Curta no Facebook

segunda-feira, 13 de julho de 2020

cotidianas #684 - Brilhe





- Shine, Shine!
Uma voz chamava.
Já não estava mais entre aquelas luzes brilhantes. Vermelhas, amarelas, violeta...
- Cara, nós temos que entrar. O show tá muito atrasado.
Era seu pai? Era seu professor? Reconheceu, por fim, aquela pessoa à sua frente, mesmo um tanto embaçado na névoa de sua visão. Era Jarko. Jarko, o baterista. Sim, tinha uma banda. Uma banda de rock. Ah, era verdade, tinham um show àquela noite.
- É hora de entrar, cara. - insistiu o amigo.
- O que que você andou tomando dessa vez, cara?
Respondeu com um sorriso grogue enquanto esforçava-se para levantar da poltrona.
- Tudo bem? Você consegue? - ajudando o astro a erguer-se.
Cambaleante, conseguiu sair do camarim e, guiado, pelo baixista, como se fosse um cego, seguiu pelo longo corredor a caminho do palco.
- Acalmem o público. Diga que ele já vai entrar. - instruiu o agente.
Um correu à frente.
Uma voz nos alto-falantes anunciava que a estrela estava a caminho.
- Shine, Shine!!!
Milhares de vozes gritaram.
Estava no corredor. Aquele era o corredor do colégio? Onde estava?
Estava em casa. Estava no palco.
Luzes brilhantes.
Amarelas, azuis, cor-de-rosa.
O som, o som. Parecia a velha locomotiva que passava perto de sua casa.
- Shine, Shine, sai de perto desses trilhos.
Era a voz da mãe que ouvia?
Não. Era alguém da banda...
- Cara, você tem que começar a cantar.
Era o baixista. 
- O show já começou. Vai, vai!
Estava tudo enevoado. Não conseguia ver com clareza.
Quem era ele afinal? O que fazia ali? Quem era aquela gente toda à sua frente? Por que gritavam tanto?
- Parem de gritar!!!
E as luzes começaram a girar. Verdes, amarelas, lilás.
E agora estava em casa e o pai o chamava... carinhosamente.
- Shine, Shine...
Está tudo bem, está tudo bem...
...
Não consigo mais.



Cly Reis


Nenhum comentário:

Postar um comentário