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quinta-feira, 22 de abril de 2021

"Se algo acontecer... te amo", de Will McCormack, Michael Govier (2020)

VENCEDOR DO OSCAR DE
 MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO


"Se algo acontecer... te amo" é pesado, é duro, é triste. Não sei se é porque eu tenho uma filha, exatamente da mesma faixa de idade da criança retratada no pequeno filme, mas o fato é que ele me tocou de uma menaira muito significativa. O curta-metragem de animação que concorre ao Oscar na categoria, é muito competente em nos transmitir a sensação de infinita desolação, a inconformidade, a impotência de dois pais que acabaram de perder a filha de 10 anos num tiroteio, causado por um atirador, dentro da própria escola. O filme consegue nos colocar dentro daquela dor. A arte, de traços simples mas muito expressiva e sensível, faz com que o espectador divida aquilo com os pais, também fique indignado, se compadeça; e seu silêncio torna tudo mais angustiante e comunica mais que qualquer enxurrada de palavras. O filme, mesmo mudo e em sua curta duração conduz muito bem a história, uma vez que, num primeiro momento, sequer sabemos o porquê daquele casal se encontrar tão arrasado e inerte. Aos poucos vamos entendendo que ali há uma ausência e de quem se trata, ainda que o motivo da ausência só venha a ser, efetivamente revelado, mais adiante e, diga-se de passagem, de uma maneira muito elegante, limpa, mas sem perder o impacto. 

O casal, que não consegue encarar a morte da criança, acaba por formar uma barreira entre eles mesmos e perece cada vez mais afundar naquela depressão. Curiosamente, a constante presença da filha, contida em cada parte da casa, em objetos, em ações rotineiras, se por um lado faz com que eles sucumbam gradualmente, é, também, o que os faz reagir, entender que ambos têm um ao outro e, resolver, mesmo com toda dor, seguir em frente.

"Se algo acontecer..." é um bom filme e bom candidato a levar o prêmio de animação da Academia. O filme, além de suas qualidades e de tratar de temas como relações familiares e depressão pós-traumática, traz um importante recado sobre a questão dos armamentos e de como um desajustado qualquer, um frustrado, um fundamentalista ou qualquer coisa do tipo, com uma arma na mão, pode, num piscar de olhos, acabar com vidas inocentes, com futuro de pessoas cheios de vida, sonhos e planos, bem como das pessoas pessoas que as rodeiam. Se em "Se algo acontecer... eu te amo" a vítima, figurativamente, "ajuda" os pais a se reerguerem, em muitos casos isso não acontece e, nesses casos, aquela arma, aquele desatino, não terá levado somente uma vida...

O casal, sentindo suas vidas sem sentido, depois da tragédia,
 se afasta cada vez mais um do outro.



por Cly Reis

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