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segunda-feira, 23 de março de 2020

cotidianas #673 - Uma Mosquinha




Chegou sorrateiramente pelas costas e pousando o queixo no ombro da amiga, disparou com um forçado entusiasmo :
- Saindo com o Felipe, hein!
- Ai, quase me matou de susto! - disse a amiga que recuperando-se do pequeno sobressalto, completou. - Mas como é que você soube?
- Ah, uma mosquinha me contou.
- Bem informada essa "mosquinha". - ironizou, salientando essa última palavra. - E essa mosquinha tem nome?
- Ah, eu prometi que não ia contar. Mas me diz, - apressando-se em mudar o rumo do assunto - como é que foi? Como ele é?
- Aí, amiga, ele é maravilhoso! Foi incrível!
- Conta mais! Quero saber tudo.
- Agora não dá que eu tenho que levar essas cópias pra Dra. Isabel, mas depois, na hora do cafezinho a gente fala. - explicou enquanto ajeitava resma de folhas, batendo-a levemente contra a tampa da copiadora para emparelhá-las.
- Ah, então vai lá antes que a velha tenha outro daqueles ataques dela. Depois a gente fala.
As duas riram e a outra se foi com a pilha de folhas apoiada nas palmas das mãos.
A que ficara na sala do xerox, ainda manteve um resto de riso da descontração com a amiga por mais um breve instante e, de repente, sem mais nem menos, como que tomada por um feitiço, uma hipnose ou algo parecido, recolheu o sorriso e pareceu fixar o olhar no vazio. Começou a seguir algo com os olhos. Mexia a cabeça em círculos com aquele olhar perdido até que parou o movimento com a cabeça mantendo o olhar fixo na direção da copiadora. Abaixou-se ao nível da máquina, pousando o queixo sobre ela. Parecia falar com alguém...
- Quem??? A Carol? Não acredito!!! Conta mais. Quero saber tudo.
Falava como que sem juízo. Não havia mais ninguém na salinha com ela. Apenas uma mosquinha jazia pousada sobre a tampa da copiadora.




Cly Reis

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