Uma boa ideia, um diretor tentando sair de zona de conforto, um grande elenco... tem tudo para dar certo, porém em “Os Mortos Não Morrem” ficou no quase.
Numa pacata cidadezinha, os mortos começam a sair dos seus túmulos e causar caos. Cabe a três policiais e uma estranha legista escocesa, unirem-se para derrotar a ameaça.
O elenco, muito inchado, não ajuda o filme. Por mais que o foco principal da história seja a dupla de policiais, o longa vai apresentando inúmeros personagens, dando espaço para eles, para no fim, não aprofundar em nenhum. Tem vários personagens que aparecem e, não só não fazem o roteiro andar como, pelo contrário, truncam o filme. A gente até pensa, “Bom agora vai desenvolver esse personagem aí, e história vai avançar”, mas não. Foi só mais cena desnecessária que poderia ser substituída por outra com os próprios personagens principais, o que até poderia gerar empatia com eles, algo que, por sinal, acontece muito pouco.
O grande ponto positivo é que Jim Jarmush, não tira o seu principal aspecto dos filmes, trabalhar de forma reflexiva seus personagens indo mais para intrapessoal do que para o interpessoal. Existem boas críticas sociais e o longa trabalha muito com a ideia do consumismo, do quanto vivemos dedicados ao material, ao ter, e essa crítica e a reflexão dela resulta, funcionam bem no longa.
Apesar do elenco todo ser talentoso, nem todos os personagens são bem aproveitados. Tilda Swintom, por exemplo, como "legista escocesa” poderia ter mais espaço e até merecia mesmo, pois seu personagem é muito bom. Os que realmente conseguem passar algo a mais são Bill Murray e Adam Driver, formando uma dupla de policiais bem bacana, com diálogos bons, e que garantem um humor na medida certa ao filme, com destaque para as cômicas cenas de quebra da quarta parede.
Tinha tudo para ser um grande filme, grande elenco, um ótimo diretor, uma história interessante, porém algo não saiu bem. Não chegou a ser um desastre mas o longa decepciona um pouco pela grandiosidade do seu elenco. Nem todos os personagens tem seu espaço no filme e muitos acabam ficando unidimensionais, faltando, talvez trabalhá-los em camadas. Mas o humor na medida certa e o fato de assistir a um filme de zumbis onde o grande chamariz não são as mortes e cabeças explodindo mas sim a reflexão de como perseguimos algumas ideias, produtos, bens materiais tão cegamente quanto um bando de zumbis, já vale muito a pena. É uma crítica ao povo americano, a Donald Trump, mas serve perfeitamente para nós, e alguns mitos, vestirmos a carapuça aqui no Brasil.
Não custa nada elogiar de novo essa dupla que faz toda a diferença no filme. |
por Vagner Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário