O tombo na poça d'água só foi mais uma motivo para que as risadas dos rapazes aumentassem ainda mais. Nem a vítima da queda pareceu se importar, caindo na gargalhada pelo próprio desastre. Completamente bêbados, aqueles quatro turistas, Joe, Allan, George e Charlie, universitários americanos aproveitando férias na famosa cidade das gôndolas, meio perdidos pelas estreitas e traiçoeiras vielas da cidade tentando voltar ao hotel, tinham frouxos de riso incontidos por qualquer motivo desde que começaram a abusar do álcool no baile de máscaras na Piazza San Marco, mais cedo. Numa espécie de transe de hilaridade e ainda recuperando o fôlego pelo trambolhão do amigo Charlie, os outros três nem perceberam que um quinto elemento se juntara a eles naquela pequena travessa escura. Usava uma capa preta com capuz e um máscara branca, simplesmente branca, de uma ausência de expressão inevitavelmente perturbadora. Assim que Allan, que sentara no chão de tanto rir, percebeu o estranho entre eles, tirando a mácara e levantando-a à testa, exclamou com uma fala ébria e completamente enrolada:
- Ei,... eu acho que essa cara aí também tá perdido!
Só então todos olharam para ele e, como não fora diferente durante boa parte daquela noite, caíram na risada.
- Cara, lamento informar mas nós também estamos perdidos. - conseguiu falar Joe à muito custo ainda ofegante. - A propósito você não saberia onde fica o Hotel Ducalle?
O homem apenas permanecia imóvel.
- Pelo jeito ele não sabe. - respondeu Allan pelo estranho, achando graça.
- Fala alguma coisa, então. - exigiu George.
Nada. Impassível, silencioso.
- Se não quer nada então cai fora, amigão.
Imóvel, estático ainda.
A atmosfera começava a perder um pouco o ar descontraído e os rapazes já começavam a se chatear e ficarem preocupados com o estranho ali parado.
- Olha só, se não quer dar o fora, a gente é que vai indo então. - decidiu George convocando os demais.
- É, vamos lá. Prazer, viu, sr. Mascarado Misterioso. - soltou Allan o mais galhofeiro, quebrando o clima tenso e fazendo os outros rirem novamente.
Foram saindo devagar, um tanto desconfiados do homem que permanecia ali em pé, imóvel, andaram alguns passos e para certificarem-se de que o estranho não os seguiria, voltaram-se mais uma vez. O homem não estava mais ali. Não tinha como ter saído dali tão rápido. Não tinha para onde ir.
- Onde é que tá o cara?
- Sei lá!
- Sumiu, evaporou.
- Cara, vamos sair daqui que isso tá muito estranho.
- Vamos, então.
- Ei, cadê o Charlie?
Um deles não estava mais ali.
- Olha, Charlie, para com essa brincadeira. Não tem graça.
- Cadê o Charlie, cadê o Charlie??? - perguntava quase histericamente Joe, agora já sendo tomado por um certo desespero.
- Deve ter ido pro hotel. Enquanto a gente se virou pra ver o cara, ele deve ter corrido. Deve ter sido isso.
- Mas a gente não viu, não ouviu os passos dele...
- Mas, sei lá, deve ter sido muito rápido...
Assim que Allan acabou a frase percebeu que, durante a rápida conversa com o nervoso Joe, George sumira também.
- Cadê o George?
- George, George!!! - gritou Joe, o mais assutado dos dois.
- Eles devem estar de sacanagem com a gente. Devem estar de combinação com aquele cara da capa. É isso mesmo: desde o início eles devem ter combinado com o cara.
- Eu sei qual é a de vocês!!! - gritou Allan ao vazio - Chega dessa palhaçada! Vamos pro hotel.
Olhando em volta, procurando os amigos, num relance avistou novamente o estranho da máscara branca. No mesmo lugar que antes. Parado, impassível.
A visão ameaçadoramente silenciosa o distraiu por um breve instante mas foi o suficiente para que, ao voltar-se novamente na direção de Joe para convocá-lo para darem o fora dali urgentemente, percebesse que estava sozinho.
Olhou novamente na direção do mascarado. Não estava mais lá.
Que diabos era aquilo? Era alguma espécie de pesadelo?
Não ficou esperando que a reposta viesse de algum lugar. Saiu em disparada pelo labirinto dos estreitos becos de Veneza mesmo não sabendo exatamente para onde estava indo.
Nunca chegou a lugar nenhum. Nunca mais foi visto, bem como seus três amigos. As famílias pediram investigações sobre o paradeiro dos filhos que já deviam ter retornado a seu país e ligaram pela última vez de lá, de Veneza. A polícia local trabalhou duro nas investigações mas nunca foi encontrado o menor vestígio dos rapazes e nada foi descoberto sobre seu desaparecimento naquela noite de Carnaval.
No ano seguinte, um caso semelhante de desaparecimento sem pistas foi relatado. Novamente no carnaval. Desta vez se deu com três jovens garotas espanholas mas diferentemente do outro caso, uma delas reapareceu, completamente transtornada, alguns dias depois, dizendo que um homem mascarado havia levado as amigas. Apesar de uma certa desconfiança dado o estado emocional da jovem, aquela era a única pista que a polícia tinha e resolveu investir nela para chegar a alguma solução. As autoridades procuram abafar os casos e evitar que a informação sobre um maníaco de máscara se espalhe e cause pânico entre os turistas e comprometa uma das mais antigas tradições da cidade, mas já corre pela região, à boca-pequena, um burburinho a respeito de um certo misterioso mascarado no carnaval de Veneza. Hoje é carnaval. A polícia está atenta. Há homens infiltrados na multidão por todos os lados da praça. Os visitantes, turistas, aristocratas, populares exibem suas máscaras orgulhosamente por toda a parte. Engraçadas, tristonhas, elegantes, exageradas, sinistras... Ele pode estar em qualquer lugar.
- Ei,... eu acho que essa cara aí também tá perdido!
Só então todos olharam para ele e, como não fora diferente durante boa parte daquela noite, caíram na risada.
- Cara, lamento informar mas nós também estamos perdidos. - conseguiu falar Joe à muito custo ainda ofegante. - A propósito você não saberia onde fica o Hotel Ducalle?
O homem apenas permanecia imóvel.
- Pelo jeito ele não sabe. - respondeu Allan pelo estranho, achando graça.
- Fala alguma coisa, então. - exigiu George.
Nada. Impassível, silencioso.
- Se não quer nada então cai fora, amigão.
Imóvel, estático ainda.
A atmosfera começava a perder um pouco o ar descontraído e os rapazes já começavam a se chatear e ficarem preocupados com o estranho ali parado.
- Olha só, se não quer dar o fora, a gente é que vai indo então. - decidiu George convocando os demais.
- É, vamos lá. Prazer, viu, sr. Mascarado Misterioso. - soltou Allan o mais galhofeiro, quebrando o clima tenso e fazendo os outros rirem novamente.
Foram saindo devagar, um tanto desconfiados do homem que permanecia ali em pé, imóvel, andaram alguns passos e para certificarem-se de que o estranho não os seguiria, voltaram-se mais uma vez. O homem não estava mais ali. Não tinha como ter saído dali tão rápido. Não tinha para onde ir.
- Onde é que tá o cara?
- Sei lá!
- Sumiu, evaporou.
- Cara, vamos sair daqui que isso tá muito estranho.
- Vamos, então.
- Ei, cadê o Charlie?
Um deles não estava mais ali.
- Olha, Charlie, para com essa brincadeira. Não tem graça.
- Cadê o Charlie, cadê o Charlie??? - perguntava quase histericamente Joe, agora já sendo tomado por um certo desespero.
- Deve ter ido pro hotel. Enquanto a gente se virou pra ver o cara, ele deve ter corrido. Deve ter sido isso.
- Mas a gente não viu, não ouviu os passos dele...
- Mas, sei lá, deve ter sido muito rápido...
Assim que Allan acabou a frase percebeu que, durante a rápida conversa com o nervoso Joe, George sumira também.
- Cadê o George?
- George, George!!! - gritou Joe, o mais assutado dos dois.
- Eles devem estar de sacanagem com a gente. Devem estar de combinação com aquele cara da capa. É isso mesmo: desde o início eles devem ter combinado com o cara.
- Eu sei qual é a de vocês!!! - gritou Allan ao vazio - Chega dessa palhaçada! Vamos pro hotel.
Olhando em volta, procurando os amigos, num relance avistou novamente o estranho da máscara branca. No mesmo lugar que antes. Parado, impassível.
A visão ameaçadoramente silenciosa o distraiu por um breve instante mas foi o suficiente para que, ao voltar-se novamente na direção de Joe para convocá-lo para darem o fora dali urgentemente, percebesse que estava sozinho.
Olhou novamente na direção do mascarado. Não estava mais lá.
Que diabos era aquilo? Era alguma espécie de pesadelo?
Não ficou esperando que a reposta viesse de algum lugar. Saiu em disparada pelo labirinto dos estreitos becos de Veneza mesmo não sabendo exatamente para onde estava indo.
Nunca chegou a lugar nenhum. Nunca mais foi visto, bem como seus três amigos. As famílias pediram investigações sobre o paradeiro dos filhos que já deviam ter retornado a seu país e ligaram pela última vez de lá, de Veneza. A polícia local trabalhou duro nas investigações mas nunca foi encontrado o menor vestígio dos rapazes e nada foi descoberto sobre seu desaparecimento naquela noite de Carnaval.
No ano seguinte, um caso semelhante de desaparecimento sem pistas foi relatado. Novamente no carnaval. Desta vez se deu com três jovens garotas espanholas mas diferentemente do outro caso, uma delas reapareceu, completamente transtornada, alguns dias depois, dizendo que um homem mascarado havia levado as amigas. Apesar de uma certa desconfiança dado o estado emocional da jovem, aquela era a única pista que a polícia tinha e resolveu investir nela para chegar a alguma solução. As autoridades procuram abafar os casos e evitar que a informação sobre um maníaco de máscara se espalhe e cause pânico entre os turistas e comprometa uma das mais antigas tradições da cidade, mas já corre pela região, à boca-pequena, um burburinho a respeito de um certo misterioso mascarado no carnaval de Veneza. Hoje é carnaval. A polícia está atenta. Há homens infiltrados na multidão por todos os lados da praça. Os visitantes, turistas, aristocratas, populares exibem suas máscaras orgulhosamente por toda a parte. Engraçadas, tristonhas, elegantes, exageradas, sinistras... Ele pode estar em qualquer lugar.
Cly Reis
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