15. Hail Santa (instrumental)


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Ouça:


Cly Reis

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