Ilustração de Mariana Massarani para o conto "Natal"
no livro "Memórias de Menina", de Rachel de Queiroz
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No interior do Brasil ainda há algumas cidades onde se festeja o Natal com cantigas e danças de pastorinhas, cavalhadas e fandangos. Ainda se fazem presépios, representando o cenário onde Jesus nasceu: a manjedoura, com o Menino no seu berço de palha, junto com São José e Nossa Senhora, ao lado, ficam o boi e o burrinho, em redor os pastores e os anjos e, por cima de tudo, a estrela.
Era costume de antigamente, à meia-noite, assistir à Missa do Galo, que se chama assim porque os galos costumam começar a cantar à meia-noite. Hoje a Missa do Galo é mais cedo, porque as famílias têm medo de sair à rua tão tarde, mesmo em dia santo.
Ficou o costume da ceia de Natal, que se dá em todas as famílias. Os ricos põem na mesa peru, presunto e champanhe; os outros comem o que podem: frango, rabanadas, bolo-de-pacote, que a vida anda difícil. Depois da ceia são entregues os presentes arrumados em volta da árvore de Natal, armada na sala. E, com o tempo, também foi ficando impossível dar presente a todo mundo. Então, inventou-se a brincadeira do amigo oculto, em que cada pessoa recebe um presente sem saber quem vai dar. Assim, cada um ganha o seu presentinho e só precisa comprar um também.
Mas o valor do luxo, na ceia ou no presente, não tem importância, o que importa é a alegria e a paz no coração das pessoas. Pois o Natal é, acima de tudo, uma festa de alegria e paz.
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"Natal"
Rachel de Queiroz
do livro "Memórias de Menina" (2002)
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